Lucas 9 – O Reino de Deus é Pregado e Exibido
A. Os apóstolos são enviados para pregar e curar.
1. (1-2) Jesus os chama e os envia.
Reunindo os Doze, Jesus deu-lhes poder e autoridade para expulsar todos os demônios e curar doenças, e os enviou a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos.
a. Reunindo os Doze: A seleção dos discípulos foi descrita em Lucas 6:12-16. Eles tinham estado com Ele juntos como um grupo por algum tempo, e agora Jesus delegou a eles parte de Sua obra.
b. Jesus deu-lhes poder e autoridade para expulsar todos os demônios e curar doenças: Jesus não só chamou os doze. Ele também lhes deu poder para fazer o que Ele os havia chamado a fazer. O mesmo princípio se aplica hoje: a quem Deus chama, Deus equipa. A preparação pode não ser completamente evidente antes do início do ministério, mas será evidente ao longo do caminho.
i. Jesus não delegou o trabalho sem também delegar poder e autoridade para fazer esse trabalho.
ii. “O leitor terá o prazer de observar: 1. Que Lucas menciona tanto demônios quanto doenças; portanto, ou ele estava enganado, ou demônios e doenças não são a mesma coisa. 2. O tratamento destes dois não era o mesmo: os demônios deviam ser expulsos, e as doenças curadas”. (Clarke)
c. E os enviou a pregar o Reino de Deus: Pregar significa simplesmente proclamar, dizer aos outros no sentido de anunciar-lhes notícias. Os discípulos foram enviados com o trabalho de proclamar que o Reino de Deus estava presente, e como era o caráter daquele reino.
i. O trabalho de pregação deles podia acontecer em ambientes ao ar livre, como esquinas de ruas ou mercados. Podia acontecer em sinagogas, quando encontravam uma oportunidade de falar. Podia acontecer em pequenos grupos ou conversas um-a-um.
ii. Qualquer que fosse o cenário, a mensagem era essencialmente:
·O Rei chegou; Jesus, o Messias, está presente.
·Seu reino é diferente do que esperávamos.
·Ele reúne uma comunidade do reino daqueles que se arrependerão e acreditarão.
iii. Não é demais dizer que Jesus usou a mídia disponível de Sua época. Eles não tinham jornais ou podcasts ou internet ou qualquer outro tipo de oportunidade de mídia que temos hoje. No entanto, Jesus usou a mídia que estava disponível para Ele e a utilizou bem.
d. E os enviou a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos: Jesus enviou os discípulos para fazer mais do que apresentar uma mensagem, mas também para fazer o bem com poder sobrenatural; para abençoar a pessoa inteira, e para curar os enfermos.
i. Este poder e autoridade para expulsar todos os demônios e curar doenças, estava ligado de forma vital à pregação do evangelho. Os dois andam juntos.
ii. “Aludindo a um jogo de palavras, Lucas menciona que Jesus ‘enviou’ (apostello) os ‘apóstolos’ para pregar o Reino de Deus e para curar”. (Pate)
2. (3-6) O Reino que eles pregam é marcado pela simplicidade, urgência e sinceridade.
E disse-lhes: “Não levem nada pelo caminho: nem bordão, nem saco de viagem, nem pão, nem dinheiro, nem túnica extra. Na casa em que vocês entrarem, fiquem ali até partirem. Se não os receberem, sacudam a poeira dos seus pés quando saírem daquela cidade, como testemunho contra eles”. Então, eles saíram e foram pelos povoados, pregando o evangelho e fazendo curas por toda parte.
a. Não levem nada pelo caminho: Os discípulos não precisavam de equipamentos sofisticados para pregar uma mensagem simples. Demasiadas coisas atrapalhariam a mensagem urgente que levavam.
i. Havia uma regra entre os rabinos do dia que você não podia entrar na área do templo com um bastão, sapatos ou um saco de dinheiro, porque todos queriam evitar até mesmo a aparência de estar envolvidos em qualquer outro negócio que não fosse a serviço do Senhor. Os discípulos estavam empenhados em uma obra tão santa (pregar o evangelho e trazer a cura de Deus) que não podiam dar a impressão de que tinham qualquer outro motivo.
ii. “Ele estava mais uma vez usando palavras que eram muito familiares a um judeu. O Talmude nos diz que: ‘Ninguém deve ir ao Monte do Templo com bastão, sapatos, cinturão de dinheiro ou pés empoeirados’. A ideia era que quando um homem entrava no templo, ele devia deixar bem claro que tinha deixado tudo o que tinha a ver com comércio e negócios e assuntos mundanos para trás”. (Barclay)
iii. Pate observa que Josefo escreveu que os essênios tinham regras semelhantes sobre viajar com pouca bagagem, confiando na provisão ao longo do caminho (J.W. 2.124-125)
b. Nem bordão, nem saco de viagem, nem pão, nem dinheiro: As viagens leves também os mantinham dependentes de Deus. Se não levavam muito com eles, tinham que confiar no Senhor para tudo. Se o próprio pregador não confia em Deus, como ele pode dizer aos outros para confiarem Nele?
i. “O saco proibido pode ser do tipo utilizado com frequência por filósofos itinerantes e mendicantes religiosos para mendigar”. (Liefeld)
c. Se não os receberem: O trabalho deles como pregadores não era principalmente o de mudar a mente das pessoas. Eles tinham que apresentar a mensagem de forma persuasiva, mas se seus ouvintes não a recebessem, eles tinham que sacudir a poeira dos seus pés quando saíssem.
i. Se os judeus daquela época tivessem que entrar ou passar por uma cidade gentia, quando saíam, eles frequentemente sacudiam a poeira de seus pés como um gesto dizendo: “Nós não queremos levar nada desta cidade gentia conosco”. Essencialmente, Jesus disse a seus discípulos que considerassem uma cidade judaica que rejeitou sua mensagem como se fosse uma cidade gentia.
d. Então, eles saíram: Eles realmente fizeram o que Jesus lhes disse para fazer. Eles estavam pregando o evangelho e fazendo curas por toda parte, tanto com a missão dada a eles por Jesus quanto com o poder e a autoridade para cumprir essa missão.
3. (7-9) Herodes ouve falar do ministério de Jesus e fica perplexo.
Herodes, o tetrarca, ouviu falar de tudo o que estava acontecendo e ficou perplexo, porque algumas pessoas estavam dizendo que João tinha ressuscitado dos mortos; outros, que Elias tinha aparecido; e ainda outros, que um dos profetas do passado tinha voltado à vida. Mas Herodes disse: “João, eu decapitei! Quem, pois, é este de quem ouço essas coisas?” E procurava vê-lo.
a. E ficou perplexo… estavam dizendo que João tinha ressuscitado dos mortos; outros, que Elias tinha aparecido; e ainda outros, que um dos profetas do passado tinha voltado à vida: Não há nenhuma indicação de que Herodes (Herodes Antipas, filho de Herodes o Grande) fosse um homem de sincero interesse espiritual. Contudo, ele estava interessado em Jesus como um homem famoso, um milagreiro, e talvez como um rival. Herodes absorveu o pensamento popular sobre quem Jesus era (como em Lucas 9:19).
i. Alguns pensavam que Jesus era um arauto do arrependimento nacional, como João Batista. Alguns pensavam que Jesus era um famoso operador de milagres, como Elias (cujo retorno antes da vinda do Messias foi prometido em Malaquias 4:5-6). Alguns pensavam que Jesus era um dos profetas do passado, talvez aquele que Moisés prometeu que viria (Deuteronômio 18:15-19).
ii. Os rumores e especulações populares sobre Jesus deixaram Herodes perplexo – especialmente por causa de sua consciência culpada sobre o assassinato de João Batista. Uma má consciência traz confusão e perplexidade.
b. Porque algumas pessoas estavam dizendo que João tinha ressuscitado dos mortos: A última vez que Lucas havia escrito sobre João Batista, ele estava na prisão e se perguntava se Jesus realmente era o Messias (Lucas 7:18-23). Agora sabemos que Herodes executou João na prisão, porque João repreendeu Herodes sobre seu pecado com a esposa de seu irmão (Mateus 14:1-12).
c. E procurava vê-lo: Herodes queria ver Jesus, mas não como alguém que o procurava com sinceridade. Ele queria satisfazer a curiosidade ociosa ou fazer o mesmo com Jesus que havia feito com seu primo João. Lucas fez esta observação para enfatizar o perigo crescente em torno da obra de Jesus.
i. Lucas registra uma segunda referência a este Herodes. Mais tarde, foi dito a Jesus que este Herodes queria matá-Lo. Jesus respondeu: “Vão dizer àquela raposa: ‘Expulsarei demônios e curarei o povo hoje e amanhã, e no terceiro dia estarei pronto’”. (Lucas 13:32)
ii. Lucas também nos disse que Jesus finalmente encontrou este Herodes na manhã de Sua crucificação. Herodes estava em Jerusalém naqueles dias, e quando soube que Pilatos estava enviando Jesus para ele, ficou feliz e animado; Herodes queria que Jesus realizasse um milagre para ele. No entanto, Jesus não fez nenhum tipo de milagre para Herodes, e quando fez várias perguntas a Jesus, Jesus não lhe respondeu nada. Herodes então tratou Jesus com desprezo, zombou dele com um manto roxo, e o enviou de volta a Pilatos.
4. (10) Os apóstolos voltam.
Ao voltarem, os apóstolos relataram a Jesus o que tinham feito. Então ele os tomou consigo, e retiraram-se para uma cidade chamada Betsaida.
a. Os apóstolos: Quando eles deixaram Jesus em Lucas 9:1, foram chamados de discípulos – isto é, “aprendizes”. Quando voltaram após concluírem a missão de pregação, foram chamados apóstolos – ou seja, “aqueles enviados com autoridade e uma mensagem”. Eles certamente permaneceram discípulos, mas conheciam tanto a mensagem quanto a autoridade de uma maneira muito melhor depois deste trabalho.
b. Relataram a Jesus o que tinham feito: Jesus queria saber como eles haviam feito. Jesus está preocupado com os resultados de nosso trabalho para Ele.
c. Então ele os tomou consigo, e retiraram-se: Jesus fez isto para servir e abençoar aqueles a quem Ele havia delegado a sua obra. Jesus tem um cuidado especial para abençoar e servir àqueles que O servem.
B. A alimentação dos 5.000.
1. (11) Jesus serve à multidão.
Mas as multidões ficaram sabendo, e o seguiram. Ele as acolheu, e falava-lhes acerca do Reino de Deus, e curava os que precisavam de cura.
a. Mas as multidões ficaram sabendo, e o seguiram: Jesus tinha ido a Betsaida para abençoar e servir Seus discípulos depois do trabalho que haviam feito para Ele. Eles não conseguiram manter as multidões afastadas por muito tempo; elas o seguiram lá também.
b. Ele as acolheu, e falava-lhes acerca do Reino de Deus, e curava: Jesus serviu as multidões necessitadas que o buscavam de três maneiras.
·Ele as acolheu: Isto fala de Sua atitude. Ele não fugiu da multidão nem lhes disse para irem embora. Com amor e serviço, Ele os acolheu.
·Falava-lhes acerca do Reino de Deus: Isto fala de Seu ensinamento. Como era a ênfase na Sua obra, Jesus proclamou uma mensagem às multidões.
·E curava: Jesus não só lhes deu instrução espiritual, mas também fez o bem entre eles com poder sobrenatural.
2. (12-15) Jesus desafia seus discípulos a suprir a necessidade da multidão.
Ao fim da tarde os Doze aproximaram-se dele e disseram: “Manda embora a multidão para que eles possam ir aos campos vizinhos e aos povoados, e encontrem comida e pousada, porque aqui estamos em lugar deserto”. Ele, porém, respondeu: “Dêem-lhes vocês algo para comer”. Eles disseram: “Temos apenas cinco pães e dois peixes — a menos que compremos alimento para toda esta multidão”. (E estavam ali cerca de cinco mil homens.) Mas ele disse aos seus discípulos: “Façam-nos sentar-se em grupos de cinquenta”. Os discípulos assim fizeram, e todos se assentaram.
a. Manda embora a multidão: Após o longo dia (ao fim da tarde), os discípulos viram a multidão como um incômodo. Como Jesus, eles haviam vindo a Betsaida para se afastar da multidão, não para servi-los.
i. Na verdade, não é inteiramente justo criticar os discípulos por sua recomendação de mandar embora a multidão. Eles provavelmente não conseguiam sequer conceber que Jesus poderia ou iria milagrosamente alimentar a multidão. Eles sentiram que estavam fazendo o bem para a multidão mandando-os embora para encontrarem comida e pousada.
b. Dêem-lhes vocês algo para comer: Para os discípulos, este pedido deve ter soado estranho ou até chocante. Era óbvio para eles que não tinham recursos para alimentar nem mesmo uma fração da multidão. Com esta declaração, Jesus desafiou tanto sua fé quanto sua compaixão.
i. Tanto Jesus como os discípulos estavam conscientes da grande multidão e conscientes de suas necessidades. Contudo, foi a compaixão de Jesus (Mateus 14:14) e sua consciência do poder de Deus que o levaram a alimentar a multidão.
·O povo tem fome, e os ateus e céticos tentam convencê-los de que não têm fome nenhuma.
·O povo está com fome, e o religioso vazio lhes oferece alguma cerimônia ou palavras vazias que nunca podem satisfazer.
·As pessoas têm fome, e o apresentador religioso lhes dá vídeo e iluminação especial e música de vanguarda.
·As pessoas têm fome, e o animador lhes dá ação rápida e barulhenta, tão barulhenta e rápida que não têm um momento para pensar.
·As pessoas têm fome – e Jesus tem o pão da vida.
c. Façam-nos sentar-se em grupos de cinquenta: Jesus queria que eles fizessem este trabalho de forma ordenada e organizada, e Ele também queria que eles apreciassem a refeição. Esta ordem sugere que isto era mais do que apenas colocar comida no estômago deles; isto poderia ser feito de pé. A ideia era que houvesse algo como uma atmosfera semelhante a um banquete de prazer.
i. Organizá-los em grupos de cinquenta também tornou possível contar muito mais facilmente a multidão, dando mais confiabilidade ao número de cerca de cinco mil homens.
3. (16-17) A multidão é alimentada.
Tomando os cinco pães e os dois peixes, e olhando para o céu, deu graças e os partiu. Em seguida, entregou-os aos discípulos para que os servissem ao povo. Todos comeram e ficaram satisfeitos, e os discípulos recolheram doze cestos cheios de pedaços que sobraram.
a. Tomando os cinco pães e os dois peixes: Jesus pegou o pouco que eles tinham (mencionado pela primeira vez em Lucas 9:13) e agradeceu a Deus por isso. Seria fácil pensar que uma quantidade tão pequena de comida não tivesse valor algum para alimentar uma multidão tão grande, mas Jesus usou o que Ele tinha em mãos.
i. No relato de João (João 6:8-9) aprendemos que estes cinco pães e os dois peixes vieram de um jovem menino. A pequena quantidade de comida com que eles começaram foi emprestada de um jovem que havia trazido comida com ele.
ii. Em 2 Reis 4:42-44, Elias alimentou cem homens com alguns pães de cevada e espigas de grão – com algumas sobras. A alimentação dos 5.000 nos mostra que Jesus é maior do que Elias e Moisés (sob os quais uma multidão foi alimentada no deserto).
b. E olhando para o céu, deu graças e os partiu: Quando Jesus deu graças antes da refeição, Ele não estava abençoando a comida. Ele abençoou a Deus por fornecê-la. A ideia de dar graças antes de uma refeição não é para abençoar o alimento; é para abençoar, ou melhor, para agradecer – a Deus por nos abençoar com o alimento.
i. Embora não fosse muito, Jesus abençoou o Pai pelo alimento que Ele tinha. Ele pode ter feito uma oração judaica familiar antes de uma refeição: “Bendito és Tu, Jeová nosso Deus, Rei do universo, que fazes brotar o pão da terra”.
c. Deu graças e os partiu. Em seguida, entregou-os aos discípulos para que os servissem ao povo: Este milagre mostrou a total autoridade de Jesus sobre a criação. No entanto, Ele insistiu em fazer este milagre através das mãos dos discípulos. Ele poderia tê-lo feito diretamente, mas Ele queria usar os discípulos.
i. Ninguém sabia de onde este pão realmente tinha vindo. Jesus mostrou que Deus pode prover com recursos que não podemos ver ou perceber de forma alguma. É mais fácil ter fé quando pensamos que sabemos como Deus poderia prover, mas Deus muitas vezes provê de maneiras inesperadas e desconhecidas.
d. Todos comeram e ficaram satisfeitos: Jesus multiplicou milagrosamente os pães e os peixes, até que muito mais de 5.000 foram alimentados. Aparentemente, o milagre aconteceu nas mãos de Jesus, não nas mãos dos discípulos – eles simplesmente distribuíram o que Jesus tinha miraculosamente fornecido.
i. Se alguém saiu com fome, foi porque recusaram o pão de Jesus, ou porque os apóstolos não distribuíram o pão a todos. Jesus forneceu muito para todos.
ii. A garantia de que Jesus pode prover – mesmo milagrosamente – para todas as nossas necessidades deveria ser preciosa para nós; assim era para os primeiros cristãos. Nas paredes das catacumbas, e em outros lugares da arte cristã primitiva, pães e peixes são imagens comuns.
iii. O que temos em nós mesmos para dar aos outros é insignificante, mas quando o colocamos nas mãos de Jesus, Ele pode fazer grandes coisas com nossos dons e talentos para tocar a vida dos outros.
iv. “De forma notável, essa alimentação é uma ilustração parabólica do método pelo qual aqueles que O servem devem alcançar as necessidades da humanidade. Seu dever é ceder tudo o que têm a Ele, e depois obedecê-Lo, por mais que a mera prudência e sabedoria mundana possam questionar o método”. (Morgan)
B. O reino e a cruz.
1. (18-20) A compreensão de Pedro de quem Jesus é.
Certa vez Jesus estava orando em particular, e com ele estavam os seus discípulos; então lhes perguntou: “Quem as multidões dizem que eu sou?” Eles responderam: “Alguns dizem que és João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, que és um dos profetas do passado que ressuscitou”. “E vocês, o que dizem?”, perguntou. “Quem vocês dizem que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”.
a. Jesus estava orando em particular, e com ele estavam os seus discípulos: Esta cena começou com Jesus orando, e os discípulos se unindo a Ele. Não sabemos realmente se eles estavam com Ele em oração, ou se interromperam Seu tempo de oração. Quando Jesus terminou de orar, Ele lhes fez uma pergunta: Quem as multidões dizem que eu sou?
i. Jesus não fez esta pergunta porque era ignorante sobre este ponto e precisava de informações de Seus discípulos. Ele perguntou por que Ele usaria esta pergunta para introduzir uma pergunta complementar mais importante.
ii. G. Campbell Morgan estava convencido de que os discípulos interromperam a oração de Jesus. “Um estudo cuidadoso das narrativas do Evangelho levou à conclusão justificável de que nosso Senhor nunca orou com Seus discípulos. Muitas vezes Ele os deixava quando orava. Quando estava na companhia deles Ele orava, não estava em associação com eles, mas separado… Sua oração estava em um plano diferente”. (Morgan)
b. Alguns dizem que és João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, que és um dos profetas do passado que ressuscitou: As pessoas que pensavam que Jesus era João Batista não sabiam muito sobre Ele, porque Ele e João trabalhavam ao mesmo tempo. Tanto João como Elias eram reformadores nacionais que se colocaram contra os governantes corruptos de sua época, e a semelhança com a coragem e a justiça de Jesus pode ter sugerido a conexão.
i. Talvez ao ver Jesus como João ou Elias, o povo esperasse um messias político, um que derrubasse os poderes corruptos que oprimiam Israel.
c. Quem vocês dizem que eu sou? Foi bom para os discípulos saber o que as multidões pensavam sobre Jesus. Mas Jesus tinha que perguntar a eles, como indivíduos, o que eles acreditavam sobre Jesus.
i. Jesus presumia que os discípulos teriam uma opinião diferente sobre Ele do que as multidões. Eles não receberam apenas a sabedoria convencional ou a opinião popular. Eles deveriam saber quem Jesus era.
ii. Esta é a pergunta colocada diante de todos os que ouvem falar de Jesus; e somos nós, e não Ele, que somos julgados por nossa resposta. Na verdade, respondemos a esta pergunta todos os dias pelo que acreditamos e fazemos. Se realmente acreditarmos que Jesus é quem Ele diz ser, isso afetará a maneira como vivemos.
d. O Cristo de Deus: Pedro conhecia Jesus melhor do que as multidões. Ele sabia que Jesus é o Cristo de Deus, o Messias de Deus, o redentor prometido do Antigo Testamento, o Messias do coração de Deus, não o Messias do desejo do homem.
2. (21-22) Jesus revela a verdadeira natureza de sua missão.
Jesus os advertiu severamente que não contassem isso a ninguém. E disse: “É necessário que o Filho do homem sofra muitas coisas e seja rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, seja morto e ressuscite no terceiro dia”.
a. Jesus os advertiu severamente que não contassem isso a ninguém: Jesus ficou satisfeito por Seus discípulos estarem vindo a saber quem Ele era realmente, mas Ele ainda não queria que Sua identidade fosse conhecida popularmente antes do tempo adequado. As multidões não conseguiam entender que Jesus era realmente o Messias, mas que tinha que sofrer – os discípulos tinham que aprender isto primeiro.
i. “Antes de poderem pregar que Jesus era o Messias, eles tinham que aprender o que isso significava”. (Barclay)
b. É necessário que o Filho do homem sofra muitas coisas: Depois de ouvir o que a multidão pensava Dele, Jesus então lhes disse o que Ele realmente tinha vindo fazer: sofrer, ser rejeitado, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Isto de fato não era o que Seus discípulos ou as multidões esperavam ou queriam.
i. Isto foi um choque inacreditável para todos aqueles que tinham a expectativa ou esperavam que Jesus fosse o messias nacional e político. Por analogia, podemos imaginar um candidato presidencial anunciando ao final de sua campanha que iria para Washington, mas que seria rejeitado e executado.
c. É necessário… que sofra muitas: Uma palavra importante aqui é a palavra necessário. Isto não era apenas um plano, uma ideia ou uma previsão; isto era o cumprimento do que havia sido planejado antes do mundo começar para nossa salvação (1 Pedro 1:20 e Apocalipse 13:8).
d. E ressuscite no terceiro dia: A ressurreição era tão necessária quanto qualquer outro aspecto de Seu sofrimento; Jesus teve que ressuscitar dos mortos.
3. (23) Jesus chama todos que querem segui-Lo para fazer o que Ele fará.
Jesus dizia a todos: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me.
a. Jesus dizia a todos: Já era ruim o suficiente para os discípulos ouvirem que Jesus sofreria, seria rejeitado, e morreria numa cruz. Agora Ele lhes disse que eles também teriam que fazer o mesmo; ou pelo menos ter a mesma intenção.
b. Negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me: Enquanto Jesus falava estas palavras, todos sabiam o que Jesus queria dizer. No mundo romano, antes de um homem morrer numa cruz, ele tinha que carregar sua cruz (ou pelo menos a viga horizontal da cruz) até o local de execução.
i. Quando os romanos crucificavam um criminoso, eles não o penduravam apenas em uma cruz. Eles primeiro penduravam uma cruz sobre o criminoso.
ii. Carregar uma cruz sempre levava à morte em uma cruz. Ninguém carregava uma cruz por diversão. Os primeiros ouvintes de Jesus não precisavam de uma explicação da cruz; eles sabiam que ela era um instrumento implacável de tortura, morte e humilhação. Se alguém tomasse a sua cruz, nunca mais voltaria. Era uma viagem só de ida.
iii. Nas cruzes da vida real do mundo romano, ninguém as tomava (sugerindo uma ação voluntária). Em vez disso, as cruzes eram impostas sobre as pessoas, bem contra a vontade delas. Aqui Jesus disse que aqueles que O seguem devem tomar voluntariamente sua cruz.
iv. Isto não é para sugerir que podemos escolher nosso caminho para morrer uma morte viva como seguidores de Jesus; mas como as circunstâncias não escolhidas entram em nossas vidas, escolhemos suportá-las como uma forma de morrer diariamente para a glória de Jesus.
c. Negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz: Jesus igualou o negue-se a si mesmo com o tome a sua cruz. As duas frases expressavam a mesma ideia. A cruz não se tratava de autopromoção ou de autoafirmação. A pessoa carregando uma cruz sabia que não podia se salvar, e aquele ser estava destinado a morrer.
i. Negar-se a si mesmo significa viver como uma pessoa centrada nos outros. Jesus foi a única pessoa a fazer isto perfeitamente, mas nós devemos seguir seus passos.
d. Tome diariamente a sua cruz: Jesus deixou claro que Ele falava espiritualmente quando acrescentava a palavra diariamente. Ninguém podia ser crucificado literalmente todos os dias. Diariamente eles podiam ter a mesma atitude que Jesus tinha.
i. Isto é o que significa seguir Jesus em sua forma mais simples. Ele carregava uma cruz, por isso seus seguidores a carregam. Ele caminhou até a sua auto morte, assim como aqueles que O seguiriam.
4. (24-27) Porque devemos tomar nossa cruz e seguir a Jesus.
Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa, este a salvará. Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, e perder-se ou destruir a si mesmo? Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier em sua glória e na glória do Pai e dos santos anjos. Garanto-lhes que alguns que aqui se acham de modo nenhum experimentarão a morte antes de verem o Reino de Deus”.
a. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa, este a salvará: Devemos seguir Jesus desta maneira porque é a única maneira de encontrar a vida. Parece estranho dizer: “Você nunca viverá enquanto não caminhar até a morte com Jesus”, mas essa é a ideia. Você não pode ganhar a vida de ressurreição sem morrer primeiro.
i. Esta é uma promessa forte e segura da vida após a morte. Se não há vida após a morte, então o que Jesus disse não faz sentido, não há recompensa nem para o mártir moribundo nem para o mártir vivo.
ii. Não se perde uma semente quando se planta, embora ela pareça morta e enterrada. Na verdade, você a liberta para ser o que sempre foi destinada a ser.
b. Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro: Evitar a caminhada para a morte com Jesus significa que podemos ganhar o mundo inteiro – e acabar perdendo tudo.
i. O próprio Jesus teve a oportunidade de ganhar o mundo inteiro adorando a Satanás (Lucas 4:5-8), mas encontrou a vida e a vitória em obediência.
ii. Surpreendentemente, as pessoas que vivem desta maneira diante de Jesus são as que são realmente, genuinamente felizes. Dar nossas vidas a Jesus até o fim, e viver como uma pessoa centrada nos outros não nos tira a vida, mas acrescenta a ela.
c. Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier em sua glória: Não é fácil andar no corredor da morte com Jesus. Significa que temos que nos associar com alguém que foi desprezado e executado – mas se tivermos vergonha Dele, Ele terá vergonha de nós.
i. Este é um chamado radical à fidelidade pessoal a Jesus. Ele queria saber se teríamos vergonhaDele ou de Suas palavras. Se Jesus não fosse Deus, isto seria um convite à idolatria; porque Ele é Deus, este é um chamado à adoração.
ii. Se envergonhar de mim: Não é de se admirar que alguns tivessem vergonha de Jesus durante os dias de Seu ministério terreno; é espantoso que alguém se envergonhe Dele hoje.
·Jesus, revelado em toda a glória de Seu amor sacrificial.
·Jesus, revelado em todo o poder de Sua ressureição gloriosa.
·Jesus, ascendeu ao céu honrado.
·Jesus, amando e orando do céu por Seu povo.
Quem poderia ter vergonha disso?
iii. No entanto, alguns se envergonham. O homem envergonhado acredita; não se pode ter vergonha de algo em que não se acredita. Ele acredita, mas não se sente satisfeito e confiante em sua crença.
·Envergonhado significa que você não quer ser visto junto em público.
·Envergonhado significa que você não quer falar sobre Ele.
·Envergonhado significa que você O evita quando possível.
iv. Alguns se envergonham por medo, outros por pressão social, outros por orgulho intelectual ou cultural. Considerada objetivamente, tal vergonha é um fenômeno estranho.
d. Garanto-lhes que alguns que aqui se acham de modo nenhum experimentarão a morte antes de verem o Reino de Deus: Depois deste chamado extremo para seguir Jesus até a morte, Ele acrescentou uma promessa de glória significativa (antes de verem o Reino de Deus). Jesus queria que eles soubessem que nem tudo era sofrimento e morte; o fim de tudo não era morte.
C. A Transfiguração.
1. (28-29) Jesus é transfigurado diante de Pedro, João e Tiago.
Aproximadamente oito dias depois de dizer essas coisas, Jesus tomou consigo a Pedro, João e Tiago e subiu a um monte para orar. Enquanto orava, a aparência de seu rosto se transformou, e suas roupas ficaram alvas e resplandecentes como o brilho de um relâmpago.
a. Jesus tomou consigo a Pedro, João e Tiago e subiu a um monte para orar: O que começou como uma reunião de oração no topo da montanha rapidamente se transformou no brilho da glória de Jesus, e enquanto orava, Jesus foi transformado bem diante dos olhos dos discípulos.
i. “Embora Lucas não dê nome à montanha, desde Orígenes alguns a identificam como Monte Tabor, que fica a oeste do Mar da Galiléia. Outros, no entanto, a igualam ao Monte Hermom, ao norte de Cesaréia de Filipe, o local da confissão de Pedro”. (Pate)
b. A aparência de seu rosto se transformou: Após ter definido cuidadosamente o contexto da oração, Lucas explicou o que aconteceu com Jesus. Ele mudou em Sua aparência no que ficou conhecido como a transfiguração.
i. Alvas e resplandecentes traduz uma palavra que tem a ideia de “piscar como um relâmpago”. Toda a aparência de Jesus foi transformada em um brilho radiante de luz.
ii. Mateus diz que a face de Jesus brilhou como o sol (Mateus 17:2), e tanto Mateus como Marcos usaram a palavra transfigurar para descrever o que aconteceu com Jesus. Durante este breve tempo, Jesus assumiu uma aparência mais apropriada para o Rei da Glória do que para um homem humilde.
iii. Este não foi um novo milagre, mas a pausa temporária de um milagre contínuo. O verdadeiro milagre era que Jesus, na maioria das vezes, não conseguia mostrar sua glória.
c. A aparência de seu rosto se transformou: Isto era importante neste ponto do ministério de Jesus porque Ele tinha acabado de dizer a seus discípulos que Ele seguiria o caminho da cruz, e que eles deveriam segui-Lo espiritualmente. Teria sido fácil para eles perder a confiança em Jesus depois de uma afirmação tão aparentemente derrotista como esta. No entanto, em seu brilho transfigurado, Jesus mostrou sua glória como Rei sobre todo o Reino de Deus.
i. Se eles escutassem, seria de grande confiança aos discípulos. Jesus sabe o que Ele está fazendo. Ele prometeu que iria sofrer, morrer e ressuscitar, mas Ele ainda é o Rei da Glória.
ii. Jesus mostrou de modo encenado que os portadores da cruz seriam receptores de glória. O fim não é a cruz; o fim é a glória de Deus.
2. (30-31) Moisés e Elias aparecem com Jesus.
Surgiram dois homens que começaram a conversar com Jesus. Eram Moisés e Elias. Apareceram em glorioso esplendor, e falavam sobre a partida de Jesus, que estava para se cumprir em Jerusalém.
a. Dois homens que começaram a conversar com Jesus: Jesus não estava sozinho nesta demonstração de glória. Dois homens também apareceram com Ele, os quais os discípulos pareciam reconhecer imediatamente como sendo Moisés e Elias.
i. O reconhecimento imediato deles desses homens que apareceram em glorioso esplendor sem introdução prévia dá algumas evidências de que nós também conseguiremos reconhecer imediatamente os outros no céu. Não haverá necessidade de etiquetas com os nomes.
ii. Eles pareciam ter um momento maravilhoso, juntos enquanto conversavam com Jesus. “Possivelmente essa transfiguração foi um exemplo da forma como Adão e toda sua raça possam ter passado para o céu, sem que a morte caísse sobre todos nós através do pecado”. (Meyer)
b. Moisés e Elias. Apareceram em glorioso esplendor: Muitos se perguntam por que foram estes dois homens em particular do Antigo Testamento, e não outros dois. Não foi Abraão ou Davi ou Josué ou José ou Daniel; foi Moisés e Elias.
i. Pode ser porque Moisés e Elias representam aqueles que são arrebatados a Deus (Judas 9 e 2 Reis 2:11). Moisés representa aqueles que morrem e vão para a glória, e Elias representa aqueles que são arrebatados ao céu sem morte (como em 1 Tessalonicenses 4:13-18).
ii. Também pode ser dito que eles representam a Lei (Moisés) e os Profetas (Elias). A soma da revelação do Antigo Testamento veio ao encontro de Jesus no Monte da Transfiguração.
iii. Moisés e Elias também figuram juntos na profecia, porque provavelmente são as testemunhas do Apocalipse 11:3-13.
c. Falavam sobre a partida de Jesus, que estava para se cumprir em Jerusalém: De todas as coisas que eles poderiam ter discutido, eles escolheram este tópico. Parece que Moisés e Elias estavam interessados na realização do plano de Deus através de Jesus; eles falaram sobre o que Jesus estava para cumprir em Jerusalém.
i. Quase podemos imaginar Moisés e Elias perguntando: “Você realmente vai fazer isso?”. Moisés poderia dizer: “Eu me ofereci para ser julgado no lugar do povo, mas Deus não o quis. Você pode ir adiante com isto, Jesus?” Elias pode ter acrescentado: “Fui terrivelmente perseguido por Ahab e Jezebel, e eu odiei; às vezes entrei até em profunda depressão espiritual. Você pode ir em frente com isto, Jesus?”
ii. Falavam sobre a partida de Jesus: “Grego, de seu êxodo; em referência a essa expedição ou partida de Israel do Egito”. (Trapp) “O termo, em grande parte, retratava o sofrimento e a morte de Jesus como o meio para Seu recebimento da glória divina”. (Pate)
3. (32) Os discípulos dormem na presença de Jesus, Moisés e Elias.
Pedro e os seus companheiros estavam dominados pelo sono; acordando subitamente, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele.
a. Pedro e os seus companheiros estavam dominados pelo sono: Isto nos leva a crer que talvez os discípulos tenham visto e ouvido apenas uma pequena parte deste encontro de Jesus, Moisés e Elias. Talvez tenha durado muito mais, e eles discutiram muitas outras coisas.
i. “É muito provável que, nesta ocasião, ele estivesse orando com seriedade por várias horas antes da transfiguração, e é digno de nota que ele foi transfigurado enquanto orava. Cada bênção chega ao grande Cabeça da Igreja, e a todos os membros de seu corpo místico, através da oração”. (Spurgeon)
b. Dominados pelo sono: É notável pensar que se pode estar na presença de uma tremenda glória, mas ainda assim estar dominado pelo sono. Por analogia, notamos que o sono espiritual impede que muitos vejam ou experimentem a glória de Deus.
c. Acordando subitamente, viram a glória de Jesus: A glória estava presente o tempo todo, mas eles só a viram quando acordaram. Despertos, eles viram a glória de Jesus – sem sequer mencionar a glória de Moisés ou de Elias. Em comparação com a glória de Jesus, era como se eles nem estivessem presentes.
i. “Os apóstolos viram o maior dos profetas, e o grande doador da lei, depois do qual nunca houve coisa semelhante até que o próprio Cristo veio. Mas o registro inspirado sobre o evento é: ‘Viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele’”. (Spurgeon)
d. Os dois homens que estavam com ele: Na concepção mental que muitos têm deste evento, eles imaginam Jesus flutuando no ar com Moisés e Elias. Em vez disso, o texto diz claramente que eles estavam em pé juntos.
4. (33-34) A oferta insensata de Pedro de construir três tabernáculos.
Quando estes iam se retirando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias”. (Ele não sabia o que estava dizendo.) Enquanto ele estava falando, uma nuvem apareceu e os envolveu, e eles ficaram com medo ao entrarem na nuvem.
a. Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: Como muitos desde então, Pedro criava problemas para si mesmo quando falava, ele não sabia o que estava dizendo.
i. Quando estes iam se retirando, fica claro que Pedro disse o que disse quando Moisés e Elias começaram a partir. Pedro não queria que a cena da glória parasse.
ii. Talvez seu pensamento tenha sido algo assim: É assim que deve ser! Esqueça esta ideia de sofrimento, de ser rejeitado e crucificado; vamos construir alguns tabernáculos para que possamos viver desta maneira com Jesus glorificado o tempo todo. A sugestão de Pedro significava que não só Jesus evitaria a futura cruz, mas Pedro também.
iii. Também, ao sugerir três tendas, Pedro cometeu o erro de colocar Jesus no mesmo nível de Moisés e Elias, com um tabernáculo para cada um deles.
b. Enquanto ele estava falando, uma nuvem apareceu e os envolveu: Enquanto Pedro dizia isto, eles foram envolvidos com a nuvem da glória de Deus chamada no Antigo Testamento de Shekinah.
i. Esta é a mesma ideia de cobrir com a sombra em Lucas 1:35, quando a glória de Deus veio sobre Maria e ela recebeu o menino Jesus.
c. E eles ficaram com medo ao entrarem na nuvem: Pedro e os apóstolos no início sentiram que era bom estarmos aqui, mas à medida que a glória se intensificou, começou a criar neles o temor e o pavor que os pecadores sentem na presença de Deus.
i. Pedro pode não ter sabido o que disse, mas sabia exatamente o que viu – a nuvem de glória era real, e ele estava bem desperto quando ele e os apóstolos a viram.
ii. “Não sonhamos nossa religião, ela não chegou até nós como uma visão da noite; mas quando estávamos plenamente acordados, vimos a glória de Cristo”. (Spurgeon)
5. (35-36) A voz da nuvem da glória.
Dela saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido; ouçam-no!” Tendo-se ouvido a voz, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram isto somente para si; naqueles dias, não contaram a ninguém o que tinham visto.
a. Dela saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido; ouçam-no!” A voz da nuvem de glória deixou claro que Jesus não estava no mesmo nível que Moisés e Elias. Ele é o Filho, o Escolhido – então Ouçam-no!
i. Moisés e Elias eram grandes homens, e cada um tem um lugar importante no desdobramento do plano de Deus dos tempos. No entanto, comparados a Jesus o Messias, a Deus Filho, eles eram insignificantes. Então todo o foco e atenção devem ser concentrados em Jesus. Nenhum destes nobres servos pode se comparar ao Filho, o Escolhido – então Ouçam-no!
ii. Pedro pode não ter sabido o que disse, mas sabia exatamente o que ouviu – a voz do céu era real, e ele estava bem desperto quando os apóstolos a ouviram.
b. Tendo-se ouvido a voz, Jesus ficou só: Deus fez com que fosse impossível focalizar mais neles. Jesus merecia todo o foco.
c. Naqueles dias, não contaram a ninguém o que tinham visto: Depois de tudo ter terminado, Pedro, João e Tiago não contaram a ninguém – afinal, quem iria acreditar neles?
i. Naqueles dias, eles não contaram a ninguém, mas não conseguiram ficar calados sobre isso. Pedro se lembrou claramente e se referiu a este evento em 2 Pedro 1:16-18. João provavelmente se referiu a ele em João 1:14. Eles se lembraram desta poderosa experiência que mostrou Jesus tanto em sua glória quanto em seu papel singular como Messias, maior até mesmo do que Moisés e Elias.
ii. Por mais impressionante que esta experiência tenha sido, ela por si só não mudou a vida dos discípulos tanto quanto ter nascido de novo mudou. Nascer de novo pelo Espírito de Deus é o grande milagre, a maior manifestação da glória de Deus jamais vista.
D. A glória de Deus em ação.
1. (37-40) O pedido do pai de um menino possuído por demônios.
No dia seguinte, quando desceram do monte, uma grande multidão veio ao encontro dele. Um homem da multidão bradou: “Mestre, rogo-te que dês atenção ao meu filho, pois é o único que tenho.Um espírito o domina; de repente ele grita, lança-o em convulsões e o faz espumar; quase nunca o abandona, e o está destruindo. Roguei aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não conseguiram”.
a. Quando desceram do monte: Imediatamente após a glória radiante da transfiguração, Jesus e os discípulos desceram do monte e foram recebidos por problemas demoníacos e oposição.
i. “Ali a montanha; agora o vale. Ali os santos glorificados; aqui o lunático. Ali o Rei em sua glória celestial; aqui os representantes da fé perplexa e derrotada”. (Morgan)
b. Mestre, rogo-te que dês atenção ao meu filho: O pai sentiu (com razão), que tudo que Jesus tinha que fazer era olhar para seu filho e a compaixão do Salvador o levaria a ajudar o menino aflito.
c. Um espírito o domina; de repente ele grita, lança-o em convulsões e o faz espumar; quase nunca o abandona, e o está destruindo: A descrição se encaixa no que chamaríamos de uma convulsão epilética. Neste caso, Jesus sabia (e foi demonstrado) que uma força demoníaca a provocou, e não apenas causas fisiológicas.
d. Roguei aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não conseguiram: Os discípulos já haviam tido algum sucesso em expulsar demônios (Lucas 9:1). Pode ser que este tenha sido um caso mais forte ou mais teimoso de possessão demoníaca.
i. Existem classificações de poderes demoníacos (Efésios 6:12) e, evidentemente, alguns demônios são mais fortes (mais teimosos, resistentes) do que outros. Em Mateus 17:21, Jesus disse que o fracasso deles se devia a uma falta de oração e jejum. Não é que a oração e o jejum nos fazem mais dignos de expulsar os demônios. A ideia é que a oração e o jejum nos aproximam do coração de Deus e nos colocam mais em sintonia com Seu poder.
ii. Este fracasso que sofreram foi, de fato, bom para eles. O fracasso deles os ensinou.
·Ensinou-os a não entrar em uma rotina de ministério mecânico.
·Ensinou-lhes a grande superioridade de Jesus.
·Ensinou-lhes a desejar a presença de Jesus.
·Ensinou-os a virem a Jesus com o problema.
iii. “Estavam confusos com sua falta de sucesso, mas não com sua falta de fé, que foi a causa de seu aborto”. (Clarke)
2. (41-42) Jesus expulsa um demônio que seus discípulos não foram capazes de expulsar.
Respondeu Jesus: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês e terei que suportá-los? Traga-me aqui o seu filho”. Quando o menino vinha vindo, o demônio o lançou por terra, em convulsão. Mas Jesus repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou de volta a seu pai.
a. Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês e terei que suportá-los? Há uma sensação de que Jesus estava frustrado com seus discípulos. Seu período de ministério antes da cruz estava chegando ao fim, e talvez Ele sentisse frustração pelos discípulos não terem tido mais fé.
b. Quando o menino vinha vindo, o demônio o lançou por terra, em convulsão: Mesmo quando o pai trouxe o menino a Jesus, no início ele não parecia melhorar, mas os problemas se mostraram tão ruins como sempre. Este foi o último e desesperado esforço do demônio para agarrar o menino e fazer com que o pai, os discípulos, e todos se desesperassem.
i. O demônio o lançou por terra: “Quando ele estava chegando a Jesus, o demônio o derrubou. É a palavra usada por um boxeador dando um golpe de knock-out ao seu oponente ou de um lutador que derruba alguém”. (Barclay)
ii. Em um sermão intitulado O Último Arremesso do Diabo, Spurgeon considerou como o diabo muitas vezes ataca duramente uma pessoa no momento em que ela começa a vir para o Salvador. “Eu vi homens, justamente quando eles estavam começando a ouvir e a pensar, tomados de repente com tanta violência pelo pecado, e tão temerosamente levados por ele, que se eu não tivesse visto a mesma coisa antes eu me desesperaria por deles”.
iii. Spurgeon considerou algumas das mentiras que Satanás usa para derrubar os homens no momento em que eles estão vindo a Jesus:
·“Você não é eleito”.
·“Você é um tremendo pecador”.
·“É tarde demais”.
·“Não adianta tentar – desista”.
·“Isto não vai funcionar para você”.
c. Jesus repreendeu o espírito imundo, curou o menino: Não intimidado por esta última demonstração de poder demoníaco, Jesus libertou o menino possuído por demônios instantaneamente. O que foi muito difícil para os discípulos não foi muito difícil para Jesus.
3. (43-45) Jesus lembra seus discípulos de sua missão.
E todos ficaram atônitos ante a grandeza de Deus. Estando todos maravilhados com tudo o que Jesus fazia, ele disse aos seus discípulos: “Ouçam atentamente o que vou lhes dizer: O Filho do homem será traído e entregue nas mãos dos homens”. Mas eles não entendiam o que isso significava; era-lhes encoberto, para que não o entendessem. E tinham receio de perguntar-lhe a respeito dessa palavra.
a. E todos ficaram atônitos ante a grandeza de Deus: Jesus havia acabado de revelar Sua glória de duas formas espetaculares – a transfiguração e a expulsão de um demônio difícil. No entanto, Ele lembrou a Seus discípulos que Sua missão não havia mudado; Ele ainda tinha vindo para morrer na cruz por nossos pecados: O Filho do homem será traído e entregue nas mãos dos homens.
i. Ouçam atentamente o que vou lhes dizer: “A outras palavras, você pode dar atenção ocasional – mas ao que diz respeito aos meus sofrimentos e à minha morte, você deve sempre ouvir. Deixe-as ocupar constantemente um lugar em suas meditações e reflexões mais sérias.” (Clarke)
b. Mas eles não entendiam o que isso significava: Embora fossem frequentes, os discípulos esqueceram estes lembretes sobre o sofrimento e a ressurreição de Jesus até depois de Sua ressurreição (Lucas 24:6-8).
i. Mas eles não entendiam: “Tão apaixonados estavam com aquela ocultação carnal de um reino terreno”. (Trapp)
E. O caráter incomum da grandeza no Reino de Deus.
1. (46-48) A verdadeira grandeza se mostra em ser como uma criança, e em ser a menor, não nas concepções populares de grandeza.
Começou uma discussão entre os discípulos acerca de qual deles seria o maior. Jesus, conhecendo os seus pensamentos, tomou uma criança e a colocou em pé, a seu lado. Então lhes disse: “Quem recebe esta criança em meu nome, está me recebendo; e quem me recebe, está recebendo aquele que me enviou. Pois aquele que entre vocês for o menor, este será o maior”.
a. Qual deles seria o maior: Os discípulos estavam frequentemente preocupados com a questão da grandeza. Eles parecem fazer esta pergunta pensando que Jesus já escolheu um deles como o maior, ou como se quisessem que Jesus decidisse entre eles.
i. “Há muito tempo o Venerável Beda sugeriu que esta disputa em particular surgiu porque Jesus havia levado Pedro, João e Tiago até o topo da montanha com ele e os outros estavam com ciúmes”. (Barclay)
ii. Podemos imaginar os discípulos discutindo entre si sobre qual deles era o maior (como fizeram mais tarde em Lucas 22:24 e outros passagens), e depois dizendo: “Deixemos Jesus resolver isto”.
iii. Eles provavelmente pensaram em termos de posição e avanço na gloriosa administração do Messias, o Rei. “Ele falou de sua humilhação, eles pensaram em seu próprio avanço; e isso ‘ao mesmo tempo’”. (Spurgeon)
b. Jesus, conhecendo os seus pensamentos, tomou uma criança e a colocou em pé, a seu lado: Jesus poderia ter respondido à pergunta: “quem é o maior?” apontando para si mesmo. Em vez disso, Jesus chamou a atenção deles para Sua natureza, fazendo-os olhar para uma criança como um exemplo.
i. Jesus ouviu a conversa deles, mas o mais importante foi que Ele entendeu os seus pensamentos por trás da conversa. Ele compreendeu os motivos e os impulsos dos discípulos.
ii. A criança era o modelo de grandeza. Por este ato, Jesus disse aos discípulos: “Se querem ser grandes, aprendam algo com esta criança”. Especialmente naquela cultura, as crianças eram de pouca importância, não eram ameaçadoras, não se preocupavam com o status social e não se esmoreciam com o sucesso e a ambição. Quanto mais nos colocamos nesta posição humilde que uma criança tinha naquela cultura, mais estamos no caminho da grandeza. Ninguém deve pensar que uma criança nos mostra tudo sobre a grandeza e o reino, mas certamente algumas coisas, e coisas importantes de fato.
iii. “O princípio estabelecido por Jesus é que no reino de Deus há uma inversão de valores. O último será o primeiro; o menor será o maior”. (Pate)
iv. Jesus apontou para uma criança, e não apontou para Pedro. Se Pedro fosse realmente considerado como o primeiro papa na forma como os papas são considerados pela teologia e história católica romana, Jesus deveria ter declarado que Pedro era o maior entre eles.
c. Quem recebe esta criança em meu nome, está me recebendo; e quem me recebe, está recebendo aquele que me enviou: Jesus disse que a criança era uma representação ou um reflexo de Si mesmo, e que Jesus é um reflexo de Seu Pai no céu. Usando a criança como exemplo, Jesus indiretamente apontou para Si mesmo como o maior do reino.
i. Sabemos que um só Homem foi na verdade o maior entre eles e entre todos: Jesus Cristo. Isto significa que o próprio Jesus era humilde como uma criança. Ele não se preocupava com seu próprio status. Ele não precisava ser o centro das atenções. Ele não era capaz de enganar, e não tinha uma presença intimidadora.
ii. Como a natureza de Jesus é como uma dessas crianças, como tratamos aqueles que são humildes como crianças (quem recebe esta criança em meu nome, está me recebendo) mostra o que pensamos sobre a natureza de Jesus.
iii. “Há uma tradição de que a criança cresceu e se tornou Inácio de Antioquia, que em dias posteriores se tornou um grande servo da Igreja, um grande escritor, e finalmente um mártir por Cristo”. (Barclay) Clarke indica que esta tradição vem do escritor cristão Nicéforo, que escreveu que Inácio foi morto por Trajano em 107 d.C. No entanto Clarke também escreve sobre Nicéforo, que ele “não é muito de se depender, sendo ao mesmo tempo fraco e crédulo”.
iv. Podemos contrastar o que o diabo faz com as crianças (Lucas 9:39) e o que Jesus faz com as crianças.
d. Pois aquele que entre vocês for o menor, este será o maior: Jesus então desafiou seus seguidores a serem os menores. O desejo de ser louvado e de obter reconhecimento deve ser estranho a um seguidor de Jesus. Jesus quer que Seus seguidores abracem a ideia de ser o menor como uma escolha, permitindo que outros sejam preferidos, e não porque somos forçados a ser os menores.
i. É fácil realmente desprezar as pessoas humildes. Eles são os perdedores; do tipo que nunca terão sucesso em nosso mundo competitivo e agressivo e sempre-a-frente. No entanto, quando desprezamos as pessoas humildes, na verdade desprezamos Jesus.
ii. Este aspecto de humildade e de dar preferência aos outros na fé cristã tem sido muitas vezes ridicularizado e desprezado. Nietzsche e outros glorificaram a vontade de poder e desprezaram Jesus e seus seguidores como fracos e dignos de desprezo. No entanto, Nietzsche se foi e está amplamente desacreditado; Jesus e seus seguidores vivem e transformam vidas e culturas através do poder exemplificado (de alguma forma) por uma criança.
2. (49-50) A verdadeira grandeza não é exclusiva.
Disse João: “Mestre, vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedi-lo, porque ele não era um dos nossos”. “Não o impeçam”, disse Jesus, “pois quem não é contra vocês, é a favor de vocês.”
a. Mestre, vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedi-lo, porque ele não era um dos nossos: Isto deve ter sido frustrante para os discípulos, porque mostrou que outros seguidores de Jesus eram capazes de expulsar demônios quando eles às vezes não eram (Lucas 9:40). Não é de se admirar que João queria que eles parassem!
b. Não o impeçam, disse Jesus, pois quem não é contra vocês, é a favor de vocês: Jesus os ensinou a ter um espírito mais generoso. Há muitos que estão errados em algum aspecto de sua apresentação ou de seu ensinamento, mas ainda assim eles expuseram Jesus de alguma maneira. Que Deus lide com eles. Aqueles que não são contra um Jesus bíblico ainda estão a favor de vocês, pelo menos de alguma forma.
i. Paulo viu muitos homens pregando a Cristo por muitos motivos, alguns deles maus motivos – no entanto, ele conseguia se alegrar de que Cristo estava sendo pregado (Filipenses 1:15-18).
3. (51-53) A verdadeira grandeza é marcada por uma firme determinação.
Aproximando-se o tempo em que seria elevado aos céus, Jesus partiu resolutamente em direção a Jerusalém. E enviou mensageiros à sua frente. Indo estes, entraram num povoado samaritano para lhe fazer os preparativos; mas o povo dali não o recebeu porque se notava que ele se dirigia para Jerusalém.
a. Aproximando-se o tempo em que seria elevado aos céus: Este é o início de uma nova seção do Evangelho de Lucas. Jesus estava a caminho de Jerusalém para ser elevado aos céus.
·Ele seria elevado até a cidade mais alta de Jerusalém.
·Ele seria elevado em cima de uma cruz.
·Ele seria elevado aos céus em uma gloriosa Ascensão.
b. Jesus partiu resolutamente em direção a Jerusalém: Jesus empreendeu esta viagem final em direção a Jerusalém com firmeza, adequando-se à dificuldade da tarefa que o aguardava.
i. Isaías 50:7, fala profeticamente do Messias, o Grande Servo: Porque o Senhor, o Soberano, me ajuda, não serei constrangido. Por isso eu me opus firme como uma dura rocha, e sei que não ficarei decepcionado. Este é Jesus, que partiu resolutamente – como uma rocha, como escreveu Isaías – para ir a Jerusalém para sofrer e morrer.
ii. Jesus endureceu Seu rosto; não no sentido de se tornar um homem duro ou zangado, mas no sentido de ter foco, e ter foco em meio a um momento difícil.
iii. Há dois tipos de coragem – a coragem do momento, que não requer pensamento prévio, e uma coragem planejada, que vê a dificuldade pela frente e marcha resolutamente em direção a ela. Jesus teve este tipo de coragem; Ele viu a cruz no horizonte, mas ainda assim partiu resolutamente em direção a Jerusalém.
iv. Spurgeon pregou um sermão maravilhoso sobre o texto de Isaías 50:7 intitulado “O Rosto do Redentor como uma Rocha”. Nele, ele considerou quão severamente a firme determinação de Jesus foi posta à prova.
·Por ofertas do mundo.
·Pelas persuasões de Seus amigos.
·Pela indignidade de Seus clientes.
·Pela facilidade com que Ele poderia ter recuado se Ele tivesse desejado.
·Pelas zombarias daqueles que zombavam Dele.
·Pela tensão e agonia total da cruz.
v. E enviou mensageiros à sua frente: “Anjos, literalmente; mas isto prova que a palavra anjo significa um mensageiro de qualquer tipo, seja ele Divino ou humano. Os mensageiros neste caso eram provavelmente Tiago e João”. (Clarke)
c. Indo estes, entraram num povoado samaritano para lhe fazer os preparativos; mas o povo dali não o recebeu: Porque Jesus estava indo para Jerusalém, estes samaritanos em particular não o receberam. Eles não tinham boas relações com os judeus e eram preconceituosos contra eles. Podemos também ver isto como a oposição (sabendo ou não) que aparece no caminho de todos os que partem resolutamente para fazer a vontade de Deus.
i. “A origem do povo samaritano parece ter sido o casamento de judeus do Reino do Norte com colonos não-judeus importados após a conquista de 722 a.C. (2 Reis 17:24). Estes judeus-gentios mestiços desenvolveram sua própria tradução do Pentateuco (Pentateuco Samaritano), construíram seu próprio templo de culto no Monte Gerizim (ver João 4:20), que mais tarde foi destruído por João Hircano (128 a.C.), e celebravam sua própria Páscoa”. (Pate)
ii. “Para Jesus tomar aquele caminho para Jerusalém, era incomum; e tentar encontrar hospitalidade em uma aldeia samaritana era ainda mais incomum”. (Barclay)
4. (54-56) A verdadeira grandeza é marcada pela misericórdia, não pelo julgamento.
Ao verem isso, os discípulos Tiago e João perguntaram: “Senhor, queres que façamos cair fogo do céu para destruí-los?” Mas Jesus, voltando-se, os repreendeu, dizendo: “Vocês não sabem de que espécie de espírito vocês são, pois o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los”; e foram para outro povoado.
a. Senhor, queres que façamos cair fogo do céu para destruí-los? Tiago e João, indignados com a má recepção que Jesus recebeu entre os samaritanos, ofereceram-se para destruir a cidade em um julgamento espetacular, no nome de Jesus.
i. É interessante e talvez divertido que Tiago e João estivessem tão confiantes de que poderiam fazer isso, especialmente após o recente fracasso que tiveram com o menino possuído por demônios. Sua reação irada mostra porque Jesus às vezes os chamou de Boanerges, significando Filhos do Trovão (Marcos 3:17).
ii. “Era de se desejar que consultássemos primeiro com Cristo em sua palavra, antes de agitarmos a mão ou o pé para a vingança”. (Trap)
b. Voltando-se, os repreendeu: A ofensa deles – mesmo em nome de Jesus – não foi apreciada. A determinação de Jesus mencionada nos versículos anteriores não significava que Ele fosse duro ou zangado.
i. Eles viram o rosto de pedra de Jesus e acharam que isso significava mau ou duro. Eles não entendiam que significava foco e estar mais concentrado no amor do que nunca. Aquele rosto de pedra acabaria na cruz, na demonstração final do amor, não na demonstração final da raiva.
ii. “Resolvi usar todos os métodos possíveis para evitar… uma estreiteza de espírito, um zelo partidário… aquele fanatismo miserável que faz muitos não acreditarem que existe qualquer obra de Deus, a não ser entre nós”. (Wesley, citado em Barclay)
c. Vocês não sabem de que espécie de espírito vocês são, pois o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los: Jesus explicou que a falha deles neste ponto veio de duas maneiras.
i. Eles não conheciam a si mesmos. Talvez eles pensassem que estavam sendo como Jesus, ou mostrando o caráter de Deus. Estavam enganados, e não representavam Deus e Seu coração. Ele amava os samaritanos e queria que eles se arrependessem e fossem salvos.
ii. Eles não conheciam Jesus e Sua missão. Ele veio para salvar os perdidos, não para queimá-los com fogo do céu.
iii. Seguir Jesus significa ser misericordioso com os outros, em vez de ser duro com eles. Em particular, devemos lembrar que Deus diz: “Minha é a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor” (Romanos 12:19). “Os discípulos daquele Cristo que morreu por seus inimigos nunca devem pensar em se vingar de seus perseguidores”. (Clarke)
5. (57-58) A verdadeira grandeza é mostrada em sacrifício.
Quando andavam pelo caminho, um homem lhe disse: “Eu te seguirei por onde quer que fores”. Jesus respondeu: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”.
a. Eu te seguirei por onde quer que fores: Com os milagres associados ao ministério de Jesus, segui-Lo pode ter parecido mais glamoroso do que realmente era. Jesus talvez tenha recebido muitas ofertas espontâneas como esta.
b. As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça: Jesus não disse ao homem: “Não, você não pode me seguir”. Jesus lhe disse a verdade, sem pintar uma versão glamourizada do que significaria segui-Lo. Isto é o oposto das técnicas utilizadas por muitos evangelistas hoje, mas Jesus queria que o homem soubesse como seria realmente.
i. “No contexto imediato do ministério de Jesus, o ditado não significa que Jesus estava sem um tostão, mas sim desabrigado; a natureza da sua missão o mantinha em movimento e manteria também seus seguidores em movimento”. (Carson)
ii. A razão pela qual este homem se afastou de Jesus foi porque Jesus vivia uma vida muito simples pela fé, confiando em Seu Pai para cada necessidade e sem reservas de recursos materiais. Este é exatamente o tipo de coisa que tornaria Jesus mais atraente para um homem verdadeiramente espiritual. “Aqui está um homem que vive completamente pela fé e está satisfeito com poucas coisas materiais; eu deveria segui-Lo e aprender com Ele”.
iii. “Temos aqui boas provas de que ele sabia como fechar a porta, assim como abri-la. Ele sabia tão bem como avisar os pretensiosos quanto aceitar o penitente”. (Spurgeon)
6. (59-60) A verdadeira grandeza significa que damos a Jesus a prioridade máxima em nossas vidas.
A outro disse: “Siga-me”. Mas o homem respondeu: “Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai”. Jesus lhe disse: “Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos; você, porém, vá e proclame o Reino de Deus”.
a. A outro disse: “Siga-me”: O homem descrito em Lucas 9:57-58 ofereceu-se para seguir Jesus. Em contraste, Jesus pediu a este homem que O seguisse.
b. Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai: Na verdade, este homem não pediu permissão para cavar uma sepultura para seu pai falecido. Ele queria permanecer na casa de seu pai e cuidar dele até a sua morte. Isto era obviamente um período indefinido, que podia se alongar por muito tempo.
i. “Ele não estava dividido entre o certo e o errado. Ele estava dividido entre o certo e o certo. Ele hesitou entre duas reivindicações rivais, ambas carimbadas com o selo do divino”. (Morrison)
ii. O homem queria seguir Jesus, mas não ainda naquele momento. Ele sabia que era bom e que deveria fazê-lo, mas sentiu que havia uma boa razão para não poder fazê-lo naquele momento. O homem anterior se dispôs rapidamente a seguir Jesus; este homem foi lento demais.
c. Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos; você, porém, vá e proclame o Reino de Deus: Jesus pressionou o homem a segui-Lo naquele momento, e declarou claramente o princípio de que as obrigações familiares – ou qualquer outra obrigação – não devem ser colocadas à frente de seguir Jesus. Jesus deve vir primeiro.
i. Jesus não tinha medo de desencorajar discípulos potenciais. Ao contrário de muitos evangelistas modernos, Ele estava mais interessado na qualidade do que na quantidade. Além disso, Jesus estava apenas sendo honesto. Isto é o que significava segui-Lo, e Ele queria que as pessoas o soubessem no início.
7. (61-62) A verdadeira grandeza significa que seguimos Jesus de todo o coração, sem demora.
Ainda outro disse: “Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e despedir-me da minha família”. Jesus respondeu: “Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus”.
a. Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e despedir-me da minha família: O homem anterior ofereceu-se para seguir Jesus depois de uma demora indefinida, talvez longa. Este homem ofereceu-se para seguir Jesus depois de um atraso relativamente curto.
i. “Ó jovem, quando você estiver pensando em deixar o mundo, tenha medo destas despedidas! Elas têm sido a ruína de centenas de pessoas esperançosas. Eles foram quase persuadidos; mas foram ter com seus velhos companheiros apenas para dar-lhes o último beijo, o último aperto de mão, e nunca mais vimos eles”. (Spurgeon)
b. Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus: Jesus enfatizou para este homem o compromisso necessário para segui-lo. É preciso ter uma determinação semelhante à de um lavrador que lavra um campo, que deve fazê-lo com todas as suas forças e sempre olhando para frente.
i. Ao arar um campo naquele dia, um fazendeiro mantinha as fileiras retas, concentrando-se em um objeto na frente e na distância (como uma árvore, por exemplo). Se o fazendeiro começasse a arar e continuasse olhando para trás, ele nunca faria filas retas e um bom trabalho arando. Ao seguir Jesus, devemos manter nossos olhos em Jesus, e nunca tirar os olhos dele. “Nenhum lavrador jamais lavrou um sulco reto olhando para trás por cima de seu ombro”. (Barclay)
ii. Os lavradores também fazem algo mais de grande importância: eles seguram firme. Um lavrador que solta não é um verdadeiro lavrador. “Lavradores não são normalmente pessoas cultas, nem são frequentemente poetas disfarçados. Mas há uma virtude que eles possuem de forma preeminente, que é a virtude de conseguir quietamente segurar firme”. (Morrison)
iii. Mais do que qualquer outra pessoa, Jesus viveu isto; Ele partiu resolutamente em direção a Jerusalém (Lucas 9:51).
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