Marcos 7 – Declarando Alimentos e Pessoas Limpas
A. Uma disputa sobre lavagens rituais.
1. (1-5) Os líderes religiosos de Jerusalém vêm encontrar falhas e fazer perguntas sobre a falha dos discípulos em observar as lavagens cerimoniais.
Os fariseus e alguns dos mestres da lei, vindos de Jerusalém, reuniram-se a Jesus e viram alguns dos seus discípulos comerem com as mãos impuras, isto é, por lavar. (Os fariseus e todos os judeus não comem a menos que lavem as mãos de uma maneira especial, apegando-se, assim, à tradição dos líderes religiosos. Quando chegam da rua, não comem sem antes se lavarem. E observam muitas outras tradições, tais como o lavar de copos, jarros e vasilhas de metal.) Então os fariseus e os mestres da lei perguntaram a Jesus: “Por que os seus discípulos não vivem de acordo com a tradição dos líderes religiosos, em vez de comerem o alimento com as mãos impuras?”
a. Vindos de Jerusalém: Esta foi outra delegação oficial de líderes religiosos de Jerusalém, vindo avaliar o ministério de Jesus. Vimos uma delegação anterior em Marcos 3:22, e eles pronunciaram uma dura condenação contra Jesus. Esta delegação de Jerusalém já se decidia sobre Jesus e procurava algo que confirmasse a sua opinião.
i. O conceito de avaliar o ministério de Jesus foi bom. Na aparência externa, esses homens protegiam Israel de um potencial falso profeta ou falso messias. Mas a maneira como eles realmente avaliaram Jesus estava totalmente errada. Primeiro, eles já se decidiram sobre Jesus. Segundo eles não avaliaram Jesus em relação à medida da Palavra de Deus. Eles o avaliaram em relação à medida de suas tradições religiosas.
b. Comerem com as mãos impuras, isto é, por lavar: Os líderes religiosos queriam dizer lavagens cerimoniais elaboradas, e não lavar por uma questão de limpeza. Os judeus praticantes daquela época observavam estritamente um ritual rígido e extenso de lavagem antes das refeições.
i. A lavagem das mãos descrita aqui foi puramente cerimonial. Não bastava limpar bem as mãos se elas estivessem muito sujas. Você teria que primeiro lavar as mãos para limpá-las e depois realizar o ritual para torná-las espiritualmente limpas. Eles até tinham uma oração para ser feita durante a lavagem ritual: “Bendito sejas Tu, ó Senhor, Rei do universo, que nos santificou pelas leis e nos ordenou que lavássemos as mãos.” (Citado em Lane)
ii. “O mandato bíblico de que os sacerdotes tinham de lavar as mãos e os pés antes de entrar no Tabernáculo (Êxodo 30:19; 40:12) forneceu a base para a prática generalizada de lavagens rituais no judaísmo palestino e da diáspora.” (Lane)
c. Por que os seus discípulos não vivem de acordo com a tradição dos líderes religiosos: Essas lavagens foram ordenadas pela tradição, não pelas Escrituras. Os líderes religiosos sabiam disso, mas ainda assim criticaram os discípulos por não obedecerem a estas tradições.
i. No Judaísmo daquela época eles honravam a lei escrita. Mas havia também a lei oral, que estava escrita, mas era tradição e interpretação do homem em cima da lei escrita. Muitos líderes judeus da época de Jesus honraram a lei oral ainda mais do que a lei escrita.
ii. “Rabino Eleazer disse: ‘Aquele que expõe as Escrituras em oposição à tradição não tem participação no mundo vindouro’… O Mishna, uma coleção de tradições judaicas no Talmud, registra: ‘É uma ofensa maior ensinar qualquer coisa contrária à voz dos rabinos do que contradizer a própria Escritura.’” (Wiersbe)
iii. “Os judeus têm vários ditos comuns, que mostram em que estima eles tinham essas tradições, como: Se os escribas dissessem que nossa mão direita é a nossa esquerda, e nossa mão esquerda é a nossa direita, devemos acreditar neles. E há mais nas palavras dos escribas do que nas palavras da lei… O rabino judeu José diz: Ele peca tanto quanto quem come com as mãos não lavadas, quanto quem se deita com uma prostituta.” (Trap)
iv. “Cresceu um grande corpo de tradições; tradições que, em primeiro lugar, pretendiam ser interpretações da lei e aplicações da lei às circunstâncias locais; tradições que, em segundo lugar, tornaram-se interpretações de tradições e aplicações de tradições; e as tradições em terceiro lugar, que eram interpretações de interpretações de interpretações de tradições!” (Morgan)
v. “Foi o fracasso de Jesus em apoiar a validade da lei oral que fez dele um objeto de ataque concertado por parte dos escribas.” (Lane)
d. Os fariseus e todos os judeus não comem a menos que lavem as mãos de uma maneira especial, apegando-se, assim, à tradição dos líderes religiosos: Para essas lavagens cerimoniais, eram guardados vasos de pedra especiais com água, porque a água comum poderia ser impura. Para lavar as mãos de uma maneira especial. Você começaria pegando pelo menos o suficiente dessa água para encher uma casca e meia de ovo. Em seguida, você derramaria a água nas mãos, começando pelos dedos e descendo em direção ao pulso. Em seguida, você limparia cada palma esfregando nela o punho da outra mão. Então você derramaria água novamente nas mãos, desta vez do pulso em direção aos dedos.
i. Um judeu realmente rigoroso faria isso não apenas antes da refeição, mas também entre cada prato. E os rabinos levavam isso muito a sério. Diziam que o pão comido sem lavar as mãos não era melhor do que excremento. Um rabino que uma vez não realizou o ritual de lavagem foi excomungado. Outro rabino foi preso pelos romanos e usou sua ração de água para limpeza cerimonial em vez de beber, quase morrendo de sede. Ele foi considerado um grande herói por este sacrifício.
ii. É fácil para nós pensarmos que estes líderes religiosos, ou toda esta cultura religiosa, eram realmente estúpidos e falsos pela sua ênfase em tradições como esta. Mas não percebemos quão sutilmente essas coisas emergem e quão espirituais elas parecem ser, especialmente no início. Muitos rituais ou tradições parecem ser construídos sobre uma lógica espiritual inabalável:
·Deus não quer que o honremos em tudo o que fazemos?
·Deus não ordenou aos sacerdotes que lavassem as mãos antes de servi-lo?
·Não deveria todo seguidor fiel de Deus ter a mesma devoção que um sacerdote?
·Toda refeição não é sagrada para Deus?
·Não deveríamos aproveitar todas as oportunidades para nos purificarmos diante do Senhor?
·Deus não disse: “Quem poderá subir o monte do Senhor? Quem poderá entrar no seu Santo Lugar? Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro” (Salmos 24:3-4).
iii. Quando as questões são colocadas desta forma, é fácil dizer “Sim, sim, sim”, até que se concorde com a lógica que sustenta a tradição. Mas se no final você tem uma palavra de homem, uma tradição de homem, um ritual de homem, que tem o mesmo peso que a Palavra de Deus, você está errado. Sua “lógica espiritual” não importa. Você está errado.
2. (6-9) Exaltar a tradição do homem acima da vontade de Deus.
Ele respondeu:
“Bem profetizou Isaías acerca de vocês, hipócritas; como está escrito:
“‘Este povo me honra com os lábios,
mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram;
seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens’.
Vocês negligenciam os mandamentos de Deus
e se apegam às tradições dos homens.”
E disse-lhes: “Vocês estão sempre encontrando uma boa maneira de pôr de lado os mandamentos de Deus, a fim de obedecerem às suas tradições!
a. Vocês, hipócritas: Jesus falou tão fortemente porque esses líderes estavam muito preocupados com assuntos triviais como a lavagem ritual. Quando se concentraram nessas tradições triviais, excluíram todos os que não guardavam as tradições e, assim, desencorajaram-nos de se aproximarem de Deus.
i. A Bíblia Viva parafraseia a citação de Isaías: “Já que esse povo diz que é meu, mas não Me obedece, já que o coração dessa gente está longe de Mim, já que a sua religião não passa de um monte de leis feitas por homens, que aprenderam de tanto repetir.”
b. Este povo me honra com os lábios: Sim, honram a Deus com os lábios; mas na verdade, Deus disse, o seu coração está longe de mim. É possível ter a imagem de ser religioso ou espiritual, mas na verdade estavam longe de Deus. Este foi exatamente o caso desses líderes religiosos.
i. Essa é a ideia por trás da palavra hipócrita. A palavra na língua grega antiga referia-se a “um ator” ou “alguém que usa uma máscara.” A imagem que promovem é mais importante para eles do que aquilo que realmente são.
ii. Deus diria algo semelhante para nós?
·Eles frequentam a igreja, mas o seu coração está longe de mim.
·Eles leem a Bíblia, mas o seu coração está longe de mim.
·Eles oram eloquentemente, mas o seu coração está longe de mim.
·Contribuem com dinheiro, mas o seu coração está longe de mim.
·Eles ministram, mas o seu coração está longe de mim.
·Eles adoram cantar, mas o seu coração está longe de mim.
·Eles falam com outros sobre Jesus, mas o seu coração está longe de mim.
c. Seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens: Este é um dos pilares do legalismo. Tomar um mandamento ou opinião de homens e ensiná-lo ou promovê-lo como uma doutrina de Deus é o que sustenta o legalismo. Dá à palavra do homem o mesmo peso que a palavra de Deus.
i. Nem tudo na vida cristã é uma questão de certo e errado. Algumas coisas – muitas coisas – são simplesmente questões de consciência pessoal diante de Deus. As Escrituras não ordenam a lavagem ritual antes das refeições. Se você quiser fazer isso, tudo bem. Faça isso para o Senhor e sem sentimento de superioridade espiritual diante de seus irmãos e irmãs. Se não quiser fazer isso, tudo bem também. Não faça isso para o Senhor e não despreze aqueles cuja consciência os obriga a fazer a lavagem ritual.
d. Vocês negligenciam os mandamentos de Deus: Este é outro pilar do legalismo. Já seria bastante ruim acrescentar os mandamentos dos homens à palavra de Deus. Mas quase sem falhar, o hipócrita legalista ou religioso dá o próximo passo – negligencia os mandamentos de Deuse se apega às tradições dos homens. Ao fazer isso, eles subtraem a verdadeira essência e foco da palavra de Deus.
i. “Para a mente espiritual, é uma questão de incessante admiração que os homens estejam tão prontos para seguir e até mesmo lutar destemidamente pela autoridade das tradições humanas, enquanto estão igualmente prontos para ignorar os claros ensinamentos da Palavra de Deus.” (Ironside)
3. (10-13) Um exemplo de como suas tradições desonraram a Deus: a prática de não ajudar seus pais com bens “devotados.”
Pois Moisés disse: ‘Honra teu pai e tua mãe’ e ‘Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe terá que ser executado’. Mas vocês afirmam que, se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: ‘Qualquer ajuda que vocês poderiam receber de mim é Corbã’, isto é, uma oferta dedicada a Deus, vocês o desobrigam de qualquer dever para com seu pai ou sua mãe. Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas como essa.”
a. Pois Moisés disse: O Antigo Testamento estabeleceu claramente a responsabilidade dos filhos de honrar seus pais. Quando os filhos são pequenos e vivem na casa dos pais, eles também são responsáveis por obedecer aos pais. Mas mesmo quando não são mais responsáveis por obedecer, ainda são responsáveis por honrar.
b. Qualquer ajuda que vocês poderiam receber de mim é Corbã: Nesta prática, um filho poderia dizer que seus bens ou economias eram Corbã– isto é, especialmente dedicados a Deus – e, portanto, indisponíveis para ajudar seus pais.
c. Vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição: Com isso, um filho poderia desobedecer completamente a ordem de honrar teu pai e tua mãe e fazê-lo sendo ultra religioso. Jesus chamou isso de anular a palavra de Deus, por meio da tradição.
4. (14-16) Jesus fala à multidão sobre a mera imagem da religião.
Jesus chamou novamente a multidão para junto de si e disse: “Ouçam-me todos e entendam isto: Não há nada fora do homem que, nele entrando, possa torná-lo impuro. Ao contrário, o que sai do homem é que o torna impuro. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça!”
a. Não há nada fora do homem que, nele entrando, possa torná-lo impuro: Isso não quer dizer que não existam coisas contaminantes que possamos levar para dentro de nós (como a pornografia). Mas neste contexto específico, Jesus falou sobre a limpeza cerimonial em relação aos alimentos, e Ele antecipou o tempo em que sob a Nova Aliança todos os alimentos seriam declarados kosher (Atos 10:15).
b. O que sai do homem é que o torna impuro: O princípio fundamental é simples. Comer com as mãos sujas ou qualquer outra coisa que colocamos em nós não é impuro. Pelo contrário, o que sai de nós nos torna impuros e revela que temos corações contaminados (impuro).
i. “Embora possa não parecer agora, esta passagem, quando foi falada pela primeira vez, era quase a passagem mais revolucionária do Novo Testamento.” (Barclay)
5. (17-23) Jesus fala aos Seus discípulos sobre o externalismo religioso.
Depois de deixar a multidão e entrar em casa, os discípulos lhe pediram explicação da parábola. “Será que vocês também não conseguem entender?”, perguntou-lhes Jesus. “Não percebem que nada que entre no homem pode torná-lo impuro? Porque não entra em seu coração, mas em seu estômago, sendo depois eliminado.” Ao dizer isso, Jesus declarou puros todos os alimentos. E continuou: “O que sai do homem é que o torna impuro. Pois do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a blasfêmia e a insensatez. Todos esses males vêm de dentro e tornam o homem impuro.”
a. Será que vocês também não conseguem entender? Em resposta à parábola, Jesus ampliou o argumento apresentado às multidões. Somos contaminados de dentro para fora e não de fora para dentro, e isso é particularmente verdadeiro em relação a coisas cerimoniais como alimentos.
b. Do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos: Deus está muito mais preocupado com o que sai de nós do que com o que entra em nós. Isto é especialmente verdade quando se trata de alimentos, tradições e rituais.
c. Maus pensamentos, as imoralidades sexuais… adultérios: Esta é uma lista de 13 partes que expõe o tipo de mal que vive no coração humano. Você não precisa viajar uma longa distância para encontrar a origem desses pecados. Você não precisa realizar uma pesquisa exaustiva. Tudo que você precisa fazer é olhar para o seu próprio coração. “A fonte de onde procedem esses rios de poluição é o coração natural do homem. O pecado não é um respingo de lama no exterior do homem, é uma sujeira gerada dentro dele mesmo.” (Spurgeon)
i. “Fico doente ao pensar em como o homem tem atormentado seus semelhantes com seus pecados. Mas não vou percorrer a lista, nem preciso: o diabo pregou sobre este texto esta semana, e poucos conseguiram escapar da horrível exposição.” (Spurgeon)
d. Maus pensamentos: “Todo ato externo de pecado é precedido por um ato interno de escolha; portanto, Jesus começa com o mau pensamento do qual vem a má ação.” (Barclay)
e. Blasfêmia: “Quando isto é usado para palavras contra o homem, significa calúnia; quando é usado com palavras contra Deus, significa blasfêmia. Significa insultar o homem ou Deus.” (Barclay)
B. Dois exemplos maravilhosos do poder de cura de Jesus.
1. (24-26) O pedido de uma mulher gentia.
Jesus saiu daquele lugar e foi para os arredores de Tiro e de Sidom. Entrou numa casa e não queria que ninguém o soubesse; contudo, não conseguiu manter em segredo a sua presença. De fato, logo que ouviu falar dele, certa mulher, cuja filha estava com um espírito imundo, veio e lançou-se aos seus pés. A mulher era grega, sirofenicia de origem, e rogava a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio.
a. Entrou numa casa e não queria que ninguém o soubesse: Jesus viajou cerca de 80 quilômetros ao norte para visitar essas cidades gentias (os arredores de Tiro e de Sidom). Isto era incomum no ministério de Jesus porque Seu foco estava “apenas nas ovelhas perdidas de Israel” (Mateus 15:24).
i. Também mostra que Jesus não obedeceu às tradições judaicas que diziam que um judeu fiel não teria nada a ver com os gentios e nunca entraria na casa de um gentio.
ii. “O incidente anterior mostra Jesus eliminando a distinção entre alimentos limpos e impuros. Será que aqui, em símbolo, temos ele eliminando a diferença entre pessoas limpas e impuras? Assim como um judeu nunca sujaria os seus lábios com alimentos proibidos, ele nunca sujaria a sua vida pelo contacto com o impuro gentio.” (Barclay)
iii. Não queria que ninguém o soubesse: Ao mesmo tempo, Jesus não queria ofender as pessoas desnecessariamente. Ele sabia que o tempo para derrubar o muro entre judeus e gentios, reunindo-os em um só corpo (a igreja), ainda estava no futuro. Portanto, embora não mantivesse estritamente secreta a Sua presença nos arredores de Tiro e de Sidom, Ele não queria que isso fosse divulgado.
b. Não conseguiu manter em segredo a sua presença: É um princípio glorioso – Jesus não pode manter em segredo a sua presença. Sempre que Jesus está presente, Ele encontra uma maneira de tocar vidas, porque Ele não pode ser mantido em segredo.
c. Veio e lançou-se aos seus pés… e rogava a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio: Esta mulher veio interceder por sua filha, e ela é uma imagem de intercessora porque ela fez das suas necessidades, as da sua filha.
2. (27-30) Jesus responde ao pedido da mulher.
Ele lhe disse: “Deixe que primeiro os filhos comam até se fartar; pois não é correto tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos.” Ela respondeu: “Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem das migalhas dos filhos.” Então ele lhe disse: “Por causa desta resposta, você pode ir; o demônio já saiu da sua filha.” Ela foi para casa e encontrou sua filha deitada na cama, e o demônio já à deixara.
a. Deixe que primeiro os filhos comam até se fartar; pois não é correto tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos: Jesus parecia desanimar a mulher, lembrando-lhe que os filhos (o povo judeu) têm prioridade sobre os cachorrinhos (gentios como ela).
i. Naquela época, os judeus muitas vezes chamavam os gentios de “cães” de uma forma muito depreciativa. “Para o grego, a palavra cachorro significava mulher sem vergonha e audaciosa; foi usado exatamente com a conotação que usamos hoje a palavra cadela. Para os judeus era igualmente um termo de desprezo.” (Barclay)
ii. No entanto, Jesus não usou a palavra normal para “cães.” Em vez disso, Ele a suavizou em cachorrinhos– essencialmente, lembrando à mulher o seu lugar como uma gentia, mas sem querer afastá-la completamente. “Em grego, os diminutivos são caracteristicamente afetuosos. Jesus tirou o aguilhão da palavra.” (Barclay)
b. Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem das migalhas dos filhos: A mulher respondeu com muita fé. Primeiro, ela aceitou sua posição inferior diante de Jesus ao não debater a referência aos cachorrinhos. Em segundo lugar, ela pediu a Jesus para lidar com ela em seu próprio nível inferior (até os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem). Ela, portanto, recebeu de Jesus.
i. Precisamos ver o poder de nos aproximarmos de Deus como somos e deixá-lo cumprir Suas promessas aos fracos e impuros. Se a mulher tivesse respondido: “Quem você está chamando de cachorro?” ela não teria recebido de Jesus o que sua filha precisava. Sua submissão humilde e cheia de fé a Jesus trouxe a vitória. “Nada atraiu mais nosso abençoado Senhor do que a fé aliada à humildade.” (Ironside)
ii. Clarke elogiou a oração desta mulher e mostrou que ela tinha nove características notáveis: “1. É curta; 2. humilde; 3. cheia de fé; 4. fervorosa; 5. modesta; 6. respeitosa; 7. racional; 8. confiar apenas na misericórdia de Deus; 9. perseverante.”
3. (31-37) A cura de um homem surdo e mudo.
A seguir Jesus saiu dos arredores de Tiro e atravessou Sidom, até o mar da Galileia e a região de Decápolis. Ali algumas pessoas lhe trouxeram um homem que era surdo e mal podia falar, suplicando que lhe impusesse as mãos. Depois de levá-lo à parte, longe da multidão, Jesus colocou os dedos nos ouvidos dele. Em seguida, cuspiu e tocou na língua do homem. Então voltou os olhos para o céu e, com um profundo suspiro, disse-lhe: “Efatá!”, que significa “abra-se!” Com isso, os ouvidos do homem se abriram, sua língua ficou livre e ele começou a falar corretamente. Jesus ordenou-lhes que não o contassem a ninguém. Contudo, quanto mais ele os proibia, mais eles falavam. O povo ficava simplesmente maravilhado e dizia: “Ele faz tudo muito bem. Faz até o surdo ouvir e o mudo falar.”
a. Suplicando que lhe impusesse as mãos: Este foi outro exemplo de intercessão. Os amigos deste homem perturbado vieram e trouxeram a sua necessidade a Jesus.
b. Depois de levá-lo à parte… Jesus colocou os dedos nos ouvidos dele: Jesus usou uma maneira curiosa para curar este homem. Ao longo de Seu ministério, Jesus usou muitas formas diferentes de cura. Ele curou com uma palavra, curou sem palavra, curou em resposta à fé de alguém, curou em resposta à fé de outro, curou aqueles que pediram e curou aqueles de quem Ele se aproximou. Jesus não queria ficar preso a nenhum “método único” para mostrar que Seu poder não dependia de nenhum método, mas do poder soberano de Deus.
i. Muitas pessoas se preocupavam com este homem, e talvez muitos tivessem orado pela sua cura. Mas ninguém nunca enfiou os dedos nos ouvidos dele e cuspiu na língua dele desse jeito. Jesus fez algo completamente novo para chamar a atenção desse homem porque Ele não conseguia chamar sua atenção com palavras. “Através do toque e do uso da saliva, Jesus entrou no mundo mental do homem e ganhou sua confiança.” (Lane)
ii. Sem dúvida, Jesus sabia que havia algo especial em Seu comportamento que ministraria a esse homem. “Ele adapta Seu método às circunstâncias peculiares de necessidade daquele com quem está lidando. Estou bastante convencido de que, se pudéssemos conhecer perfeitamente esses homens, descobriríamos a razão do método. Em cada caso, Cristo adaptou-se à necessidade do homem.” (Morgan)
c. Com um profundo suspiro: “Eis um Homem de dores e familiarizado com o sofrimento! Eis um Homem exercendo um ministério cheio de poder de cura e luz elementar; mas nunca se esqueça que este serviço era caro.” (Morgan)
i. “O ‘suspiro’ foi um gemido interior, a resposta compassiva de nosso Senhor à dor e tristeza que o pecado trouxe ao mundo. Foi também uma oração ao Pai em favor do homem deficiente. (A mesma palavra é usada em conexão com a oração em Romanos 8:23, e o substantivo em Romanos 8:26). (Wiersbe)
d. Com isso, os ouvidos do homem se abriram, sua língua ficou livre e ele começou a falar corretamente: A antiga palavra grega para impedimento em sua fala é mogilalon e só é usada aqui no Novo Testamento. É uma palavra que também é usada uma vez na tradução da Septuaginta do Antigo Testamento, em Isaías 35:5-6: Então os olhos dos cegos se abrirão e os ouvidos dos surdos se destaparão. Então os coxos saltarão como o cervo, e a língua do mudo cantará de alegria. [mogilalon] cantará. Águas irromperão no ermo e riachos no deserto. Marcos quer que saibamos que o Messias esteve aqui, trazendo os gloriosos benefícios do Seu governo.
i. “O uso por Marcos de uma palavra extremamente rara para descrever o defeito de fala do homem é quase certamente uma alusão a Isaías 35:5, que celebra Deus como aquele que vem para destapar os ouvidos dos surdos e fornecer música para o homem de fala discurso inarticulada.” (Lane)
e. Ele faz tudo muito bem: Jesus faz tudo muito bem. Não há trabalho de má qualidade e desleixado com Ele. É verdadeiro para a criação, mas é ainda mais verdadeiro para Sua obra de redenção.
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