1 João 5 – Nascer de Deus e Crer no Filho de Deus
A. Nascer de Deus.
1. (1) Nascer de Deus é a fonte do amor.
Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus, e todo aquele que ama o Pai ama também ao que dele foi gerado.
a. Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus: João frequentemente menciona ter nascido de Deus (como em 1 João 2:29, 3:9 e 4:7). Aqui ele nos conta como alguém nasce de Deus: Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo. Isso significa acreditar que Jesus é o seu Messias, não apenas o Messias no sentido genérico.
i. A grande ênfase de João tem sido no amor, mas ele nunca quer que ninguém acredite que ele ganha a salvação amando os outros. Somos nascidos de Deus quando colocamos nossa confiança em Jesus e em Sua obra salvadora em nossas vidas.
ii. Também entendemos que João não estava falando sobre um mero consentimento intelectual de que Jesus era o Messias (como até mesmo os demônios podem ter, conforme descrito em Tiago 2:19). Em vez disso, ele se refere a uma confiança em Jesus como o Messias.
iii. Além disso, João deixa claro que devemos crer que Jesus é o Cristo. Há muitos, de um tipo de pensamento da nova era, que acreditam que Jesus tinha o “espírito de Cristo” – como afirmam também Confúcio, Maomé, Buda e certos modernos. Mas nunca diríamos que Jesus “tem” o Cristo – Jesus é o Cristo.
b. Todo aquele que ama o Pai ama também ao que dele foi gerado: Ser nascido de Deus também tem esses dois efeitos. Presume-se que amaremos a Deus (que dele foi gerado), porque nascemos de novo em Sua família. Mas também é assumido que amaremos os outros que dele são gerados – nossos irmãos e irmãs em Cristo.
i. Este é o terreno comum dos cristãos – não raça, nem classe, nem cultura, nem língua, nem qualquer outra coisa, exceto um nascimento comum em Jesus Cristo e o Senhorio comum de Jesus.
ii. Amar todos os outros na família de Deus significa que você não limita seu amor à sua própria denominação ou grupo, ao seu próprio status social ou financeiro, à sua própria raça, à sua própria perspectiva política ou à sua própria persuasão teológica exata. Se alguma dessas coisas significa mais para nós do que nossa salvação comum e o Senhorio comum de Jesus Cristo, então algo está muito errado.
iii. Os pais ficam exasperados, e até enojados, quando veem seus filhos brigarem e parecerem se odiar. Como Deus deve se sentir quando vê Seus filhos brigando entre si?
2. (2-3) A demonstração do amor de Deus.
Assim sabemos que amamos os filhos de Deus: amando a Deus e obedecendo aos seus mandamentos. Porque nisto consiste o amor a Deus: obedecer aos seus mandamentos. e os seus mandamentos não são pesados.
a. Assim sabemos que amamos os filhos de Deus: Tanto quanto nosso amor pelo povo de Deus reflete nosso amor por Deus (conforme expresso em 1 João 3:10,17), também nosso amor e obediência a Deus são uma demonstração de amor ao corpo de Cristo.
i. Às vezes se diz que a melhor coisa que um pai pode fazer por seus filhos é amar sua esposa e sua mãe. Mesmo assim, a primeira maneira de um filho de Deus amar seus irmãos e irmãs em Cristo é amar a Deus e obedecê-lo. E, se você ama o Pai, você vai amar o Filho. Tudo funciona em conjunto.
b. Amando a Deus e obedecendo aos seus mandamentos: Um cristão que não está amando a Deus nem obedecendo aos seus mandamentos tem pouca utilidade no corpo de Cristo. Isso é verdade mesmo que ele ou ela esteja envolvido em muitos ministérios e ocupe uma posição oficial de serviço na igreja.
i. Quando nosso amor e obediência a Deus esfriam, não prejudicamos apenas a nós mesmos – prejudicamos também nossos irmãos e irmãs. O estrago está feito, no mínimo, porque somos um “empecilho” no progresso espiritual do povo de Deus.
ii. Se não amarmos e obedecermos a Deus por nós mesmos, devemos pelo menos fazê-lo por amor aos outros.
c. Porque nisto consiste o amor a Deus: obedecer aos seus mandamentos: Amor a Deus é também obedecer aos seus mandamentos. Aquele que diz que ama a Deus, mas segue um estilo de vida de desobediência consciente, é como o crente que diz que anda em comunhão com Deus, mas anda nas trevas (como em 1 João 1:6) – ele está mentindo.
i. Certamente João tinha em mente as palavras de Jesus: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos.” (João 14:15).
ii. Simplesmente, o amor a Deus se manifestará na obediência. “Os cristãos frequentemente tentam transformar o amor por Deus em uma experiência emocional, mas João não permite isso em sua epístola.” (Boice)
d. Seus mandamentos não são pesados: Alguns cristãos se sentem muito sobrecarregados pelos mandamentos de Deus, mas João insiste que eles não são pesados.
i. Seus mandamentos não são pesados quando vemos quão sábios e bons são os mandamentos de Deus. São presentes Dele para nos mostrar a melhor e mais gratificante vida possível. Os mandamentos de Deus são como o “manual do fabricante” para a vida; Ele nos diz o que fazer porque sabe como trabalhamos melhor. Os mandamentos de Deus não são dados para nos amarrar ou nos machucar, ou porque Deus é como um velho irritado.
ii. Seus mandamentos não são pesados porque quando nascemos de novo, recebemos novos corações – corações que por instinto desejam agradar a Deus. Como parte da Nova Aliança, a lei de Deus foi escrita no coração de cada crente (Jeremias 31:33).
iii. Seus mandamentos não são pesados quando os comparamos com as regras religiosas que os homens inventam. João não está tentando dizer que a obediência é uma coisa fácil. Se assim fosse, seria fácil para nós não pecar, e João já reconheceu que todos nós pecamos (1 João 1:8). João está pensando no contraste que Jesus fez entre as exigências religiosas dos líderes religiosos de Sua época e a simplicidade de amar a Deus e segui-Lo. Jesus disse que todas as regras e regulamentos dos escribas e fariseus eram como fardos pesados (Mateus 23:4). Em contraste, Jesus disse de si mesmo: “Meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11:30). Em vez da pesada exigência de cumprir centenas de pequenas regras e regulamentos, Jesus simplesmente nos diz: “Ame-me e ame meu povo, e você andará em obediência”.
iv. Seus mandamentos não são pesados quando realmente amamos a Deus. Quando amamos a Deus, desejamos obedecê-lo e agradá-lo. Quando você ama alguém, parece pouco problema passar por muitas dificuldades para ajudar ou agradar essa pessoa. Você gosta de fazer isso, embora se tivesse que fazer isso para um inimigo, estaria reclamando o tempo todo. Assim como os sete anos de serviço de Jacó para Labão pareceram apenas alguns dias para ele por causa do amor que ele tinha por Raquel (Gênesis 29:18), obedecer aos mandamentos de Deus não parece um fardo quando realmente O amamos. Um velho provérbio diz: “O amor não sente cargas”.
3. (4-5) Nascer de Deus é fonte de vitória.
O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus.
a. O que é nascido de Deus vence o mundo: João começa com um princípio tão simples, mas tão poderoso – se somos nascido de Deus, venceremos o mundo. A ideia de que qualquer pessoa nascida de Deus poderia ser derrotada por este mundo era estranha para João e deveria ser estranha para nós.
b. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé: Uma vez que crer Nele é a chave para nascer de Deus (1 João 5:1), a chave para a vitória é a fé, não apenas uma inicial, “venha-ao-altar-e-seja-salvo”, mas uma fé consistentemente permanente, uma contínua dependência e confiança em Jesus Cristo.
i. João repete o pensamento com as palavras: Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus? A vida de fé permanente e confiança em Jesus Cristo é a vida que vence as pressões e tentações do mundo.
ii. Saber quem é Jesus – não apenas como uma questão de fatos ou informações, mas como alimento para a vida – “enche a alma de coisas tão grandes a seu respeito… seu antigo poder sobre nós”. (Poole)
c. Quem é que vence o mundo? Isso nos diz que vencemos principalmente por causa de quem somos em Cristo, não por causa do que fazemos. Nós vencemos porque somos nascidos de Deus, e nascemos de Deus porque cremos que Jesus é o Filho de Deus– novamente, não em um mero sentido intelectual, mas colocamos nossas vidas no fato de que Jesus é o Filho de Deus para nós.
i. “Olhe para qualquer léxico grego de sua preferência e descobrirá que a palavra [fé ou acreditar] não significa apenas acreditar, mas confiar, confiar em comprometer-se, confiar e assim por diante; a própria essência do significado da fé é a confiança em a dependência”. (Spurgeon)
ii. Como podemos nos tornar vencedores do mundo em Jesus?
·“Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (João 16:33). Porque Jesus venceu o mundo, enquanto permanecemos Nele, somos vencedores em Jesus.
·João disse daqueles que estavam crescendo em sua caminhada com Jesus, “… porque venceram o Maligno” (1 João 2:13-14). À medida que caminhamos com Jesus e crescemos nessa caminhada, venceremos nossos inimigos espirituais.
·Os vencedores têm um lugar especial no mundo vindouro. Jesus prometeu: “Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu trono.” (Apocalipse 3:21).
·Os vencedores vencem porque o sangue de Jesus supera as acusações de Satanás, a palavra de seu testemunho supera os enganos de Satanás e o não amor de suas vidas supera a violência de Satanás (Apocalipse 12:11).
B. A fonte de nosso relacionamento com Deus: Jesus Cristo.
1. (6-8) Identificar precisamente quem é Jesus, o Filho de Deus, Aquele em quem devemos crer.
Este é aquele que veio por meio de água e sangue, Jesus Cristo: não somente por água, mas por água e sangue. E o Espírito é quem dá testemunho, porque o Espírito é a verdade. Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes.
a. Aquele que veio por meio de água e sangue: João deixa claro que o Jesus de quem ele fala não é o Jesus gnóstico, “fantasma” que era tão santo que não tinha nada a ver com este mundo. O Jesus em quem devemos crer é o Jesus que veio por meio de água e sangue; o Jesus que fazia parte de uma terra real, material, de carne e osso.
i. João retorna a um tema com o qual começou no início da carta: O fundamento real e histórico de nossa confiança em Jesus Cristo. Em 1 João 1:1-3 a ênfase estava no que foi visto e ouvido e olhado e tocado – coisas reais, pessoas reais. Assim como a água e o sangue são reais, a vinda do Filho de Deus, Jesus Cristo, também foi.
b. Aquele que veio por meio de água e sangue: Ao longo dos séculos, surgiram muitas ideias diferentes sobre exatamente o que João quis dizer com essa frase. “Esta é a passagem mais desconcertante da Epístola e uma das mais desconcertantes do Novo Testamento.” (Plummer, citado em Boice)
i. Alguns acreditam que a água fala de nosso próprio batismo, e o sangue fala de receber a comunhão, e que João escreve sobre como Jesus vem a nós nos dois sacramentos cristãos do batismo e da comunhão (Lutero e Calvino tiveram essa ideia). No entanto, se for esse o caso, não se encaixa na perspectiva histórica que João tinha quando escreveu “veio por meio de água e sangue”. Ele parece escrever sobre algo que aconteceu no passado, não algo que está acontecendo.
ii. Outros (como Agostinho) acreditam que a água e o sangue descrevem a água e o sangue que escorreram do lado de Jesus quando Ele foi perfurado com uma lança na cruz: “Em vez disso, um dos soldados perfurou o lado de Jesus com uma lança, e logo saiu sangue e água” (João 19:34). Este foi um evento importante para o Apóstolo João porque imediatamente após esta descrição da água e do sangue, ele acrescentou em seu evangelho: “Aquele que o viu, disso deu testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que está dizendo a verdade, e dela testemunha para que vocês também creiam.” (João 19:35). No entanto, se esse era o significado de João, não está claro como se pode dizer que Jesus veio por meio de água e sangue.
iii. Outros ainda acreditam que a água fala do primeiro nascimento de Jesus, nascido das “águas do ventre”, e o sangue fala de Sua morte. Se for esse o caso, João estaria essencialmente escrevendo: “Jesus nasceu como homem e morreu como homem. Ele era completamente humano, não um ser superespiritual que não tinha contato real com o mundo material.” Os gnósticos da época de João pensavam em Jesus como um ser superespiritual.
c. Aquele que veio por meio de água e sangue: Provavelmente a melhor explicação (embora haja bons pontos para algumas das outras ideias) é o mais antigo entendimento cristão registrado desta passagem (registrado pela primeira vez pelo antigo cristão Tertuliano). Muito provavelmente, João quer dizer a água do batismo de Jesus e o sangue de Sua crucificação.
i. Quando Jesus foi batizado, Ele não foi batizado em arrependimento por Seu próprio pecado (Ele não tinha nenhum), mas porque Ele queria se identificar completamente com a humanidade pecadora. Quando Ele veio por meio de água, foi Sua maneira de dizer: “Eu sou um de vocês”.
ii. Quando Jesus morreu na cruz, Ele não morreu porque tinha que morrer (a morte não poderia ter poder sobre Ele), mas deu Sua vida para se identificar com a humanidade pecadora e nos salvar de nossos pecados. Quando Ele veio por meio de…sangue, foi para que Ele pudesse ficar em nosso lugar como um pecador culpado e receber o castigo que nosso pecado merecia.
iii. Essa explicação também se relaciona melhor com o que Jesus disse em João 3:5: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito.” O nascer por meio de água nesta passagem fala das águas purificadoras do batismo.
d. Aquele que veio por meio de água e sangue: Alguns ensinaram (e ainda ensinam) que Jesus recebeu o “Espírito de Cristo” em Seu batismo, e o “Espírito de Cristo” deixou Jesus antes de morrer na cruz (para eles, é impensável que Deus poderia pendurar em uma cruz). Mas João insistiu que Jesus não veio apenas pela água do batismo, mas também pelo sangue da cruz. Ele era tanto o Filho de Deus na cruz quanto quando o Pai declarou: “Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado.” (Lucas 3:22) no batismo de Jesus.
i. Podemos achar difícil nos relacionar com essa maneira antiga de tentar evitar a ofensa da cruz, dizendo: “Realmente não era o Filho de Deus que estava pendurado na cruz”. Mas em nossa era moderna, temos nossas próprias maneiras de tentar evitar a ofensa da cruz. Alguns negam que Jesus era Deus, e apenas pensam nele como um “nobre mártir”. Alguns banalizam a cruz, tornando-a um mero enfeite em joias e tendências da moda pop. Outros substituem a cruz por um evangelho psicológico de autoajuda e autoestima, ou usam um evangelismo sem cruz.
e. E o Espírito é quem dá testemunho, porque o Espírito é a verdade: O Espírito Santo também dá testemunho da verdadeira pessoa de Jesus, assim como Jesus prometeu que faria (Ele testemunhará a meu respeito…Receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês [João 15:26 e João 16:14]). A mensagem consistente do Espírito Santo para nós é: “Aqui está Jesus”.
i. “Um sacerdote sempre era ordenado por sangue sacrificial, água purificadora e óleo que falava da unção do Espírito Santo. Assim, Jesus também teve essas três testemunhas de Seu ministério sacerdotal”. (Spurgeon)
f. O Espírito, a água e o sangue: Todos eles são testemunhas consistentes para nos dizer quem é Jesus. Podemos saber que esses três são unânimes. Não é como se o Espírito nos dissesse uma coisa, a água outra e o sangue dissesse outra. A vida, a morte e o Espírito de Jesus nos dizem quem é Jesus, e eles nos dizem isso de acordo.
2. Algumas palavras sobre este texto, a respeito das notas nas margens ou notas de rodapé de muitas Bíblias a respeito de 1 João 5:7-8.
a. A New King James Bible faz uma nota marginal em 1 João 5:7-8, afirmando que as palavras no céu: Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes. E há três que dão testemunho na terra são palavras que não estão incluídas na grande maioria dos manuscritos gregos do Novo Testamento.
i. As palavras em questão não aparecem em nenhum manuscrito grego até o século XIV, exceto em um manuscrito do século XI e um do século XII, nos quais foram acrescentadas à margem por outra mão.
ii. Nas primeiras centenas de anos do Cristianismo, houve muitos debates teológicos sobre a natureza exata e a compreensão da Trindade. Em todos esses debates, ninguém jamais citou essas palavras em questão de 1 João 5:7-8. Se eles foram originalmente escritos por João, parece muito estranho que nenhum cristão primitivo os tenha citado. Na verdade, embora nenhum dos cristãos antigos cite este versículo, vários deles citam 1 João 5:6 e 1 João 5:8. Por que pular o versículo sete, especialmente se é uma grande declaração da Trindade?
iii. Em todas as traduções antigas – siríaca, árabe, etíope, copta, saídica, armênia, eslava e assim por diante – esta passagem contestada não está incluída. Somente na Vulgata latina ela aparece.
b. Provavelmente é melhor considerar essas palavras como obra de um copista excessivamente zeloso que pensou que o Novo Testamento precisava de um pouco de ajuda com a doutrina da Trindade, e achou que este era um bom lugar para fazê-lo. Ou talvez as palavras tenham apenas começado como notas escritas na margem de um manuscrito, mas a próxima pessoa que copiou o manuscrito pensou que deviam pertencer ao próprio texto.
i. Embora não haja declaração explícita da Trindade na declaração (como esta), ela está entretecida no tecido do Novo Testamento – encontramos o Pai, o Filho e o Espírito Santo trabalhando juntos como pessoas iguais, mas distintas (Mateus 3:16-17, 28:19; Lucas 1:35; João 1:33-34, 14:16,26, 16:13-15, 20:21-22; Atos 2:33-38; Romanos 15:16; 2 Coríntios 1:21-22, 13:14; Gálatas 4:6; Efésios 3:14-16, 4:4-6; 1 Pedro 1:2).
c. Como essas palavras foram incluídas, se não estão em nenhum manuscrito grego antigo? As palavras foram incluídas em antigas versões latinas da Bíblia e, no ano de 1520, um grande erudito chamado Erasmo produziu uma nova e precisa edição da Bíblia em grego antigo. Quando as pessoas estudaram a Bíblia de Erasmo e a compararam com a versão latina, perceberam que ele omitiu essa passagem e o criticaram por isso. Quando foi criticado, Erasmo disse: “Você não encontrará essas palavras em nenhum manuscrito grego antigo. Se você me encontrar um manuscrito grego com essas palavras, eu o incluirei em minha próxima impressão.” Alguém “descobriu” um manuscrito com as palavras, mas não era um manuscrito antigo. Erasmus sabia disso, mas já havia prometido adicionar as palavras se alguém encontrasse um manuscrito com as palavras, então ele relutantemente adicionou as palavras em sua edição de 1522. No entanto, ele também acrescentou uma nota de rodapé, dizendo que achava que o novo manuscrito grego havia sido escrito de propósito, apenas para embaraçá-lo. Esse manuscrito (Codex Montfortii) está em exibição na biblioteca do Trinity College, em Dublin.
i. Esta passagem é chamada de “vírgula joanina” (ou erroneamente, “vírgula joanino”) e está em apenas três manuscritos gregos. O Codex Guelpherbytanus foi escrito no século XVII. Sabemos que este manuscrito é do século XVII porque contém uma citação de um livro escrito no século XVII. O Codex Ravianus ou Berolinensis, que é uma cópia de um texto impresso em 1514. Sabemos que foi copiado desse texto porque repete os mesmos erros tipográficos do texto de 1514. O terceiro manuscrito é aquele “descoberto” nos tempos de Erasmo, o Codex Montfortii.
ii. Visto que o texto grego do Novo Testamento que Erasmo imprimiu tornou-se um dos textos gregos usados para fazer a Bíblia King James (Rei Jaime), essas palavras adicionadas tornaram-se parte da Bíblia King James.
d. Passagens como esta não nos dão razão para temer que nosso Novo Testamento não seja confiável. Em todo o Novo Testamento, existem apenas 50 passagens que têm algum tipo de dúvida sobre a confiabilidade do texto, e nenhuma delas é o único fundamento para qualquer doutrina ou crença cristã. Se 50 passagens parecem muito, veja desta forma: Não mais do que um milésimo do texto está em questão.
i. Além disso, quando uma passagem como esta é inserida, a evidência textual dos manuscritos faz com que ela se destaque como um polegar machucado. Isso nos dá segurança, não dúvida.
ii. Os cristãos evangélicos podem não saber muito sobre essas passagens, mas muitas pessoas religiosas que não acreditam na Trindade (como uma Testemunha de Jeová) conhecem as questões textuais em torno dessa passagem. Portanto, se você mencionar esse versículo para apoiar sua posição, eles mostrarão como essa passagem não pertence à Bíblia. Pode levar alguns a pensar: “Bem, talvez a Trindade não seja verdadeira. Talvez Jesus não seja Deus. Talvez seja apenas invenção de pessoas que tentariam mudar a Bíblia.” Isso pode causar algum dano real.
iii. Portanto, uma passagem como essa também nos adverte que, quando se trata de tais assuntos, Deus não precisa de nossa ajuda. O Novo Testamento é bom exatamente como Deus o inspirou. Não precisa de nossas melhorias. Embora o ensino dessas palavras adicionadas seja verdadeiro, elas não deveriam estar aqui, porque não devemos adicionar nossas palavras à Bíblia e afirmar que são palavras de Deus.
e. O texto de 1 João 5:7-8 deveria ser lido com mais precisão: Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes.
3. (9-10) O testemunho dos homens e o testemunho de Deus.
Nós aceitamos o testemunho dos homens, mas o testemunho de Deus tem maior valor, pois é o testemunho de Deus, que ele dá acerca de seu Filho. Quem crê no Filho de Deus tem em si mesmo esse testemunho. Quem não crê em Deus o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca de seu Filho.
a. Nós aceitamos o testemunho dos homens, mas o testemunho de Deus tem maior valor: Todos, todos os dias, recebem o testemunho dos homens a respeito de várias coisas. Portanto, devemos ter muito mais confiança no testemunho de Deus quando Ele nos diz quem é Jesus.
i. João não quer que acreditemos com fé cega. Em vez disso, nossa fé deve ser baseada em um testemunho confiável. E temos o testemunho mais confiável possível, o testemunho de Deus.
b. Quem crê no Filho de Deus tem em si mesmo esse testemunho: Quando cremos em Jesus, recebemos o Espírito Santo como uma confirmação interior de nossa posição diante de Deus. Romanos 8:16 coloca assim: “O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus.”
c. Quem não crê em Deus o faz mentiroso: Quando nos recusamos a acreditar em Jesus, rejeitamos o testemunho que Deus dá acerca de seu Filho.Portanto, chamamos Deus de mentiroso com nossa incredulidade.
i. João aqui expõe o grande pecado da incredulidade. Quase todo mundo que se recusa a acreditar em Deus (no sentido pleno da palavra acreditar) não pretende chamar Deus de mentiroso. Mas eles fazem isso mesmo assim. “O grande pecado de não crer no Senhor Jesus Cristo é frequentemente mencionado com muita leviandade e com um espírito muito insignificante, como se quase não fosse pecado algum; ainda assim, de acordo com meu texto e, de fato, de acordo com todo o teor das Escrituras, a incredulidade é a mentira de Deus, e o que pode ser pior?” (Spurgeon)
ii. E se alguém disser: “Bem, eu quero acreditar, mas não posso”. Spurgeon responde a tal pessoa: “Ouça, ó incrédulo, você disse: ‘Não posso acreditar’, mas seria mais honesto se você tivesse dito: ‘Não acreditarei’. Sua incredulidade é sua culpa, não seu infortúnio. É uma doença, mas também é um crime: É uma fonte terrível de miséria para você, mas com razão, pois é uma ofensa atroz contra o Deus da verdade”.
iii. E se alguém disser: “Bem, estou tentando acreditar e continuarei tentando”. Spurgeon falaria a este coração: “Será que eu não ouvi alguém dizer: ‘Ah, senhor, tenho tentado acreditar por anos’. Palavras terríveis! Eles tornam o caso ainda pior. Imagine que depois de eu ter feito uma declaração, um homem declarasse que não acreditava em mim; na verdade, ele não poderia acreditar em mim, embora quisesse. Certamente me sentiria ofendido; mas pioraria as coisas se ele acrescentasse: ‘Na verdade, há anos tento acreditar em você e não consigo.’ O que ele quer dizer com isso? O que ele pode querer dizer senão que sou tão incorrigivelmente falso e um mentiroso tão convicto que, embora quisesse me dar algum crédito, ele realmente não pode fazê-lo? Com todo o esforço que ele pode fazer a meu favor, ele acha muito além de seu poder acreditar em mim? Agora, um homem que diz: ‘Tenho tentado acreditar em Deus’, na realidade diz exatamente isso com relação ao Altíssimo… A conversa sobre tentar acreditar é uma mera pretensão. Mas seja fingimento ou não, deixe-me lembrá-lo de que não há nenhum texto na Bíblia que diga: ‘Experimente e creia’, mas diz: ‘Crê no Senhor Jesus Cristo’ Ele é o Filho de Deus, ele provou isso por seus milagres, ele morreu para salvar os pecadores, portanto, confie nele; ele merece confiança implícita e confiança infantil. Você vai recusar isso a ele? Então você difamou o caráter dele e lhe deu a mentira.
iv. Essa rejeição do testemunho de Deus ao longo do tempo pode levar a um lugar onde uma pessoa fica permanentemente endurecida contra Deus, ao lugar onde pode ser alguém que blasfema contra o Espírito Santo, como Jesus advertiu em Marcos 3:28-29. Que esperança pode haver para aquele que persiste em ouvir o que Deus diz e chamá-lo de mentiroso?
4. (11-13) Certeza de vida no Filho.
E este é o testemunho: Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho. Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida. Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que crêem no nome do Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna e que continueis a crer no nome do Filho de Deus.
a. E este é o testemunho: João, no versículo anterior, acabou de nos dizer o quão sério é o assunto de receber o testemunho de Deus. Agora ele nos dirá que testemunho é esse.
b. Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho: Esta é a mensagem essencial de Deus para o homem; que a vida eterna é um dom de Deus, recebido em Jesus Cristo. Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida. É tudo sobre Jesus, e viver em Jesus é a evidência da vida eterna.
i. “É inútil esperar a glória eterna, se não tivermos Cristo em nosso coração. O Cristo residente dá tanto um título a ele quanto uma adequação a ele. Este é o registro de Deus. Que ninguém se engane aqui. Uma habitação de Cristoe GLÓRIA; sem habitação de Cristo, SEM glória. O registro de Deus deve permanecer.” (Clarke)
c. Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que crêem… para que vocês saibam que têm a vida eterna: Ao declarar a mensagem tão claramente, João espera persuadir-nos a crer. Mesmo que já acreditemos, ele quer que vocês saibam que têm a vida eterna, para que possamos ter essa certeza e para que continueis a crer no nome do Filho de Deus.
i. A necessidade de ouvir o simples evangelho da salvação em Jesus Cristo não termina quando alguém abraça o evangelho. Nós nos beneficiamos dela, somos assegurados por ela e somos ajudados a continuar nela conforme a ouvimos e a abraçamos repetidamente.
d. Para que vocês saibam que têm a vida eterna: A confiança de João é impressionante. Ele quer que vocês saibam que têm a vida eterna. Só podemos saber disso se nossa salvação repousar em Jesus e não em nosso próprio desempenho. Se depender de mim, num dia bom estou salvo e num dia ruim, realmente não sei. Mas se depender do que Jesus fez por mim, então posso saber.
C. Ajuda para o cristão que ora.
1. (14-15) Confiança na oração.
Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a sua vontade, ele nos ouve. E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que temos o que dele pedimos.
a. Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: João desenvolveu a ideia de confiança em Deus. No versículo anterior, 1 João 5:13, “Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que crêem no nome do Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna.” Agora, para aqueles que sabem que têm a vida eterna, João relaciona a ideia de confiança em Deus com a oração.
b. Se pedirmos alguma coisa de acordo com a sua vontade, Ele nos ouve: Nisto, vemos o propósito da oração e o segredo do poder na oração. É pedir; pedir alguma coisa; pedir alguma coisa de acordo com a Sua vontade; e uma vez tendo pedido, para ter a certeza de que Ele nos ouve.
i. Primeiro, Deus quer que peçamos em oração. Muitas orações falham porque nunca pedem nada. Deus é um Deus amoroso e um doador generoso – Ele quer que peçamos a Ele.
ii. Em segundo lugar, Deus quer que peçamos alguma coisa em oração. Não para sugerir que alguma coisa que pedimos será concedida, mas alguma coisa no sentido de que podemos e devemos orar por tudo. Deus se importa com toda a nossa vida, e nada é muito pequeno ou muito grande para orar. Como Paulo escreveu em Filipenses 4:6: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus.”
iii. Em seguida, Deus quer que peçamos de acordo com a Sua vontade. É fácil nos preocuparmos apenas com a nossa vontade diante de Deus e ter uma visão fatalista em relação à Sua vontade (“Ele cumprirá Sua vontade com ou sem minhas orações de qualquer maneira, não é?”). Mas Deus quer que vejamos e discirnamos a Sua vontade através da Sua Palavra, e que oremos para que a Sua vontade seja posta em ação. Quando João escreveu isso, João pode ter tido as próprias palavras de Jesus em mente, que ele registrou em João 15:7: “Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido.” Quando permanecemos em Jesus – vivendo Nele, dia a dia – então nossa vontade se torna cada vez mais alinhada com a Sua vontade, e podemos pedir o que você deseja, e cada vez mais pedir de acordo com a Sua vontade. Então vemos a oração respondida.
iv. Se algo é a vontade de Deus, por que Ele simplesmente não o faz, independentemente de nossas orações? Por que Ele esperaria para realizar Sua vontade até que orássemos? Porque Deus nos designou para trabalhar com Ele como 2 Coríntios 6:1 diz: “Como cooperadores de Deus.” Deus quer que trabalhemos com Ele, e isso significa alinhar nossa vontade e agenda com a Dele. Ele quer que nos importemos com as coisas com as quais Ele se importa, e quer que nos importemos com elas o suficiente para orarmos apaixonadamente por elas.
c. Sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos: Quando pedimos de acordo com a vontade de Deus, quando oramos as promessas de Deus, temos esta confiança; e assim ore com fé real e definida.
i. A oração deve ser muito mais do que lançar desejos ao céu. Está enraizado na compreensão da vontade e das promessas de Deus de acordo com a Sua Palavra e na oração para que essas promessas sejam postas em ação. Para cada pedido de oração, devemos perguntar mentalmente ou verbalmente: “Que possível razão eu tenho para pensar que Deus responderá a esta oração?” Devemos ser capazes de responder a essa pergunta em Sua Palavra.
ii. As orações mais poderosas da Bíblia são sempre orações que compreendem a vontade de Deus e pedem que Ele a cumpra. Podemos ficar aborrecidos quando um de nossos filhos diz: “Papai, isso é o que você prometeu, agora, por favor, cumpra”, mas Deus se deleita quando oramos por Suas promessas. Mostra nossa vontade alinhada com a Dele, nossa dependência Dele e que levamos Sua Palavra a sério.
iii. Não é necessariamente errado pedir algo que Deus não prometeu; mas então percebemos que não estamos indo a Deus com base em uma promessa específica e não temos confiança para saber que temos o que dele pedimos.
2. (16-17) Orando por um irmão pecador.
Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não leva à morte, ore, e Deus lhe dará vida. Refiro-me àqueles cujo pecado não leva à morte. Há pecado que leva à morte; não estou dizendo que se deva orar por este. Toda injustiça é pecado, mas há pecado que não leva à morte.
a. Se alguém vir seu irmão cometer pecado: Quando vemos um irmão em pecado, João nos diz que a primeira coisa a fazer é orar por essa pessoa. Muitas vezes, a oração é a última coisa que fazemos, ou a menor coisa que fazemos em relação ao nosso irmão que está passando por um momento difícil.
b. E Deus lhe dará vida: Deus prometeu abençoar a oração feita em favor de um irmão em pecado. Talvez tais orações tenham um poder especial diante de Deus porque são orações em cumprimento ao mandamento de amar os irmãos. Certamente, nos amamos mais quando oramos uns pelos outros.
c. Há pecado que leva à morte: Porque João escreveu no contexto de um irmão, é errado vê-lo significando um pecado que leva à morte espiritual; ele provavelmente quis dizer um pecado que leva à morte física do crente.
i. Este é um conceito difícil, mas temos um exemplo disso em 1 Coríntios 11:27-30, onde Paulo diz que entre os cristãos em Corinto, por causa de sua conduta vergonhosa na Ceia do Senhor, alguns morreram (muitos fracos e doentes, e vários já dormiram). Esta morte não veio como um julgamento condenatório, mas como um julgamento corretivo (Quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo [1 Coríntios 11:32]).
ii. Aparentemente, um crente pode pecar a ponto de Deus acreditar que é melhor trazê-lo para casa, provavelmente porque, de alguma forma, ele comprometeu seu testemunho de forma tão significativa que deveria simplesmente voltar para casa, para Deus.
iii. No entanto, é certamente presunçoso pensar assim sobre cada caso de morte prematura de um crente, ou usá-lo como uma tentação para o suicídio do cristão cheio de culpa. Nossas vidas estão nas mãos de Deus, e se Elequiser trazer um de Seus filhos para casa, tudo bem.
iv. Alguns acreditam que irmão é usado aqui em um sentido muito vago, e o que João quer dizer com o pecado que leva à morte é a blasfêmia contra o Espírito Santo, que é a rejeição voluntária e decidida de Jesus Cristo. Mas este seria um uso curioso do termo irmão, especialmente considerando como João já usou irmão em sua própria carta.
d. Não estou dizendo que se deva orar por este: Aparentemente, quando um cristão está sendo corrigido em relação a um pecado que leva à morte, não há sentido em orar por sua recuperação ou restauração – a situação está somente nas mãos de Deus.
e. Há pecado que não leva à morte: João se esforça para reconhecer que nem todo pecado leva à morte da maneira que ele fala, embora toda injustiça é pecado.
D. Protegendo nosso relacionamento com Deus.
1. (18-19) Saber quem somos e quem são nossos inimigos.
Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado; aquele que nasceu de Deus o protege, e o Maligno não os toca. Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno.
a. Aquele que é nascido de Deus não está no pecado: Na batalha contra o pecado, é essencial que mantenhamos nossa mente voltada para quem somos em Jesus Cristo. Se somos nascidos de Deus, então temos os recursos para nos livrarmos do pecado habitual.
i. João está repetindo sua ideia de 1 João 3:6: “… aquele que nele permanece não está no pecado.” A gramática na língua original deixa claro que João está falando de um estilo de vida constante e contínuo de pecado. João não está ensinando aqui a possibilidade da perfeição sem pecado. Como Stott diz: “O tempo presente no verbo grego implica hábito, continuidade, sequência ininterrupta”.
b. Aquele que nasceu de Deus o protege, e o Maligno não o toca: Se somos nascido de Deus, então temos uma proteção contra o Maligno, uma proteção única que não pertence àquele que não é nascido de Deus. Saber disso nos dá uma confiança piedosa na batalha espiritual.
i. No versículo 18, aquele é na verdade ele. O que João provavelmente quis dizer é que Ele aquele que nasceu de Deus, (isto é, Jesus Cristo) o protege ele (isto é, o crente). João se refere que somos guardados por Jesus e protegidos de Satanás por Ele.
c. Não o toca: A palavra protege aqui tem a ideia de apegar-se a si mesmo. João diz claramente que o maligno – Satanás, ou, por implicação, um de Seus demônios – não pode atingir àquele que nasceu de Deus.
i. O que os estudiosos gregos dizem sobre a palavra toca: A palavra é “mais forte do que o toque; antes agarra, se apega” (Smith, no Expositor). “Significa agarrar ou prender, em vez de um mero toque superficial.” (Robertson)
ii. O único outro lugar em seus escritos onde João usa esse verbo específico para toca é em João 20:17, onde Ele literalmente diz a Maria: “Não me segure”. Porque nascemos de Deus, Satanás não pode se apegar a nós, ou se agarrar a nós, no sentido que ele pode na vida de alguém que não nasceu de Deus.
d. Sabemos que somos de Deus: Se nascemos de Deus, somos separados do mundo – não estamos mais sob o poder do Maligno embora o mundo todo ainda esteja. Saber disso significa que podemos ser livres para ser o que somos em Jesus e nos separar do sistema mundano em rebelião contra Ele.
2. (20-21) Permaneça em Jesus e evite os ídolos.
Sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento, para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.
a. Para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo: Na conclusão desta carta, João voltou ao seu tema principal: Comunhão com Jesus Cristo. Devemos conhecê-lo, e a palavra que João usa para sabemos (ginosko) fala de conhecimento por experiência. É assim que Jesus quer que O conheçamos.
b. Nos deu entendimento: A obra de Jesus em nós nos deu entendimento e a capacidade de conhecê-lo e estar nele – a vida permanente de comunhão que João nos convidou a ter em 1 João 1:3.
i. Significativamente, esse entendimento deve ser dado. Não podemos alcançá-lo por conta própria. Se Deus não se revelasse a nós, nunca O encontraríamos. Nós O conhecemos e podemos conhecê-Lo, porque Ele Se revelou a nós.
ii. Mais do que qualquer outra forma, Deus se revelou a nós naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Jesus é a chave e o foco de tudo. Vemos a personalidade e o caráter de Deus olhando para Jesus.
iii. Naquele que é o Verdadeiro também nos lembra de um tema que João aborda ao longo da carta: A importância da crença verdadeira, de confiar no verdadeiro Jesus, não em um Jesus inventado. O Jesus da Bíblia é o Verdadeiro, que é Seu Filho Jesus Cristo.
c. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna: Aqui João nos diz quem é Jesus. Ele era um homem (como João declarou em 1 João 1:1, 4:2 e 5:6), mas Ele não era apenas um homem. Ele era totalmente homem e o verdadeiro Deus e a vida eterna. João não promove, e nós não podemos promover a humanidade de Jesus acima de Sua divindade, ou Sua divindade acima de Sua humanidade. Ele é ambos: Totalmente Deus e totalmente homem.
i. João Stott diz sobre a declaração, este é o verdadeiro Deus e a vida eterna: “Esta seria a declaração mais inequívoca da divindade de Jesus Cristo no Novo Testamento, que os defensores da ortodoxia foram rápidos em explorar contra a heresia de Ário.” (Stott)
d. Guardai-vos dos ídolos: Pode parecer uma maneira estranha de terminar a carta de João, mas se encaixa no tema de um relacionamento real e vivo com Deus. O inimigo da comunhão com Deus é a idolatria: Abraçar um falso deus ou uma falsa ideia do verdadeiro Deus. João encerra corretamente com esta advertência, depois de ter passado grande parte do livro nos alertando contra os perigos do falso Jesus que muitos estavam ensinando em seus dias (1 João 3:18-23; 4:1-3; 5:6-9).
i. Só podemos ter um relacionamento real com o Deus que realmente existe! A idolatria, seja óbvia (rezar para uma estátua) ou sutil (viver para sua carreira ou para alguém que não seja Deus) sempre sufocará um relacionamento real com Deus e prejudicará nosso relacionamento com nossos irmãos e irmãs em Jesus. Não é de admirar que João termine com “Guardai-vos dos ídolos:” é assim que protegemos nosso relacionamento com Deus.
ii. Em um grande sermão sobre este último versículo da carta de João, Charles Spurgeon observou pela primeira vez que João se dirigia a Filhinhos.
·Este é um título de profunda afeição.
·Este é um título que indica regeneração e relação familiar.
·Este é um título que indica humildade.
·Este é um título que indica disposição para o ensino.
·Este é um título que implica fé.
·Este é um título que implica fraqueza.
iii. Então, Spurgeon notou que João deu uma ordem: Guardai-vos dos ídolos.
·Isso fala contra ídolos óbvios e visíveis.
·Isso fala contra adorar a si mesmo. Podemos fazer isso por excesso de comida ou bebida, por preguiça ou por muita preocupação com nossa aparência ou com o que vestimos.
·Isso fala contra a adoração de riqueza.
·Isso fala contra a adoração de algum hobby ou atividade.
·Isso fala contra a adoração de amigos ou parentes queridos.
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