Lucas 17 – O dever, o agradecimento e o Reino
A. Perdão, fé e dever.
1. (1-2) O perigo de fazer com que o outro tropece.
Jesus disse aos seus discípulos: “É inevitável que aconteçam coisas que levem o povo a tropeçar, mas ai da pessoa por meio de quem elas acontecem. Seria melhor que ela fosse lançada no mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço, do que levar um desses pequeninos a pecar.”
a. Jesus disse aos seus discípulos: Jesus, através do relato de Lázaro e do homem rico, deixou claro que a eternidade é real, e ninguém do além voltará para nos avisar. É ainda mais imperativo como vivemos e mostramos Jesus aos outros deste lado da eternidade, porque este momento conta para sempre.
b. É inevitável: É inevitável que as pessoas tropecem, mas ai da pessoa que leva uma outra a tropeçar. É importante entender o que Jesus quis dizer quando falou sobre tropeçar.
i. A palavra grega antiga usada aqui para tropeçar é skandalon, e vem de uma palavra para um bastão dobrado – o bastão que arma a armadilha ou lança a isca. Também era usada como pedra de tropeço, algo que faz as pessoas tropeçar.
ii. Na Bíblia, às vezes, um skandalon é bom – como a forma como as pessoas “tropeçam” em Jesus, e se ofendem com o evangelho (Romanos 9:33, 1 Coríntios 1:23, Gálatas 5:11).
iii. Mas entre os irmãos em Jesus, um skandalon é ruim. Pode ser um falso conselho (Mateus 16:23), e pode ser também o levar um irmão ao pecado por sua “liberdade” (Romanos 14:13). A divisão e o falso ensinamento trazem um skandalon entre o povo de Deus (Romanos 16:17).
c. Ai da pessoa por meio de quem elas acontecem: Essencialmente, disse Jesus: “As pessoas vão morder a isca – mas ai de vocês se vocês oferecerem o anzol. As pessoas vão tropeçar – mas ai de você se você colocar a pedra de tropeço no caminho delas.”
i. Seria melhor para o ofensor morrer uma morte horrível, tal como ter uma pedra de moinho pendurada em seu pescoço e ser jogado no mar.
ii. Esta é uma lição que a igreja aprendeu da maneira mais difícil ao tentar ajudar Deus a amaldiçoar a raça judaica por sua rejeição do Messias; a maldição voltou para a igreja pior do que nunca. Se alguém parece estar maduro para o julgamento ou disciplina de Deus, que Deus o faça; saia do caminho. Deus não precisa de você como um instrumento de Seu julgamento, apenas como um instrumento de Seu amor.
iii. 1 João 2:10 explica a solução de como ser um skandalon para os outros – o amor: Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo. Se amamos nosso irmão, não traremos uma pedra de tropeço à sua vida.
2. (3-4) Se alguém tropeçar em você, lide com isso e perdoe.
“Tomem cuidado. Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: ‘Estou arrependido’, perdoe-lhe”.
a. Se o seu irmão pecar, repreenda-o: Quando alguém peca contra você, você não deve fingir como se nada tivesse acontecido. Você precisa repreender esse irmão com amor.
i. O amor é a regra aqui; obviamente não podemos andar por aí anotando cada pequena ofensa cometida contra nós. Um aspecto do fruto do Espírito é a longanimidade (Gálatas 5:22), e precisamos ser capazes de sofrer por muito tempo com as ofensas e pequenos delitos que vêm no nosso caminho na vida diária. Efésios 4:2 diz que devemos amar com longanimidade, suportando-nos uns aos outros no amor. Não sejamos muito sensíveis; tentemos nos suportar uns aos outros.
ii. Mas no amor, quando pecamos contra alguém de forma significativa, devemos seguir Efésios 4:15 como o padrão: precisamos falar a verdade com amor. O amor não é levar isso para outras pessoas; o amor não é guardar isso dentro de você. O amor é endireitar isso com a pessoa que pecou contra você.
b. Se ele se arrepender, perdoe-lhe: Este é o desafio de Jesus. Não nos é dada uma outra opção. Quando a pessoa que o ofendeu se arrepende, você deve perdoá-la.
i. O que fazemos com a pessoa que nunca se arrependeu? A perdoamos? Mesmo que o relacionamento não possa ser restaurado porque não se chega a um acordo comum, ainda podemos optar por perdoá-la de nossa parte, e esperar por uma obra de Deus em sua vida para a restauração do relacionamento.
ii. Claramente – especialmente à luz das palavras que se seguem – Jesus não pretendeu aqui estreitar nosso foco em relação ao perdão. Sua intenção era, no mínimo, ampliar o foco que devemos dar ao perdão. Ele não estava nos dando uma razão para não perdoar ou para perdoarmos menos.
c. “Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: ‘Estou arrependido’, perdoe-lhe”: Isto indica que não estamos autorizados a julgar o arrependimento dos outros. Se alguém tivesse pecado contra mim sete vezes em um dia e continuasse me pedindo para perdoá-lo, eu poderia pensar que esta pessoa não fosse realmente sincera. No entanto, Jesus me ordena a perdoá-la e a restaurá-la.
3. (5-6) É necessária uma grande fé para se dar bem com pessoas como esta.
Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” Ele respondeu: “Se vocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderão dizer a esta amoreira: ‘Arranque-se e plante-se no mar’, e ela lhes obedecerá.
a. Aumenta a nossa fé! Nesta ocasião, os discípulos foram extremamente perspicazes. Eles reconheceram que é necessária uma grande fé em Deus para se dar bem com as pessoas desta maneira perdoadora e não ofensiva. Se o objetivo de Jesus na passagem anterior era diminuir o foco no perdão, eles não precisavam desta fé.
i. “Esta obra de perdoar cada ofensa de cada homem, que continuamente parecia tão difícil, mesmo para os próprios discípulos, que viram que, sem um grau extraordinário de fé, nunca conseguiriam cumprir esta ordem.” (Clarke)
b. Se vocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda: Geralmente pensamos na fé como sendo exercida com obras dramáticas e milagrosas. Isso pode ser verdade, mas os maiores milagres da fé têm a ver com a restauração dos relacionamentos.
i. Segundo a Geldenhuys, as raízes da amoreira eram consideradas extraordinariamente fortes; pensava-se que esta árvore poderia permanecer enraizada por seiscentos anos.
ii. Você pode ter falta de perdão e amargura que estão profundamente enraizados em você; pode ser como uma daquelas árvores que as raízes crescem profundas e fortes. Mas pela fé, Jesus pode arrancar totalmente essas raízes; a fé pode arrancá-las e plantá-las no mar.
iii. “Nenhum dever exigido dos homens e das mulheres rala mais sobre carne e sangue do que este de perdoar feridas, nada que a maioria das pessoas ache mais difícil de colocar em prática; assim como, de fato, onde não há raiz de fé, este fruto não será encontrado.” (Poole)
c. Do tamanho de uma semente de mostarda: A fé que devemos ter é uma fé que tem mais a ver com o tipo de fé temos, do que com quanta fé temos. Uma pequena quantidade de fé – tanto quanto uma semente de mostarda (uma semente muito pequena) – pode realizar grandes coisas, se essa pequena quantidade de fé for colocada em um Deus grande e poderoso.
i. Uma pequena fé pode realizar grandes coisas; mas uma grande fé pode realizar coisas ainda maiores. O que mais importa é onde colocamos nossa fé, o objeto de nossa fé. “O olho não pode ver a si mesmo. Você já viu seu próprio olho? Em um espelho você pode tê-lo feito, mas isso foi apenas um reflexo dele. E você pode, da mesma forma, ver a evidência de sua fé, mas não pode olhar para a própria fé. A fé olha para fora de si mesma para o objeto da fé, mesmo para Cristo.” (Spurgeon)
ii. Quando se patina no gelo, é muito melhor ter pouca fé em gelo grosso do que ter muita fé em gelo fino. Nossa pequena fé em um Salvador tão grande pode realizar grandes coisas.
4. (7-10) Não podemos colocar Deus em débito conosco; tudo o que fazemos por Ele é um pequeno pagamento por Sua obra em nossa vida.
“Qual de vocês que, tendo um servo que esteja arando ou cuidando das ovelhas, lhe dirá, quando ele chegar do campo: ‘Venha agora e sente-se para comer’? Ao contrário, não dirá: ‘Prepare o meu jantar, apronte-se e sirva-me enquanto como e bebo; depois disso você pode comer e beber’? Será que ele agradecerá ao servo por ter feito o que lhe foi ordenado? Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’”.
a. Tendo um servo que esteja arando ou cuidando das ovelhas: Jesus havia acabado de falar a seus discípulos sobre grandes obras que são possíveis por meio de uma grande fé. Aqui Jesus acrescentou algumas palavras destinadas a operar contra o orgulho que muitas vezes se eleva quando alguém é usado por Deus.
i. Jesus fala daqueles que realmente servem. Arar é trabalho árduo; esgota a força e a resistência do lavrador. É um trabalho árduo na agricultura e é um trabalho árduo no ministério espiritual. Cuidar das ovelhas também pode ser um trabalho árduo, que requer muita paciência, atenção aos detalhes e um coração afetuoso.
ii. É útil lembrar que estas palavras não foram dadas à multidão; o capítulo começou, Jesus disse aos seus discípulos (Lucas 17:1). “Note, ele não estava traçando o caminho da salvação, mas apontando um caminho de serviço para aqueles que já estavam salvos.” (Spurgeon)
b. Prepare o meu jantar, apronte-se e sirva-me enquanto como e bebo; depois disso você pode comer e beber’? Jesus imaginou um servo vindo de um dia duro de trabalho, arando ou cuidando das ovelhas. Quando o servo chega em casa, o mestre não elogia, nem alimenta, nem serve, nem massageia o criado. O patrão esperava que o servo continuasse servindo porque ainda havia trabalho a ser feito.
i. Sempre há algo que podemos fazer para servir nosso Mestre, e há sempre alguma maneira de fazê-lo. “Se você não puder sair arando, descerá para a cozinha e cozinhará; e se não puder alimentar o gado, levará um prato de comida para seu Mestre. Isto é uma mudança de trabalho para você; mas você deve continuar enquanto viver.” (Spurgeon)
ii. No contexto das palavras anteriores de Jesus, podemos dizer que ainda há pessoas a perdoar; ainda há grandes obras de fé a serem feitas.
iii. Estas obras são duras, mas nesta mini parábola, Jesus nos deu a atitude correta; Seu prazer diante dos nossos. Seu povo preferido antes de nós mesmos. Seu nome antes de seu próprio nome.
c. Será que ele agradecerá ao servo por ter feito o que lhe foi ordenado? É claro que o mestre não agradece ao servo por tais coisas; naquela cultura pré-cristã, tal bondade era impensável.
i. Portanto, não servimos a Jesus interiormente exigindo que Ele nos agradeça ou nos elogie.
·Parece estranho que Jesus nos agradeça, à luz de tudo o que já fez por nós.
·Parece estranho que Ele nos agradecesse, considerando tudo o que deixamos incompleto para trás.
·Parece estranho considerando que tudo o que fizemos veio Dele como um presente e um fortalecimento de qualquer forma.
ii. “O que fizemos por ele em comparação com o que ele fez por nós? Nosso serviço colocado ao lado do de Cristo é como um único grão de pó colocado em comparação com a poderosa esfera do sol.” (Spurgeon)
iii. No entanto, estranhamente, Ele nos agradecerá e nos recompensará. Embora não o mereçamos, Ele olhará para o trabalho de cada um de Seus servos e para os fiéis Ele dirá: “Muito bem, servo bom e fiel.” (Mateus 25:21, 23)
d. Somos servos inúteis: O tipo de atitude de que Jesus falou não é uma falsa humildade, o tipo de atitude que diz: “Eu não sou bom em nada.” Não é uma admissão de que não fazemos nada de bom ou de agradável a Deus. Simplesmente reconhece que Ele fez muito mais por nós do que nós jamais poderíamos fazer por Ele.
e. Apenas cumprimos o nosso dever: Esta atitude compreende que nosso Mestre fez mais e grandes coisas por nós do que nós jamais poderíamos fazer por Ele. O que Ele fez por nós foi por puro amor; o que nós fazemos por Ele é por gratidão e dever.
i. É por isso que é tão importante para os professores da Bíblia enfatizar o que a própria Bíblia enfatiza – o que Deus tem feito por nós. Quando percebemos tudo o que Deus fez por nós em Jesus, queremos servi-lo por gratidão. Pense na grande obra de perdão que Jesus fez por nós; pense nas grandes montanhas que Ele moveu pela fé. As maiores obras de fé e de perdão feitas por nós são meros deveres em comparação.
ii. Quando nossos corações estão certos, vivemos e agimos como se estivéssemos felizes de ter o privilégio de poder servir a Deus.
iii. Não muitos cristãos têm esta atitude hoje. Em vez disso, muitos hoje muitas vezes querem projetar uma imagem de “super cristão” que os faz parecer qualquer outra coisa exceto servos inúteis. Só pensamos que somos melhores do que os outros quando olhamos para o homem, não para Jesus.
iv. “Os santos em processo de crescimento não se acham nada; os santos já crescidos se acham menos do que nada.” (Spurgeon)
v. “Um velho ditado rabínico revela um pensamento semelhante: ‘Se você aprendeu muito no Torá, não reivindique mérito para si mesmo; foi para este propósito que você foi criado’ (m. Abot 2:8).” (Pate)
B. A purificação de dez leprosos.
1. (11-14) A cura dos leprosos.
A caminho de Jerusalém, Jesus passou pela divisa entre Samaria e Galiléia. Ao entrar num povoado, dez leprosos dirigiram-se a ele. Ficaram a certa distância e gritaram em alta voz: “Jesus, Mestre, tem piedade de nós!” Ao vê-los, ele disse: “Vão mostrar-se aos sacerdotes”. Enquanto eles iam, foram purificados.
a. Ao entrar num povoado, dez leprosos dirigiram-se a ele: Não era anormal que estes leprosos se reunissem uns com os outros. Eles eram párias da sociedade em geral, e não tinham outra companhia que não fossem outros leprosos – por isso, eles ficaram a certa distância.
i. Ficaram a certa distância: “Eles se mantinham à distância, porque eram proibidos por lei e costume de se aproximarem daqueles que eram sadios, por medo de infectá-los.” Ver Levítico 13:46; Números 5:2; 2 Reis 15:5.” (Clarke)
ii. Jesus passou pela divisa entre Samaria e Galiléia: “As palavras dia meson são mais bem traduzidas ‘pelo meio de’, ou ‘entre’, referindo-se à viagem de Jesus ao longo da fronteira entre Samaria e Galiléia.” (Pate)
b. E gritaram em alta voz: “Jesus, Mestre, tem piedade de nós!”: Eles vieram juntos a Jesus e oraram juntos, mesmo sendo um grupo misto de judeus e samaritanos (Lucas 17:15-16). Unidos por sua miséria, seus preconceitos nacionais e outros desapareceram ao se reunirem em oração.
i. “Uma desgraça comum havia derrubado as barreiras raciais e nacionais. Na tragédia comum de sua lepra, eles haviam esquecido que eram judeus e samaritanos e lembraram apenas que eram homens necessitados.” (Barclay)
c. Vão mostrar-se aos sacerdotes: Foi incrível que Jesus lhes pediu que fossem aos sacerdotes enquanto ainda eram leprosos. Isto foi verdadeiramente um passo de fé, como vestir-se do novo homem mesmo quando ainda nos parecemos e nos sentimos como o velho homem.
i. “A única condição de cura era a obediência. Ordenados, eles tinham que obedecer. Se Ele era mestre como gritaram, então que provem sua fé através de sua obediência.” (Morrison)
ii. “Deus honra muito este tipo de fé e faz dela o instrumento em sua mão para fazer muitos milagres. Aquele que não acreditará até receber o que ele chama de razão para crer, nunca é provável que consiga salvar sua alma. A razão mais elevada, a mais soberana, que pode ser dada para acreditar, é que Deus a ordenou.” (Clarke)
d. Enquanto eles iam, foram purificados: Assim como Deus abençoou a fé dos leprosos para que fossem como o novo homem, mesmo quando se sentiam como o velho homem ainda, assim Ele abençoará nossa fé.
i. “É enquanto seguimos o caminho ordenado que experimentamos a bênção ordenada. Que a Igreja obedeça ao mandamento do Senhor Jesus, e com entusiasmo evangelize as nações, e, no caminho, ela será curada.” (Morrison)
2. (15-19) Apenas um dos dez leprosos retorna para agradecer.
Um deles, quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Este era samaritano. Jesus perguntou: “Não foram purificados todos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro?” Então ele lhe disse: “Levante-se e vá; a sua fé o salvou”.
a. Um deles, quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz: Apenas um voltou para agradecer; e ele era o improvável – um samaritano. E, embora ele fosse o único, pelo menos agradecia em alta voz.
i. Todos os dez estavam dispostos a fazer uma cerimônia religiosa; isto é, ir até o sacerdote. Apenas um estava cheio de louvor e agradecimentos. “Os exercícios religiosos externos são até que fáceis, e comuns; mas a questão interna, o tirar do coração com amor em agradecimento, como é escasso! Nove obedecem a rituais onde apenas um louva ao Senhor.” (Spurgeon)
b. Não foram purificados todos os dez? Onde estão os outros nove? Jesus sentiu falta dos nove que não voltaram para agradecer. Ele se perguntava onde podiam estar. Jesus também nota a nossa falta de gratidão.
i. “A pergunta foi feita, e prova imediatamente o valor que Ele atribui ao serviço de louvor… Podemos nos questionar se não é assim que nosso Senhor tem feito esta pergunta constantemente.” (Morgan)
ii. “Cristo conta quantos favores os homens recebem dele, e os chamará para uma prestar conta individualmente.” (Trapp)
iii. Podemos sempre encontrar motivos de gratidão diante de Deus. Matthew Henry, o famoso comentarista bíblico, foi roubado de sua carteira uma vez. Ele escreveu em seu diário naquela noite todas as coisas pelas quais ele era grato:
·Primeiro, que ele nunca havia sido roubado antes.
·Segundo, que embora lhe tivessem roubado a carteira, não lhe tiraram a vida.
·Terceiro, que apesar de terem tirado tudo, não era muito.
·Por fim, que foi ele quem foi roubado e não aquele que fez o roubo.
iv. “Por último, se trabalhamos para Jesus, e vemos convertidos, e eles não se transformam como esperávamos, não nos deixemos abater sobre isso. Se os outros não louvam a nosso Senhor, que estejamos tristes, mas que não fiquemos desapontados. O Salvador tinha que dizer: ‘Onde estão os nove?’ Dez leprosos foram curados, mas apenas um o louvou. Temos muitos convertidos que não entram na igreja; temos um número de pessoas convertidas que não se apresentam para o batismo, ou para a Ceia do Senhor. Os números recebem uma bênção, mas não sentem amor suficiente para possuí-la.” (Spurgeon)
c. A sua fé o salvou: Houve uma cura extra para este décimo leproso. Quando Jesus disse isto, Ele provavelmente se referia à obra de Deus dentro do coração do homem. Os outros leprosos tinham corpos sadios, mas corações doentes.
C. A vinda do reino.
1. (20-21) Se você quer saber sobre o Reino de Jesus, conheça o Rei.
Certa vez, tendo sido interrogado pelos fariseus sobre quando viria o Reino de Deus, Jesus respondeu: “O Reino de Deus não vem de modo visível, nem se dirá: ‘Aqui está ele’, ou ‘Lá está’; porque o Reino de Deus está entre vocês”.
a. Certa vez, tendo sido interrogado pelos fariseus sobre quando viria o Reino de Deus: Podemos apenas imaginar um fariseu hostil vindo a Jesus, e exigindo que Ele ou “levantasse” e produzisse o Reino do Messias, ou que “se calasse” e deixasse de afirmar que Ele era o Messias.
i. No tempo de Jesus, assim como no nosso tempo, o povo ansiava pela vinda do Messias. Eles conheciam as profecias do Antigo Testamento que falavam da glória do Messias que viria; eles queriam tipo de vida e de terra agora.
ii. “Enquanto o Senhor ainda estava na terra, os dias do Filho do Homem eram apenas levemente estimados. Os fariseus falavam deles com zombaria e exigiam quando o Reino de Deus deveria vir. Tanto quanto dizer: ‘É esta a vinda de teu reino prometido? São estes pescadores e camponeses teus cortesãos? São estes os dias pelos quais os profetas e os reis esperaram tanto tempo?” (Spurgeon)
b. O Reino de Deus não vem de modo visível: Jesus deixou claro para o fariseu que o Reino de Deus não seria encontrado através de um questionamento hostil de Jesus. A palavra grega antiga traduzida visível é mais bem traduzida, exame hostil. Jesus disse aos fariseus que seus olhos hostis e duvidosos eram incapazes de ver ou receber o Reino de Deus.
i. Segundo Geldenhuys, o verbo de onde vem a palavra visível é usado com frequência no Novo Testamento e na Septuaginta; significa “observação hostil”.
c. Porque o Reino de Deus está entre vocês: Jesus lhes disse que o reino estava bem no meio deles. Entre vocês poderia ser mais bem traduzido em seu meio. O Reino de Deus estava entre eles porque o Rei estava entre eles.
i. Esta não foi uma revelação mística de Jesus que, em alguma forma de semente, o Reino de Deus está entre todos, no sentido de uma Nova Era. Afinal de contas, Jesus não teria dito aos fariseus que o Reino de Deus estava entre eles. A declaração de Jesus chamou a atenção para Si mesmo, não para o homem.
ii. Como muitos hoje, os fariseus disseram que queriam que o Reino de Deus viesse; mas não se pode desejar o Reino e rejeitar o Rei. “Os fariseus perguntaram a Ele quando o Reino de Deus apareceria, enquanto estava bem no meio deles, porque o próprio Rei estava lá.” (Morgan)
2. (22-24) O reino de Jesus não virá imediatamente na era dos discípulos.
Depois disse aos seus discípulos: “Chegará o tempo em que vocês desejarão ver um dos dias do Filho do homem, mas não verão. Dirão a vocês: ‘Lá está ele!’ ou ‘Aqui está!’ Não se apressem em segui-los. Pois o Filho do homem no seu dia será como o relâmpago cujo brilho vai de uma extremidade à outra do céu.
a. Chegará o tempo em que vocês desejarão ver um dos dias do Filho do homem, mas não verão: Agora falando aos seus discípulos, Jesus disse que quando Ele deixasse esta terra, chegariam os dias em que os discípulos de Jesus – tanto próximos como distantes – desejariam o retorno do Messias.
b. Dirão a vocês: ‘Lá está ele!’ ou ‘Aqui está!’: Satanás saberia como aproveitar esse anseio. Haveria muitos que afirmariam ser o Messias que viriam antes que Jesus realmente voltasse. É essencial que estes falsos Messias não nos enganem.
c. Não se apressem em segui-los: Nos séculos desde que Jesus pronunciou estas palavras, houve muitos que afirmaram ser o Messias, e alguns até tiveram muitos seguidores. Jesus nos advertiu solenemente para não se apressar em segui-los; em vez disso, devemos realmente desconsiderá-los.
i. O Dr. Charles Feinberg, um notável estudioso judeu-cristão, disse que no curso da história de Israel desde a época de Jesus, surgiram sessenta e quatro indivíduos diferentes que afirmaram ser o Messias.
ii. Num passado não muito distante, homens como David Koresh, Jim Jones, Sun Myung Moon, e muitos, muitos outros, todos afirmaram ser o Messias. Muitos judeus ortodoxos pensavam (e ainda pensam) que um rabino do Brooklyn chamado Mendel Schneerson era o Messias. Até outros têm sido considerados como Messias em algum sentido sem estar necessariamente na estrutura judaico-cristã (como Stalin ou Mao).
d. Como o relâmpago cujo brilho: No seu dia, o dia do triunfo do Messias, todos o verão, quando todos perceberem o relâmpago cujo brilho vai de uma extremidade à outra do céu. Aqueles que afirmam que Jesus voltou ou voltará no seu dia, de maneira secreta, estão enganados.
3. (25) O reino de Jesus não pode vir até que Ele termine sua obra na terra.
Mas antes é necessário que ele sofra muito e seja rejeitado por esta geração.
a. Mas antes é necessário que ele sofra: Há uma tendência em muitos seguidores de Jesus querer pular a cruz e ir direto para o Reino de Deus; mas não era possível que o Reino de Deus viesse até que o Rei fosse para a cruz.
i. Por que deveria ser Jesus a governar e reinar? Porque Ele cumpriu sua própria palavra, e nós somos chamados a segui-lo da mesma forma. Jesus disse: “Se alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos.” (Marcos 9:35) Ele também disse: “Quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo.” (Mateus 20:26)
ii. Poderíamos dizer que Jesus só pode vir novamente em glória porque Ele veio primeiro em humildade e submissão até a morte.
b. Sofra muito e seja rejeitado: A força, a certeza e a intensidade desta afirmação são impressionantes.
·É necessário que Jesus sofra e seja rejeitado.
·É necessário que Jesus sofra e seja rejeitado.
·É necessário que Jesus sofra muito, não pouco.
c. Por esta geração: Infelizmente, embora o pleno triunfo do reino de Jesus esperasse, seu sofrimento viria logo, às mãos desta geração.
4. (26-30) A vinda do Rei será uma grande surpresa.
“Assim como foi nos dias de Noé, também será nos dias do Filho do homem. O povo vivia comendo, bebendo, casando-se e sendo dado em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Então veio o Dilúvio e os destruiu a todos. Aconteceu a mesma coisa nos dias de Ló. O povo estava comendo e bebendo, comprando e vendendo, plantando e construindo. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu e os destruiu a todos. Acontecerá exatamente assim no dia em que o Filho do homem for revelado.”
a. Assim como foi nos dias de Noé: Ao mostrar a semelhança com os dias de Noé, Jesus descreveu um mundo que continua na rotina normal da vida. O povo vivia comendo, bebendo, casando-se e sendo dado em casamento.
i. “Tudo continuou normalmente, isto é, até que Noé e sua família entraram na arca, quando o Dilúvio (kataklysmos) veio e destruiu todo o povo (ver Gênesis 7:7, 10, 21; 1 Pedro 3:20).” (Pate)
b. Aconteceu a mesma coisa nos dias de Ló: A destruição que veio sobre Sodoma e Gomorra nos dias de Ló veio pela manhã (Gênesis 19:15-25). O dia anterior parecia muito semelhante a qualquer outro dia para os homens de Sodoma.
c. Acontecerá exatamente assim no dia em que o Filho do homem for revelado: Bem como o mundo parecia continuar na rotina normal da vida antes do dilúvio e do julgamento de Sodoma e Gomorra, Jesus disse que haverá algum senso de normalidade no mundo quando Ele for revelado.
i. Jesus não disse que tudo estaria bem no mundo, ou que não haveria crise. As condições antes do dilúvio e antes do julgamento de Sodoma e Gomorra eram terríveis, mas a maldade era aceita como normal e rotineira.
ii. Significativamente, há outras passagens da Escritura que parecem mostrar que Jesus voltará a uma terra que será tudo menos negócios, como sempre. Isso incluirá:
·Porque haverá então grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá. (Mateus 24:21)
·Então os reis da terra, os príncipes, os generais, os ricos, os poderosos — todos, escravos e livres, esconderam-se em cavernas e entre as rochas das montanhas. Eles gritavam às montanhas e às rochas: “Caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro!” (Apocalipse 6:15-16)
iii. Como as condições do mundo antes da revelação de Jesus são descritas em termos tão diferentes, é racionável dizer que haverá duas fases ou aspectos distintos da vinda de Jesus, separados por algum período de tempo.
iv. Assim como nos dias de Noé e Ló, quando Jesus vier, alguns serão tirados do caminho (escapando do julgamento) e outros permanecerão e serão julgados.
v. A palavra traduzida revelado é apokalyptetai – da qual temos nossa palavra moderna apocalipse. Mas a palavra grega antiga traz a ideia de revelar ou desvelar.
5. (31-33) Prepare-se para a vinda do Rei, não se apegando a este mundo.
Naquele dia, quem estiver no telhado de sua casa, não deve descer para apanhar os seus bens dentro de casa. Semelhantemente, quem estiver no campo, não deve voltar atrás por coisa alguma. Lembrem-se da mulher de Ló! Quem tentar conservar a sua vida a perderá, e quem perder a sua vida a preservará.
a. Naquele dia, quem estiver no telhado de sua casa, não deve descer para apanhar os seus bens dentro de casa: Quando veio o dilúvio nos dias de Noé, podemos imaginar as pessoas tentando em vão manter seus bens a salvo enquanto elas mesmas pereciam. Da mesma maneira, quem estiver pronto para a vinda de Jesus, não se preocupará com as coisas materiais deixadas para trás. O coração não deve estar no que está dentro de sua casa, mas no que está no céu.
b. Não deve voltar atrás… Lembrem-se da mulher de Ló: Porque ela desobedeceu a Deus e olhou para Sodoma – presumivelmente com pesar e talvez com saudade – a esposa de Ló foi transformada em um pilar de sal, enquanto ela e sua família escapavam do julgamento. Jesus aqui advertiu seus seguidores para não olharem para trás para um mundo que perece, pronto para o julgamento, mas para colocarem seus olhos na libertação que Deus coloca diante deles.
i. Lembrem-se da mulher de Ló: “A palavra que Jesus usou para ‘lembrar’… significa prestar atenção; aprender uma lição com ela.” (Pate) Nós vemos o pecado da esposa de Ló de pelo menos três maneiras:
·A mulher de Ló demorou. Moisés apontou para o fato de que a esposa de Ló olhou para trás, e se transformou numa coluna de sal (Gênesis 19:26). Antes de olhar para trás, ela demorou, enquanto Ló e suas filhas tentavam escapar do julgamento de Sodoma.
·A esposa de Ló não confiou e não obedeceu à palavra divina. O anjo lhes disse especificamente para escapar com urgência, para não ficar para trás e, especialmente, para não olhar para trás (Gênesis 19:17).
·A esposa de Ló olhou para o que lhe foi dito para abandonar. Depois de demorar e duvidar, ela então olhou. “Ela olhou para trás e assim provou que tinha presunção suficiente em seu coração para desafiar a ordem de Deus, e arriscar tudo, para dar um olhar de amor duradouro para o mundo condenado e culpado. Por aquele olhar, ela pereceu.” (Spurgeon)
ii. A mulher de Ló: “Que, por curiosidade ou cobiça, virou as costas; e se virou. Estamos tão pouco afastados do mundo como um cão de um pedaço de bocado gordo.” (Trapp)
iii. Spurgeon lembrou-se de mais uma tragédia em relação à esposa de Ló: ela quase conseguiu. “A desgraça a atingiu aos portões de Zoar. Oh, se eu devo ser condenado, que seja com a massa dos ímpios, tendo sempre sido um deles; mas subir até os próprios portões do céu, e perecer lá, será uma coisa horrível!” (Spurgeon)
6. (34-36) Quando Jesus chega, alguns serão levados de repente, e outros serão deixados para trás.
“Eu lhes digo: Naquela noite duas pessoas estarão numa cama; uma será tirada e a outra deixada. Duas mulheres estarão moendo trigo juntas; uma será tirada e a outra deixada. Duas pessoas estarão no campo; uma será tirada e a outra deixada”.
a. Naquela noite duas pessoas estarão numa cama; uma será tirada e a outra deixada: Esta passagem é frequentemente aplicada ao arrebatamento, um termo aplicado à vinda de Jesus ao Seu povo em um momento em que o mundo parece correr na rotina normal da vida (Lucas 17:26-30).
i. A passagem do Novo Testamento que mais claramente descreve este evento e dá o nome de arrebatamento da tradução latina da passagem é 1 Tessalonicenses 4:16-18: Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre. Consolem-se uns aos outros com essas palavras.
ii. Estas palavras de Jesus (uma será tirada e a outra deixada) parecem descrever este fenômeno no qual seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares como descrito em 1 Tessalonicenses 4:16-18.
b. Uma será tirada e a outra deixada: Como isto acontecerá durante o curso normal da vida (enquanto um dorme na cama, enquanto outro está moendo grãos, e enquanto outro trabalha no campo), a ênfase está na prontidão. Jesus virá de repente e em um momento inesperado.
i. Isto se conecta com as ilustrações anteriores de Noé e Ló. “Noé e Ló foram levados e, portanto, salvos do julgamento enquanto os demais foram deixados para destruição.” (Pate)
c. Duas pessoas estarão numa cama… Duas mulheres estarão moendo trigo juntas: Estas palavras de Jesus podem indicar que será dia em uma parte do mundo enquanto é noite em outra; ao mesmo tempo alguns dormem, outros trabalham em um campo. Jesus virá em um momento para Seu povo em toda a terra.
i. “O versículo 36 não está nos melhores manuscritos gregos… e é um acréscimo ao texto bíblico. Provavelmente foi acrescentado por um escriba por causa de Mateus 24:40.” (Pate)
7. (37) Tudo isso acontecerá no momento em que o julgamento estiver maduro.
“Onde, Senhor?”, perguntaram eles. Ele respondeu: “Onde houver um cadáver, ali se ajuntarão os abutres”.
a. Onde, Senhor? Os discípulos queriam saber mais sobre esta revelação de Jesus, presumivelmente tanto onde poderia ocorrer a libertação e quanto o julgamento. Ao se aproximarem de Jerusalém, talvez se perguntassem se estes acontecimentos ocorreriam logo, ao chegarem à Cidade de Zion.
b. Onde houver um cadáver, ali se ajuntarão os abutres: Esta é uma afirmação difícil. Trata-se provavelmente de uma figura de linguagem com a ideia: “quando o julgamento estiver maduro, certamente virá.”
i. “Isso significava simplesmente que uma coisa aconteceria quando as condições necessárias fossem cumpridas.” (Barclay) “Onde aquilo que está maduro para o julgamento está presente, ali também acontecerá o julgamento.” (Geldenhuys)
ii. Alguns se perguntam se as condições estão prontas nos dias atuais para esta revelação de Jesus, tanto em relação à salvação de Seu povo quanto ao julgamento de um mundo que O rejeita. Podemos dizer isto com uma certa confiança: A Bíblia descreve certas características políticas, econômicas, espirituais, sociais e militares em relação a como estará o mundo antes de seu retorno. É justo dizer que as condições existem hoje, e o cenário está montado.
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