Lucas 16




Lucas 16 – Dinheiro e Retidão

A. A história do desonesto administrador.

1. (1-8) O que o administrador desonesto fez.

Jesus disse aos seus discípulos: “O administrador de um homem rico foi acusado de estar desperdiçando os seus bens. Então ele o chamou e lhe perguntou: ‘Que é isso que estou ouvindo a seu respeito? Preste contas da sua administração, porque você não pode continuar sendo o administrador’. “O administrador disse a si mesmo: ‘Meu senhor está me despedindo. Que farei? Para cavar não tenho força, e tenho vergonha de mendigar… Já sei o que vou fazer para que, quando perder o meu emprego aqui, as pessoas me recebam em suas casas’. “Então chamou cada um dos devedores do seu senhor. Perguntou ao primeiro: ‘Quanto você deve ao meu senhor?’ ‘Cem potes de azeite’, respondeu ele. “O administrador lhe disse: ‘Tome a sua conta, sente-se depressa e escreva cinqüenta’. “A seguir ele perguntou ao segundo: ‘E você, quanto deve?’ ‘Cem tonéis de trigo’, respondeu ele. “Ele lhe disse: ‘Tome a sua conta e escreva oitenta’. “O senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu astutamente. Pois os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz.

a. Jesus disse aos seus discípulos: Esta parece ser uma ocasião diferente da do capítulo anterior. Aqui Jesus ensinou seus discípulos, não a multidão mencionada em Lucas 15:1-2. Entretanto, enquanto Jesus ensinava a seus discípulos, um grupo de fariseus também escutava (Lucas 16:14).

b. O administrador de um homem rico: Um administrador era um gerente, especialmente um gerente de dinheiro ou propriedade. Na história que Jesus contou, o chefe do administrador (o homem rico) ouviu que seu administrador o havia enganado (desperdiçando os seus bens), e o chamou para prestar contas.

i. “O administrador tinha seguido uma carreira de desvio de fundos,” (Barclay)

ii. “Preste contas da sua administração são palavras que todos ouvirão, tanto o pecador como o santo. Todos terão que prestar contas de alguma forma, e nós prestaremos contas a Deus. Spurgeon uma vez observou que cada um de nós terá que prestar contas de nossa administração em relação ao nosso tempo, nossos talentos, nossa substância e nossa influência.

iii. Para cada um de nós, nossa administração um dia chegará ao fim. A voz do pregador, as faculdades mentais e a força não durarão para sempre. A riqueza deste mundo pode não durar nem mesmo nesta vida. A administração de uma mãe sobre seus filhos muda e diminui muito. Se Jesus não vier primeiro, todos nós morreremos e passaremos desta vida para a próxima.

c. Meu senhor está me despedindo. Que farei? Quando o administrador soube que seria chamado a prestar contas, ele já sabia que sua má administração seria exposta. Ele também sabia que outras opções eram pouco atraentes para ele (para cavar não tenho força, e tenho vergonha de mendigar).

d. Então chamou cada um dos devedores do seu senhor: Então, o administrador fez amizade com os devedores de seu amo, liquidando suas contas por menos do que eles realmente deviam. Portanto, o administrador, sabendo que seria chamado a prestar contas, usou sua posição atual para prepará-lo para a próxima etapa de sua vida.

e. O senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu astutamente: Embora não aprovando sua conduta, o mestre de fato aprovou a astúcia do administrador. Jesus acrescentou que os empresários de sua época (filhos deste mundo) eram mais sábios, ousados e com visão de futuro na administração do que tinham (mais astutos) do que o povo de Deus na administração do que tinham (os filhos da luz).

i. Alguns consideram esta como uma das parábolas mais difíceis de Jesus, porque parece que Jesus usou um homem obviamente desonesto como exemplo para seus discípulos. No entanto, Deus às vezes usa coisas más que nos são familiares para ilustrar um ponto em particular, sem elogiar a coisa em si. Outros exemplos deste princípio são aqueles onde Paulo usa coisas como a guerra e a escravidão como ilustrações da vida cristã.

ii. No entanto, o administrador desonesto foi um bom exemplo em vários pontos. Primeiro, ele sabia que seria chamado a prestar contas por sua vida e levou isso a sério. Os cristãos devem levar a sério a ideia de que serão chamados a prestar contas, e essa ideia pode ser uma alegria se estivermos apropriadamente envolvidos com os negócios de nosso Mestre. Em segundo lugar, ele aproveitou sua posição atual para arranjar um futuro confortável.

iii. A avaliação de Jesus ainda é verdadeira: os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz. Se perseguíssemos o Reino de Deus com o mesmo vigor e zelo com que os filhos deste mundo buscam lucros e prazer, viveríamos num mundo totalmente diferente. Poderia até se dizer que é para a vergonha da Igreja que a Coca-Cola é mais amplamente distribuída do que o evangelho de Jesus Cristo. É simplesmente porque os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz.

iv. “Vai aos homens do mundo, tu cristão, e não deixes que se diga que os estudiosos do diabo são mais estudiosos e sinceros do que os discípulos de Cristo.” (Maclaren)

2. (9) Usar o dinheiro agora com os olhos postos na eternidade.

Por isso, eu lhes digo: Usem a riqueza deste mundo ímpio para ganhar amigos, de forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas.

a. Usem a riqueza deste mundo ímpio para ganhar amigos: Jesus transferiu o princípio da parábola, lembrando-nos de que precisamos usar nossos recursos atuais para planejar com antecedência para a eternidade.

i. Mundo ímpio: “A palavra ‘mundo’ provem da palavra aramaica mamon, que originalmente significava ‘aquilo em que alguém põe sua confiança’, daí a riqueza.” (Pate)

ii. Jesus o chamou de mundo ímpio porque “A riqueza promete MUITO, e não faz NADA: ela excita a esperança e a confiança, e engana a ambos: ao fazer um homem depender dela para a felicidade, ela o rouba da salvação de Deus e da glória eterna.” (Clarke)

b. De forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas: O mundo está cheio de planejadores e conselheiros financeiros; e é bom para os cristãos aprender como usar seu dinheiro sabiamente. Mas quando a maioria dos cristãos fala de administração sábia do dinheiro, eles se esquecem de praticar o tipo mais importante de investimento a longo prazo: investir com um olho na eternidade, numa morada eterna.

i. O importante é investir seus recursos para o Senhor agora; a maioria de nós espera até o dia em que pensamos que teremos o suficiente.

ii. Em uma pesquisa feita há muito tempo (1992), perguntou-se às pessoas quanto dinheiro elas teriam que ganhar para ter “o sonho americano.” Aqueles que ganham US$25.000 ou menos por ano pensavam que precisariam de cerca de US$54.000. Aqueles da faixa de renda anual de US$100.000 dólares disseram que poderiam comprar o sonho por uma média de US$192.000 dólares por ano. Estes números indicam que normalmente pensamos que devemos dobrar nossa renda para encontrar a vida boa – em vez de encontrá-la agora.

3. (10-12) A fidelidade nas pequenas coisas mostra como se será fiel nas grandes coisas.

“Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito. Assim, se vocês não forem dignos de confiança em lidar com as riquezas deste mundo ímpio, quem lhes confiará as verdadeiras riquezas? E se vocês não forem dignos de confiança em relação ao que é dos outros, quem lhes dará o que é de vocês?”

a. Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito: Nestas palavras de Jesus, o dinheiro é considerado como uma das coisas pouco importantes. Portanto, se alguém não consegue ser fiel na administração das coisas que são de pouca importância, não se deve confiar que seja fiel no manejo das coisas que são muito importantes.

i. Se uma pessoa é falsa e infiel na vida cotidiana, não importa se ela sabe projetar uma imagem cristã; ela também é falsa e infiel na vida espiritual – e ninguém deve confiá-la com verdadeiras riquezas (riquezas espirituais).

b. Se vocês não forem dignos de confiança em lidar com as riquezas deste mundo ímpio, quem lhes confiará as verdadeiras riquezas? Neste sentido, aqueles que são líderes entre o povo de Deus devem ser bons administradores de seu próprio dinheiro. Se uma pessoa não consegue ser fiel diante de Deus com o dinheiro que Ele dá, como ela poderá ser fiel com o cuidado das pessoas?

i. Isto certamente não significa que os líderes da igreja tenham que ser ricos ou ganhar muito dinheiro. É uma questão de como eles administram os recursos que Deus lhes deu, não de quão grandes são seus recursos.

ii. Infelizmente, quando se trata da questão de quem lhes confiará as verdadeiras riquezas, muitos cristãos estão dispostos a confiar seus cuidados espirituais a uma pessoa que não consegue nem mesmo cuidar das coisas do mundo ímpio.

c. Se vocês não forem dignos de confiança em relação ao que é dos outros: Aqui, Jesus parece referir-se ao fato de que todas as nossas riquezas pertencem a Deus, e devemos entender que estamos administrando Seus recursos. Fidelidade nisso resultará em bênçãos que são nossas (quem lhes dará o que é de vocês).

i. “Portanto, Deus está testando os homens dando-lhes dinheiro, para que Ele possa saber até onde confiar neles no mercado da Nova Jerusalém.” (Meyer)

4. (13) Ninguém pode ser fiel a mais de um mestre.

“Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará outro, ou se dedicará a um e desprezará outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro.”

a. Nenhum servo pode servir a dois senhores: Ter dois senhores não é como trabalhar em dois empregos. Jesus tem em vista o relacionamento de mestre e escravo. Um escravo não pode pertencer a dois senhores ao mesmo tempo.

i. Jesus afirma que servir a dois senhores é simplesmente impossível. Se você pensa que está servindo dois senhores com sucesso, você está enganado. Pode-se ter tanto dinheiro quanto Deus; mas não se pode servir tanto o dinheiro quanto Deus.

ii. Aqui Jesus certamente falou sobre o coração. Muitas pessoas diriam que amam a Deus, mas seu serviço ao dinheiro mostra que, de fato, não é verdade. Como podemos saber Quem ou o que servimos? Uma maneira é por este princípio: você se sacrificará por seu Deus. Se você vai se sacrificar por dinheiro, mas não vai se sacrificar por Jesus, não se engane: o dinheiro é seu Deus.

iii. Em uma sexta-feira à tarde de 1990, um empresário cambaleou até os degraus de seu escritório em Los Angeles. Antes de morrer da ferida de bala em seu peito, ele chamou os nomes de seus três filhos. Mas ele ainda tinha seu relógio Rolex de $10.000 dólares agarrado na mão. Ele tinha sido vítima de uma onda de roubos de Rolex, e foi morto como sacrifício a seu deus.

iv. Uma história de 1992 no jornal Los Angeles Times contou sobre Michelle, uma escritora e editora de sucesso, que teme o dia em que seu marido possa descobrir seu esconderijo secreto de cartões de crédito, sua caixa postal secreta ou os outros truques que ela usa para esconder quanto dinheiro ela gasta comprando para si mesma. “Eu ganho tanto dinheiro quanto meu marido… se eu quiser um terno de 500 dólares da Ann Taylor, eu o mereço e não quero ser incomodada por isso. Portanto, a coisa mais fácil a fazer é mentir”, explica ela. No ano passado, quando seu marido a forçou a destruir um de seus cartões de crédito, Michelle saiu e conseguiu um novo sem lhe dizer nada. “Eu vivo com medo. Se ele descobre este novo VISA, ele me mata.”

v. Um professor da escola explicou mais: “Os homens simplesmente não entendem que as compras são nossa droga preferida”, brincou ela, mesmo admitindo que alguns meses seu salário vai exclusivamente para o pagamento do saldo mínimo em seus cartões de crédito. “Andar pela porta do South Coast Plaza é como andar pelos portões do céu. Deus fez os porta-malas do carro para as mulheres esconderem sacolas de compras.”

vi. Uma jovem profissional chamada Mary explicou: “Fazer compras é minha recreação. É o meu modo de me mimar. Quando você entra [em um shopping] e vê todas as lojas, é como se algo tomasse conta e você se perde nisso”.

b. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro: Alguns pensam que só porque não são ricos, não são escravos de Mamon (dinheiro). Mas não é preciso ser rico para servir ao dinheiro; os pobres têm tanto potencial de ganância e cobiça quanto os ricos.

i. “Quando Deus é servido, Mamon é usado beneficentemente. Quando Mamon é servido, as reivindicações de Deus são ignoradas.” (Morgan)

ii. “A sabedoria mundana (como as asas do avestruz) o faz correr mais que os outros sobre a terra e nas coisas terrenas; mas nunca o ajuda ir em direção ao céu.” (Trapp)

iii. “O dinheiro que possui um homem é a maldição mais suja, pois endurece seu coração e paralisa seus poderes mais nobres. O dinheiro de um homem possuído por Deus é uma bênção, pois se torna o meio de expressar sua simpatia para com seus semelhantes.” (Morgan)

5. (14-15) Jesus responde ao escárnio dos fariseus.

Os fariseus, que amavam o dinheiro, ouviam tudo isso e zombavam de Jesus. Ele lhes disse: “Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece o coração de vocês. Aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus.”

a. E zombavam de Jesus: A zombaria dos fariseus foi baseada no próprio interesse deles. Eles amavam o dinheiro. Muitas vezes nós rejeitamos a mensagem de Jesus porque ela bate muito perto de casa.

i. Zombavam: “A palavra literalmente significa que eles debocharam Dele.” (Barclay)

b. Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece o coração de vocês: Uma coisa é justificar a si mesmos aos olhos dos homens, porque palavras suaves e um sorriso “amoroso” podem enganar os homens. Mas Deus conhece o coração de vocês; quando você serve a outro mestre, é impossível ser justificado diante de Deus, independentemente do que os homens pensam.

i. Para algumas pessoas a ideia de que Deus conhece o coração é conforto; para outras, é uma maldição.

c. Aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus: Deus julga nossos corações com um padrão diferente de valores. Os homens podem honrar alguém por causa de sua riqueza ou de sua exibição pública de espiritualidade; mas Deus vê quem eles realmente são.

6. (16-18) A natureza imutável da lei de Deus.

“A Lei e os Profetas profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas do Reino de Deus, e todos tentam forçar sua entrada nele. É mais fácil os céus e a terra desaparecerem do que cair da Lei o menor traço.“Quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra mulher estará cometendo adultério, e o homem que se casar com uma mulher divorciada estará cometendo adultério.”

a. A Lei e os Profetas profetizaram até João: Jesus indicou que o ministério de João Batista marcou o fim de um grande aspecto da obra de Deus. Desse tempo em diante (o tempo que termina com o ministério de João) a boa notícia de uma nova aliança é apresentada, com uma ordem que é diferente da lei, mas que mesmo assim cumpre a lei.

b. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas do Reino de Deus, e todos tentam forçar sua entrada nele: Na época de Jesus, havia centenas de revolucionários dispostos a usar a violência para trazer o Reino de Deus. Embora não imitemos a violência deles, imitamos sua dedicação, sua vontade de se sacrificar e sua paixão por ver o Messias reinar. Em certo sentido, também estamos em guerra.

i. Pate sugeriu que forçar sua entrada nele não descreve o esforço e o zelo adequados necessários para perseguir o Reino de Deus. Em vez disso, ele pensou que descrevia a tentativa dos poderes demoníacos (e seus agentes humanos) de entrar à força e interromper ou destruir a obra do Reino de Deus, descrevendo a oposição à obra de Jesus. Certamente em certo sentido, ambos são verdadeiros.

c. É mais fácil os céus e a terra desaparecerem do que cair da Lei o menor traço: Como Jesus falou de um novo aspecto da obra de Deus começando depois do ministério de João Batista, Ele não queria que ninguém pensasse que o novo aspecto da obra de Deus ignorasse ou negligenciasse a Lei.

i. Mas a nova ordem que devemos forçar a entrada, não é uma ordem de rebeldia; é uma nova ordem de submissão e obediência a Deus; Sua nova ordem cumpre a lei.

d. Quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra mulher estará cometendo adultério: Por exemplo, a lei relativa ao casamento ainda é vinculativa, independentemente de como alguns rabinos tentaram explicá-la. Alguns rabinos ensinavam que se uma mulher queimasse o café da manhã do seu marido, já era considerado motivo para o divórcio. Outros consideravam que encontrar uma mulher mais bonita era uma razão aceitável para se divorciar.

i. Jesus aqui ensinou o ideal a respeito do casamento e do divórcio, e é perigoso para nós estabelecer doutrina sobre declarações isoladas de Jesus sem levar em conta todo o conselho de Seu ensinamento.

ii. Já que Jesus também ensinou que a imoralidade sexual era um motivo aceitável para o divórcio (Mateus 5:31-32, 19:7-9) e mais tarde o Apóstolo Paulo acrescentou que a deserção de um cônjuge incrédulo também era um motivo aceitável (1 Coríntios 7:15). Por causa dessas duas claras concessões, devemos considerar aqui a ordem de Jesus de se referir àquele que se divorciar de sua mulher sem causa bíblica e se e se casar com outra mulher – que este estará cometendo adultério.

iii. Novamente, Jesus enfatizou o ponto: Sob o novo pacto (desde o ministério de João Batista), Deus ainda se preocupa com Sua lei e nossa obediência.

B. A história de Lázaro e do homem rico.

1. (19-21) Lázaro e o homem rico na terra.

“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho fino e vivia no luxo todos os dias. Diante do seu portão fora deixado um mendigo chamado Lázaro, coberto de chagas; este ansiava comer o que caía da mesa do rico. Até os cães vinham lamber suas feridas.”

a. Havia um homem rico: Jesus não apresentou esta história como uma parábola, e em nenhuma outra parábola Jesus realmente nomeou um indivíduo (como o homem pobre é nomeado aqui). Temos todos os motivos para acreditar que Jesus nos deu uma história de caso real, uma que Ele conhecia de sua perspectiva eterna.

b. Que se vestia de púrpura e de linho fino e vivia no luxo todos os dias: A riqueza do homem rico era evidente por suas roupas de linho fino (luxuosas e caras), e por seu excesso de comida (a maioria das pessoas naquela cultura vivia no luxo apenas algumas vezes ao ano).

i. Vivia no luxo: “A palavra usada para banquete é a palavra que é usada para descrever um padrão de alimentação gourmet de pratos exóticos e caros. Ele fazia isso todos os dias.” (Barclay)

ii. O homem rico é anônimo, mas tradicionalmente recebia o nome de Dives, que é simplesmente rico no latim.

c. Diante do seu portão fora deixado um mendigo chamado Lázaro, coberto de chagas; este ansiava comer o que caía da mesa do rico: Não muito longe do homem rico – em seu portão, estava um homem extremamente pobre e doente. O homem rico não fez nada contra Lázaro, exceto negligenciá-lo e ignorá-lo.

i. “Aqui estão dois homens e, dia após dia, apenas um espaço de vinte metros os separa, mas uma distância como o mar divide os dois.” (Morrison)

ii. “O nome é a forma latinizada de Eleazar e significa Deus é minha ajuda.” (Barclay)

iii. Este ansiava comer o que caía da mesa do rico: “Os alimentos eram comidos com as mãos e, em casas muito ricas, as mãos eram limpas com pedaços de pão, que depois eram jogados fora. Era por isto que Lázaro estava esperando.” (Barclay)

iv. Até os cães vinham lamber suas feridas: Jesus descreveu a miséria do mendigo nestes detalhes fortes e nauseantes.

2. (22-23) Lázaro e o homem rico no Hades.

E aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico e foi sepultado. E, no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio.

a. E aconteceu que o mendigo morreu…e morreu também o rico e foi sepultado: Ambos os homens acabaram morrendo. Lázaro não teve sequer a honra de um enterro nesta vida, mas o céu o honrou, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. O homem rico teve a honra de ser sepultado, mas não teve escolta angélica ou destino agradável.

i. Parece óbvio que quando o mendigo foi levado pelos anjos, era sua alma ou espírito que foi carregado; o aspecto imaterial e eterno de seu ser. Exceto pelo trabalho do anjo que o carregou, o mesmo ocorreu ao homem rico. Seu corpo foi sepultado e permaneceu na terra, mas ele ficou no Hades…em tormentos.

ii. “A ideia do seio de Abraão pode ser explicada de uma de três maneiras.” (Pate)

·A ideia de que na morte, os justos se reúnem aos patriarcas na fé (Gênesis 15:15, 25:8).

·O pensamento do amor e cuidado de um pai ou mãe, como em João 1:18 (O Filho unigênito, que está no seio do Pai).

·A ideia de sentar-se no lugar de honra em um banquete, como em João 13:23

iii. Não devemos pensar que Lázaro foi salvo por sua pobreza, assim como não devemos pensar que o homem rico foi condenado por sua riqueza. Lázaro deve ter tido uma verdadeira relação de fé com o verdadeiro Deus, que o homem rico não teve. Suas circunstâncias de vida tornaram essa fé mais fácil ou mais difícil, mas não a criaram.

b. E, no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio: O homem rico não estava longe de Lázaro; no entanto, ele se encontrava em um mundo à parte. Seu lugar estava cheio de tormento e dor, enquanto Lázaro desfrutava do conforto e cuidado de Abraão.

i. “Tendo castigo sem piedade, miséria sem misericórdia, tristeza sem socorro, choro sem compaixão, maldade sem medida, tormentos sem fim, e imaginação passada.” (Trapp)

c. E, no Hades, … estando em tormentos: Nesta história, Jesus descreveu um lugar que Ele chamou de Hades, que parece ter sido a morada comum dos mortos. O homem rico e Lázaro não estavam no mesmo lugar, mas não estavam longe um do outro. Talvez seja melhor dizer que eles estavam em duas áreas do mesmo lugar (Hades), um lugar de tormentos e o outro um lugar de conforto (o seio de Abraão).

i. A partir desta história de Jesus, encontramos algumas pistas a respeito do mundo do além como ele existia no passado e como ele existe agora. Pela descrição de Jesus, pode-se dizer que naquele tempo – antes da obra terminada de Jesus na cruz – o espírito ou alma dos mortos humanos ia para um lugar chamado Hades. Alguns no Hades descansavam em conforto; outros sofriam sob tormentos de fogo.

ii. Hades é uma palavra grega, mas parece muito expressar a mesma ideia que Sheol, uma palavra hebraica com a ideia do “lugar dos mortos”. Sheol não tem referência direta nem ao tormento nem à felicidade eterna. A ideia da palavra Sheol é muitas vezes simplesmente “o túmulo” e a compreensão do que ocorre depois desta vida no Antigo Testamento é muito menos clara do que no Novo Testamento.

iii. Hades não é tecnicamente o inferno, ou o que também é conhecido como o Lago de Fogo. Esse lugar é chamado de Geena, uma palavra grega emprestada da língua hebraica. Em Marcos 9:43-44, Jesus falou do inferno (Geena), uma tradução grega do “Vale de Hinom” hebraico, um lugar fora dos muros de Jerusalém profanado pelo culto a Moloch e pelo sacrifício humano (2 Crônicas 28:1-3; Jeremias 32:35). Era também um depósito de lixo, onde lixo e refugo eram queimados. O fogo ardente e os vermes purulentos do Vale de Hinom cria uma imagem gráfica e eficaz do destino dos condenados. Este lugar também é chamado de “lago de fogo” em Apocalipse 20:13-15, preparado para o diabo e seus anjos (Mateus 25:41).

iv. Hades é algo como um lugar de espera até o dia do julgamento final (Apocalipse 20:11-13). No entanto, desde que Jesus concluiu o trabalho na cruz, não há espera para os crentes que morrem; eles vão diretamente para o céu, para a presença do Senhor (2 Coríntios 5:6-8). É razoável pensar que quando Jesus visitou o Hades como parte de Sua obra redentora (Atos 2:24-27, Atos 2:31) e quando pregou no Hades (1 Pedro 3:18-19), Ele libertou os cativos no Hades (Efésios 4:8-9, Isaías 61:1). A obra e a pregação de Jesus ofereceram salvação para aqueles como Lázaro, que na fé a esperavam (Hebreus 11:39-40), e também selaram a condenação dos ímpios e incrédulos.

3. (24-26) O apelo do homem rico.

Então, chamou-o: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo’. “Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembre-se de que durante a sua vida você recebeu coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento. E além disso, entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem’.

a. Pai Abraão, tem misericórdia de mim: O homem rico era definitivamente um descendente de Abraão, e o grande pai da fé não o renegou. No entanto, ter Abraão como pai não foi suficiente para escapar de seu tormento na vida futura. Agora o homem rico era o mendigo, suplicando a Abraão.

i. De novo, o homem rico não estava em tormento porque era rico, mas porque vivia uma vida à parte do amor e da confiança em Deus, e isso foi demonstrado por sua vida. O próprio Lázaro era mais rico do que o homem nesta história de Jesus.

b. Manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua: Mesmo na vida após a morte, o homem rico pensava em si mesmo como superior, e Lázaro como seu servo. Isto mostra que a morte não lhe tirou o sentido de direito e de posto em vida.

i. “E ele não podia alegar que desconhecia Lázaro, pois o reconheceu imediatamente no seio de Abraão. Então não era falta de conhecimento, mas falta de pensamento que era o segredo mais íntimo de sua tragédia.” (Morrison)

ii. A morte também não tirou o senso de desejo do homem rico; apenas a realização do desejo. Isto foi um verdadeiro tormento, pois ele estava desesperado até mesmo por uma gota de alívio.

c. Filho, lembre-se de que durante a sua vida você recebeu coisas boas: Através de sua vida terrena, o homem rico desfrutou de todas as coisas boas da vida; mas não as compartilhou nem as usou para se preparar para a vida que estava por vir.

i. O homem rico é, portanto, um contraste da parábola anterior do administrador injusto (Lucas 16:1-12). O administrador injusto usou sua posição atual para se preparar para sua próxima posição; o homem rico não o fez.

d. Entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu… não conseguem: Embora o homem rico pudesse ver e falar com Abraão, ele não estava nem nada perto dele. Havia um grande abismo entre eles, e seus destinos haviam sido fixados para sempre.

i. Lembramos que tudo isso aconteceu com o espírito ou alma do homem rico, a parte imaterial de seu ser. Seu corpo ainda estava enterrado, mas ele não cessou ou suspendeu a existência ou a consciência.

ii. Não vemos nenhuma ideia de sono ou aniquilação da alma; nem de progressão espiritual ou reencarnação. Além disso, “Não há aqui nenhum indício de purificação purgatória ou curativa.” O abismo foi fixado, presume-se, por Deus.” (Pate)

4. (27-31) O homem rico pensa em seus irmãos.

“Ele respondeu: ‘Então eu te suplico, pai: manda Lázaro ir à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos. Deixa que ele os avise, a fim de que eles não venham também para este lugar de tormento’. “Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam’. “‘Não, pai Abraão’, disse ele, ‘mas se alguém dentre os mortos fosse até eles, eles se arrependeriam.’ “Abraão respondeu: ‘Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos’”.

a. Então eu te suplico, pai: É novamente enfatizado que agora o homem rico é o mendigo, não Lázaro.

b. Manda Lázaro ir à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos. Deixa que ele os avise: Vê-se novamente que o homem rico ainda pensava em Lázaro como um servo para ele. Ele pediu a Abraão para enviar Lázaro em outra missão (talvez em sonho ou visão), desta vez para o benefício de seus cinco irmãos.

i. Obviamente o homem rico lembrava e se importava com seus parentes mesmo depois de ter passado da terra para a próxima vida. Sua memória não foi apagada nem lhe foi dada uma nova consciência.

c. A fim de que eles não venham também para este lugar de tormento: Agora o homem rico se importava com outros, não querendo que fossem para este lugar de tormento. Ele viveu sua vida totalmente despreocupado com isso, seja para si mesmo, seja para os outros. Se ele mesmo pudesse ir até seus irmãos, ele iria; mas ele parecia compreender que isso também era impossível, tanto que nem mesmo pedia por isso.

i. A menção dos cinco irmãos é a primeira indicação de que o homem rico pensava em alguém, exceto em si mesmo. Infelizmente, sua preocupação com os outros veio quando já era tarde demais para fazer qualquer bem.

d. Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam: Abraão salientou que os irmãos do homem rico tinham todas as informações necessárias para escapar do tormento do Hades. Ouvir Moisés e os Profetas e fazer o que eles dissessem para fazer era suficiente.

i. Abraão respondeu: “Lucas usa o presente histórico para a resposta de Abraão: ‘Abraão diz: “Eles têm Moisés e os profetas. Que os ouçam”’”. (Pate)

ii. “Quando toda a criação de Deus, saqueada pela mão da ciência, apenas testemunhou a verdade da revelação – quando toda a história das cidades enterradas e das nações que partiram apenas pregou a verdade de que a Bíblia era verdadeira – quando cada faixa de terra no extremo Oriente foi uma exposição e uma confirmação das profecias das Escrituras; se os homens ainda não estão convencidos, supondes que um homem morto que se levantasse do túmulo os convenceria?” (Spurgeon)

iii. “Se a Sagrada Escritura nas mãos de Deus não é o suficiente para levá-lo à fé em Cristo, então, embora um anjo do céu, embora os santos da glória, embora o próprio Deus descesse na terra para pregar a você, você prosseguiria descomprometido e amaldiçoado.” (Spurgeon)

e. “Não, pai Abraão”, disse ele, “mas se alguém dentre os mortos fosse até eles, eles se arrependeriam”: O homem rico imediatamente se opôs, sabendo que sua família não levava Moisés e os Profetas a sério. Ele esperava desesperadamente que, se alguém viesse dos mortos, seria mais convincente do que a Palavra de Deus. Mas não seria mais convincente, porque se eles não acreditassem por causa da Palavra de Deus, tampouco se deixariam convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.

i. O homem rico sabia o que seus irmãos deviam fazer, e o que ele não fez: arrepender-se. Ele esperava erroneamente que uma aparência espetacular de um dos mortos os persuadisse; mas Abraão sabia que não o faria. Afinal, o descrente acha que a Bíblia fala demais do julgamento e do inferno; eles não querem ouvir mais sobre isso, mesmo que o mensageiro tenha vindo do mundo além.

ii. É claro que Jesus ressuscitou dos mortos; no entanto, muitos não acreditavam na época. Além disso, um homem chamado Lázaro também voltou dos mortos (João 11:38-44) e os líderes religiosos não acreditaram nele; eles tentaram matá-lo (João 12:9-10).

iii. Com esta história, Jesus mostrou a fraqueza de confiar em sinais para levar as pessoas à fé. É fácil pensar que se as pessoas vissem um sinal suficientemente espetacular, elas seriam compelidas a acreditar. Mas o que cria fé para a salvação é ouvir a Palavra de Deus (Romanos 10:17); um sinal pode ou não ter um papel nesse trabalho. Deus, operando através de Sua palavra, tem poder para a salvação. “Ele declara que os escritos sagrados são em si mesmos tão poderosos como a entrega de sua mensagem por um ressuscitado dos mortos.” (Morgan)

iv. “Embora um cemitério comece a viver e se posicionar diante do infiel que nega a verdade do cristianismo, eu declaro que não acredito que haja provas suficientes em todos os cemitérios do mundo para convencê-lo. A infidelidade ainda choraria por algo mais.” (Spurgeon)

v. “Acredito que Lázaro, do seio de Abraão, não seria um pregador tão bom quanto um homem que não morreu, mas cujos lábios foram tocados com a brasa vinda direto do altar.” (Spurgeon)

vi. O homem rico não estava perdido porque ele era rico. Ele estava perdido porque não havia escutado a lei e os profetas. Muitos também se perderão pela mesma razão.

vii. De certo modo, o homem rico da história de Jesus era muito diferente dos líderes religiosos, os fariseus. Ele viveu uma vida de excesso gourmet e indulgência, e os fariseus eram rígidos e disciplinados e supercontrolados. No entanto, eles tinham essa semelhança com o homem rico: eles não se importavam em nada com os necessitados ao seu redor, e os desprezavam com negligência. Por isso ficaram tão ofendidos quando Jesus ensinou e cuidou dos publicanos e dos pecadores (Lucas 15:1-2). “Cento e sessenta quilômetros podem separar dois rios, todavia, ambos fluem do mesmo lago.” (Morrison)

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