Marcos 9 – A Transfiguração
A. Jesus é transfigurado.
1. (2-3) Jesus é transfigurado diante dos Seus discípulos.
E lhes disse: “Garanto-lhes que alguns dos que aqui estão de modo nenhum experimentarão a morte, antes de verem o Reino de Deus vindo com poder”. Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou a um alto monte, onde ficaram a sós. Ali ele foi transfigurado diante deles. Suas roupas se tornaram brancas, de um branco resplandecente, como nenhum lavandeiro no mundo seria capaz de branqueá-las.
a. Pedro, Tiago e João: A maioria das pessoas presume que Jesus separou esses três nesta e em outras ocasiões porque eram favoritos especiais do Senhor. Também poderia ser que eles fossem os três com maior probabilidade de se meterem em problemas, então Ele os manteve por perto para ficar de olho neles.
b. Os levou a um alto monte, onde ficaram a sós: O que começou como um retiro no monte rapidamente mudou à medida que a glória de Jesus brilhou e Jesus foi transformado bem diante dos olhos dos discípulos (Ali ele foi transfigurado diante deles).
i. Mateus disse que o rosto de Jesus brilhou como o sol (Mateus 17:2), e tanto Mateus quanto Marcos usaram a palavra transfigurado para descrever o que aconteceu com Jesus. Durante este breve período, Jesus assumiu uma aparência mais apropriada para o Rei da Glória do que para um homem humilde.
c. Ali ele foi transfigurado diante deles: Marcos fez o melhor que pôde para descrever para nós como era Jesus – sem dúvida, através dos olhos de Pedro. Basicamente, toda a aparência de Jesus brilhou com uma luz gloriosa e brilhante – suas roupas se tornaram brancas, e mais branco do que qualquer coisa vista nesta terra.
i. Se não tomarmos cuidado, pensaremos na transfiguração apenas como uma luz brilhante que brilhou sobre Jesus. Mas esta não foi uma luz vinda de fora sobre Jesus. “A palavra transfigurado descreve uma mudança externa que vem de dentro. É o oposto de ‘mascarada’, que é uma mudança externa que não vem de dentro.” (Wiersbe)
ii. Este não foi um novo milagre, mas a pausa temporária de um milagre contínuo. O verdadeiro milagre foi que Jesus, na maioria das vezes, conseguiu evitar de exibir a Sua glória. “Para Cristo ser glorioso era quase uma questão menor do que para ele restringir ou esconder sua glória. É para sempre sua glória que ele escondeu sua glória; e que, embora fosse rico, por nossa causa ele se tornou pobre.” (Spurgeon)
d. Transfigurado diante deles: Jesus fez isso porque acabou de dizer aos Seus discípulos que Ele estava seguindo o caminho da cruz (Marcos 8:31) e que espiritualmente eles deveriam segui-lo no caminho da cruz (Marcos 8:34-38). Foi fácil para eles perderem a confiança em Jesus depois de uma declaração tão negativa.
i. Mas agora, enquanto Jesus exibia a Sua glória como Rei sobre todo o Reino de Deus, os discípulos sabiam que Jesus sabia o que estava fazendo. Se Ele sofresse, fosse rejeitado e morto, Ele ainda estaria no controle.
ii. Jesus também mostrou dramaticamente que os portadores da cruz seriam receptores de glória. O objetivo não é a cruz. A cruz é o caminho para a meta, e a meta é a glória de Deus.
2. (4) Elias e Moisés aparecem com Jesus.
E apareceram diante deles Elias e Moisés, os quais conversavam com Jesus.
a. E apareceram diante deles Elias e Moisés: Tanto Elias como Moisés representam aqueles que são arrebatados a Deus (Judas 9 e 2 Reis 2:11). Moisés representa aqueles que morrem e vão para a glória, e Elias representa aqueles que são arrebatados para o céu sem morte (como em 1 Tessalonicenses 4:13-18).
i. Eles também representam a Lei (Moisés) e os Profetas (Elias). A soma da revelação do Antigo Testamento chega ao encontro de Jesus no Monte da Transfiguração.
ii. Eles também figuram juntos no futuro cumprimento da profecia. Elias e Moisés provavelmente estão ligados às testemunhas de Apocalipse 11:3-13.
iii. Bem na frente deles, os discípulos viram evidências de vida além desta vida. Quando viram Moisés e Elias, eles sabiam que Moisés havia partido deste mundo 1.400 anos antes e Elias havia falecido cerca de 900 anos antes. No entanto, lá estavam eles, vivos em glória diante deles. Deu-lhes confiança na reivindicação de ressurreição de Jesus.
iv. Parece que os discípulos sabiam que estes eram Elias e Moisés. Isso nos mostra que nos conheceremos quando chegarmos ao céu. Não saberemos menos no céu do que na terra.
b. Os quais conversavam com Jesus: Elias e Moisés estavam interessados na execução do plano de Deus através de Jesus. Eles falaram sobre o que Jesus estava prestes a realizar em Jerusalém (Lucas 9:31).
3. (5-10) A oferta imprudente de Pedro de construir três tendas para honrar Jesus, Moisés e Elias, e a resposta do Pai.
Então Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias”. Ele não sabia o que dizer, pois estavam apavorados. A seguir apareceu uma nuvem e os envolveu, e dela saiu uma voz, que disse: “Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!” Repentinamente, quando olharam ao redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus. Enquanto desciam do monte, Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos. Eles guardaram o assunto apenas entre si, discutindo o que significaria “ressuscitar dos mortos”.
a. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias: Quando Pedro viu Jesus na Sua glória, deve ter dito consigo mesmo: “Isto é bom. Assim é como deve ser. Esqueça essa história de sofrimento, de ser rejeitado e crucificado. Vamos construir algumas tendas para que possamos viver assim com o Jesus glorificado o tempo todo.”
b. Ele não sabia o que dizer: Muitas vezes temos problemas quando falamos como Pedro, sem saber o que dizer. Vemos também que Pedro falou por medo (pois estavam apavorados). Dizemos muitas coisas tolas sem pensar e por medo.
i. “Pedro era sincero, ousado e entusiasmado. Na minha opinião, há algo muito adorável em Pedro; e, na minha opinião, precisamos de mais Pedros na igreja dos dias atuais. Embora sejam precipitados e impulsivos, ainda assim há fogo neles e há vapor neles, de modo que nos mantêm em movimento.” (Spurgeon)
ii. Lucas nos conta que Pedro, Tiago e João estavam todos dormindo e, quando acordaram, viram Jesus transfigurado com Elias e Moisés. “Pedro, subitamente acordado a tempo de ver a glória desaparecer, era tagarela em seu terror, como alguns homens são.” (Cole)
iii. O que Pedro disse foi tolice porque ele colocou Jesus no mesmo nível de Elias e Moisés – uma tenda para cada um! Mas Jesus não é apenas outro Moisés ou Elias, ou mesmo um Moisés ou Elias maior. Jesus é o Filho de Deus.
iv. Pois estavam apavorados: Estar na presença da glória de Deus não é necessariamente uma experiência agradável – especialmente quando somos como Pedro, não glorificando realmente a Deus. Às vezes, a glória de Deus é mostrada na maneira como Ele nos corrige.
c. Apareceu uma nuvem e os envolveu: Esta é uma nuvem familiar, a nuvem da glória de Deus tradicionalmente conhecida como Shekinah.
·Foi a coluna de nuvem que esteve ao lado de Israel no deserto (Êxodo 13:21-22).
·Foi a partir da nuvem de glória que Deus falou a Israel (Êxodo 16:10).
·Foi desta nuvem de glória que Deus se encontrou com Moisés e outros (Êxodo 19:9, 24:15-18, Números 11:25, 12:5, 16:42).
·Foi a nuvem de glória que ficou junto à porta do Tabernáculo (Êxodo 33:9-10).
·Foi desta nuvem que Deus apareceu ao Sumo Sacerdote no Lugar Santo, dentro do véu (Levítico 16:2).
·Foi desta nuvem que Deus apareceu a Salomão quando o templo foi dedicado, enchendo tanto o templo que os sacerdotes não puderam continuar (1 Reis 8:10-11, 2 Crônicas 5:13-14).
·Foi a nuvem da visão de Ezequiel, enchendo o templo de Deus com o brilho da Sua glória (Ezequiel 10:4).
·Foi a nuvem de glória que envolveu Maria quando ela concebeu Jesus pelo poder do Espírito Santo (Lucas 1:35).
·Foi a nuvem de glória que recebeu Jesus no céu em Sua ascensão (Atos 1:9).
·Foi a nuvem que exibirá a glória de Jesus Cristo quando Ele retornar triunfante a esta terra (Lucas 21:27).
d. Este é o meu Filho amado. Ouçam-no! A voz vinda da nuvem de glória deixou claro que Jesus não estava no mesmo nível de Elias e Moisés. Este é o meu Filho amado– portanto ouçam-no!
i. Esta palavra do céu respondeu às dúvidas dos discípulos após a revelação do Messias sofredor. Assegurou-lhes que o plano também estava bem com Deus, o Pai.
e. Jesus, lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos: Depois que tudo acabou, Pedro, João e Tiago guardaram o assunto apenas entre si – afinal, quem acreditaria neles?
i. Mas o acontecimento deixou uma impressão duradoura nesses homens. Pedro relatou o que aconteceu em 2 Pedro 1:16-18, como a voz de Deus dizendo: “Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!” ainda soava em seus ouvidos, confirmando quem era Jesus.
ii. Por mais impressionante que tenha sido essa experiência, ela em si não mudou a vida dos discípulos tanto quanto o fato de nascer de novo. Nascer de novo pelo Espírito de Deus é o grande milagre, a maior demonstração da glória de Deus de todos os tempos.
iii. “É melhor para um homem viver perto de Cristo e desfrutar de sua presença, do que ser ofuscado por uma nuvem brilhante e ouvir o próprio Pai divino falando dela.” (Spurgeon)
4. (11-13) O problema de Elias vir primeiro: uma questão baseada em Malaquias 4:5-6.
E lhe perguntaram: “Por que os mestres da lei dizem que é necessário que Elias venha primeiro?” Jesus respondeu: “De fato, Elias vem primeiro e restaura todas as coisas. Então, por que está escrito que é necessário que o Filho do homem sofra muito e seja rejeitado com desprezo? Mas eu lhes digo: Elias já veio, e fizeram com ele tudo o que quiseram, como está escrito a seu respeito”.
a. Por que os mestres da lei dizem: A vinda de Elias antes do Messias foi claramente profetizada em Malaquias 4:5-6. Então os discípulos se perguntaram: “Se Jesus é o Messias, então onde está Elias?”
b. Elias vem primeiro: Jesus disse-lhes que a profecia de Elias em Malaquias seria realmente cumprida. Embora Jesus não tenha dito isso aqui, a profecia da vinda de Elias tinha a ver com a segunda vinda de Jesus, não com a Sua primeira, e Elias provavelmente retornaria em conexão com uma das duas testemunhas como Apocalipse 11:2-13.
i. Por que está escrito que é necessário que o Filho do homem sofra muito: Jesus aqui chamou a atenção para o contraste entre Sua primeira e segunda vinda. Os discípulos estavam bem cientes das profecias relativas à glória do Messias; Jesus pediu-lhes que considerassem as profecias sobre Seu sofrimento e que Ele deveria ser rejeitado com desprezo.
c. Mas eu lhes digo: Elias já veio: Embora fosse verdade que Elias ainda estava por vir em referência à segunda vinda de Jesus, havia também um sentido em que Elias já veio – na pessoa de João Batista.
i. João não era uma reencarnação de Elias, mas ministrou no papel e no espírito de Elias. João Batista era um tipo ou figura de Elias.
B. Jesus expulsa um demônio difícil de um menino.
1. (14-18) Os discípulos não conseguem expulsar um demônio.
Quando chegaram aonde estavam os outros discípulos, viram uma grande multidão ao redor deles e os mestres da lei discutindo com eles. Logo que todo o povo viu Jesus, ficou muito surpreso e correu para saudá-lo. Perguntou Jesus: “O que vocês estão discutindo?” Um homem, no meio da multidão, respondeu: “Mestre, eu te trouxe o meu filho, que está com um espírito que o impede de falar. Onde quer que o apanhe, joga-o no chão. Ele espuma pela boca, range os dentes e fica rígido. Pedi aos teus discípulos que expulsassem o espírito, mas eles não conseguiram”.
a. Os mestres da lei discutindo com eles: Pelo contexto, é razoável supor que os escribas criticaram os discípulos por sua incapacidade de ajudar o menino possuído pelo demônio. “É de se perguntar por que esses mesmos escribas, em vez de envergonhar ainda mais os discípulos desanimados diante da multidão, não começaram a exorcizar eles próprios o demônio, como prova de ortodoxia.” (Cole)
i. Esse tipo de conflito era exatamente o que Pedro queria evitar ao permanecer no monte da transfiguração (Marcos 9:5). Mas não poderia ser assim. Eles simplesmente tiveram que descer do monte e lidar com o que encontraram.
ii. “Ele encontrou os mestres da lei briguentos, um pai distraído, um menino possuído por demônios e discípulos derrotados… Ele silenciou os mestres da lei, consolou o pai, curou o menino, instruiu os discípulos.” (Morgan)
b. Um espírito que o impede de falar: Aos olhos dos exorcistas judeus contemporâneos, este era um demônio particularmente difícil – se não impossível – de expulsar. Isso porque eles acreditavam que era preciso aprender o nome de um demônio antes de poder expulsá-lo, e se um demônio deixasse alguém mudo, você nunca conseguiria aprender o nome dele.
c. Onde quer que o apanhe, joga-o no chão. Ele espuma pela boca, range os dentes e fica rígido: O menino apresentava sinais que muitos hoje considerariam como evidência de epilepsia, mas Jesus percebeu que eram causados por possessão demoníaca. Certamente, alguns dos que hoje diagnosticamos como doentes físicos ou mentais estão na verdade possuídos por demônios.
i. “Jesus se dirige ao demônio como um ser separado do menino, como sempre faz. Isto torna difícil acreditar que Jesus estivesse apenas cedendo à crença popular numa superstição. Ele evidentemente considera o demônio como a causa, neste caso, do infortúnio do menino.” (Robertson)
d. Pedi aos teus discípulos que expulsassem o espírito, mas eles não conseguiram: Este caso específico de possessão demoníaca foi demais para os discípulos, embora Jesus lhes tivesse dado autoridade sobre espíritos imundos (Marcos 6:7).
i. Aparentemente alguns demônios são mais fortes – isto é, mais teimosos ou intimidadores do que outros. Efésios 6:12 parece descrever diferentes categorias de seres demoníacos, e não é exagero pensar que algumas categorias podem ser mais poderosas do que outras.
2. (19-27) Jesus liberta o menino.
Respondeu Jesus: “Ó geração incrédula, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los? Tragam-me o menino”. Então, eles o trouxeram. Quando o espírito viu Jesus, imediatamente causou uma convulsão no menino. Este caiu no chão e começou a rolar, espumando pela boca. Jesus perguntou ao pai do menino: “Há quanto tempo ele está assim?” “Desde a infância”, respondeu ele. “Muitas vezes o tem lançado no fogo e na água para matá-lo. Mas, se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.” “Se podes? “, disse Jesus. “Tudo é possível àquele que crê.” Imediatamente o pai do menino exclamou: “Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!” Quando Jesus viu que uma multidão estava se ajuntando, repreendeu o espírito imundo, dizendo: “Espírito mudo e surdo, eu ordeno que o deixe e nunca mais entre nele”. O espírito gritou, agitou-o violentamente e saiu. O menino ficou como morto, a ponto de muitos dizerem: “Ele morreu”. Mas Jesus tomou-o pela mão e o levantou, e ele ficou em pé.
a. Ó geração incrédula, até quando estarei com vocês? Quando Jesus descreve uma geração incrédula, Ele pode referir-se aos escribas contenciosos, ao pai desesperado ou aos discípulos malsucedidos.
b. Quando o espírito viu Jesus, imediatamente causou uma convulsão no menino. Este caiu no chão: Quando Jesus se aproximou, o demônio dentro do menino sabe que seu tempo era curto. Ele queria causar o máximo de dano que pudesse antes de partir.
c. Mas, se podes fazer alguma coisa: O homem parecia não ter certeza se Jesus poderia fazer alguma coisa. Mas o “se” não dizia respeito ao que Jesus poderia fazer. O “se” dizia respeito à fé do homem. Então Jesus lhe disse: Tudo é possível àquele que crê. Quando confiamos em Deus como verdadeiro e em todas as Suas promessas como verdadeiras, tudo que Ele promete é possível.
d. Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade! O pobre pai deste relato foi desafiado pela exortação de Jesus à fé. Ele acreditava no poder de Jesus para libertar seu filho – afinal, por que outro motivo ele teria vindo a Jesus? Mas ele também reconheceu suas dúvidas. Então, ele implorou a Jesus: Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!
i. Neste caso, a incredulidade do homem não foi uma rebelião ou uma rejeição da promessa de Deus. Ele não negou a promessa de Deus; ele desejou. No entanto, parecia bom demais para ser verdade. Assim ele disse: “ajuda-me a vencer a minha incredulidade!”
ii. Ajuda-me a vencer a minha incredulidade é algo que um homem só pode dizer pela fé. “Embora os homens não tenham fé, eles não têm consciência de sua incredulidade; mas, assim que adquirem um pouco de fé, então começam a ter consciência da grandeza da sua incredulidade.” (Spurgeon)
e. O espírito gritou, agitou-o violentamente e saiu: Jesus não teve nenhuma dificuldade em lidar com o demônio, embora o demônio tenha feito uma demonstração final de sua força terrível. Sabendo que deveria partir, o demônio causou o maior dano que pôde antes de partir. Mas não foi um dano duradouro.
3. (28-29) Por que os discípulos não tiveram sucesso?
Depois de Jesus ter entrado em casa, seus discípulos lhe perguntaram em particular: “Por que não conseguimos expulsá-lo?” Ele respondeu: “Essa espécie só sai pela oração e pelo jejum”.
a. Por que não conseguimos expulsá-lo? Jesus revelou a razão da sua fraqueza: era devido à falta de oração e jejum.
b. Essa espécie só sai pela oração e pelo jejum: Não é que a oração e o jejum nos tornem mais dignos de expulsar demônios. É que a oração e o jejum nos aproximam do coração de Deus e nos colocam mais alinhados com o Seu poder. Eles são uma expressão da nossa total dependência Dele.
i. Jesus já lhes deu autoridade para expulsar demônios (Marcos 3:14-15). No entanto, “a autoridade que Jesus lhes deu só era eficaz se exercida pela fé, mas a fé deve ser cultivada através da disciplina espiritual e da devoção.” (Wiersbe)
ii. Esta dependência total de Deus é o remédio para muitos problemas espirituais. Estar desapontado consigo mesmo é ter confiado em si mesmo.
C. Para Jerusalém.
1. (30-32) Jesus lembra Seus discípulos de Sua missão.
Eles saíram daquele lugar e atravessaram a Galiléia. Jesus não queria que ninguém soubesse onde eles estavam, porque estava ensinando os seus discípulos. E lhes dizia: “O Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens. Eles o matarão, e três dias depois ele ressuscitará”. Mas eles não entendiam o que ele queria dizer e tinham receio de perguntar-lhe.
a. Jesus não queria que ninguém soubesse: Provavelmente porque Jesus não queria que a multidão da galileia se agarrasse a Ele e impedisse esta importante viagem a Jerusalém.
b. O Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens. Eles o matarão: Jesus disse claramente aos Seus discípulos sobre esse destino em Marcos 8:31. Agora, ao partirem da Galileia em direção a Jerusalém, dirigiram-se para o destino de que Jesus falava.
c. Mas eles não entendiam o que ele queria dizer: Os discípulos não conseguiram “processar” o que Jesus disse sobre o Seu destino em Jerusalém – morrer e depois ressuscitar. Infelizmente, eles tinham receio de perguntar-lhe.
2. (33-34) A disputa na estrada.
E chegaram a Cafarnaum. Quando ele estava em casa, perguntou-lhes: “O que vocês estavam discutindo no caminho?” Mas eles guardaram silêncio, porque no caminho haviam discutido sobre quem era o maior.
a. Mas eles guardaram silêncio: Este foi um silêncio constrangedor. Mostrou que eles tinham vergonha de sua obsessão pela grandeza. Foi um sentimento saudável de vergonha e provou que parte da mensagem de Jesus estava penetrando em seus corações.
b. Haviam discutido sobre quem era o maior: Parece que esse era o tema de debate preferido entre os discípulos. Todos contavam com Jesus para dominar o mundo como Rei Messias, e o debate era sobre quem era mais digno de ser o principal associado de Jesus.
3. (35-37) Verdadeira grandeza no reino de Deus.
Assentando-se, Jesus chamou os Doze e disse: “Se alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos”. E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles. Pegando-a nos braços, disse-lhes: “Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo; e quem me recebe, não está apenas me recebendo, mas também àquele que me enviou”.
a. Assentando-se: Isso foi importante porque, ao sentar-se, Jesus mostrou que iria ensinar. “Quando um rabino ensinava como rabino, como um mestre ensina a seus estudiosos e discípulos, quando estava realmente fazendo um pronunciamento, ele sentava-se para ensinar. Jesus deliberadamente assumiu a posição de um rabino ensinando seus alunos antes de falar.” (Barclay)
b. Se alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos: A questão em questão era: “Quem seria o maior?” Jesus poderia ter respondido à pergunta: “Ei, idiotas – eu sou o maior”. Mas Jesus não colocou o foco em si mesmo. Como exemplo de grandeza, Jesus apresentou o último e o servo.
i. Claro, Jesus éo maior do reino. Então, quando Ele disse o último e o servo, Ele estava realmente descrevendo a Si mesmo – e expressou com precisão Sua natureza. Ele foi verdadeiramente o primeiro, mas se fez o último, e servo de todos por nossa causa.
ii. Jesus nos desafiou a sermos os últimos. O desejo de ser elogiado e de obter reconhecimento deveria ser estranho para um seguidor de Jesus. Jesus quer que abracemos o último como uma escolha, permitindo que outros sejam preferidos antes de nós, e não apenas porque somos forçados a ser os últimos.
iii. Jesus desafia-nos a ser servos de todos. Na ideia mundana de poder, um grande homem se distingue pelo número de pessoas que o servem. Na China antiga, era moda que os homens ricos deixassem as unhas crescer tanto que suas mãos ficavam inutilizáveis para tarefas básicas. Isto demonstrava que eles não precisavam fazer nada por si próprios; um servo estava sempre lá para atendê-los. O mundo pode pensar nisso como grandeza, mas Deus não. Jesus declarou que a verdadeira grandeza não é demonstrada por quantos servem você, mas por quantos você serve.
iv. “Não foi que Jesus aboliu a ambição. Em vez disso, ele recriou e sublimou a ambição. Ele substituiu a ambição de governar pela ambição de servir. Ele substituiu a ambição de fazer coisas para nós pela ambição de fazer coisas para os outros.” (Barclay)
c. E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles: Jesus chamou a atenção deles para a Sua natureza apresentando uma criança como exemplo. Naquela época, as crianças eram consideradas mais como propriedade do que como indivíduos. Entendeu-se que eles deveriam ser vistos e não ouvidos. Jesus disse que a maneira como recebemos pessoas consideradas crianças mostra como o receberíamos (Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo).
i. As crianças não são ameaçadoras. Não temos medo de encontrar uma criança de 5 anos num beco escuro. Quando temos uma presença dura e intimidadora, não somos como Jesus.
ii. As crianças não são boas em enganar. Elas não fazem um bom trabalho enganando os pais. Quando somos bons em nos esconder e enganar os outros, não somos como Jesus.
d. Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo: Porque Jesus é o último de todos e servo de todose como uma criança, quando honramos e recebemos uma criança – ou alguém que é servo como Jesus – honramos e recebemos Jesus como Ele mesmo.
4. (38-42) A verdadeira grandeza não é clichê; tem um instinto inclusivo.
“Mestre”, disse João, “vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedi-lo, porque ele não era um dos nossos.” “Não o impeçam”, disse Jesus. “Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra nós está a nosso favor. Eu lhes digo a verdade: Quem lhes der um copo de água em meu nome, por vocês pertencerem a Cristo, de modo nenhum perderá a sua recompensa.” “Se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, seria melhor que fosse lançado no mar com uma grande pedra amarrada no pescoço.”
a. Mestre vimos um homem: Foi frustrante para os discípulos de Jesus o fato de esses outros seguidores de Jesus expulsarem demônios com sucesso quando eles simplesmente falharam (Marcos 9:18). Não admira que João quisesse que eles parassem.
i. “Podemos, portanto, imaginar com segurança que este era um dos discípulos de João Batista, que, por ordem de seu mestre, acreditou em Jesus, ou um dos setenta, a quem Cristo havia enviado, Lucas 10:1-7, que, depois de ter cumprido a sua comissão, retirou-se do acompanhamento dos outros discípulos; mas como ele ainda mantinha firme sua fé em Cristo e andava em boa consciência, a influência de seu Mestre ainda continuava com ele, para que ele pudesse expulsar demônios, assim como os outros discípulos.” (Clarke)
b. Quem não é contra nós está a nosso favor: Há muitos que podem estar errados em algum aspecto de sua apresentação ou ensino, mas ainda assim apresentam Jesus de alguma maneira. Deixe Deus lidar com eles. Aqueles que não são contra um Jesus bíblico ainda são afavor dele, pelo menos de alguma forma.
i. Paulo viu muitos homens pregando Jesus por vários motivos, alguns deles malignos – mas ele pôde se alegrar porque Cristo foi pregado (Filipenses 1:15-18).
c. Quem lhes der um copo de água em meu nome: Por causa deste princípio de unidade, é apropriado mostrar bondade aos outros em nome de Jesus. Até mesmo um copo de água, se dado na natureza de Jesus, será recompensado.
i. Nada poderia parecer mais mesquinho do que dar um mero copo de água. Mas Deus se lembra do coração, não apenas do dom em si.
d. Se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim: Se um pequeno ato de bondade para com os outros, feito em nome de Jesus será lembrado eternamente, o mesmo acontecerá com qualquer motivo de tropeço. E o castigo é severo: seria melhor que fosse lançado no mar com uma grande pedra amarrada no pescoço.
i. Naquela época, havia dois tamanhos diferentes de pedras. O menor era usado por uma mulher para moer uma pequena quantidade de grãos. O maior era virado por um burro para moer maior quantidade de grãos. Jesus se referiu aqui ao tipo maior de pedra.
ii. Alguns cristãos não se importam em atrair cristãos jovens e fracos para suas próprias pequenas disputas e divisões. Eles próprios emergem sem muitos danos, mas os pequeninosque trouxeram consigo para a briga muitas vezes acabam naufragando.
5. (43-48) A urgência de entrar no reino de Deus.
Se a sua mão o fizer tropeçar, corte-a. É melhor entrar na vida mutilado do que, tendo as duas mãos, ir para o inferno, onde o fogo nunca se apaga,
Onde o seu verme não morre,
E o fogo não se apaga.
E se o seu pé o fizer tropeçar, corte-o. É melhor entrar na vida aleijado do que, tendo os dois pés, ser lançado no inferno,
Onde o seu verme não morre,
E o fogo não se apaga.
E se o seu olho o fizer tropeçar, arranque-o. É melhor entrar no Reino de Deus com um só olho do que, tendo os dois olhos, ser lançado no inferno, onde ‘o seu verme não morre, e o fogo não se apaga.’
a. Se a sua mão o fizer tropeçar, corte-a: Tragicamente, alguns interpretaram estas palavras de Jesus num sentido que Ele não pretendia e cortaram as suas mãos ou mutilaram-se de alguma outra forma numa batalha equivocada contra o pecado.
i. O problema de interpretar literalmente as palavras de Jesus aqui é que a mutilação corporal não é suficientepara controlar o pecado. O pecado é mais uma questão do coração do que de qualquer membro ou órgão específico, e se eu cortar minha mão direita, minha esquerda ainda estará pronta para pecar. Se eu desmembrar completamente meu corpo, ainda poderei pecar em minha mente e em meu coração.
ii. “Esta não foi uma exigência de automutilação física, mas da maneira mais forte possível, Jesus fala dos sacrifícios mais caros.” (Lane)
b. É melhor entrar na vida mutilado do que, tendo as duas mãos, ir para o inferno: Com esta exortação, Jesus tentou corrigir um grande mal-entendido por parte dos discípulos. Eles pensavam no reino principalmente em termos de recompensa, não em termos de sacrifício.
i. Essencialmente, Jesus reafirma o que Marcos registrou em 8:34-35: que se tentarmos salvar nossas vidas, nós as perderemos, e seguir Jesus significa pegar nossa cruz e segui-Lo.
c. Ir para o inferno, onde o fogo nunca se apaga: A palavra inferno é uma antiga tradução grega da palavra hebraica para “Vale de Hinom”. Este era um lugar fora dos muros de Jerusalém, profanado pela adoração de Moloque e pelos sacrifícios humanos, transformando-se assim num lixão onde se queimavam lixo e dejetos. As fogueiras latentes e os vermes purulentos faziam dele uma imagem gráfica e eficaz do destino dos condenados.
i. Este lugar também é chamado de “lago de fogo” em Apocalipse 20:13-15, um lugar preparado para o diabo e seus anjos (Mateus 25:41).
ii. Onde o fogo nunca se apaga: “Uma criança com uma colher pode antes esvaziar o mar do que os condenados realizarem a sua miséria. Um rio de enxofre não se consome pelo fogo.” (Trapp)
d. Onde o seu verme não morre: “Parece que cada um tem o seu verme, o seu remorsoespecífico pelos males que cometeu e pela graça que rejeitou; enquanto o fogo, o estado de tormento excruciante, é comum a todos. Leitor! Que o Deus vivo te salve deste verme e deste fogo!” (Clarke)
i. “Este verme (digamos, os teólogos) é apenas um remorso contínuo e um reflexo furioso da alma sobre sua própria loucura intencional e agora uma miséria lamentável. Oh, considere isso antes que seus amigos estejam brigando por seus bens, vermes por seu corpo, demônios por sua alma.” (Trap)
ii. A mensagem de Jesus era clara: sabendo quão terrível é o inferno, vale a pena qualquer sacrifício para evitá-lo. Portanto, não podemos pensar no reino de Deus apenas no contexto da recompensa; devemos também pensar em termos de sacrifício.
6. (49-50) Jesus fala de sal e fogo.
Cada um será salgado com fogo, e todo sacrifício será temperado com sal. “O sal é bom, mas se deixar de ser salgado, como restaurar o seu sabor? Tenham sal em vocês mesmos e vivam em paz uns com os outros”.
a. Cada um será salgado com fogo: Jesus declarou que Seus seguidores serão salgados com fogoe que todo sacrifício será temperado com sal. O sal deve manter o seu sabor e isso trará pazentre nós.
b. Cada um será salgado com fogo, e todo sacrifício será temperado com sal: Esta passagem levou a muitas interpretações diferentes.
i. A primeira interpretação principal é que o fogo se refere à tribulação e ao sofrimento; essas coisas acompanham o “sacrifício vivo” (Romanos 12:1) do discípulo. Como os sacrifícios do Antigo Testamento sempre incluíam sal (Levítico 2:13), Jesus está dizendo: “Assim como todo sacrifício sob a lei exigia sal, o sacrifício vivo que Meus seguidores trazem para Mim deve ser temperado com sofrimento e tribulações”.
ii. A outra interpretação principal é que o fogo se refere ao Espírito Santo. À medida que a Sua presença nas nossas vidas nos “tempera”, ela purifica, preserva e acrescenta sabor às nossas vidas, tornando assim o nosso “sacrifício vivo” aceitável a Deus.
© 2024 The Enduring Word Bible Commentary by David Guzik – ewm@enduringword.com