Lucas 8 – A Importância e o Poder da Palavra de Jesus
A. A parábola dos solos.
1. (1-3) As mulheres que ministraram a Jesus.
Depois disso Jesus ia passando pelas cidades e povoados proclamando as boas novas do Reino de Deus. Os Doze estavam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído sete demônios. Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de Herodes; Susana e muitas outras. Essas mulheres ajudavam a sustentá-los com os seus bens.
a. Jesus ia passando pelas cidades e povoados: Pensa-se muitas vezes que esta foi a segunda viagem de Jesus pela região da Galiléia (a primeira descrita em Lucas 4:42-44). Jesus provavelmente foi às mesmas cidades e aldeias mais de uma vez em seu trabalho de pregação itinerante.
i. Nesta segunda viagem, os doze estavam com ele. Quando Ele iniciou a primeira viagem à Galiléia, os doze discípulos ainda não haviam sido formalmente escolhidos.
b. Proclamando as boas novas: Isto descrevia amplamente o tema da pregação de Jesus. Ele trouxe boas novas ao povo, notícias de que o Messias e o Rei de Deus estava presente com eles, anunciando Seu reino.
c. E também algumas mulheres: Lucas mencionou especificamente certas mulheres que seguiam Jesus, porque isto era incomum. Jesus tinha uma atitude diferente em relação às mulheres do que os líderes religiosos e mestres daqueles dias.
i. “Os rabinos se recusavam a ensinar as mulheres e geralmente lhes atribuíam um lugar muito inferior”. (Morris) É interessante notar que nos quatro Evangelhos, todos os inimigos de Jesus eram homens.
ii. Uma dessas mulheres era Maria, chamada Madalena. Esta Maria tinha sido possuída por demônios até que Jesus a libertou. Muitos também assumem que ela havia se dedicado à imoralidade, mas isto não é dito pelo texto bíblico. “A imaginação cristã mal interpretou a pessoa de Maria Madalena, principalmente vendo-a como uma bela mulher que Jesus havia salvado de uma vida imoral. Não há nada nas fontes que indique isto”. (Morris)
iii. Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de Herodes: “O epitropos de Herodes. Um rei tinha muitos pré-requisitos e muita propriedade privada; seu epitropos era o oficial que cuidava dos interesses financeiros do rei… Não havia nenhum outro oficial mais importante e confiável”. (Barclay)
iv. “É uma coisa incrível encontrar Maria Madalena, com o passado sombrio, e Joana, a senhora da corte, na mesma companhia”. (Barclay)
v. Maria e Joana estavam entre as primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus (Lucas 24,10).
d. E muitas outras. Essas mulheres ajudavam a sustentá-los com os seus bens: Vemos a verdadeira natureza humilde de Jesus, que voluntariamente se fez dependente de outros. Ele não precisava; Ele poderia ter criado todo o dinheiro ou comida que Ele precisasse. Jesus era suficientemente humilde e piedoso para receber dos outros.
i. Muitos de nós somos orgulhosos demais para receber ajuda de outros. Às vezes a capacidade de receber humildemente é uma medida melhor de Jesus em nossa vida do que a capacidade de dar. Dar, às vezes, nos coloca em um lugar mais alto, mas receber é provável que nos coloque em um lugar mais baixo.
ii. “O termo usado sobre o apoio das mulheres à missão de Jesus é diakonia, provavelmente porque antecipou o cargo de diácono, especialmente a diaconisa, criada na igreja primitiva”. (Pate)
2. (4-8) A parábola dos solos.
Reunindo-se uma grande multidão e vindo a Jesus gente de várias cidades, ele contou esta parábola: “O semeador saiu a semear. Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram. Parte dela caiu sobre pedras e, quando germinou, as plantas secaram, porque não havia umidade. Outra parte caiu entre espinhos, que cresceram com ela e sufocaram as plantas. Outra ainda caiu em boa terra. Cresceu e deu boa colheita, a cem por um”. Tendo dito isso, exclamou: “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça!”.
a. Reunindo-se uma grande multidão: Jesus ensinava grandes grupos em uma só sessão. Ele certamente não desprezava ensinar grupos menores ou mesmo indivíduos, mas em muitas ocasiões ensinou grupos grandes. Ele atraía multidões de várias cidades.
i. Mateus 13:1-3 e Marcos 4:1-2 nos dizem que esta multidão era tão grande que Jesus ensinou de dentro de um barco. A multidão se juntou na margem, e Jesus pôde usar o barco como um verdadeiro púlpito.
b. Ele contou esta parábola: A ideia por trás da palavra parábola é “pôr lado a lado”. É uma história posta ao lado da verdade que se deseja ensinar. As parábolas têm sido chamadas de “histórias terrenas com um significado celeste”.
i. “A parabole grega é mais ampla do que nossa ‘parábola’; a versão Septuaginta traduz masal, que inclui provérbios, adivinhas e ditados sábios, assim como parábolas. Mateus a usa, por exemplo, para o enigmático ditado de Jesus sobre a impureza (Mateus 15:10-11, 15), e em Mateus 24:32 (‘lição’) indica uma comparação”. (France)
ii. “Ela tinha uma dupla vantagem sobre seus ouvintes: em primeiro lugar, sobre sua memória; nós somos muito aptos a lembrar de histórias. Em segundo lugar, sobre a mente deles, para colocá-los no estudo do significado do que eles ouviram ser passado”. (Poole)
iii. As parábolas geralmente ensinam um ponto principal ou princípio. Podemos nos colocar em dificuldade se esperarmos que sejam sistemas teológicos intrincados, com pequenos detalhes que revelam verdades ocultas. “Uma parábola não é uma alegoria; uma alegoria é uma história na qual cada detalhe possível tem um significado interior; mas uma alegoria tem que ser lida e estudada; uma parábola é ouvida. Devemos ter muito cuidado para não criar alegorias das parábolas”. (Barclay)
c. O semeador saiu a semear: Jesus falou de acordo com os costumes agrícolas de sua época. Naqueles dias, a semente era espalhada primeiro e depois era arada no chão. Na maior parte do tempo, só se conhecia a qualidade do pedaço preciso de terra depois da semeadura.
d. Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à beira do caminho… parte dela caiu sobre pedras… outra parte caiu entre espinhos… outra ainda caiu em boa terra: Nesta parábola, a semente caiu em quatro tipos diferentes de solo. Embora esta seja comumente chamada a parábola do semeador, talvez teria sido melhor chamá-la a parábola dos solos. A diferença nunca é a semente, mas no tipo de solo em que ela cai.
i. À beira do caminho era o caminho por onde as pessoas andavam, onde nada podia crescer porque o solo era muito duro.
ii. Sobre pedras era onde o solo era fino, espalhado sobre uma camada pedregosa. Neste solo a semente brotou rapidamente por causa do calor do solo, mas não conseguiu criar raízes por causa da camada rochosa.
iii. Entre espinhos descreve o solo que é fértil – talvez até muito fértil, porque os espinhos crescem lá, assim como os grãos. Os espinhos sufocaram o bom grão e não permitiram que houvesse uma colheita produtiva.
iv. Boa terra descreve o solo que era fértil e livre de ervas daninhas. Uma cultura boa e produtiva crescia na boa terra. A cultura podia ser a cem por um maior do que foi semeado.
e. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça: Isto não foi uma chamada para que todos ouvissem. Foi um chamado para aqueles que eram espiritualmente sensíveis prestarem bem a atenção. E isto era especialmente verdade à luz dos próximos versículos, porque Jesus explica o propósito das parábolas.
3. (9-10) O propósito das parábolas.
Seus discípulos perguntaram-lhe o que significava aquela parábola. Ele disse: “A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino de Deus, mas aos outros falo por parábolas, para que ‘vendo, não vejam; e ouvindo, não entendam’”.
a. Seus discípulos perguntaram-lhe o que significava aquela parábola: O significado desta parábola não foi imediatamente óbvio para os discípulos. Aparentemente, o uso de parábolas por Jesus não era tão fácil quanto as simples ilustrações da verdade espiritual.
b. A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino de Deus, mas aos outros falo por parábolas: Como Jesus as usava, as parábolas eram mais como quebra-cabeças ou enigmas do que ilustrações. Só aqueles que tinham a “chave” certa conseguiam entendê-las. Os discípulos que queriam as coisas de Deus, foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino – eles conseguiam entender com clareza. Mas muitas vezes, outros eram ensinados por parábolas.
i. Os mistérios do Reino de Deus: Na Bíblia, um mistério não é algo que não se possa descobrir. É algo que você nunca saberia se Deus não o revelasse a você. No sentido bíblico, pode-se saber o que é o mistério; no entanto, é ainda um mistério porque ninguém teria sabido a menos que Deus o revelasse.
c. Vendo, não vejam; e ouvindo, não entendam: Ao citar esta passagem de Isaías 6,9, Jesus explicou que suas parábolas não eram ilustrações que tornavam as coisas difíceis claras para todos os que as ouviam. Elas eram uma forma de apresentar a mensagem de Deus para que aqueles que eram espiritualmente sensíveis pudessem entender, mas os endurecidos apenas ouviriam uma história sem acumular mais condenações por rejeitarem a Palavra de Deus.
i. Uma parábola não é exatamente uma ilustração. Um bom professor pode ilustrar declarando uma verdade e depois ilustrando a verdade através de uma história ou de uma analogia. Mas quando Jesus usava parábolas, Ele não começava afirmando uma verdade. Ao invés disso, a parábola era como uma porta de entrada. Os ouvintes de Jesus estavam à porta e O ouviam. Se eles não estavam interessados, ficavam do lado de fora. Mas se estivessem interessados, podiam entrar pela porta e pensar mais sobre a verdade por trás da parábola e sobre o que ela significava para suas vidas.
ii. “Assim, para que sua culpa não se acumule, o Senhor não mais se dirige a eles diretamente em ensinamentos explícitos durante o momento imediatamente anterior a Sua crucificação, mas em parábolas”. (Geldenhuys)
iii. Se você não entende a chave da parábola, você não a entende de forma alguma. Podemos imaginar o que cada pessoa no público de Jesus possa ter pensado quando Ele ensinou esta parábola sem nenhuma explicação.
·O agricultor pensou: “Ele está me dizendo que eu tenho que ser mais cuidadoso na maneira como lanço minha semente. Acho que desperdicei muito”.
·O político pensou: “Ele está me dizendo que eu preciso começar um programa de educação agrícola para ajudar os agricultores a lançar suas sementes de forma mais eficiente. Isto será um grande impulso na minha campanha de reeleição”.
·O repórter do jornal pensou: “Ele está me dizendo que há aqui uma grande história sobre o problema das aves e como isso afeta a comunidade agrícola. Essa é uma grande ideia para uma série no jornal”.
·O vendedor pensou: “Ele está me encorajando na minha venda de fertilizantes. Ora, eu poderia ajudar aquele fazendeiro mais do que ele sabe se ele só usasse meu produto”.
iv. Mas nenhum deles conseguiu entender o significado espiritual até que Jesus explicou a chave para eles: A semente é a palavra de Deus (Lucas 8:11). Se você não aferrar a chave, você perde toda a parábola. Se você achar que a semente representa dinheiro, você perde o significado da parábola. Se você achar que a semente representa o amor, você perde o significado da parábola. Se você achar que a semente representa trabalho duro, você perde o significado da parábola. Você só pode entendê-la se entender a chave: A semente é a palavra de Deus.
d. Vendo, não vejam; e ouvindo, não entendam: Diante disso, quão abençoados são aqueles que compreendem as parábolas de Jesus. Eles não apenas ganham o benefício da verdade espiritual ilustrada, mas também mostram alguma medida de capacidade de resposta ao Espírito Santo.
4. (11-15) Jesus explica a parábola.
“Este é o significado da parábola: A semente é a palavra de Deus. As que caíram à beira do caminho são os que ouvem, e então vem o Diabo e tira a palavra do seu coração, para que não creiam e não sejam salvos. As que caíram sobre as pedras são os que recebem a palavra com alegria quando a ouvem, mas não têm raiz. Crêem durante algum tempo, mas desistem na hora da provação. As que caíram entre espinhos são os que ouvem, mas, ao seguirem seu caminho, são sufocados pelas preocupações, pelas riquezas e pelos prazeres desta vida, e não amadurecem. Mas as que caíram em boa terra são os que, com coração bom e generoso, ouvem a palavra, a retêm e dão fruto, com perseverança.”
a. A semente é a palavra de Deus: Jesus comparou a palavra de Deus (poderíamos dizer tanto falada como escrita) a ser como semente. Uma semente tem um enorme poder em si mesma para a geração de vida e utilidade, se ela for recebida (plantada) nas condições certas.
i. A ideia de que a semente é a palavra de Deus é repetida na Bíblia. Paulo usou a ideia em 1 Coríntios 3:6, e Pedro escreveu que vocês foram regenerados, não de uma semente perecível, mas imperecível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente (1 Pedro 1:23).
ii. “O pregador do evangelho é como o semeador. Ele não faz sua semente; ela lhe é dada por seu divino Mestre. Nenhum homem poderia criar o menor grão que já cresceu sobre a terra, muito menos a semente celestial da vida eterna”. (Spurgeon)
b. As que caíram à beira do caminho são os que ouvem, e então vem o Diabo e tira a palavra do seu coração, para que não creiam e não sejam salvos: Como as aves devoravam a semente à beira do caminho (Lucas 8:5), assim alguns recebem a palavra com corações endurecidos e o Diabo rapidamente tira a palavra semeada. A palavra não tem efeito porque ela nunca penetra e é rapidamente tirada.
i. O solo à beira do caminho representava aqueles que nunca ouviram a palavra com compreensão. A palavra de Deus deve ser compreendida antes que possa realmente dar frutos. Uma das principais obras de Satanás é manter os homens na escuridão com relação à compreensão do evangelho (2 Coríntios 4:3-4).
ii. Isto nos diz que Satanás trabalha durante o ensino e a pregação da palavra de Deus. Satanás parece acreditar mais no poder da palavra de Deus do que muitos pregadores; ele sabe que quando ela é ensinada ou pregada, ele precisa estar empenhado contra ela.
iii. Então vem o diabo; ele é pontual em seu trabalho. O diabo sabe exatamente o momento certo para vir durante a pregação. Ele sabe como trazer uma distração de algum tipo no momento certo – ou na verdade, no momento errado. Às vezes o próprio pregador oferece oportunidades para distração. Às vezes, acidentalmente, uma palavra ou uma história no sermão desencadeia uma associação de distração. Às vezes a mente se enche com a lista de afazeres de ontem e de amanhã, ou com as atividades após a igreja. Às vezes, uma criança bonitinha ou um comentário sussurrado inteligente da congregação já faz o trabalho.
iv. Vem o Diabo e tira a palavra; Jesus disse que ele realmente o faz, não apenas que ele tenta fazê-lo. A este respeito, o diabo tem poder. Ele vê, ele vem, e conquista. Se não fosse pelo trabalho oposto do Espírito Santo, nada aconteceria na pregação da palavra.
v. Tira a palavra também mostra o propósito do diabo. Ele é realmente um teólogo muito bom, e sabe que a fé e a salvação vêm às pessoas que ouvem a palavra de Deus. Ele trabalha duro para manter a salvação e a força espiritual daqueles que, caso contrário, poderiam ouvir com bons resultados.
vi. A estratégia de Satanás nos dá alguma sabedoria se a recebermos – que se um coração permanecer em contato com a palavra de Deus, há uma boa chance de que o arrependimento e a fé venham à tona.
c. As que caíram sobre as pedras são os que recebem a palavra com alegria quando a ouvem, mas não têm raiz. Crêem durante algum tempo, mas desistem na hora da provação: Como a semente que cai no solo fino em cima de lugares rochosos rapidamente brota e depois rapidamente murcha e morre (Lucas 8:6), assim alguns respondem à palavra com entusiasmo imediato, mas logo murcham.
i. Eles tinham uma boa semente, tinham um ambiente quente, tinham uma recepção alegre da palavra e a receberam avidamente. Nenhuma dessas coisas foi o problema; eles falharam porque a semente não tinha umidade (Lucas 8:6) e, portanto, não tinha raiz para suportar a hora da provação.
ii. Havia algo que eles não tinham em conexão com o espírito de Deus, que rega a palavra. “Quando falamos de orvalho espiritual, nos referimos à operação do Espírito Santo. Quando falamos do rio da água da vida, nos referimos àquelas coisas sagradas que descem até nós do trono de Deus através da ação do Espírito de Deus”. (Spurgeon)
iii. Spurgeon detalhou algumas indicações desta falta de umidade:
·Doutrina sem sentimento.
·Experiência sem humilhação.
·Prática sem amor do coração.
·Fé sem arrependimento.
·Confiança sem reserva.
·Ação sem espiritualidade.
·Zelo sem comunhão.
iv. “Precisamos do Espírito Santo; e se o Senhor não nos regar diariamente das fontes vivas no topo das colinas da glória, certamente morreremos. Por isso, tenham cuidado, irmãos e irmãs, para que não vos falte a umidade da influência graciosa do Espírito Santo”. (Spurgeon)
d. As que caíram entre espinhos são os que ouvem, mas, ao seguirem seu caminho, são sufocados pelas preocupações, pelas riquezas e pelos prazeres desta vida, e não amadurecem: Como as sementes que caem entre os espinhos, crescem os caules dos grãos entre os espinhos, mas em breve são sufocados (Lucas 8:7), assim alguns respondem à palavra e crescem por um tempo, mas são sufocados e parados em seu crescimento espiritual pela competição de coisas não-espirituais.
i. Este solo representava terreno fértil para a palavra; mas o solo era muito fértil porque também crescia todo tipo de outras coisas que sufocavam a palavra de Deus. Especificamente, as preocupações, riquezas e prazeres desta vida.
e. Mas as que caíram em boa terra são os que, com coração bom e generoso, ouvem a palavra, a retêm e dão fruto, com perseverança: Algumas pessoas são como a boa terra, e recebem a palavra com coração bom e generoso. Elas retêm a palavra e assim dão frutos, cumprindo assim o propósito da semente.
i. Este solo representou aqueles que receberam a palavra, tiveram frutos em seu solo, e em proporção generosa (Lucas 8:8).
f. Dão fruto, com perseverança: Obviamente, este é o resultado desejado tanto para o agricultor quanto para o pregador. No entanto, é errado receber esta parábola de forma fatalista, como se alguém dissesse: “Esse é apenas o tipo de solo que você é ou eu sou”. Em vez disso, essa parábola é um desafio para todo ouvinte de, com a ajuda de Deus, cultivar o solo de seu coração para que a boa palavra de Deus tenha o melhor efeito em sua vida.
i. Nós nos beneficiamos de ver pedaços de nós mesmos em todos os quatro solos.
·Como o à beira do caminho, às vezes não permitimos que a palavra tenha espaço em nossas vidas.
·Como as pedras, às vezes temos flashes de entusiasmo em receber a palavra que rapidamente se esgota.
·Como o solo entre os espinhos, as preocupações deste mundo e a falsidade das riquezas ameaçam constantemente sufocar a palavra de Deus e nossa fecundidade.
·Como a boa terra, a palavra dá frutos em nossas vidas.
ii. Observamos que a diferença em cada categoria era com o próprio solo. O semeador lançou a mesma semente. Não se podia dar a culpa pelas diferenças de resultados ao semeador ou à semente, mas apenas ao solo. “Ó meus caros ouvintes, hoje vocês passam por um teste! Porventura, vocês estarão julgando o pregador, mas um maior que o pregador estará julgando vocês, pois a própria Palavra os julgará”. (Spurgeon)
iii. A parábola também foi um encorajamento para os discípulos. Embora possa parecer que poucos respondem, Deus está no controle e a colheita certamente virá. Isto teve muita relevância especialmente à luz da crescente oposição a Jesus. “Nem todos responderão, mas haverá alguns que responderão, e a colheita será rica”. (France)
iv. Mais do que descrever o progresso misto da mensagem evangélica, a parábola do semeador obriga o ouvinte a perguntar: “Que tipo de solo sou eu? Como posso preparar meu coração e minha mente para ser o tipo de solo correto?” Esta parábola convida à ação para que recebamos a palavra de Deus em pleno benefício.
B. A responsabilidade daqueles que recebem a palavra.
1. (16-17) Aqueles que recebem a palavra são responsáveis por expor e publicar a verdade – ou seja, a palavra de Deus.
“Ninguém acende uma candeia e a esconde num jarro ou a coloca debaixo de uma cama. Ao contrário, coloca-a num lugar apropriado, de modo que os que entram possam ver a luz. Porque não há nada oculto que não venha a ser revelado, e nada escondido que não venha a ser conhecido e trazido à luz.
a. Ninguém acende uma candeia e a esconde num jarro ou a coloca debaixo de uma cama. Ao contrário, coloca-a num lugar apropriado: A verdade, por sua natureza, é para ser revelada; e Deus prometeu que ela será (não há nada oculto que não venha a ser revelado).
b. De modo que os que entram possam ver a luz: Se você tem a verdade de Deus, você tem a solene responsabilidade de divulgar essa verdade de qualquer maneira que Deus lhe dê oportunidade, da mesma maneira como alguém que tem a cura para uma doença que ameaça a vida tem a responsabilidade moral de divulgar essa cura. Deus não acendeu sua lâmpada para que ela ficasse escondida.
i. É preciso espalhar a própria palavra ou espalhar a influência da palavra de Deus, levando os outros a um lugar onde a ouçam. É melhor fazer as duas coisas.
2. (18) Aqueles que recebem a palavra tornam-se responsáveis; portanto, devemos ter cuidado com a forma como a ouvimos.
Portanto, considerem atentamente como vocês estão ouvindo. A quem tiver, mais lhe será dado; de quem não tiver, até o que pensa que tem lhe será tirado”.
a. Portanto, considerem atentamente como vocês estão ouvindo: É bom ouvir a palavra de Deus; é muito melhor ter cuidado com a forma como vocês estão ouvindo. Nisto, Jesus advertiu Seus ouvintes a preparar ativamente o solo de seu coração e mente, a julgar a si mesmos como ouvintes, pelo menos tanto quanto eles julgam o pregador.
i. É perigoso ouvir a palavra de Deus de uma maneira muito passiva; sem engajar a palavra com a mente, o coração e a vontade. Ser ouvintes apenas da palavra, e não ser também fazedores da palavra, significa destruição (Lucas 6:49).
ii. Em seu sermão intitulado Heedful Hearing, Charles Spurgeon sugeriu algumas maneiras de ouvir com atenção a palavra de Deus:
·Ouvir atentamente, de forma retentiva.
·Ouvir com convicção, obedientemente.
·Ouvir com sinceridade, honestamente.
·Ouvir devotamente, com sinceridade.
·Ouvir com sinceridade, espiritualmente.
·Ouvir com sentimento, com sensibilidade.
·Ouvir com gratidão, com oração.
b. A quem tiver, mais lhe será dado: Quando ouvimos a palavra de Deus, e a recebemos com alegria, mais nos será dado das riquezas espirituais de Deus.
i. Mais lhe será dado: Mais do quê? Mais desejo de ouvir. Mais compreensão do que se ouve. Mais posse pessoal das bênçãos de que você ouve falar.
ii. Mais lhe será dado: Jesus nos lembra que o crescimento espiritual segue um impulso, positivo ou negativo. Quando temos os hábitos piedosos de receber a palavra e vivê-la, mais é construído sobre isso. Quando perdemos esses hábitos piedosos, eles são extremamente difíceis de serem recuperados.
c. Até o que pensa que tem: Às vezes, o que as pessoas pensam que têm espiritualmente, elas só parecem ter. Os fariseus eram assim; assim era a igreja de Laodicéia (Apocalipse 3:14-22). Os Laodiceanos diziam de si mesmos: “Somos ricos e não precisamos de nada”; mas eles não sabiam que eram realmente infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus.
3. (19-21) Mostramos que estamos próximos de Jesus, ouvindo e obedecendo à Sua palavra.
A mãe e os irmãos de Jesus foram vê-lo, mas não conseguiam aproximar-se dele, por causa da multidão. Alguém lhe disse: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te”. Ele lhe respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam”.
a. A mãe e os irmãos de Jesus foram vê-lo, mas não conseguiam aproximar-se dele, por causa da multidão: Poderíamos esperar que a família de Jesus tivesse privilégios especiais diante dele; quase nos surpreende que eles não tenham.
i. Os irmãos de Jesus nunca pareceram apoiar Seu ministério antes de Sua morte e ressurreição (João 7:5, Marcos 3:21).
b. Irmãos… irmãos… irmãos…: Jesus claramente tinha muitos irmãos e irmãs. A ideia católica romana da virgindade perpétua de Maria contradiz o sentido claro da Bíblia.
i. “A maneira mais natural de entender ‘irmãos’ é que o termo se refere aos filhos de Maria e José e, portanto, aos irmãos de Jesus do lado de sua mãe”. Os esforços para fazer os irmãos significarem algo mais são “nada menos que uma exegese rebuscada em apoio a um dogma que se originou muito mais tarde do que o Novo Testamento”. (Carson)
ii. “O erudito estudioso católico Fitzmyer admite este ponto. Ele escreve sobre a suposta virgindade perpétua de Maria, ‘Não há nenhuma indicação no próprio Novo Testamento sobre Maria como aei parthenos, ‘sempre virgem’. Esta crença, de uma forma ou de outra, só pode ser rastreado até o segundo século d.C.”. (Pate)
c. Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam: Jesus indicou que Sua família mais próxima é formada por aqueles que ouvem e obedecem à palavra de Deus. Nós nos aproximamos de Jesus ouvindo Sua palavra e a colocando em prática. Ao fazer isso, ganhamos um relacionamento mais próximo com Ele do que até mesmo um relacionamento familiar normalmente entendido. Esta é uma afirmação assustadora.
i. Pode-se orar, cantar ou jejuar o dia inteiro, mas se não ouvirmos a palavra Dele e a colocarmos em prática, não nos aproximaremos realmente de Deus.
ii. A ênfase repetida sobre a palavra de Deus é impressionante. “Como alguém pode sonhar que orar, ou governar, ou administrar sacramentos, ou qualquer outra coisa, deveria ser mais o trabalho de um ministro de Cristo do que pregar, pode justamente surpreender qualquer alma pensante que já leu o evangelho”. (Poole)
C. Jesus acalma a tempestade.
1. (22-23) O Tempestade do Mar da Galiléia.
Certo dia Jesus disse aos seus discípulos: “Vamos para o outro lado do lago”. Eles entraram num barco e partiram. Enquanto navegavam, ele adormeceu. Abateu-se sobre o lago um forte vendaval, de modo que o barco estava sendo inundado, e eles corriam grande perigo.
a. Vamos para o outro lado do lago: Com estas palavras, Jesus fez uma promessa a seus discípulos. Ele não disse: “Vamos perecer no meio do Mar da Galiléia”. Ele prometeu a Seus discípulos que eles atravessariam para o outro lado do lago.
i. O lago da Galiléia tem 20 quilômetros de comprimento em sua maior extensão, e 12 quilômetros de largura em sua maior extensão. Nesta parte em particular, tinha cerca de 5 quilômetros de largura”. (Barclay)
ii. “Jonas acabou em uma tempestade por causa de sua desobediência, mas os discípulos entraram em uma tempestade por causa da obediência deles ao Senhor”. (Wiersbe)
b. Enquanto navegavam, ele adormeceu: Estamos impressionados com o fato de que Ele precisava dormir, mostrando sua verdadeira humanidade. Ele ficava cansado e, às vezes, precisava pegar no sono onde quer que conseguisse, mesmo em lugares improváveis.
i. “Era o sono de alguém desgastado por uma vida intensa, envolvendo uma tensão constante no corpo e na mente”. (Bruce)
ii. Ficamos também impressionados com o fato de que Ele conseguia dormir. Sua mente e coração eram suficientemente pacíficos, confiando no amor e cuidado de Seu Pai no céu, para que Ele conseguisse dormir durante a tempestade.
c. Abateu-se sobre o lago um forte vendaval: O Mar da Galiléia é bem conhecido por suas tempestades repentinas e violentas. A gravidade desta tempestade é evidente no fato de que os discípulos (muitos dos quais eram pescadores experientes neste mesmo mar) ficaram aterrorizados (Marcos 4:40).
2. (24-25) Jesus acalma a tempestade.
Os discípulos foram acordá-lo, clamando: “Mestre, Mestre, vamos morrer!”
Ele se levantou e repreendeu o vento e a violência das águas; tudo se acalmou e ficou tranquilo. “Onde está a sua fé?”, perguntou ele aos seus discípulos. Amedrontados e admirados, eles perguntaram uns aos outros: “Quem é este que até aos ventos e às águas dá ordens, e eles lhe obedecem?”
a. Os discípulos foram acordá-lo, clamando: “Mestre, Mestre, vamos morrer!” Os discípulos não se confortaram com o Jesus adormecido e nem presumiram que, se Ele estivesse em repouso, tudo estaria bem. Eles precisavam de Sua ajuda, por isso o acordaram.
i. “O ‘nós’ no clamor deles ‘Mestre, Mestre, vamos morrer’, incluía tanto eles como Jesus. Se aquele barco se afundasse, todos iriam com ele – Sua missão, suas esperanças e os grandes empreendimentos que Ele os havia chamado a realizar em comunhão com Ele mesmo”. (Morgan)
ii. “Quantas vezes nos ansiamos muito com as obras de nosso Senhor! Na hora da tempestade, imaginamos que tudo está prestes a perecer. Então Ele nos diz: ‘Onde está sua fé?’”. (Morgan)
b. Ele se levantou e repreendeu o vento e a violência das águas: Jesus não apenas acalmou o vento e o mar; Ele repreendeu o vento e as águas. Isto, junto com o grande medo dos discípulos, e o que Jesus enfrentaria no destino deles, dá a sensação de que Satanás teve uma mão significativa nesta tempestade.
i. Adam Clarke supunha que a tempestade estava “provavelmente excitada por Satanás, o príncipe do poder do ar, que, tendo reunido o autor e todos os pregadores do Evangelho em um pequeno barco, pensou em afogá-lo, para derrotar os propósitos de Deus e assim impedir a salvação de um mundo arruinado. Que nobre oportunidade esta deve ter parecido para o inimigo da raça humana!”
c. Onde está a sua fé? Jesus não disse: “Uau, que tempestade”. Em vez disso, Ele perguntou: “Onde está a sua fé?”. A tempestade não foi capaz de perturbar Jesus, mas a incredulidade de seus discípulos sim e o fez.
i. A incredulidade deles não estava no medo de uma circunstância temível, mas porque Jesus tinha dito: Vamos para o outro lado do lago (Lucas 8:22). Jesus não disse: “Façamos o melhor que pudermos e talvez nos afoguemos todos”.
ii. Circunstâncias difíceis – tempestades, por assim dizer – não são prova de incredulidade. A incredulidade é a rejeição de uma promessa ou comando de Deus relevante para uma situação particular.
iii. Os discípulos também deveriam saber que Deus não permitiria que o Messias perecesse em um barco atravessando o Mar da Galiléia. Não era possível que a história de Jesus, o Messias, acabasse com o afogamento no Mar da Galiléia.
iv. Este relato mostra o cuidado permanente que Jesus tem com seu povo. “Há muitos cristãos hoje que parecem pensar que o barco está se afundando! Estou cansado da lamentação de alguns dos meus amigos que têm essa opinião. O barco não pode afundar. Jesus está a bordo”. (Morgan)
d. Amedrontados e admirados: A calma total do mar deveria tê-los enchido de paz, mas ao invés disso, eles tinham tanto medo quando Ele acalmou a tempestade quanto quando eles estavam no meio da tempestade.
i. Os discípulos ficaram maravilhados. Uma exibição tão poderosa sobre a criação os levou a perguntar: “Quem é este?”. Só pode ser o Senhor, Jeová, o único que tem este poder e autoridade: Ó Senhor, Deus dos Exércitos, quem é semelhante a ti? És poderoso, Senhor, envolto em tua fidelidade. Tu dominas o revolto mar; quando se agigantam as suas ondas, tu as acalmas. (Salmo 89:8-9)
ii. Durante alguns momentos os discípulos viram ambas, a completa humanidade de Jesus (em Seu sono cansado) e a plenitude de Sua divindade. Eles viram Jesus como quem Ele é: verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus.
D. A Cura de um Endemoninhado
1. (26-29) Descrição do homem possuído por um demônio.
Navegaram para a região dos gerasenos, que fica do outro lado do lago, frente à Galiléia. Quando Jesus pisou em terra, foi ao encontro dele um endemoninhado daquela cidade. Fazia muito tempo que aquele homem não usava roupas, nem vivia em casa alguma, mas nos sepulcros. Quando viu Jesus, gritou, prostrou-se aos seus pés e disse em alta voz: “Que queres comigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes!” Pois Jesus havia ordenado que o espírito imundo saísse daquele homem. Muitas vezes ele tinha se apoderado dele. Mesmo com os pés e as mãos acorrentados e entregue aos cuidados de guardas, quebrava as correntes, e era levado pelo demônio a lugares solitários.
a. Para a região dos gerasenos: Pelas estimativas, isto foi no lado leste do Mar da Galiléia, na área com mais Gentios da Decápolis, as cidades gentias da região mais ampla.
b. Foi ao encontro dele um endemoninhado da cidade: Esta é a descrição mais detalhada que temos na Bíblia de um homem endemoninhado. É um retrato clássico de possessão demoníaca.
·O homem tinha sido possuído fazia muito tempo.
·O homem não usava roupas e vivia mais como um animal selvagem do que um ser humano (nem vivia em casa alguma…levado pelo demônio a lugares solitários).
·O homem vivia entre a decomposição e os mortos, ao contrário da lei judia e instinto humano (nos sepulcros).
·O homem tinha força sobrenatural (quebrava as correntes).
·O homem era atormentado e autodestrutivo (gritando e cortando-se com pedras, Marcos 5:5).
·O homem tinha um comportamento incontrolável (ninguém era suficientemente forte para dominá-lo, Marcos 5:4).
i. Estranhamente, alguns cristãos acham que o Espírito Santo trabalha de uma maneira similar; oprimindo as operações do corpo e fazendo a pessoa a fazer coisas estranhas e grotescas.
ii. Nós podemos ter certeza de que ele não começou desse jeito. Em algum momento este homem viveu entre os outros no vilarejo. Mas seu próprio comportamento irracional e selvagem convenceu os aldeões de que ele estava possuído por um demônio, ou pelo menos insano. Eles o acorrentaram para não permitir que machucasse os outros, porém ele quebrou as correntes todas as vezes. Finalmente, eles o expulsaram da cidade e ele morava no cemitério da vila, um louco no meio de tumbas, machucando a única pessoa que podia: ele mesmo.
iii. Levado pelo demônio: “Como um cavalo é pelo seu cavaleiro (o que a palavra significa) ou um navio por seus remos”. (Trapp)
c. Foi ao encontro dele um endemoninhado: Isto significa que Jesus não procurou diretamente este homem, mas o homem foi atraído até Jesus.
d. Jesus havia ordenado que o espírito imundo saísse daquele homem: O homem não conseguia ou não salvaria a si mesmo, mas Jesus tinha toda a autoridade sobre o espírito imundo.
e. Que queres comigo Jesus…Rogo-te que não me atormentes! Isto foi o espirito demoníaco dentro do homem possuído, não o homem em si. O demônio não queria sair do corpo em que ele habitava.
i. Possessão demoníaca é quando um espírito demoníaco reside em um corpo humano, e às vezes mostra sua personalidade através da personalidade de seu corpo hospedeiro. Possessão demoníaca é uma realidade hoje, embora devamos nos guardar contra ou ignorar atividade demoníaca ou focar demais em suposta atividade demoníaca.
ii. Não nos é contado especificamente como uma pessoa se torna possuída por um demônio, a não ser a inferência que deva ser algum tipo de convite oferecido conscientemente ou não.
iii. Superstição, adivinhação, os então chamados jogos ocultos e práticas, espiritismo, enganação de Nova Era, mágica, tomar drogas e outras coisas, abrem portas de enganação ao crente e perigo demoníaco real ao incrédulo.
iv. As pessoas frequentemente se envolvem com coisas ocultas ou demoníacas porque há algo lá que parece funcionar. Infelizmente não é algo em ação, mas alguém em ação – um espírito demoníaco.
v. Nós podemos dizer que demônios querem habitar corpos pela mesma razão que um vândalo quer uma lata de spray, ou um homem violento quer uma arma – um corpo é uma arma que eles podem usar em seu ataque contra Deus. Demônios também atacam homens porque eles odeiam a imagem de Deus no homem, então eles tentam estragar aquela imagem, rebaixando o homem e o tornando grotesco.
vi. Demônios tem o mesmo objetivo com cristãos (destruir a imagem de Deus), mas suas táticas são restritas; com relação a cristãos, espíritos demoníacos foram desarmados pela obra de Jesus na cruz (Colossenses 2:15), apesar de poderem tanto enganar quanto intimidar cristãos, prendendo-os com medo e descrença.
vii. Rogo-te que não me atormentes! Esta foi uma declaração irônica porque o homem estava constantemente atormentado pelos demônios o oprimindo em corpo, mente e alma. Ainda assim ele pensou que Jesus poderia atormentá-lo.
f. Jesus, filho do Deus Altíssimo: Isto foi o que os demônios disseram em resposta a ordem de Jesus de que saísse daquele homem (Pois Jesus havia ordenado que o espírito imundo saísse daquele homem). Esta foi uma maneira deles tentarem resistir à obra de Jesus.
i. No fundo de tudo isso estava a superstição antiga de que você tinha poder espiritual sobre outro se você soubesse ou dissesse seu nome exato. Este é o motivo pelo qual os espíritos imundos referiram a Jesus por seu título completo: Jesus, filho do Deus Altíssimo. De acordo com as superstições da época, isso era como dar um tiro de volta a Jesus.
ii. Portanto, ao se referirem a Jesus, eles demonstram ter os fatos teológicos corretos, mas eles não têm o coração correto. Os demônios habitando ele tinham um tipo de “fé” em Jesus. Eles sabiam a identidade real de Jesus melhor do que muitos líderes religiosos sabiam. Mesmo assim, não era uma fé ou conhecimento de Jesus que podiam salvar (Tiago 2:19).
2. (30-33) Jesus demonstra sua autoridade sobre espíritos malignos.
Jesus lhe perguntou: “Qual é o seu nome?” “Legião”, respondeu ele; porque muitos demônios haviam entrado nele. E imploravam-lhe que não os mandasse para o Abismo. Uma grande manada de porcos estava pastando naquela colina. Os demônios imploraram a Jesus que lhes permitisse entrar neles, e Jesus lhes deu permissão. Saindo do homem, os demônios entraram nos porcos, e toda a manada atirou-se precipício abaixo em direção ao lago e se afogou.
a. Qual é o seu nome? De acordo com os costumes de exorcistas judeus daquele tempo, você tinha que saber o nome do demônio para ganhar autoridade sobre ele e salvar a pessoa possuída pelo demônio. Ainda assim, Jesus não usou o nome aprendido em sua conversa; Ele tinha autoridade sobre demônios que ia muito além de superstições atuais.
b. “Legião”, respondeu ele: Jesus provavelmente perguntou pelo nome do demônio para que nós soubéssemos do escopo total do problema, sabendo que o homem estava cheio de muitos demônios, não apenas um. Nós notamos que Legião não é um nome; era evasivo, uma ameaça e tentativa de intimidar.
i. Uma legião romana geralmente consistia em seis mil homens. Isto não significa que o homem estava habitado por seis mil demônios, mas que ele tinha muitos.
ii. Também é possível que isso tenha sido uma tentativa do demônio de intimidar Jesus. Um animal encurralado sempre tentará fazer parecer que é maior do que o predador que o procura; estes vários demônios podem ter feito um reivindicação massiva na ideia errônea de que eles podiam amedrontar Jesus. Legião diz, “Há muitos de nós, nós somos organizados, nós somos unidos, nós estamos prontos para lutar e nós somos poderosos”.
iii. De acordo com superstições da época, os espectadores provavelmente sentiram que os espíritos imundos tinham a vantagem. Eles sabiam e declararam o nome completo de Jesus. Eles evadiram o pedido Dele pelos seus nomes. E de final, eles esperavam amedrontar Jesus com seu grande número. Mas Jesus não acreditava em nestas superstições antigas e facilmente expulsou os espíritos imundos do homem afligido.
c. E imploravam-lhe que não os mandasse para o Abismo: Os demônios habitando o homem não queriam ser aprisionados no abismo, que é o poço sem fim descrito em Apocalipse 9:11. Aparentemente é algum lugar de aprisionamento para certos espíritos demoníacos.
i. Estes demônios não queriam se tornar inativos. “Eis, que é outro inferno para o diabo ser ocioso ou outra coisa, a não ser um mal ocupado”. (Trapp)
d. Saindo do homem, os demônios entraram nos porcos: A ideia de que demônios podem habitar os corpos de animais parece estranha, porém a ideia é também mostrada em Gênesis 3. Era também apropriado que esses demônios fossem lançados para dentro dos porcos, por serem animais não kosher.
i. Notem que os demônios não podem nem afligir porcos sem a permissão de Deus. “Visto que um demônio não pode entrar nem dentro de um porco sem ser enviado por Deus em pessoa, como é pequeno o poder ou malícia deles serem temidos por aqueles que têm Deus como sua porção e protetor!”. (Clarke)
ii. “Satã prefere irritar os porcos a não cometer nenhum perjúrio. Ele gosta tanto do mal que ele o usaria nos animais se não pudesse usá-lo nos homens”. (Spurgeon)
iii. Jesus permitiu isto porque o momento de demonstração da total autoridade Dele sobre demônios ainda não havia chegado – ela viria na cruz. Colossenses 2:15 nos diz que na cruz Jesus desarmou demônios dos seus ataques a crentes, Ele fez um espetáculo público da derrota deles, e Ele triunfou sobre eles em Seu trabalho na cruz.
e. Toda a manada atirou-se precipício abaixo em direção ao lago e se afogou: a natureza destrutiva de espíritos demoníacos foi mostrada pelo seu efeito nos porcos. Eles eram como seu líder, Satã, que tem o desejo de roubar, matar e destruir (João 10:10).
i. Isto ajuda a explicar por que Jesus permitiu aos demônios entrarem nos porcos – porque Ele queria que todos soubessem qual era a intenção real desses demônios. Eles queriam destruir o homem como destruíram os porcos. Porque homens são feitos na imagem de Deus, eles não conseguiam o que queriam facilmente com aquele homem, mas sua intenção era exatamente a mesma: destruí-lo completamente.
ii. Alguns dizem que isto foi injusto com o dono dos porcos. “‘Mas os donos dos porcos perderam sua propriedade’. Sim, e aprendam com isso como o valor temporário das riquezas é pequeno na estimativa de Deus. Ele deixa que elas se percam, às vezes para nos libertar delas através da misericórdia; às vezes da justiça, para nos punir por tê-las adquiridas ou preservadas por cobiça ou injustiça”. (Clarke)
iii. Spurgeon tinha muitos comentários sábios sobre a maneira com que os demônios afetaram os porcos:
·“Porcos preferem morte a diabrura; e se os homens não fossem piores do que os porcos, eles teriam a mesma opinião”.
·“Aqueles que são conduzidos pelo diabo correm incansavelmente.”
·“O diabo conduz seus porcos ao mercado ruim”.
3. (34-37) A reação das testemunhas da libertação do homem possuído por um demônio.
Vendo o que acontecera, os que cuidavam dos porcos fugiram e contaram esses fatos, na cidade e nos campos, e o povo foi ver o que havia acontecido. Quando se aproximaram de Jesus, viram que o homem de quem haviam saído os demônios estava assentado aos pés de Jesus, vestido e em perfeito juízo, e ficaram com medo. Os que o tinham visto contaram ao povo como o endemoninhado fora curado. Então, todo o povo da região dos gerasenos suplicou a Jesus que se retirasse, porque estavam dominados pelo medo. Ele entrou no barco e regressou.
a. Ficaram com medo…estavam dominados pelo medo: Eles estavam com mais medo de um homem livre do que de um homem possuído. Quando eles viram o homem em perfeito juízo e assentado aos pés de Jesus, ficaram com medo.
i. Parte do medo deles estava no fato de que as superstições deles tinham sido quebradas e eles não sabiam o que pensar sobre a situação toda. De acordo com as superstições deles, os demônios deveriam ter tido vantagem sobre Jesus – mas eles não tiveram nenhuma. Foi difícil para eles aceitar isso.
b. Então todo o povo…suplicou a Jesus que se retirasse: Eles pareceram não se incomodar em ter um homem atormentado e possuído por um demônio em seu meio, mas eles se incomodaram de ter Jesus por perto – então eles o pediram para ir embora – E Ele foi!
i. O trabalho de Jesus tinha unido todo o povo e eles tinham vindo para conhecer e conversar com Jesus; Mas não era em um bom sentido. “Aqui estava uma cidade inteira em um encontro de oração, orando contra sua própria bênção…Horrível foi a oração deles, mas foi ouvida e Jesus partiu de suas costas”. (Spurgeon)
ii. Quando as pessoas sentem mais medo do que Jesus fará em suas vidas do que o que Satã faz no momento, eles geralmente empurram Jesus para longe – e Ele talvez vá embora quando for pedido.
4. (38-39) A reação do homem que foi libertado dos demônios.
O homem de quem haviam saído os demônios suplicava-lhe que o deixasse ir com ele; mas Jesus o mandou embora, dizendo: “Volte para casa e conte o quanto Deus lhe fez”. Assim, o homem se foi e anunciou na cidade inteira o quanto Jesus tinha feito por ele.
a. O homem de quem haviam saído os demônios: Este é um nome maravilhoso. Talvez para o resto de sua vida, este homem seria chamado por um nome que lembrasse a grande obra que Jesus fez por ele.
b. Suplicava-lhe que o deixasse ir com ele: Primeiro, este homem antes possuído por demônios simplesmente sentou aos pés de Jesus (Lucas 8:35). E então ele só queria ir com Jesus, e segui-lo como um discípulo.
i. Este homem não queria apenas o que Jesus podia fazer por ele; a real mudança em seu coração foi mostrada por querer o Próprio Jesus.
c. Mas Jesus o mandou embora: O desejo do homem de seguir Jesus era bom, mas Jesus não o permitiu. Jesus sabia que ele tinha um ministério mais importante para com sua própria família e comunidade.
i. Às vezes nós temos dificuldade em entender os caminhos de Deus. As pessoas da cidade fizeram um pedido maligno (suplicou a Jesus que se retirasse) e Jesus atendeu a sua oração. O homem de quem haviam saído demônios faz um pedido piedoso: que o deixasse ir com ele e Jesus disse “não” aquela oração.
ii. Claro que isso foi porque este homem podia ser uma luz entre as pessoas dessas cidades gentias de uma maneira que Jesus e os discípulos não podiam. Mas foi também para curar o homem de qualquer superstição. Ele talvez pensasse que tinha que ficar perto de Jesus para que os demônios não voltassem. “Talvez também, sua oração não foi atendida para que seu medo não tivesse sido, portanto, sancionado. Se ele realmente temia e eu sinto moralmente certo que ele temia que os diabos voltassem, então é claro que ele desejaria estar com Cristo. Mas Cristo tira aquele medo dele e praticamente diz a ele, ‘Você não precisa ficar perto de mim; Eu te curei de maneira que você nunca mais ficará doente novamente’”. (Spurgeon)
iii. “Então nós vemos que é um erro velho e fraqueza para homens ficarem muito fortemente pretenciosos pela presença corpórea de Cristo…Cristo não o faria depender de sua presença corporal, mas sim de seu poder Onipotente”. (Trapp)
d. O homem se foi e anunciou na cidade inteira o quanto Jesus tinha feito por ele: Esta era uma grande mensagem a se passar, e uma mensagem de que cada seguidor de Jesus deveria estar apto a pregar. A história dele mostrou o valor de uma vida a Jesus, porque esta foi a única razão pela qual Jesus veio até este lado do Mar da Galiléia. A história dele também mostrou que com Jesus, ninguém está além da esperança, porque se este homem pôde ser mudado então qualquer um podia.
i. Jesus lhe mandou que contasse o quanto Deus lhe fez, e o homem falou aos outros do quanto Jesus tinha feito por ele. Não houve contradição, pois Jesus é Deus.
E. Uma mulher curada, uma garota ressuscitada dos mortos.
1. (40-42) Um apelo de pai para que Jesus curasse sua filha única.
Quando Jesus voltou, uma multidão o recebeu com alegria, pois todos o esperavam. Então um homem chamado Jairo, dirigente da sinagoga, veio e prostrou-se aos pés de Jesus, implorando-lhe que fosse à sua casa porque sua única filha, de cerca de doze anos, estava à morte. Estando Jesus a caminho, a multidão o comprimia.
a. Uma multidão o recebeu com alegria: Jesus deixou a região em volta do Mar da Galiléia, onde Ele encontrou o homem possuído por muitos demônios. Agora Ele retornou às cidades judias no outro lado e as grandes multidões o esperavam.
b. Dirigente da sinagoga: O dirigente da sinagoga era meio que como um pastor moderno. Ele gerenciava tanto os assuntos espirituais quanto os de negócios da sinagoga. Jairo veio em desespero a Jesus (prostrou-se aos pés de Jesus, implorando-lhe) porque a filha dele estava à morte.
i. “Como o dirigente da sinagoga, ele era um oficial leigo responsável pela supervisão do prédio e por organizar o serviço”. (Lane)
ii. Quando o centurião veio a Jesus em uma situação similar (Lucas 7:1-10), Jesus nem foi à casa do centurião para curar seu servo – Ele simplesmente o pronunciou curado de longe.
iii. “Todos em Cafarnaum conheciam Jairo; mas ninguém sabia que ele acreditava em Cristo até que sua filhinha estava à beira da morte. Então ele confessou isso”. (Morrison)
c. Estando Jesus a caminho: Jesus não exigiu que Jairo demonstrasse a mesma fé que o centurião demonstrou. Jesus respondeu a fé que Jairo mostrou e foi com ele, como a multidão o comprimia.
i. A palavra antiga grega traduzida aqui como comprimia, significa “quase sufocou ele – de tão grande que era a multidão em volta dele”. (Clarke) A mesma raiz da palavra grega é usada para descrever o sufoco da semente da palavra (Lucas 8:7).
2. (43-44) A mulher curada de sua hemorragia.
E estava ali certa mulher que havia doze anos vinha sofrendo de hemorragia e gastara tudo o que tinha com os médicos; mas ninguém pudera curá-la. Ela chegou por trás dele, tocou na borda de seu manto, e imediatamente cessou sua hemorragia.
a. Certa mulher que havia doze anos vinha sofrendo de hemorragia: Esta mulher estava em uma condição desesperadora. O sangramento dela a fez cerimonialmente e socialmente impura, e isto foi um grande fardo para se viver por 12 anos.
i. De acordo com as ideias judias da época, se esta mulher tocasse alguém, ela passaria sua impureza a eles, uma impureza que não permitiria a eles participarem em nenhum aspecto da adoração de Israel (Levítico 15:19-31).
b. E gastara tudo o que tinha com os médicos; mas ninguém pudera curá-la: Ela foi aos médicos para ficar melhor, mas apenas sofreu mais e ficou mais pobre. Lucas o médico, sabia como contas médicas podiam tirar tudo o que você tinha.
i. O rabinos antigos tinham muitas fórmulas diferentes para ajudar uma mulher afligida dessa maneira. “Rabino Jochanan diz: ‘Tome goma de Alexandria, de alúmen, e de corcus hortensis, o peso de uma moeda de zuzee cada; deixe-os ser machucados juntos, e dados com vinho à mulher que está com o problema de sangramento. Mas se isto falhar, Pegue nove pedaços das cebolas persas, ferva em vinho, e dê para ela beber: e diga, Saia do teu fluxo. Mas caso isto falhe, Coloque ela em um lugar onde duas ruas se cruzam, e deixe-a segurar um copo de vinho em suas mãos; e deixe alguém vir por trás dela e assustá-la, e dizer, Saia do teu fluxo. Mas se isto não fizer bem”. (Clarke)
ii. Quando uma alma está doente hoje, ela frequentemente vai a diferentes “médicos” e gasta uma grande quantia de tempo e dinheiro, e nenhum deles pode curá-la. Uma alma doente pode ir ao “Doutor Entretenimento”, mas não encontra cura. Ela pode fazer uma visita ao “Doutor Sucesso”, mas ele não ajuda muito no decorrer do tempo. “Doutor Prazer”, “Doutor Autoajuda” ou “Doutor Religião” não conseguem trazer uma cura verdadeira. Apenas o “Doutor Jesus” pode.
c. Ela chegou por trás dele, tocou na borda de seu manto: Porque a condição desta mulher era embaraçosa, e porque ela estava cerimonialmente impura e seria condenada por tocar Jesus ou até mesmo por estar no meio de uma pressionada multidão, ela queria fazer isto secretamente. Ela não pediu abertamente a Jesus para ser curada.
i. “A palavra ‘margem’ [borda] é a palavra grega kraspedon, o termo Septuaginta para a borla que homens judeus vestiam nos cantos de suas vestes exteriores”. (Pale)
ii. A mulher se aproximou de Jesus com certo grau de superstição, pensando que havia poder na borda da vestimenta Dele. Ainda sim, havia um elemento de fé porque não há evidência de que Jesus houvesse curado dessa maneira antes.
iii. Porque embora a fé dela tinha elementos de erro e superstição, ela acreditava no poder curador de Jesus, e a borda da vestimenta Dele serviu como um ponto de contato para aquela fé. Há muitas coisas que poderíamos encontrar de errado com a fé dessa mulher. Mesmo assim, mais do que tudo, a fé dela estava em Jesus, e o objeto da fé era muito mais importante do que a qualidade da fé.
d. E imediatamente cessou sua hemorragia: De acordo com o pensamento da época, quando esta mulher impura tocou Jesus, isso O teria feito impuro. Mas por causa da natureza de Jesus e o poder de Deus, não foi bem assim que aconteceu. Quando ela tocou a vestimenta Dele, Jesus não se tornou impuro, a mulher se tornou pura. Quando nós vamos a Jesus com nosso pecado e o colocamos sobre Ele, isso não o faz um pecador, mas nos torna puros.
3. (45-48) Jesus fala com a mulher curada.
“Quem tocou em mim?”, perguntou Jesus. Como todos negassem, Pedro disse: “Mestre, a multidão se aglomera e te comprime”. Mas Jesus disse: “Alguém tocou em mim; eu sei que de mim saiu poder”. Então a mulher, vendo que não conseguiria passar despercebida, veio tremendo e prostrou-se aos seus pés. Na presença de todo o povo contou por que tinha tocado nele e como fora instantaneamente curada. Então ele lhe disse: “Filha, a sua fé a curou! Vá em paz”.
a. Quem tocou em mim: Esta pergunta não fez sentindo nenhum para os discípulos. Lucas nos conta que a multidão se aglomerava e o comprimia (Lucas 8:42), e Jesus parecia incomodado que alguém tocou Nele. Havia pessoas por toda volta que pressionavam Jesus e que faziam algum tipo de contato com Ele.
b. Mestre, a multidão se aglomera e te comprime: Pedro e os discípulos não entendiam a diferença entre um contato casual com Jesus e esticar a mão para tocá-Lo com fé.
i. Podemos imaginar alguém que por causa da pressão da multidão trombou contra Jesus. Quando o milagre da mulher foi revelado, eles poderiam dizer, “Eu trombei com Jesus, eu toquei Nele – e mesmo assim não fui curado”. Mas há uma grande diferença entre trombar com Jesus aqui e lá e esticar a mão para tocá-Lo com fé. Você pode vir a igreja semana após semana em “trombar com” Jesus. Não é a mesma coisa que esticar a mão para tocá-Lo com fé.
ii. “Não todo contato com Cristo que salva os homens; é a excitação de você mesmo vir para perto dele, a crença determinada, pessoal, resoluta de tocar Jesus Cristo que salva”. (Spurgeon)
iii. “Podemos estar bem perto de Cristo e pressioná-Lo, sem tocá-lo; mas ninguém consegue tocá-Lo, mesmo levemente, sem obter a graça propriamente necessária”. (Meyer)
c. Eu sei que de mim saiu poder: Quando a mulher tocou Jesus e foi imediatamente curada, Jesus sentiu algo acontecer. Jesus tinha uma impressão de que alguém havia acabado de ser curado.
d. A mulher, vendo que não conseguiria passar despercebida: Isto provavelmente significa que Jesus estava olhando diretamente para ela quando Ele disse: “Alguém tocou em Mim” (Marcos 5:32 diz, Jesus continuou olhando ao seu redor para ver quem tinha feito aquilo). A mulher teve que se identificar, porque Jesus sabia quem ela era. Ele a expôs e isso a envergonhou; mas o propósito de Jesus não era envergonha-la, mas abençoa-la.
i. Jesus fez isso para que ela soubesse que estava curada. É verdade que ela sentiu como fora instantaneamente curada, mas esta mulher era como qualquer outra pessoa. Logo ela começaria a duvidar e temer que ela estivesse realmente curada. Ela ficaria imaginando quando a doença voltaria. Mas Jesus disse a ela “Sua fé a curou”. Jesus a expôs para que ela soubesse com certeza que ela estava curada.
ii. Jesus fez isto para que outros soubessem que ela estava curada. Esta mulher tinha uma doença que ninguém podia ver e que a fazia uma pária pública. Soaria suspeito para muitos se ela simplesmente se pronunciasse curada. Eles pensariam que ela estivesse inventando isso apenas para ser considerada pura novamente. Jesus a expôs para que os outros soubessem com certeza que ela estava curada, e então ela na presença de todo o povo contou por que tinha tocado nele.
iii. Jesus fez isto para que ela soubesse por que estava curada. Quando Jesus disse, “Sua fé a curou”, mostrou a mulher que não foi exatamente o tocar na roupa de Jesus que a curou. Ao invés disso, foi sua fé em Jesus e o que Ele podia fazer por ela.
iv. Jesus fez isto porque Ele não queria que ela pensasse que furtou uma bênção, que ela nunca mais poderia olhar para Jesus nos olhos. Ela não furtou nada; ela recebeu cura através da fé e Jesus queria que ela soubesse disso.
v. Jesus fez isto para que Jairo pudesse ver a fé desta mulher e ser encorajado com relação a sua filha. Jesus a expôs para encorajar outra pessoa na fé.
vi. Jesus fez isto porque Ele queria abençoa-la de uma maneira especial. Ele a chamou de “Filha”. Jesus não chamou mais ninguém por esse nome. Jesus queria que ela viesse à frente e escutasse esse nome especial de ternura. Quando Jesus nos expõe é porque Ele tem algo especial para nos dar.
vii. Jesus talvez nos peça para fazer coisas que pareçam vergonhosas hoje. Ele não nos pede para fazê-las apenas porque Ele quer nos envergonhar. Há também um propósito maior mesmo que nós não conseguimos vê-lo. Mas se evitar a vergonha é a coisa mais importante na nossa vida, então o orgulho é nosso deus. Nós estamos mais apaixonados com nós mesmos e com nossa autoimagem do que estamos apaixonados com Jesus.
viii. Pobre Jairo! Durante tudo isso, a filha dele está doente em casa, e sua vida se esvaindo. Deve ter torturado ele ver Jesus tomar tempo para ministrar a esta mulher enquanto a filha dele sofria. Deus nunca é lento, mas Ele frequentemente parece lento para o sofredor.
4. (49-50) Jesus chama Jairo para uma fé radical com uma promessa radical.
Enquanto Jesus ainda estava falando, chegou alguém da casa de Jairo, o dirigente da sinagoga, e disse: “Sua filha morreu. Não incomode mais o Mestre”. Ouvindo isso, Jesus disse a Jairo: “Não tenha medo; tão-somente creia, e ela será curada”.
a. Sua filha morreu: Nós podemos imaginar como o coração de Jairo sofreu quando ele escutou isso. Ele deve ter pensado “Eu sabia que isto levou tempo demais. Eu sabia que Jesus não deveria ter perdido o tempo Dele com essa mulher tola. Agora a situação não pode mais ser reparada”.
b. Ouvindo isso, Jesus disse a Jairo: Jesus deu a Jairo duas coisas para fazer. Primeiro Ele disse, não tenha medo. Em segundo lugar, Ele disse, tão-somente creia.
i. Não tenham medo: Soa quase cruel para Jesus dizer isto a um homem que acabou de perder sua filha, mas Jesus sabia que medo e fé não se misturam. Antes que Jairo pudesse realmente confiar em Jesus, ele tinha que decidir se livrar do medo.
ii. Tão-somente creia: Não tente crer e tenha medo ao mesmo tempo. Não tente crer e descobrir sobre tudo. Não tente crer e entender o atraso. Ao invés, tão–somente creia.
c. Tão-somente creia, ela será curada: A única coisa em que Jairo tinha de acreditar era na palavra de Jesus. Todo o resto dizia a ele que sua filha havia partido para sempre. Este era ambos, o melhor lugar para estar e o lugar mais difícil para estar.
5. (51-56) Jesus ressuscita a garotinha dos mortos.
Quando chegou à casa de Jairo, não deixou ninguém entrar com ele, a não ser Pedro, João e Tiago junto com o pai e a mãe da menina. Todos choravam e batiam no peito por causa dela. Jesus disse: “Não chorem: ela não morreu. Está apenas dormindo”. Os presentes começaram a zombar de Jesus, pois sabiam que a menina já estava morta. No entanto, Jesus tomou a menina pela mão e a chamou dizendo: “Menina, levante-se”. A menina voltou a respirar, levantou-se no mesmo instante, e Jesus mandou que lhe dessem de comer. Seus pais ficaram muito admirados. E Jesus lhes ordenou que não dissessem nada a ninguém sobre o que havia acontecido.
a. Não deixou ninguém entrar com ele, a não ser Pedro, João, Tiago: Muitas vezes esses três são considerados o circulo interno dos discípulos de Jesus. Talvez o caso fosse de que Jesus sabia que Ele tinha que ficar especialmente de olho nesses três.
b. Todos choravam e batiam no peito por causa dela: Naqueles dias era comum contratar lamentadores profissionais para adicionar a atmosfera de pesar e dor a uma morte. Mas os lamentadores profissionais podiam apenas se lamentar superficialmente. Eles rapidamente iam de chorar para uma risada desdenhosa (começaram a zombar de Jesus).
i. Jesus era frequentemente ridicularizado e zombado. “Os homens zombavam da origem Dele; zombavam das ações Dele; zombavam das reivindicações Dele de ser o Messias. Em nenhum momento de toda a história há tanta exposição à crueldade e bestialidade da zombaria como na zombaria e provocação da cruz”. (Morrison)
ii. Provavelmente ainda mais do que no tempo de Jesus, nós vivemos em uma época de zombaria e escárnio, quando pessoas acham fácil usar zombaria e sarcasmo contra tudo que parece reivindicar ser bom. “Eu gostaria de dizer também para aqueles que tentam ver somente o lado ridículo das coisas, que talvez em toda gama do caráter não haja nada tão perigoso quanto isso… Quando nós ridicularizamos tudo que é melhor e de mais valor nos outros, por esse próprio hábito nós destruímos o poder da crença naquilo que é valoroso em nós mesmos”. (Morrison)
c. Ela não morreu. Está apenas dormindo: Jesus não estava fora da realidade quando falou isto. Ele não brincava de faz-de-conta. Ele disse isto, pois conhecia uma realidade maior, uma realidade espiritual que era mais certa e poderosa do que a própria morte.
d. (Começaram a zombar de Jesus) … No entanto: Jesus não queria nada com essas pessoas que não acreditavam nas promessas Dele. Ele as colocou para fora para que não desencorajassem a fé de Jairo.
i. “Não foi um capricho que quando Jesus Cristo foi zombado, Ele expulsou os zombadores para fora da câmara milagrosa. Isso é o que o Todo-Poderoso sempre faz quando homens e mulheres resolvem zombar. Ele fecha a porta para eles, para que então eles não consigam ver os milagres de que o universo está cheio, e eles perdem o melhor, porque em sua tolice cega eles riram do Doador do melhor para zombar”. (Morrison)
e. Menina, levante-se: Porque Jesus é Deus, Ele pode falar com a menina como se ela estivesse viva. Romanos 4:17 diz que Deus dá vida aos mortos e chama à existência coisas que não existem. Jesus falou com essa menina com o poder de Deus, e ela foi ressuscitada dos mortos.
f. Jesus mandou que lhe dessem de comer: Talvez Jesus fez isso não simplesmente pelo bem da menina, mas também por sua mãe – para dar algo a ela para fazer, para diminuir o choque do momento.
i. “Apesar de trazida a vida por um milagre, ela não seria preservada por um milagre. A natureza é o grande instrumento de Deus e ele se deleita em operar através dela; nem Ele fará nada com seu poder soberano, como um milagre, que possa ser afetado por sua providência comum”. (Clarke)
g. Seus pais ficaram muito admirados: Jesus não falhou com Jairo, e Ele não falhou com a mulher que precisava da cura. Mas a serviço dos dois, Ele precisava esticar a fé de Jairo para mais longe.
i. Em tudo isso nós vemos como o trabalho de Jesus é diferente, porém igual entre cada indivíduo. Se Jesus pode tocar cada necessidade tão pessoalmente assim, ele pode tocar nossas necessidades da mesma maneira.
·Jairo teve doze anos de luz do sol (Lucas 8:42) que estavam para serem extinguidos. A mulher teve doze anos de agonia que pareciam sem esperança de cura.
·Jairo era um homem importante, o dirigente da sinagoga. A mulher não era ninguém. Nós nem sabemos seu nome.
·Jairo era provavelmente rico, porque ele era um homem importante. A mulher era pobre porque gastou todo seu dinheiro com médicos.
·Jairo veio publicamente. A mulher veio secretamente.
·Jairo pensou que Jesus tinha que fazer muito para curar a filha dele. A mulher pensou que tudo que precisava era tocar a vestimenta de Jesus.
·Jesus respondeu a mulher imediatamente. Jesus respondeu a Jairo depois de um atraso.
A filha de Jairo foi curada secretamente. A mulher foi curada publicamente.
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