Marcos 2 – Controvérsia Com Os Líderes Religiosos
A. O poder de Jesus para perdoar e curar.
1. (1-4) Jesus ensina e é interrompido.
E, alguns dias depois, entrou outra vez em Cafarnaum, e soube-se que estava em casa. E logo se ajuntaram tantos, que nem ainda nos lugares junto à porta eles cabiam; e anunciava-lhes a palavra. E vieram ter com ele, conduzindo um paralítico, trazido por quatro. E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o telhado onde estava e, fazendo um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico.
a. Que nem ainda nos lugares junto à porta eles cabiam: Marcos 1:28 diz que, depois de um resgate dramático de um homem possuído por demônios, as notícias a seu respeito se espalharam rapidamente por toda a região da Galiléia. Nesse ponto de Seu ministério, Jesus atraía multidões aonde quer que fosse.
b. E anunciava-lhes a palavra: Marcos não nos diz o que Jesus anunciava-lhes, mas ainda assim ele enfatizou o ministério de pregação de Jesus, como fez em Marcos 1:28 e Marcos 1:38-39.
i. “É claro que ele estava evitando as ruas porque elas haviam se transformado em uma campanha de cura. Aonde quer que ele fosse, as pessoas o cercavam com pedidos de cura e expulsão de demônios, de modo que ele não conseguia fazer o que tinha vindo fazer principalmente, que era pregar a Palavra.” (Stedman)
c. E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o telhado onde estava: Por causa da sala lotada, os amigos do homem paralítico tiveram de descê-lo pelo teto. Essa era uma maneira incomum de interromper um sermão.
i. Descobriram o telhado: O telhado era geralmente acessível por meio de uma escada externa e era feito de palha, terra ou telha colocada sobre vigas. Ele podia ser desmontado, e os amigos do paralítico desceram o amigo até Jesus.
ii. Morgan sobre “descobriram o telhado”: “Essa tradução é totalmente enganosa. A força da palavra é que eles quebraram o telhado da casa, rasgando o tecido, a fim de baixar o homem em seu palete até a presença de Jesus.”
d. E, fazendo um buraco, baixaram o leito em que jazia o paralítico: Isso provou a determinação e a fé dos amigos do homem paralítico. Eles contavam com Jesus para curar seu amigo, pois seria muito mais difícil trazê-lo de volta pelo telhado do que abaixá-lo. Eles contavam que ele sairia andando da cama. Eles contavam que ele sairia caminhando do quarto.
2. (5-7) Jesus perdoa os pecados do homem paralítico.
E Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Filho, perdoados estão os teus pecados. E estavam ali assentados alguns dos escribas, que arrazoavam em seu coração, dizendo: Por que diz este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?
a. E Jesus, vendo-lhes a fé: Jesus olhou para os quatro homens que lutavam com cordas grosseiras amarradas em cada canto da maca com um paralítico sobre ela. Ele olhou para eles e viu a fé que tinham. A fé deles podia ser vista. Sua ação ousada e determinada de trazer o amigo a Jesus provou que eles tinham fé verdadeira.
b. Filho, perdoados estão os teus pecados: Podemos imaginar como os amigos no telhado se sentiram. Eles tiveram muito trabalho para ver o amigo curado de sua paralisia e agora o Mestre só quer perdoar seus pecados. Podemos imaginá-los gritando: “Não, ele é paralítico! Queríamos que ele andasse, não que fosse perdoado!”
i. No entanto, Jesus sabia qual era a verdadeira necessidade do homem e qual era a sua maior necessidade. De que adiantava o homem ter duas pernas inteiras e ir direto para o inferno com elas? Sempre que há um problema, quase sempre o pecado é o verdadeiro problema. Jesus foi direto ao problema.
ii. Jesus não quis dizer que o homem paralítico era especialmente pecador ou que sua paralisia era diretamente causada pelo pecado. Em vez disso, Ele abordou a maior necessidade do homem e a raiz comum de toda dor e sofrimento – a condição pecaminosa do homem.
iii. “O perdão é o maior milagre que Jesus já realizou. Ele atende à maior necessidade; custa o maior preço; e traz a maior bênção e os resultados mais duradouros.” (Wiersbe)
c. Quem pode perdoar pecados, senão Deus? Os escribas usaram o tipo certo de lógica. Eles acreditavam corretamente que somente Deus poderia perdoar pecados, e estão corretos até mesmo por examinarem esse novo mestre. O erro deles foi se recusar a ver quem é Jesus: Deus, o Filho, que tem autoridade para perdoar pecados.
i. “As palavras sugerem uma intensificação gradual do sentimento de culpa: primeiro um senso geral de surpresa, depois um sentimento de impropriedade, então um avanço final para o pensamento: ora, isso é blasfêmia!” (Bruce)
ii. “Durante a vida de Cristo, o mesmo dilema se repetiu várias vezes. Se ele não era divino, então era de fato um blasfemador; não poderia haver uma terceira saída.” (Cole)
3. (8-12) Jesus demonstra Sua autoridade para perdoar pecados e Seu poder para curar doenças.
E Jesus, conhecendo logo em seu espírito que assim arrazoavam entre si, lhes disse: Por que arrazoais sobre estas coisas em vosso coração? Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer-lhe: Levanta-te, e toma o teu leito, e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados (disse ao paralítico), a ti te digo: Levanta-te, e toma o teu leito, e vai para tua casa. E levantou-se e, tomando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos.
a. E Jesus, conhecendo logo em seu espírito que assim arrazoavam entre si: Em um momento surpreendente, esses escribas sabiam que Jesus podia ler seus corações malignos. Isso deveria ter ajudado a persuadi-los de que Jesus realmente era Deus, tendo poder para perdoar pecados.
i. É difícil saber se Jesus conheceu isso por Sua natureza divina ou por Sua natureza humana com o dom espiritual de discernimento ou uma palavra de sabedoria. Trapp encontra base bíblica para qualquer uma das abordagens: “Isto é, por sua divindade, como em 1 Timóteo 3:16; Hebreus 9:14. Ou por seu próprio espírito, como 1 Pedro 3:8, não por inspiração, como 2 Pedro 1:21.”
b. Qual é mais fácil? Para os homens, tanto o perdão real quanto o poder de curar são impossíveis, mas para Deus, ambos são fáceis. É uma suposição lógica que, se Jesus tem o poder de curar a doença do homem, Ele também tem a autoridade para perdoar seus pecados.
i. De certa forma, foi “mais difícil” curar o homem do que perdoar seus pecados, porque o perdão é invisível – ninguém poderia verificar naquele momento se o homem estava perdoado diante de Deus. No entanto, era possível verificar instantaneamente se o homem podia ou não andar. Jesus está disposto a se colocar à prova.
ii. Jesus também enfrentou os escribas em seu próprio terreno acadêmico. “Os rabinos tinham um ditado: ‘Nenhum homem doente é curado de sua doença até que todos os seus pecados lhe tenham sido perdoados.’.. para os judeus, um homem doente era um homem com quem Deus estava zangado.” (Barclay)
c. O Filho do Homem: Jesus frequentemente se referia a si mesmo com esse título. A ideia não é de “homem perfeito”, “homem ideal” ou “homem comum”, mas uma referência a Daniel 7:13-14, onde o Rei da Glória que viria para julgar o mundo tem o título de Filho do Homem.
i. Jesus usou esse título com frequência porque, em Sua época, era um título messiânico livre de sentimentos políticos e nacionalistas. Jesus poderia ter se referido mais comumente a Si mesmo como “Rei” ou “Cristo”, mas esses títulos, aos ouvidos de Seu público, soavam como “Aquele que derrotará os romanos.” Filho do Homem era “a designação favorita de Cristo para si mesmo, uma reivindicação de ser o Messias em termos que não poderiam ser facilmente atacados.” (Robertson)
d. E levantou-se: Imagine a tensão nessa cena. Os escribas estavam tensos porque Jesus os desafiou e disse que demonstraria que era o Filho de Deus. O homem paralítico estava tenso porque se perguntava se Jesus realmente o curaria. A multidão estava tensa porque sentia a tensão de todos os outros. O dono da casa estava tenso porque se perguntava quanto custaria o conserto do telhado. E os quatro amigos estavam tensos porque já estavam ficando cansados. O único que não estava tenso era Jesus, porque Ele estava em perfeita paz quando disse: “Levanta-te, e toma o teu leito, e vai para tua casa.” O homem foi curado imediatamente. O poder de Jesus para curar e a autoridade para perdoar pecados foram imediatamente confirmados.
i. Imagine se Jesus tivesse falhado. Seu ministério seria abalado. A multidão sairia lentamente da casa. Os escribas sorririam e diriam: “Ele não é capaz de curar nem perdoar.” Os quatro homens se esforçariam para levantar o homem paralisado, que parecia mais abatido e envergonhado do que nunca. O proprietário da casa olharia para seu telhado e pensaria que tudo havia sido em vão.
ii. Mas Jesus não falhou e nem poderia falhar porque tudo o que Ele precisava para curar esse homem era a Sua palavra. Há um maravilhoso poder de cura na palavra de Jesus, nas promessas de Jesus, para aqueles que vêm a Ele com fé. Esse homem veio a Jesus com fé, mesmo que fosse a fé emprestada de seus amigos.
e. Todos se admiraram e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal vimos: “Nunca vimos nada igual!” Jesus levou o dia, e as pessoas ficaram admiradas ao ver o poder de Deus em ação.
i. “Os peritos na lei ficaram içados com seus próprios petardos. De acordo com suas próprias crenças, o homem não podia ser curado, a menos que fosse perdoado. Ele foi curado, portanto, foi perdoado. Portanto, a alegação de Jesus de perdoar pecados deve ser verdadeira.” (Barclay)
B. Jesus come com os pecadores.
1. (13-14) Levi é chamado para ser um discípulo.
E tornou a sair para o mar, e toda a multidão ia ter com ele, e ele os ensinava. E, passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na alfândega e disse-lhe: Segue-me. E, levantando-se, o seguiu.
a. Ele os ensinava: Jesus cumpriu o foco do Seu ministério, conforme descrito em Marcos 1:38: “Vamos para outro lugar, para os povoados vizinhos, para que também lá eu pregue. Foi para isso que eu vim.” Jesus sabia como manter o foco.
b. Viu Levi… sentado na alfândega: Levi (também conhecido como Mateus em Mateus 9:9) era um cobrador de impostos. Naquela época, os cobradores de impostos eram desprezados como traidores e extorsores.
i. O povo judeu os considerava, com razão, traidores porque trabalhavam para o governo romano e contavam com a força dos soldados romanos para obrigar as pessoas a pagar impostos. Eles eram os colaboradores judeus mais visíveis de Roma.
ii. O povo judeu os considerava, com razão, extorsores porque podiam ficar com o que recolhiam a mais. Um coletor de impostos fazia lances entre outros para obter o “contrato” de coleta de impostos. Por exemplo, muitos coletores de impostos poderiam querer ter o “contrato de impostos” para uma cidade como Cafarnaum. Os romanos concediam o contrato ao maior lance. O homem coletava os impostos, pagava aos romanos o que havia prometido e ficava com o restante. Portanto, havia muito incentivo para os cobradores de impostos cobrarem a mais e trapacearem de todas as formas possíveis. Era puro lucro para eles.
iii. “Quando um judeu entrava no serviço alfandegário, era considerado um pária da sociedade: era desqualificado como juiz ou testemunha em uma sessão judicial, era excomungado da sinagoga e, aos olhos da comunidade, sua desgraça se estendia à sua família.” (Lane)
c. E disse-lhe: Segue-me: Compreendendo que quase todo mundo odiava os cobradores de impostos, é notável ver como Jesus amou e chamou Levi. Foi um amor bem colocado porque Levi respondeu ao convite de Jesus deixando seu negócio de cobrança de impostos e seguindo Jesus.
i. De certa forma, isso foi mais do que um sacrifício do que alguns dos outros discípulos fizeram. Pedro, Tiago e João poderiam voltar mais facilmente ao seu negócio de pesca, mas seria difícil para Levi voltar a cobrar impostos. “Os empregos de coletor de impostos eram muito procurados como uma maneira segura de enriquecer rapidamente.” (Wessel)
2. (15-17) Jesus é acusado de confraternizar com os pecadores.
E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores, porque eram muitos e o tinham seguido. E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores? E Jesus, tendo ouvido isso, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores.
a. Estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores: A maioria das pessoas considera isso uma festa de “despedida” que Levi deu para seus amigos ao deixar o negócio de cobrança de impostos. Jesus sentou-se e comeu com publicanos e pecadores, e comer à mesma mesa com as pessoas era um sinal de amizade e relacionamento.
i. Aqui está o escândalo – Jesus era amigo dos pecadores. É claro que os pecadores sabiam disso e responderam ao amor e à amizade de Jesus: porque eram muitos e o tinham seguido.
b. E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores: Os fariseus se opuseram ao fato de Jesus estar em companhia de pecadores. Os fariseus eram um grupo religioso conservador e respeitado, mas frequentemente entravam em conflito com Jesus.
i. O nome fariseu significava “separados.” Eles se separavam de tudo o que consideravam profano e achavam que todos, exceto eles mesmos, estavam separados do amor de Deus.
c. Os sãos não necessitam de médico: A resposta de Jesus foi ao mesmo tempo simples e profunda. Jesus era o médico da alma, e fazia sentido para Ele estar com aqueles que estavam doentes com o pecado.
i. Jesus é o médico perfeito para nos curar de nossos pecados.
·Ele está sempre disponível.
·Ele sempre faz um diagnóstico perfeito.
·Ele fornece uma cura completa.
·Ele até paga os honorários do médico.
C. Controvérsias sobre o jejum e o sábado.
1. (18-20) Por que Jesus e Seus discípulos não jejuam?
Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam; e foram e disseram-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos? E Jesus disse-lhes: Podem, porventura, os filhos das bodas jejuar, enquanto está com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar. Mas dias virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias.
a. Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos? Os fariseus eram conhecidos por jejuar duas vezes por semana (Lucas 18:12). Fazia sentido que os discípulos de João jejuassem porque seu ministério enfatizava o arrependimento. No entanto, Jesus e Seus discípulos não tinham a mesma ênfase no jejum que esses outros homens espirituais.
i. Deus não é contra o jejum; Ele é a favor do jejum. Mas o jejum tem seu tempo e lugar na vida cristã. A maioria de nós não tem tempo ou lugar para jejuar e, por isso, estamos fora de equilíbrio. Esses questionadores vieram do outro lado.
b. Podem, porventura, os filhos das bodas jejuar, enquanto está com eles o esposo? Ao usar a ilustração de um casamento (o esposo), Jesus se baseou em uma imagem poderosa entre os judeus. Durante a celebração do casamento, que durava uma semana, os rabinos declararam que a alegria era mais importante do que observar os rituais religiosos.
i. Nos dias de Jesus, alguns rabinos declararam que, se a observância de alguma lei impedisse que você se divertisse durante um casamento, não era necessário cumprir a lei. Você poderia simplesmente ir e se divertir. “As festas de casamento eram momentos de extraordinária festividade, e até mesmo de tumulto, entre vários povos do Oriente.” (Clarke)
ii. A mensagem de Jesus era ousada e clara: “Eu não sou como os fariseus ou João Batista. Eu sou o Messias, o noivo do povo de Deus. Onde quer que eu esteja, é apropriado ter a alegria que associamos a casamentos.”
c. Mas dias virão… então jejuarão naqueles dias: Jesus sabia que Sua presença física e imediata nem sempre estaria com os discípulos. Quando Ele estivesse fisicamente ausente, seria mais apropriado jejuar.
2. (21-22) As ilustrações de vestimentas e odres e sua relação com a nova obra de Jesus.
Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o mesmo remendo novo rompe o velho, e a rotura fica maior. E ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo rompe os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser posto em odres novos.
a. Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha: O perigo de tentar colocar algo novo em algo velho está claro na ilustração de uma roupa e seu remendo. Mas o mesmo princípio era verdadeiro para os odres de vinho. Um odre de vinho se expandia sob a pressão da fermentação. Portanto, se o vinho novo e não fermentado fosse colocado em um odre velho e frágil, ele certamente se romperia.
b. O vinho novo deve ser posto em odres novos: O argumento de Jesus ficou claro com esses exemplos. Não é possível encaixar Sua nova vida nas formas antigas. Jesus trocou o jejum pelo banquete; o pano de saco e as cinzas por um manto de justiça; o espírito de angústia por uma veste de louvor; o luto pela alegria; e a lei pela graça.
i. Ao longo dos séculos, formas antigas e rígidas raramente conseguiam conter a obra do Espírito Santo. Ao longo das gerações, Deus muitas vezes procura novos odres porque os antigos não se estendem mais.
ii. Jesus veio para introduzir algo novo, não para remendar algo velho. É disso que se trata a salvação. Ao fazer isso, Jesus não destrói o antigo (a lei), mas o cumpre, assim como uma bolota é cumprida quando cresce e se torna um carvalho. Há um sentido em que a bolota se foi, mas seu propósito é cumprido em grandeza.
3. (23-24) Jesus e seus discípulos são acusados de violar o sábado.
E aconteceu que, passando ele num sábado pelas searas, os seus discípulos, caminhando, começaram a colher espigas. E os fariseus lhe disseram: Vês? Por que fazem no sábado o que não é lícito?
a. Os seus discípulos caminhando, começaram a colher espigas: Não havia nada de errado com o que eles fizeram, pois o ato deles não era considerado roubo, de acordo com Deuteronômio 23:25. A questão era apenas o dia em que eles faziam isso. Os rabinos fizeram uma lista elaborada de “o que fazer” e “o que não fazer” em relação ao sábado, e isso violou um dos itens dessa lista.
i. Quando os discípulos caminhando, começaram a colher espigas no sábado, aos olhos dos líderes religiosos, eles eram culpados de quatro violações do sábado. Eles violaram as tradições contra a colheita, a debulha, a peneiração e a preparação de alimentos.
ii. Nessa época, os rabinos encheram o judaísmo de rituais elaborados relacionados ao Sabbath e à observância de outras leis. Os antigos rabinos ensinavam que, no Sabá, um homem não podia carregar algo na mão direita ou na mão esquerda, no peito ou no ombro. Mas podia carregar algo com as costas da mão, com o pé, com o cotovelo, na orelha, no cabelo, na bainha da camisa, no sapato ou na sandália. Ou, no sábado, era proibido dar um nó – exceto que uma mulher podia dar um nó em sua cinta. Portanto, se um balde de água tivesse de ser retirado de um poço, não se podia amarrar uma corda ao balde, mas uma mulher podia amarrar sua cinta ao balde.
b. Vês? Por que fazem no sábado o que não é lícito? Jesus nunca violou o mandamento de Deus de observar o sábado nem aprovou que Seus discípulos violassem o mandamento de Deus de observar o sábado. Mas Ele frequentemente violava os acréscimos legalistas do homem a essa lei, e às vezes parecia violá-los deliberadamente.
4. (25-28) Jesus responde com dois princípios.
Mas ele disse-lhes: Nunca lestes o que fez Davi, quando estava em necessidade e teve fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na Casa de Deus, no tempo de Abiatar, sumo sacerdote, e comeu os pães da proposição, dos quais não era lícito comer senão aos sacerdotes, dando também aos que com ele estavam? E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem, por causa do sábado. Assim, o Filho do Homem até do sábado é senhor.
a. Nunca lestes o que fez Davi? Ao se referir ao uso do “pão consagrado” por Davi em 1 Samuel 21:1-6, Jesus mostrou um princípio importante – a necessidade humana é mais importante do que o ritual religioso. O sábado foi criado para servir ao homem (o sábado foi feito por causa do homem, e não o homem, por causa do sábado).
i. Isso é exatamente o que muitas pessoas, mergulhadas na tradição, simplesmente não conseguem aceitar: que o que Deus realmente quer é misericórdia antes do sacrifício (Oséias 6:6); que o amor ao próximo é mais importante do que rituais religiosos (Isaías 58:1-9); que os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás (Salmo 51:17).
ii. “Qualquer aplicação da Lei do Sábado que opere em detrimento do homem está fora de harmonia com o propósito de Deus.” (Morgan)
b. No tempo de Abiatar, sumo sacerdote: Alguns encontram um problema aqui porque, de acordo com 1 Samuel 21:1, diz que Aimeleque era o sumo sacerdote naquela época, e que seu filho Abiatar serviu como sumo sacerdote depois dele (1 Samuel 22:20 e 1 Crônicas 18:16). A maioria das pessoas concilia 1 Samuel 21:1 com a declaração de Jesus aqui, dizendo que pai e filho serviram juntos como sumos sacerdotes naquela época, ou dizendo que Jesus simplesmente disse que isso aconteceu no tempo de Abiatar, ou seja, enquanto ele estava vivo, não enquanto ocupava o cargo de sumo sacerdote.
i. Wiersbe tem uma solução diferente: “Também é provável que nosso Senhor tenha usado ‘Abiatar’ para se referir à passagem do Antigo Testamento sobre Abiatar, e não ao homem. Essa é a maneira como os judeus identificavam seções da Palavra, já que seus manuscritos não tinham capítulos e versículos como temos hoje em nossas Bíblias.”
c. Assim, o Filho do Homem até do sábado é senhor: O segundo princípio foi ainda mais dramático. Jesus declarou que Ele até do sábado era senhor. Se Ele, o próprio Senhor do sábado, não se ofendeu com as ações de Seu discípulo, então esses críticos secundários também não deveriam ter se ofendido.
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