1 João 4 – Permanecer em Deus e em Seu amor
A. O espírito da verdade e a proteção contra o espírito do erro.
1. (1) O fato dos falsos profetas e a necessidade de testar os espíritos.
Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.
a. Não creiam em qualquer espírito: João advertiu contra acreditar em qualquer espírito, ou seja, nunca devemos presumir que toda experiência espiritual ou toda demonstração de poder espiritual venha de Deus. Devemos testar as experiências espirituais e os fenômenos espirituais para ver se eles são de fato de Deus.
i. Muitos, ao se depararem pela primeira vez com a realidade do mundo espiritual, ficam impressionados e maravilhados demais para perguntar se eles procedem de Deus. Isso leva a um fácil engano.
b. Mas examinem os espíritos: Isso é importante porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. Embora a igreja primitiva tivesse uma vida forte e uma grande dose de pureza, João ainda conhecia o perigo dos falsos profetas e sua mensagem era real na igreja primitiva.
c. Os espíritos para ver se eles procedem de Deus: Essa é a responsabilidade de todo cristão, mas especialmente da liderança congregacional. De acordo com 1 Coríntios 14:29 (e os outros julguem) e 1 Tessalonicenses 5:21 (ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom), testar os espíritos é o trabalho do corpo de Cristo. Esse trabalho deve ser feito usando os dons de discernimento que Deus concedeu aos cristãos em geral, especialmente à liderança de uma congregação.
i. Toda profecia deve ser julgada pelos padrões das Escrituras. Ela nunca deve ser recebida apenas pelo fato de ser dramática ou dada por uma determinada pessoa. Confiamos no princípio de que Deus nunca se contradiz, e sabemos o que Ele já disse em Sua Palavra.
ii. 2 Pedro 1:20-21 nos diz que a verdadeira profecia nunca é de interpretação pessoal. Isso significa que haverá concordância e confirmação do corpo de Cristo, embora talvez (ou provavelmente) nem todos concordem ou confirmem.
2. (2-3) Como saber quando um falso profeta fala.
Vocês podem reconhecer o Espírito de Deus deste modo: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus; mas todo espírito que não confessa Jesus não procede de Deus. Esse é o espírito do anticristo, acerca do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo.
a. Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus: A verdadeira profecia e o verdadeiro ensino apresentarão um Jesus verdadeiro. Nos dias de João, a questão era se Jesus tinha realmente vindo em um corpo real de carne e osso. Muitos professores de influência gnóstica diziam que Jesus, sendo Deus, não poderia ter se tornado de fato um ser humano de carne e osso, porque Deus não poderia ter nenhuma parceria com coisas materiais “impuras”.
i. “Essa afirmação seria dirigida contra alguma forma de Docetismo, a visão de que Cristo era um espírito que apenas parecia ser um homem de verdade.” (Boice)
ii. Hoje, alguns grupos negam que Jesus seja realmente Deus (como as Testemunhas de Jeová, os mórmons e os muçulmanos). Mas nos dias de João, na época mais próxima da vida e do ministério de Jesus nesta Terra, as pessoas não tinham dificuldade em acreditar que Jesus era Deus. Elas tinham dificuldade em acreditar que ele era um homem de verdade. Esse falso ensinamento dizia que Jesus era realmente Deus (o que é correto), mas na verdade era um homem de “faz de conta”.
iii. Hoje em dia, somos apaixonados por dizer: “Jesus é Deus”, e devemos ser. Mas não é menos importante dizer que Jesus é Deus. Mas não é menos importante dizer: “Jesus é um homem”, porque tanto a divindade quanto a humanidade de Jesus são essenciais para a nossa salvação.
b. Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus: Alguns pensam que esse é o único teste de uma doutrina falsa. Esse não é o único teste, mas era a questão significativa que desafiava a igreja na época imediata de João. Hoje em dia, uma pessoa pode confessar que Jesus Cristo veio em carne e osso, mas negar que Ele seja Deus, como a Bíblia ensina que Ele é Deus. Elas também estão dando uma falsa doutrina porque não estão apresentando um Jesus verdadeiro.
i. O princípio de apresentar um Jesus verdadeiro é essencial para o teste dos espíritos. Ninguém que apresente um Jesus falso, ou que não esteja de acordo com as Escrituras, pode ser considerado um profeta verdadeiro.
ii. Atualmente, há muita curiosidade sobre o “verdadeiro Jesus”. Muitos acadêmicos modernos dizem que querem descobrir o “verdadeiro Jesus” e, quando dizem isso, geralmente querem dizer: “O verdadeiro Jesus não é o Jesus da Bíblia. O Jesus bíblico é de faz-de-conta. Precisamos descobrir o verdadeiro Jesus por trás dos mitos da Bíblia”.
iii. Essa posição não é apenas ignorante (ignorando a validade histórica confirmada do Novo Testamento), mas também arrogante. Uma vez que qualquer acadêmico descarta as evidências históricas do Novo Testamento e de outros escritos antigos confiáveis, ele só pode basear sua compreensão de Jesus em sua própria opinião pessoal. Esses acadêmicos apresentam suas opiniões sem fundamento como se fossem fatos acadêmicos.
c. Esse é o espírito do anticristo: Negar o verdadeiro Jesus é a base do espírito do anticristo, que João já mencionou em 1 João 2:18-23. É o espírito que se opõe ao Jesus verdadeiro e oferece um Jesus substituto.
i. O diabo não se importa se você conhece Jesus, se ama Jesus ou se ora para Jesus – desde que seja um Jesus falso, um Jesus de mentira, um Jesus que não existe e que, portanto, não pode salvar.
d. E agora já está no mundo: Embora tenha sua consumação final em um governante político e econômico do fim dos tempos, a essência desse espírito anticristo está presente entre nós hoje. Ela é encontrada em todos os lugares onde um falso Jesus é promovido no lugar do verdadeiro Jesus da Bíblia.
3. (4) A proteção do filho de Deus.
Filhinhos, vocês são de Deus e os venceram, porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo.
a. Filhinhos, vocês são de Deus e os venceram: Os filhos de Deus não precisam temer o espírito do Anticristo, embora devam ser alertados sobre ele, porque têm o Espírito de Deus que habita neles (1 João 3:24). Esse Espírito que habita em nós é maior do que que aquele que está no mundo – Satanás e todos os seus aliados.
b. Aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo: O crente tem um recurso para a vitória, a presença vital de Jesus que habita em nós, que torna a vitória sempre possível – se confiarmos naquele que está em vocês em vez de confiarmos em nós mesmos.
i. Esse entendimento proporciona grande confiança e poder espiritual. Para aqueles que caminham nessa verdade, a vitória é garantida – eles os venceram. Essa é uma afirmação positiva, não uma esperança.
c. Aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo: Isso significa que o cristão não tem lugar para o medo. Temos muitos inimigos espirituais, mas nenhum deles é maior do que Jesus que vive em nós.
i. No início da carta, João abordou a ideia do mundo e sua ameaça à vida cristã (1 João 2:15-17). Ele apresentou o mundo não como a Terra global ou a massa da humanidade, que o próprio Deus ama (João 3:16). Em vez disso, é a comunidade da humanidade pecadora que está unida em rebelião contra Deus. Aqui, João sugere que há forças de trevas espirituais que guiam e influenciam o mundo.
4. (5-6) O contraste entre os que estão no mundo e os que são de Deus.
Eles vêm do mundo. Por isso, o que falam procede do mundo, e o mundo os ouve. Nós viemos de Deus, e todo aquele que conhece a Deus nos ouve; mas quem não vem de Deus não nos ouve. Dessa forma reconhecemos o Espírito da verdade e o espírito do erro.
a. Eles vêm do mundo: Aqueles que são do mundo são evidentes porque o que falam procede do mundo; a influência do mundo é evidente em seu discurso. Como disse Jesus: “Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12:34).
b. E o mundo os ouve: Aqueles que são do mundo também são evidentes porque o mundo os ouve. Eles não enfrentam nenhuma das rejeições que o filho de Deus enfrentará por parte do mundo (1 João 3:1), porque são amigos do mundo.
i. O mundo os ouve: O cristão sempre quer falar ao mundo e levar o evangelho de Jesus Cristo ao mundo. É emocionante quando o mundo ouve o evangelho, mas devemos tomar cuidado para que eles não nos ouçam porque o que falamos procede do mundo. O fato de o mundo estar ouvindo a mensagem não prova que a mensagem é a mensagem de Deus.
c. Todo aquele que conhece a Deus nos ouve: Aqueles que são de Deus desfrutam da comunhão com outros crentes; eles falam a linguagem comum da comunhão com Deus e uns com os outros, porque um flui do outro (1 João 1:3).
i. Essa linguagem de comunhão transcende o idioma, a cultura, a classe, a raça ou qualquer outra barreira. É uma verdadeira dádiva de Deus.
ii. Em suas doutrinas oficiais, a Igreja Católica Romana alegou ser o “nos” em todo aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é de Deus não nos ouve. Mas João só pode estar falando sobre os apóstolos e sua revelação autorizada na Bíblia quando diz nos. Quando conhecemos Deus e somos de Deus, ouvimos o que a Bíblia diz.
iii. “Se fosse uma mera conversa individual, a afirmação seria presunçosa. Mas não é. Trata-se de um dos apóstolos citando o testemunho coletivo de todos os apóstolos e fazendo desse testemunho a medida da verdade e da sã doutrina.” (Boice)
d. Mas quem não vem de Deus não nos ouve: Entender quem ouve o que Deus nos ensinou por meio dos apóstolos, conforme registrado no Novo Testamento, nos ajuda a conhecer o espírito da verdade e o espírito do erro. Se alguém ouve o que Deus disse na Bíblia, sabemos que ele tem o espírito da verdade. Se ele não ouvir, ele tem o espírito do erro.
i. João deixa claro que o erro tem uma dinâmica espiritual; não se trata apenas de ser educado ou inteligente. Algumas pessoas muito instruídas e inteligentes ainda podem ser fortemente influenciadas pelo espírito do erro. Como o erro tem uma dinâmica espiritual, manter-se no espírito da verdade é uma questão espiritual.
ii. Nós nos mantemos no espírito da verdade ao nos apegarmos a Jesus, Aquele que disse: “Eu sou a verdade” (João 14:6).
B. O amor aperfeiçoado entre nós.
1. (7-8) O chamado ao amor.
Amados, amemos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.
a. Amados, amemos: A antiga frase grega começa de forma surpreendente – agapetoi agapomen, “aqueles que são amados, amemos”. Não nos é ordenado que amemos uns aos outros para ganhar ou nos tornarmos dignos do amor de Deus. Nós amamos uns aos outros porque somos amados por Deus, recebemos esse amor e vivemos à luz dele.
b. Amemos uns aos outros, pois o amor procede de Deus: A ênfase de João no amor entre o povo de Deus (mostrada em passagens como 1 João 2:9-11 e 3:10-18) é poderosa. Aqui, ele mostra por que isso é tão importante. Se o amor procede de Deus, então aqueles que afirmam ser nascido de Deus e afirmam conhecer a Deus devem ser capazes de amar uns aos outros no corpo de Cristo.
i. Novamente, João insiste que há algo que é dado ao crente quando ele nasce de Deus; um amor é transmitido à sua vida que ele não tinha antes. Os cristãos não são “apenas perdoados” – eles nascem de novo pelo Espírito de Deus.
c. E conhece a Deus: Há várias palavras diferentes na língua grega antiga traduzidas como “conhecer” em inglês. Essa palavra específica para conhece (ginosko) é a palavra para um conhecimento por experiência. João está dizendo que quando realmente experimentarmos Deus, isso se manifestará em nosso amor uns aos outros.
i. É claro que esse amor não é aperfeiçoado na vida de um cristão deste lado da eternidade. Embora não seja perfeito, ele deve estar presente – e deve estar crescendo. Não é possível crescer verdadeiramente em sua experiência com Deus sem crescer também no amor uns aos outros. João pode dizer com ousadia: Quem não ama não conhece a Deus. Se não houver amor real pelo povo de Deus em sua vida, então sua afirmação de que conhece Deus e experimenta Deus não é verdadeira.
d. O amor procede de Deus: O amor de que João fala vem da antiga palavra grega ágape; é o conceito de um amor que se doa sem exigir ou esperar retribuição – é o tipo de amor de Deus.
i. Como esse é o tipo de amor de Deus, ele entra em nossa vida por meio de nosso relacionamento com Ele. Se quisermos amar mais uns aos outros, precisamos nos aproximar de Deus.
ii. Todo relacionamento humano é como um triângulo. As duas pessoas no relacionamento estão na base do triângulo, e Deus está no topo. À medida que as duas pessoas se aproximam do topo do triângulo, mais perto de Deus, elas também se aproximam uma da outra. Os relacionamentos fracos se fortalecem quando as duas pessoas se aproximam do Senhor!
e. Aquele que ama é nascido de Deus… Quem não ama não conhece a Deus: Isso não significa que toda demonstração de amor no mundo só pode vir de um cristão. Aqueles que não são cristãos ainda podem demonstrar atos de amor.
i. “É pelo fato de os homens terem sido criados à imagem de Deus, uma imagem que foi deformada, mas não destruída pela Queda, que eles ainda têm a capacidade de amar… O amor humano, por mais nobre que seja e por mais altamente motivado que seja, fica aquém do esperado se ele se recusar a incluir o Pai e o Filho como os objetos supremos de sua afeição.” (Marshall)
f. Porque Deus é amor: Essa é uma verdade gloriosa. O amor descreve o caráter e o coração de Deus. Ele é tão rico em amor e compaixão que isso pode ser usado para descrever Seu próprio ser.
i. Quando dizemos que Deus é amor, não estamos dizendo tudo sobre Deus. O amor é um aspecto essencial de Seu caráter e colore todos os aspectos de Sua natureza. Mas isso não elimina Sua santidade, Sua retidão ou Sua justiça perfeita. Em vez disso, sabemos que a santidade de Deus é amorosa, que a retidão de Deus é amorosa e que a justiça de Deus é amorosa. Tudo o que Deus faz, de uma forma ou de outra, expressa Seu amor.
ii. “Ele não odeia nada que tenha feito. Ele não pode odiar, porque é amor. Ele faz com que o sol se levante sobre os maus e os bons, e envia sua chuva sobre os justos e os injustos. Ele não fez nenhum ser humano para a perdição, nem jamais tornou impossível, por qualquer decreto necessário, que uma alma caída encontrasse misericórdia. Ele deu a mais completa prova de seu amor a toda a raça humana por meio da encarnação de seu Filho, que provou a morte por todo homem. Como pode um decreto de reprovação absoluta e incondicional, da maior parte ou de qualquer parte da raça humana, permanecer na presença de um texto como este?” (Clarke)
iii. “Nunca deixe que se pense que qualquer pecador está fora do alcance da misericórdia divina enquanto ele estiver na terra dos vivos. Estou aqui para pregar o amor ilimitado, a graça ilimitada, para o mais vil dos vis, para aqueles que não têm nada em si que possa merecer a consideração de Deus, homens que deveriam ser varridos para o poço sem fundo imediatamente se a justiça lhes desse o que merecem.” (Spurgeon)
iv. Grandes problemas surgem quando tentamos dizer que o amor é Deus. Isso ocorre porque o amor não define tudo no caráter de Deus e porque, quando a maioria das pessoas usa o termo amor, elas não estão pensando no amor verdadeiro, o tipo de amor de Deus. Em vez disso, elas estão pensando em um tipo de amor mole, piegas, que valoriza mais ser “bonzinho” do que querer o que é realmente melhor para a outra pessoa.
v. A Bíblia também nos diz que Deus é espírito (João 4:24), Deus é luz (1 João 1:5) e que Deus é um fogo consumidor (Hebreus 12:29).
g. Deus é amor: Há poucas pessoas que realmente sabem e realmente acreditam que Deus é amor. Por qualquer motivo, elas não recebem Seu amor e não permitem que ele transforme suas vidas. Conhecer o amor de Deus dessa forma transforma nossa vida.
i. “Há amor em muitos lugares, como raios de luz errantes; mas, quanto ao sol, está em uma parte dos céus, e nós olhamos para ele e dizemos: ‘Nisto há luz’… (…) Ele não olhou para a Igreja de Deus e disse de todas as miríades que não consideravam suas vidas preciosas: ‘Nisto está o amor’, pois o amor deles era apenas o brilho refletido do grande sol do amor”. (Spurgeon)
2. (9-11) O significado do amor e sua aplicação.
Foi assim que Deus manifestou o seu amor entre nós: enviou o seu Filho Unigênitoao mundo, para que pudéssemos viver por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros.
a. Foi assim que Deus manifestou o seu amor entre nós: enviou o seu Filho Unigênito: Isso nos mostra o que é o amor e o que ele significa. O amor não é definido apenas pelo sacrifício de Jesus (conforme declarado em 1 João 3:16); ele também é definido pela doação do Pai. Foi um sacrifício para o Pai enviar a Segunda Pessoa da Trindade, e um sacrifício para derramar o julgamento que merecíamos sobre Deus, o Filho.
i. Precisamos apreciar isso plenamente e receber o amor paternal que Deus tem para nos dar. Alguns de nós, por qualquer motivo, passaram a pensar em Deus, o Pai, como distante e mau, talvez o chamado “Deus irado” do Antigo Testamento. Com esse pensamento errôneo, muitos imaginam que preferem o simpático e amoroso Jesus. Mas o Pai também nos ama; e o amor que Jesus demonstrou em Seu ministério foi o mesmo amor que Deus, o Pai, tem por nós. Podemos receber o poder de cura do amor de nosso Pai.
b. Que Deus manifestou o seu amor entre nós: enviou o seu Filho Unigênito ao mundo: João tem o cuidado de chamar Jesus de Filho Unigênito. Esse termo especial significa que Jesus tem uma filiação que é única (unigênito), indica que Jesus e o Pai são da mesma substância, o mesmo Ser essencial.
i. Usamos o termo criar para descrever algo que pode vir de alguém, mas não é da mesma natureza ou ser essencial. Um homem pode criar uma estátua que se pareça com ele, mas ela nunca será humana. No entanto, usamos o termo gerar para descrever algo que é exatamente igual a nós em natureza e ser essenciais. Somos filhos e filhas adotivos de Deus, mas não temos a mesma natureza essencial e o mesmo ser de Deus – somos seres humanos. Mas Jesus é o Filho Unigênito, o que significa que Sua filiação é diferente da nossa; Ele era e é da mesma natureza essencial e do mesmo ser que Deus, o Pai. Nós somos seres humanos; Ele é um “ser de Deus” – que acrescentou a humanidade à Sua divindade.
c. Para que pudéssemos viver por meio dele: O amor do Pai não estava apenas no envio do Filho, mas também no que esse envio realiza por nós. Ele traz vida a todos que confiam em Jesus e em Sua obra em favor deles, porque Ele é a propiciação pelos nossos pecados.
i. A propiciação tem a ideia de um sacrifício que afasta a ira de Deus. Deus nos considerava, com razão, separados Dele, como alvos dignos de Seu julgamento. Éramos rebeldes e inimigos Dele, mesmo que não soubéssemos disso. Mas, na cruz, Jesus recebeu a punição que nosso pecado merecia – Seu sacrifício afastou o julgamento que teríamos recebido. Pensamos facilmente que isso mostra o amor de Jesus, mas João quer que entendamos que também mostra o amor de Deus, o Pai: ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.
ii. Para que pudéssemos viver por meio dele: A grandeza do amor de Deus é demonstrada não apenas por nos salvar do julgamento que merecíamos, mas também por querer que vivamos por meio dele. Nós realmente vivemos por meio dele? Essa é uma ótima maneira de definir a vida cristã: viver por meio dele.
d. Deus… enviou o seu Filho Unigênito: Isso demonstra o amor de Deus, porque o amor dá o melhor de si. Não havia nada melhor que Deus, o Pai, pudesse dar à humanidade perdida do que a dádiva do próprio Filho de Deus. Como Paulo descreve em 2 Coríntios 9:15, Jesus foi o presente indescritível do Pai.
i. “Para que houvesse reconciliação entre Deus e o homem, o homem deveria ter enviado a Deus; o ofensor deveria ser o primeiro a pedir perdão; o mais fraco deveria pedir ajuda ao maior; o pobre deveria pedir àquele que distribui esmolas; mas “nisto consiste o amor” que Deus “enviou”. Ele foi o primeiro a enviar uma embaixada de paz”. (Spurgeon)
e. Ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados: Isso demonstra o amor de Deus. Poderia ter demonstrado amor suficiente o fato de o Pai ter enviado o Filho, e não algum anjo de nível inferior; mas Ele enviou o Filho, não em uma missão de averiguação de fatos ou meramente uma missão de compaixão – Ele enviou o Filho para morrer por nossos pecados.
i. “Se Deus tivesse simplesmente enviado Jesus para nos ensinar sobre Si mesmo, isso já teria sido maravilhoso o suficiente. Teria sido muito mais do que merecíamos. Se Deus tivesse enviado Jesus simplesmente para ser nosso exemplo, isso também teria sido bom e teria algum valor… Mas a coisa maravilhosa é que Deus não parou com isso, mas enviou Seu Filho, não apenas para ensinar ou ser nosso exemplo, mas para morrer a morte de um criminoso, para que Ele pudesse nos salvar do pecado.” (Boice)
f. Pelos nossos pecados: Isso demonstra o amor de Deus. Deus deu Seu Filho para morrer, e para morrer pelos pecadores. Podemos pensar em alguém pagando um preço alto para salvar alguém que merece, alguém bom, alguém nobre, alguém que fez muito por ele. Mas Deus fez tudo isso pelos rebeldes, pelos pecadores, por aqueles que Lhe deram as costas.
i. “Mas quem dentre nós pensaria em entregar seu filho para morrer por seu inimigo, por alguém que nunca lhe prestou um serviço, mas o tratou ingratamente, repeliu mil aberturas de ternura, e continuou perversamente endurecendo seu pescoço? Nenhum homem poderia fazer isso”. (Spurgeon)
g. Nisto consiste o amor: O verdadeiro amor, o amor ágape, não é definido por nosso amor por Deus, mas por Seu amor por nós. Seu amor por nós inicia nosso relacionamento de amor com Ele, nosso amor apenas responde ao Seu amor por nós. Não podemos amar a Deus da maneira que deveríamos, a menos que estejamos recebendo e vivendo em Seu amor.
i. Nosso amor por Deus não diz nada de bom a nosso respeito. É apenas a resposta de senso comum ao conhecer e receber o amor de Deus.
h. Visto que Deus assim nos amou: Tendo recebido esse amor de Deus, somos orientados a amar uns aos outros. Esse padrão de receber de Deus e depois dar aos outros era familiar a João (João 13:14).
i. Quando Jesus lavou os pés dos discípulos e demonstrou tanto amor e servidão a eles, poderíamos esperar que Ele concluísse apontando para Seus próprios pés e perguntando quem dentre eles faria a Ele o que acabara de fazer por eles. Em vez disso, Jesus disse: “Pois bem, se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros” (João 13:14). A maneira correta de amar a Deus em resposta ao Seu amor por nós é sair e amar uns aos outros.
ii. Esse amor levará a ações práticas. “Alguém o ofendeu? Busque a reconciliação. “Ah, mas eu sou a parte ofendida”. Deus também era, e ele foi imediatamente e buscou a reconciliação. Irmão, faça o mesmo. ‘Ah, mas eu fui insultado’. Assim também: assim era Deus: todo o mal era contra ele, mas ele mandou. ‘Ah, mas o grupo é tão indigno’. Você também é; mas ‘Deus o amou e enviou Seu Filho’. Vá escrever de acordo com essa cópia”. (Spurgeon)
iii. Se não amarmos uns aos outros, como podemos dizer que recebemos o amor de Deus e nascemos Dele? O amor é a prova que nos ensinam a procurar. Se você tivesse um cano entupido – a água continuava entrando nele, mas nunca saía, esse cano seria inútil. Você o substituiria. Da mesma forma, Deus coloca Seu amor em nossa vida para que ele possa fluir para fora. Queremos que o Senhor nos limpe e nos preencha para que Seu amor possa fluir através de nós.
C. A natureza de um relacionamento de amor com Deus.
1. (12) Ver Deus por meio da evidência do amor.
Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós.
a. Ninguém jamais viu a Deus: João relata um princípio básico sobre Deus, o Pai – que ninguém, ninguém jamais viu a Deus. Qualquer pessoa que afirme ter visto Deus, o Pai, está falando – na melhor das hipóteses – a partir de sua própria imaginação, porque, como João afirma claramente, ninguém jamais viu a Deus.
i. Ao falar de Deus Pai, Paulo escreveu em 1 Timóteo 1:17: “Ao Rei eterno, o Deus único, imortal e invisível.” Jesus declarou sobre Deus Pai: “Deus é Espírito” (João 4:24), o que significa que Deus Pai não tem um corpo tangível que possa ser visto.
ii. Saber que Deus, o Pai, é invisível deve nos tornar mais humildes em nosso relacionamento com Ele. Deus, o Pai, não pode ser totalmente conhecido por nós; não podemos entender Deus completamente ou conhecer todos os Seus segredos. Ele está além de nós.
iii. É claro que ninguém viu Deus, o Espírito Santo, em nenhum momento, embora Ele tenha se representado de várias maneiras. E, com a mesma certeza, Deus, o Filho, Jesus Cristo, foi visto – o próprio João testemunhou isso em 1 João 1:1-3. Mas de Deus, o Pai, pode-se realmente dizer que ninguém jamais viu a Deus.
iv. “As teofanias do Antigo Testamento, incluindo a declaração aparentemente contraditória em Êxodo 24:10, não envolviam a revelação completa de Deus como Ele é em Si mesmo, mas apenas uma sugestão do que Ele é na forma que um ser humano poderia entender.” (Boice)
b. Se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós: Essa é a maior evidência da presença e da obra de Deus entre nós – o amor. Como ninguém jamais viu a Deus, isso fornece evidência da presença de Deus.
i. Algumas pessoas acham que a maior evidência da presença ou da obra de Deus é o poder. Algumas pessoas acham que a maior evidência da presença ou da obra de Deus é a popularidade. Algumas pessoas acham que a maior evidência da presença ou da obra de Deus são os sentimentos apaixonados. Mas a maior evidência da presença e da obra de Deus é o amor. Onde Deus está presente e atuando, haverá amor.
ii. Às vezes, Jesus parecia fraco e sem poder, mas Ele sempre estava cheio de amor. Às vezes, Jesus não era muito popular, mas sempre foi cheio de amor. Às vezes, Jesus não inspirava sentimentos apaixonados nas pessoas, mas estava sempre cheio de amor. O amor era a maior e constante evidência da presença e da obra de Deus em Jesus Cristo.
c. Seu amor está aperfeiçoado em nós: Aperfeiçoado usa a palavra grega teleioo, que não significa “perfeito”, mas sim “maduro” e “completo”. Se amarmos uns aos outros, então o amor de Deus está “maduro” e “completo” em nós.
i. João volta à ideia familiar: se realmente andarmos no amor de Deus por nós, isso será evidente em nosso amor uns pelos outros.
ii. O cristão maduro será marcado pelo amor. Mais uma vez, a verdadeira medida da maturidade não é a imagem do poder, da popularidade ou de sentimentos apaixonados, mas a presença permanente do amor de Deus em nossa vida, distribuído aos outros.
2. (13-15) A certeza da obra do Deus Triúno em nós.
Sabemos que permanecemos nele, e ele em nós, porque ele nos deu do seu Espírito. E vimos e testemunhamos que o Pai enviou seu Filho para ser o Salvador do mundo. Se alguém confessa publicamente que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus.
a. Sabemos que permanecemos nele: Ao começar com as palavras sabemos, João conectou o pensamento desse versículo diretamente ao versículo anterior. Podemos saber por experiência que vivemos em Deus seSeu amor foi aperfeiçoado em nós. E sabemos que Seu amor foi aperfeiçoado em nós se amarmos uns aos outros.
i. Claramente, os cristãos podem dizer: “sabemos”. Não precisamos apenas “esperar” que sejamos salvos e “esperar” que cheguemos ao céu, não tendo, portanto, nenhuma garantia de salvação antes de passarmos deste mundo para o próximo. Podemos saber, e podemos saber agora, deste lado da eternidade.
b. Permanecemos nele, e ele em nós: Nossa permanência em Jesus não é um caso unilateral, com nós lutando para permanecer Nele e Jesus tentando escapar de nós. Assim como é verdade que devemos permanecemos nele, é verdade que Ele permanece em nós.
i. Jesus disse em João 15:4: “Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês.” E em João 15:7, Ele disse: “Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês.” Uma das maneiras pelas quais Jesus permanece em nós – vive em nós – é por meio de Sua palavra.
c. Ele nos deu do seu Espírito: João menciona a obra do Espírito Santo em nós nesse ponto por duas razões importantes. Primeiro, é o Espírito de Deus em nós que é a presença permanente de Jesus – a presença do Seu Espírito é como Ele permanece em nós. Em segundo lugar, é o testemunho do Espírito Santo em nós que nos permite saber que permanecemos nele. Como Paulo diz em Romanos 8:16: “O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus.” O Espírito Santo nos dá essa certeza.
d. E vimos e testemunhamos: O “vimos” que dá testemunho nesse versículo são aqueles que viram Jesus originalmente, as testemunhas oculares de Sua presença. Eles conheciam que o Pai enviou seu Filho para ser o Salvador do mundo.
e. E vimos e testemunhamos: Falando como alguém que tem o Espírito de Deus (ele nos deu do seu Espírito), João declara três verdades essenciais sobre quem é Deus e como Ele nos salva.
·O Pai enviou seu Filho.
·Que Ele (Jesus) foi enviado como Salvador do mundo.
·Conhecer e entender Jesus é a base para permanecer Nele (Se alguém confessa publicamente que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus).
f. Se alguém confessa publicamente que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus: Não é suficiente conhecer os fatos sobre quem é Jesus; devemos confessar a verdade. A ideia por trás da palavra confessar é “estar de acordo”. Precisamos concordar com Deus sobre quem é Jesus, e descobrimos o que Deus diz sobre Jesus por meio da Palavra de Deus. Você pode conhecer algo sem estar de acordo com aquilo; Deus exige nossa verdadeira concordância.
i. Embora João tenha escrito muito sobre o amor, ele não ignora a questão da verdade. João não acha que é “suficiente” que uma pessoa tenha algum tipo de amor em sua vida se ela não confessa publicamente que Jesus é o Filho de Deus. Não é uma questão de decidir entre o amor ou a verdade; devemos ter ambos.
ii. “Reconhecer que Jesus é o Filho de Deus não é simplesmente fazer uma declaração sobre seu status metafísico, mas expressar confiança obediente Naquele que possui tal status.” (Marshall)
iii. “Crer em Cristo e amar os irmãos não são condições pelas quais podemos habitar em Deus, mas são evidências do fato de que Deus já tomou posse de nossas vidas para tornar isso possível.” (Boice)
3. (16) A resposta do cristão a Deus e ao Seu amor.
Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor. Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.
a. Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor: Essa é a resposta adequada do cristão a quem Deus é e como Ele nos ama. Somos chamados a aceitar o amor e a graça que Deus nos dá, a conhecê-los por experiência e a crer neles. É disso que se trata a comunhão com Deus.
i. As pessoas reagem ao amor de Deus de forma diferente.
·Algumas reagem com um senso de autossuperioridade (“Sou tão bom que até Deus me ama!”).
·Algumas reagem com dúvida (“Será que Deus realmente pode amar até a mim?”).
·Alguns respondem com maldade (“Deus me ama, então posso fazer o que quiser”).
·Deus quer que respondamos conhecendo (por experiência) e acreditando no amor que Deus tem por nós.
ii. O cristão deve conhecer e crer no amor que Deus tem por nós. Devemos considerar o que seria necessário para que deixássemos de acreditar que Deus nos ama. Paulo sabia que nada poderia separá-lo do amor de Deus que estava em Jesus Cristo (Romanos 8:35-39), e cada cristão deve ter a mesma confiança.
iii. “Sentir o amor de Deus é muito precioso, mas acreditar nele quando não o sentimos é o mais nobre.” (Spurgeon)
b. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele: O cristão que tem esse tipo de relacionamento com Deus estará virtualmente “imerso” no amor de Deus; ele se torna seu ambiente, seu lugar de permanência.
4. (17-18) O aperfeiçoamento do amor, tanto agora como na eternidade.
Dessa forma o amor está aperfeiçoado entre nós, para que no dia do juízo tenhamos confiança, porque neste mundo somos como ele. No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor.
a. Dessa forma o amor está aperfeiçoado: Para aperfeiçoado, João não usa apenas a palavra grega teleioo (que tem a ideia de “maturidade” e “completude”); ele escreve teleiooteleioo – falando do amor que é “perfeitamente aperfeiçoado” ou “completamente completo”.
b. No dia do juízo: É quando a plenitude da obra do amor em nós será demonstrada. Por mais que possamos conhecer a plenitude do amor de Deus agora, nós a conheceremos ainda mais no dia do juízo.
·Você pode saber que é um pecador agora; você realmente saberá no dia do juízo.
·Você pode saber agora que não é uma pessoa melhor do que aqueles que estão indo para o inferno; você realmente saberá disso no dia do juízo.
·Você pode conhecer a realidade do inferno agora; você realmente a conhecerá no dia do juízo.
·Você pode conhecer a grandeza da salvação de Jesus agora; você realmente a conhecerá no dia do juízo.
c. Para que no dia do juízo tenhamos confiança: Isso mostra a grandeza da obra de Deus em nós. Poderíamos nos contentar em apenas sobreviver ao dia do juízo, mas Deus quer encher nossas vidas com Seu amor e Sua verdade de tal forma que no dia do juízo tenhamos confiança.
i. A Bíblia diz que, um dia, toda a humanidade se reunirá diante do Grande Trono Branco de Deus e enfrentará o julgamento. Esse dia está chegando! “O dia do julgamento é tão fixo no cronograma eterno de Deus quanto qualquer outro dia na história do mundo.” (Boice)
ii. Alguns acham que irão até lá e julgarão Deus (“Quando eu vir Deus, terei algumas perguntas para fazer a Ele!”), mas isso não faz sentido. A única maneira de que no dia do juízo teremos confiança é receber e andar no amor transformador de Deus hoje.
d. No dia do juízo tenhamos confiança: Como alguém pode ter essa ousadia? Podemos imaginar Jesus sendo ousado diante do trono de Deus, mas nós? No entanto, se permanecermos Nele, e Ele em nós (1 João 4:13), então nossa identidade está ligada a Jesus: porque neste mundo somos como ele.
i. Como Jesus está agora? Ele está glorificado, justificado, eternamente justo e confiante, sentado à direita de Deus, o Pai. Espiritualmente, podemos ter essa mesma posição agora, enquanto estivermos neste mundo, porque assim como Ele está agora, nós também somos como ele.
ii. Certamente, essa glória está em nós agora apenas em forma de “semente”; ela ainda não se desenvolveu totalmente no que será. Mas ela está lá, e sua presença é demonstrada pelo nosso amor uns pelos outros e pela nossa concordância com a verdade de Deus – e tudo isso serve para nos dar confiança.
e. No amor não há medo: A plenitude do amor significa que não nos encolhemos de medo diante de Deus, temendo Seu julgamento, seja agora ou no dia do juízo. Sabemos que todo o julgamento que merecemos – passado, presente e futuro – foi derramado sobre Jesus Cristo na cruz.
i. E quanto às muitas passagens das Escrituras, do Antigo e do Novo Testamento (como Eclesiastes 12:13 e 1 Pedro 2:17), que nos dizem que devemos temer a Deus? O medo sobre o qual João escreve aqui não é a reverência apropriada que todos nós deveríamos ter por Deus, mas o tipo de medo que supõe castigo– aquele tipo de temor agonizante que rouba de nossa alma toda a alegria e confiança diante de Deus. É o medo que é o oposto da confiança no dia do juízo.
f. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor: Se nosso relacionamento com Deus é marcado por esse medo atormentador, isso mostra que não fomos aperfeiçoados – ou seja, completos e maduros – em Seu amor.
5. (19) A razão de nosso amor por Jesus.
Nós amamos porque ele nos amou primeiro.
Charles Spurgeon era um homem que pregava todo o conselho da palavra de Deus e tinha o cuidado de não se repetir excessivamente em nenhuma área. No entanto, ele pregou cinco sermões notáveis somente sobre essas sete palavras. Os comentários a seguir se baseiam muito no trabalho de Spurgeon sobre esse único versículo.
a. Nós amamos: Nessa grande afirmação, João começa declarando o coração de todo verdadeiro seguidor de Jesus Cristo. Em termos simples e ousados, nós O amamos.
i. Isso é um fato para todo verdadeiro seguidor de Jesus. “Não há exceção a esta regra: se alguém não ama a Deus, tampouco é nascido de Deus. Mostre-me um fogo sem calor, então me mostre a regeneração que não produz amor a Deus.” (Spurgeon)
ii. É algo que todo cristão não deve ter medo de proclamar: “Eu O amo; eu amo Jesus”. Você consegue dizer isso? Você se sente envergonhado de dizer isso? Você consegue dizer: “Eu amo Jesus”?
iii. “Não consigo imaginar um homem verdadeiro dizendo: ‘Amo a Cristo, mas não quero que os outros saibam que eu o amo, para que não riam de mim’. Esse é um motivo para ser ridicularizado, ou melhor, para ser chorado. Com medo de que riam de você? Oh, senhor, esse é realmente um medo covarde!” (Spurgeon)
iv. “Olhe através de todas as páginas da história e faça aos homens e mulheres mais nobres, que parecem ainda viver, esta pergunta: “Quem ama a Cristo?” e, imediatamente, das masmorras escuras e dos cruéis calabouços, surge o grito dos confessores: “Nós o amamos”; e da estaca ardente, onde eles batiam palmas enquanto eram queimados até a morte, vem a mesma resposta: “Nós o amamos”. Se você pudesse caminhar por quilômetros de catacumbas em Roma e se os mortos sagrados, cujo pó jaz ali, pudessem acordar de repente, todos eles gritariam: ‘Nós o amamos’. Os melhores e mais corajosos dos homens, as mais nobres e puras das mulheres, todos estiveram nessa gloriosa companhia; então, certamente, você não tem vergonha de vir à frente e dizer: ‘Coloque meu nome entre eles’”. (Spurgeon)
v. “Seja totalmente a favor dele; mostre suas bandeiras, nunca as esconda, mas pregue-as no mastro e diga a todos os que ridicularizam os santos: ‘Se você tem alguma palavra ruim para os seguidores de Cristo, despeje-a sobre mim… mas saiba disso – você ouvirá, quer goste ou não, – “Eu amo a Cristo”’”. (Spurgeon)
b. Ele nos amou primeiro: Esse versículo não apenas declara nosso amor por Jesus, mas também nos diz quando Ele nos amou. Algumas pessoas imaginam que Jesus nos amou porque sabia que O amaríamos e teríamos fé Nele. Mas Ele nos amou antes disso, e mesmo antes de os mundos serem criados, quando nossa única existência estava na mente e no coração de Deus, Jesus nos amou.
i. Ele nos amou quando ainda éramos pecadores: “Todo homem que já foi salvo teve que vir a Deus não como um amante de Deus, mas como um pecador, e então acreditar no amor de Deus por ele como um pecador.” (Spurgeon)
ii. “Jesus o amou quando você vivia descuidadamente, quando negligenciava sua Palavra, quando o joelho não se dobrava em oração. Ah! Ele amou alguns de vocês quando estavam no salão de dança, quando estavam no teatro, sim, até mesmo quando estavam no bordel. Ele os amou quando vocês estavam às portas do inferno e bebiam a condenação a cada gole. Ele o amou quando você não poderia ter sido pior ou mais distante dele do que foi. Maravilhoso, ó Cristo, é o Seu estranho amor!” (Spurgeon)
c. Nós amamos porque ele nos amou primeiro: Esse versículo nos diz de onde vem o nosso amor por Jesus. Vem Dele. Nosso amor por Deus é sempre uma resposta ao Seu amor por nós; Ele inicia e nós respondemos. Nunca precisamos atrair Deus para nós; em vez disso, Ele nos atrai para Si.
i. “1. Nós o amamos porque descobrimos que ele nos amou. 2. Nós o amamos por um senso de obrigação e gratidão. 3. Nós o amamos pela influência de seu próprio amor; de seu amor derramado em nosso coração procede nosso amor por ele. É a semente de onde brota nosso amor.” (Clarke)
ii. “O amor dele é a fonte, o nosso é apenas o fluxo: o amor dele é o incentivo, o padrão e a causa efetiva do nosso. Aquele que é o primeiro a amar, ama livremente; o outro, portanto, ama por obrigação.” (Poole)
iii. “Às vezes tenho notado que, ao falar com as crianças da escola dominical, não é incomum dizer-lhes que a maneira de ser salvo é amar Jesus, o que não é verdade. A maneira de ser salvo, seja homem, mulher ou criança, é confiar em Jesus para o perdão dos pecados, e então, confiando em Jesus, o amor vem como fruto. O amor não é de forma alguma a raiz. Somente a fé ocupa esse lugar”. (Spurgeon)
d. Nós amamos porque ele nos amou primeiro: Esse versículo nos diz o porquê amamos Jesus e como podemos amá-Lo ainda mais.
i. “O amor acreditado é a mãe do amor retribuído”. (Spurgeon)
ii. “No entanto, não devemos tentar fazer com que nós mesmos amemos nosso Senhor, mas olhar primeiro para o amor de Cristo, pois seu amor por nós gerará em nós o amor por Ele. Sei que alguns de vocês estão muito angustiados porque não conseguem amar a Cristo tanto quanto gostariam, e ficam se preocupando porque é assim. Esqueçam seu próprio amor por ele e pensem no grande amor que ele tem por vocês; e então, imediatamente, seu amor se tornará algo mais parecido com o que vocês gostariam que fosse”. (Spurgeon)
iii. “Agora lembre-se, nunca nos fazemos amar mais a Cristo nos flagelando por não amá-lo mais. Passamos a amar melhor aqueles a quem amamos conhecendo-os melhor… Se você quiser amar mais a Cristo, pense mais nele, pense mais no que você recebeu dele.” (Spurgeon)
e. Ele nos amou primeiro: Isso significa que é verdade que Ele nos ama agora. Você acredita nisso? “Oh, se você realmente acredita que Ele o amou assim, sente-se e repense o assunto em sua mente, e diga a si mesmo: ‘Jesus me ama; Jesus me escolheu; Jesus me redimiu; Jesus me chamou; Jesus me perdoou; Jesus me levou para a união consigo mesmo’”. (Spurgeon)
6. (20-21) O mandamento de amar.
Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus”, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame também seu irmão.
a. Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus”: Geralmente é mais fácil para alguém proclamar seu amor por Deus, porque isso diz respeito a um relacionamento particular com um Deus invisível. Mas João insiste, com razão, que nossa afirmação de amar a Deus é falsa se não amarmos também nosso irmão, e que esse amor deve ser visto.
i. Uma pessoa pode ser um anão espiritual porque lhe falta amor. Alguém pode conhecer a Palavra, nunca perder um culto, orar fervorosamente e demonstrar os dons do Espírito. No entanto, em tudo isso, essa pessoa pode ser como Caim, oferecendo a Deus o fruto de suas mãos e não o fruto do Espírito.
b. Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus”, mas odiar seu irmão, é mentiroso: Por essa medida crucial, Jesus disse que o mundo poderia medir nosso status como discípulos pela medida de nosso amor uns pelos outros. “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (João 13:35).
i. Há uma diferença entre o amor do homem e o amor divino. “Esses versículos equivalem a dizer que uma pessoa não pode praticar o amor ágape a menos que primeiro pratique o amor philia.” (Boice)
c. Ele nos deu este mandamento: Temos o mandamento de amar. Embora o amor brote de nosso relacionamento permanente com Deus e venha do fato de termos nascido Dele, há também um aspecto essencial de nossa vontade envolvido. Portanto, temos o mandamento de amar nosso irmão em Cristo.
i. O fato de sermos nascidos de Deus e permanecermos com Ele nos dá a capacidade de amar; mas é uma escolha da nossa vontade usar esse recurso e distribuí-lo aos outros. Portanto, recebemos o mandamento de amar, de que quem ama a Deus, ame também seu irmão.
ii. Por causa disso, a desculpa “Eu simplesmente não consigo amar essa pessoa” (ou outras desculpas do gênero) é inválida. Se somos nascidos Dele e permanecemos Nele, então os recursos para o amor estão lá. Cabe a nós responder à Sua ordem com nossa vontade e todo o nosso ser.
d. Quem ama a Deus, ame também seu irmão: Também podemos aprender a amar a Deus amando as pessoas. Alguém pode dizer: “Quero amar mais a Deus; quero crescer em meu amor por Ele. Mas como posso amar um Deus que é invisível?” Deus nos diria: “Aprenda a me amar, a quem você não pode ver, amando meus filhos, a quem você pode ver”.
i. Jesus disse em Mateus 5:23-24: “Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta.” Deus se agrada mais quando você se reconcilia com seu irmão do que se você levar a Ele um sacrifício de louvor ou recursos.
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