Lucas 13




Lucas 13 – Arrependimento, Religião Falsa e o Caminho Verdadeiro

A. A importância do arrependimento.

1. (1-5) Jesus usa dois desastres recentes para explicar a urgência do arrependimento.

Naquela ocasião, alguns dos que estavam presentes contaram a Jesus que Pilatos misturara o sangue de alguns galileus com os sacrifícios deles. Jesus respondeu: “Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros, por terem sofrido dessa maneira? Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão. Ou vocês pensam que aqueles dezoito que morreram, quando caiu sobre eles a torre de Siloé, eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão”.

a. Que Pilatos misturara o sangue de alguns galileus com os sacrifícios deles: Não temos um registro na história secular sobre o incidente específico mencionado aqui. De acordo com Barclay, há um incidente semelhante antes do ministério de Jesus. Pilatos quis construir um aqueduto das Piscinas de Salomão até a cidade de Jerusalém. Para pagá-lo, ele exigiu dinheiro do tesouro do templo, dinheiro que havia sido dedicado a Deus, e isso indignou os sacerdotes e o povo. Quando os judeus enviaram uma delegação implorando pelo seu dinheiro de volta, Pilatos enviou à multidão soldados vestidos como pessoas comuns e, por meio de certo sinal, eles sacavam punhais e atacavam o povo pedindo o dinheiro.

i. Este não parece ser o mesmo incidente mencionado aqui, mas mostra como foi completamente coerente com o caráter de Pilatos de massacrar um grupo de judeus galileus a caminho do sacrifício ao Senhor em Jerusalém.

b. Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros: Jesus mencionou dois desastres que eram bem conhecidos em sua época. Um era um mal feito pela mão do homem, e o outro era aparentemente um desastre natural (aqueles dezoito que morreram, quando caiu sobre eles a torre de Siloé).

i. Normalmente pensamos em algumas pessoas como boas e outras como más e achamos fácil acreditar que Deus deve permitir que coisas boas aconteçam a pessoas boas e coisas ruins aconteçam a pessoas más. Jesus corrigiu este pensamento.

ii. Mas o argumento de Jesus não era que os galileus em questão eram inocentes; Seu argumento era que eles simplesmente não eram mais culpados do que os outros. Todos eram e são culpados.

iii. “É verdade, o perverso às vezes cai morto na rua; mas e o ministro, não caiu ele também morto no púlpito? É verdade que um barco de prazer, no qual os homens buscavam seu próprio prazer no domingo, de repente caiu; mas não é igualmente verdade que um navio que continha somente homens piedosos, que estavam engajados em uma excursão para pregar o evangelho, também caiu?” (Spurgeon)

c. Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão: Ao analisar a questão, Jesus desviou Seu foco da pergunta “por que isso aconteceu?” e a voltou para a pergunta “o que isso significa para mim?”

i. Isto significa que todos nós podemos morrer a qualquer momento, portanto, o arrependimento deve ser uma prioridade máxima. Aqueles que morreram em ambos os casos não pensaram que morreriam logo, mas morreram, e podemos supor que a maioria deles não estava pronta.

d. Mas se não se arrependerem… mas se não se arrependerem: Ao observar a antiga gramática grega, vemos que Jesus aqui mencionou dois tipos de arrependimento, e ambos são essenciais. Lucas 13:5 (mas se não se arrependerem) descreve um arrependimento de uma vez por todas. O tempo gramatical em Lucas 13:3 (mas se não se arrependerem) descreve um arrependimento contínuo.

i. O aviso de Jesus de que eles deviam se arrepender ou perecer teve um cumprimento imediato e arrepiante. Dentro de uma geração, aqueles cidadãos de Jerusalém que não se arrependeram e se entregaram a Jesus, pereceram na destruição de Jerusalém.

ii. “Não podemos dizer que o sofrimento e o pecado individual estão inevitavelmente ligados, mas podemos dizer que o pecado e o sofrimento nacional estão bem ligados. A nação que escolhe os caminhos errados acabará sofrendo por isso.” (Barclay)

2. (6-9) Jesus ilustra alguns princípios a respeito do julgamento de Deus.

Então contou esta parábola: “Um homem tinha uma figueira plantada em sua vinha. Foi procurar fruto nela, e não achou nenhum. Por isso disse ao que cuidava da vinha: ‘Já faz três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não acho. Corte-a! Por que deixá-la inutilizar a terra?’ “Respondeu o homem: ‘Senhor, deixe-a por mais um ano, e eu cavarei ao redor dela e a adubarei. Se der fruto no ano que vem, muito bem! Se não, corte-a’”.

a. Foi procurar fruto nela: Após a advertência, mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão, Jesus usou esta parábola para ilustrar os princípios do julgamento de Deus. O primeiro ponto era simples: Deus procura frutos.

i. O fruto de nossa vida mostra que tipo de pessoa nós realmente somos. Uma macieira produzirá maçãs, não melancias. Se Jesus Cristo realmente tocou nossa vida, isso será visível nos frutos que produzimos – mesmo que demore um pouco para que os frutos apareçam.

ii. Que fruto Deus está procurando? Certamente tem que começar com o fruto do Espírito, mencionado em Gálatas 5:22-23: Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.

b. Já faz três anos que venho procurar fruto nesta figueira… deixe-a por mais um ano: O certo homem da parábola ilustrou a paciência de Deus no julgamento. Ele esperou três anos e lhe deu uma segunda chance.

i. O certo homem, ilustrando Deus, não deixou a árvore em paz. Ele lhe deu um cuidado especial. Quando Deus mostra um cuidado especial por alguém, a pessoa pode se sentir como se estivesse rodeado de esterco, mas Ele a está nutrindo e preparando para a frutificação que está por vir.

c. Se não, corte-a: O certo homem, ilustrando Deus, também foi justo em Seu julgamento. Finalmente chegaria o dia do acerto de contas. Não seria apenas uma sequência interminável de ameaças.

i. “Há um tempo para derrubar árvores infrutíferas, e há uma estação designada para abater e lançar no fogo o pecador inútil”. (Spurgeon)

ii. Barclay extraiu vários pontos sábios de aplicação a partir disto:

·A inutilidade convida ao desastre.

·Algo que só retira, não pode sobreviver.

·Deus dá segundas chances.

·Há uma última chance.

B. A cura de uma mulher em uma sinagoga.

1. (10-13) A cura de uma mulher em uma sinagoga.

Certo sábado Jesus estava ensinando numa das sinagogas, e ali estava uma mulher que tinha um espírito que a mantinha doente havia dezoito anos. Ela andava encurvada e de forma alguma podia endireitar-se. Ao vê-la, Jesus chamou-a à frente e lhe disse: “Mulher, você está livre da sua doença”. Então lhe impôs as mãos; e imediatamente ela se endireitou, e passou a louvar a Deus.

a. Jesus estava ensinando numa das sinagogas: Embora a oposição contra Jesus continuasse a aumentar, aparentemente Ele ainda era bem recebido em algumas sinagogas – mesmo neste momento tardio de seu ministério.

b. Um espírito que a mantinha doente: Aparentemente, a condição física desta mulher (encurvada e de forma alguma podia endireitar-se) era devida a alguma causa espiritual. Seríamos tolos ao pensar que questões espirituais causam todos os problemas físicos, mas também somos tolos se pensarmos que questões espirituais nunca causam problemas físicos.

i. Encurvada e de forma alguma podia endireitar-se: “Uma situação igualmente dolorosa e humilhante, cuja violência ela não podia suportar, e cuja vergonha ela não podia ocultar.” (Clarke)

ii. “A causa física de sua incapacidade de endireitar-se foi examinada por J. Wilkinson, que identificou a paralisia como resultado da espondilite anquilosante, que produz a fusão dos ossos vertebrais.” (Pate)

iii. Ela esteve nesta condição durante dezoito anos. “Por dezoito anos ela não havia contemplado o sol; por dezoito anos nenhuma estrela da noite havia alegrado seu olho; seu rosto foi arrastado para baixo em direção ao pó, e toda a luz de sua vida era fraca: ela andava como se estivesse procurando uma sepultura, e não duvido que muitas vezes ela sentia que teria sido uma alegria ter encontrado uma.” (Spurgeon)

iv. Esta mulher é às vezes usada como exemplo de uma crente que pode ser possuída por demônios. No entanto, por mais piedosa que tenha sido, ela não tinha nascido de novo pelo Espírito de Deus, porque a obra de Jesus ainda não havia sido concluída na cruz. Acreditamos que os cristãos não podem ser possuídos por demônios; não porque sejam pessoas boas, que vão à igreja, mas porque são novas criaturas em Jesus Cristo, e fora dos limites da possessão e controle demoníacos.

v. “Ele deve tê-la amarrado com muita astúcia para dar o nó todo esse tempo, pois não parece tê-la possuído. Você percebe ao ler os evangelistas, que nosso Senhor nunca pôs sua mão sobre uma pessoa possuída por um demônio. Satanás não a havia possuído, mas ele havia caído sobre ela uma vez, dezoito anos antes, e a amarrou como um homem amarra uma besta em seu estábulo, e ela não conseguiu se libertar de tudo isso por todo esse tempo.” (Spurgeon)

c. Mulher, você está livre da sua doença: Jesus disse uma palavra de compaixão e autoridade para a mulher. Ele também lhe impôs as mãos, dando um toque de compaixão.

i. A mulher frequentou a sinagoga por 18 anos e permaneceu em cativeiro, até que finalmente encontrou Jesus na sinagoga.

d. Então lhe impôs as mãos; e imediatamente ela se endireitou, e passou a louvar a Deus: Jesus mostrou Seu completo domínio sobre a doença e a deformidade, independentemente se a causa era espiritual ou física. A mulher estava feliz por ter decidido ir à sinagoga naquele dia de sábado.

i. “Ele podia ter chamado ela à distância e dito: ‘Seja curada’, mas não o fez, pois desejava demonstrar sua especial simpatia com um caso tão triste de sofrimento.” (Spurgeon)

2. (14) A indignação do dirigente da sinagoga.

Indignado porque Jesus havia curado no sábado, o dirigente da sinagoga disse ao povo: “Há seis dias em que se deve trabalhar. Venham para ser curados nesses dias, e não no sábado”.

a. Indignado… o dirigente da sinagoga disse ao povo: Pode surpreender que o dirigente da sinagoga estivesse tão perturbado com um milagre tão maravilhoso, mas é importante lembrar o quanto muitos do povo judeu eram apegados à suas leis e costumes do sábado. Ele estava indignado porque Jesus havia curado no sábado.

i. “Parece que o demônio que havia deixado o corpo da mulher havia entrado em seu coração.” (Clarke)

b. Há seis dias em que se deve trabalhar. Venham para ser curados nesses dias, e não no sábado: O dirigente da sinagoga não tinha a capacidade ou a autoridade para curar em nenhum dia da semana; no entanto, ele objetou que Jesus fez isso no sábado.

i. Disse ao povo: “Ele nem mesmo teve coragem de falar diretamente com Jesus. Ele dirigiu seu protesto às pessoas que esperavam, embora fosse destinado a Jesus.” (Barclay)

3. (15-17) Jesus responde ao dirigente indignado da sinagoga.

O Senhor lhe respondeu: “Hipócritas! Cada um de vocês não desamarra no sábado o seu boi ou jumento do estábulo e o leva dali para dar-lhe água? Então, esta mulher, uma filha de Abraão a quem Satanás mantinha presa por dezoito longos anos, não deveria no dia de sábado ser libertada daquilo que a prendia?” Tendo dito isso, todos os seus oponentes ficaram envergonhados, mas o povo se alegrava com todas as maravilhas que ele estava fazendo.

a. Hipócritas! Jesus não respondeu com gentileza. Com autoridade ele confrontou o dirigente da sinagoga que valorizava as extensões extremas dos comandos bíblicos mais do que o poder compassivo de Jesus que transforma vidas, para curar uma mulher aflita há muito tempo.

i. “Hipócrita que finge ter zelo pela glória de Deus, quando é apenas obra de teu coração malicioso, insensível e pouco caridoso.” (Clarke)

b. Cada um de vocês não desamarra no sábado o seu boi ou jumento do estábulo e o leva dali para dar-lhe água? A resposta de Jesus foi simples. Se vocês podem ajudar um animal no sábado, por que não se pode ajudar também uma pessoa que sofre no sábado?

i. “A palavra ‘desamarra’, referindo-se ao gado que é desamarrado, antecipa um jogo de palavras no v. 16; a mulher ‘foi desamarrada’ (lythenai) de sua doença.” (Pate)

c. Então, esta mulher… não deveria: Jesus deu várias razões convincentes do porquê era apropriado mostrar sua misericórdia a ela, e mais apropriado do que ajudar um animal aflito.

·Ela era uma mulher – feita à imagem de Deus, e por ser uma mulher e não um homem, digna de mais cuidado e preocupação.

·Ela era uma filha de Abraão, uma mulher judia, com uma ligação à aliança de Abraão. Isto também pode indicar que ela era uma mulher de , assim como sua presença na sinagoga.

·Ela era uma mulher a quem Satanás mantinha presa, e todo dia é um bom dia para se opor ao trabalho de Satanás e libertar seus cativos.

·Ela foi afligida por dezoito anos, o tempo suficiente para sofrer muito e para despertar a compaixão de Jesus e dos outros.

d. Então, esta mulher… não deveria no dia de sábado ser libertada daquilo que a prendia? Jesus usou uma palavra forte na antiga língua grega; a ideia era mais que ela tinha de ser libertada do que ela deveria ser libertada.

i. “Ninguém lhe havia dito que ela estava presa há dezoito anos, mas ele sabia tudo – como ela tinha sido presa, o que ela havia sofrido durante aquele período, como ela havia orado por cura, e como a enfermidade ainda a pressionava. Em um minuto ele tinha lido a história dela e entendido seu caso.” (Spurgeon)

e. Todos os seus oponentes ficaram envergonhados, mas o povo se alegrava: A mulher estava tão obviamente curada, e o dirigente da sinagoga estava tão obviamente errado que todos se alegraram com a vitória de Jesus.

C. Duas parábolas advertem sobre a corrupção no reino de Deus.

1. (18-19) A parábola da árvore da semente de mostarda.

Então Jesus perguntou: “Com que se parece o Reino de Deus? Com que o compararei? É como um grão de mostarda que um homem semeou em sua horta. Ele cresceu e se tornou uma árvore, e as aves do céu fizeram ninhos em seus ramos”.

a. Com que se parece o Reino de Deus? A explicação tradicional e muitas vezes mais familiar desta parábola é que ela descreve o crescimento e a difusão da influência da igreja. Contudo, à luz da parábola em si e do contexto das parábolas antes e depois, deveria ser considerado como mais uma descrição da corrupção na comunidade do reino.

b. Ele cresceu e se tornou uma árvore: Muitos ou até mesmo a maioria considera isto como uma bela imagem da igreja crescendo tão grande que chega até oferecer refúgio para todo o mundo. Mas esta planta do grão de mostarda cresceu de forma não natural, e abrigou aves – que, em algumas parábolas anteriores, eram emissárias de Satanás (Mateus 13:4, 13:19).

i. Se tornou uma árvore: A planta de mostarda normalmente nunca cresce ao ponto de ficar maior que um arbusto e, em seu tamanho normal, é um lugar improvável para ninhos de pássaros. O grande crescimento até se tornar uma árvore deste grão de mostarda descreve algo antinatural.

ii. Além disso, árvores são às vezes usadas na Bíblia para descrever governos humanos, e governos malignos, por exemplo. De fato, esta árvore nos lembra aquela que Nabucodonosor viu em sua visão (Daniel 4:10-16).

iii. “O estudo aprofundado das aves como símbolos no Antigo Testamento e especialmente na literatura do judaísmo atual, mostra que as aves simbolizam regularmente o mal e até mesmo os demônios ou Satanás (cf. b. Sinédrio, 107a; cf. Apocalipse 18:2).” (Carson)

iv. Esta parábola descreve com precisão o que a comunidade do reino se tornou nas décadas e séculos após a cristianização do Império Romano. Naqueles séculos, a igreja cresceu anormalmente em influência e domínio, e era um ninho para muita corrupção. “Aves alojadas nos ramos muito provavelmente se referem a elementos de corrupção que se refugiam na própria sombra do cristianismo.” (Morgan)

2. (20-21) A parábola do fermento nas medidas de refeição.

Mais uma vez ele perguntou: “Com que compararei o Reino de Deus? É como o fermento que uma mulher misturou com uma grande quantidade de farinha, e toda a massa ficou fermentada”.

a. É como o fermento: Jesus usou uma imagem surpreendente aqui. Muitos, se não a maioria, consideram isto como uma bela imagem do Reino de Deus operando em todo o mundo. No entanto, o fermento é constantemente usado como uma figura de pecado e corrupção (especialmente na narrativa da Páscoa de Êxodo 12:8, 12:15-20). Tanto o conteúdo quanto o contexto apontam para que esta seja uma descrição da corrupção na comunidade do reino.

i. “Haveria um certo choque ouvir o Reino de Deus comparado com o fermento”. (Barclay)

b. Fermento que uma mulher misturou com uma grande quantidade de farinha, e toda a massa ficou fermentada: Esta era uma quantidade estranhamente grande de farinha. Era muito maior do que qualquer mulher prepararia e, de novo, sugere a ideia de um tamanho expressivo ou anormal.

i. “Essa grande quantidade de farinha seria mais ou menos 40 litros, que faria pão o suficiente para uma refeição de 100 pessoas, uma fornada e tanto para uma mulher normal”. (France)

c. Misturou: A ideia de fermento misturado em grande quantidade de farinha ofenderia qualquer judeu religioso. Certamente não se trata de uma imagem da igreja gradualmente influenciando o mundo inteiro para o bem. Bem como a experiência recente na sinagoga mostrou algum tipo de corrupção religiosa, Jesus anunciou que a comunidade de Seu reino também seria ameaçada por corrupção e impureza.

i. G. Campbell Morgan escreveu que o fermento representa “influências pagãs” trazidas para dentro da igreja. “A parábola da árvore ensina o crescimento do Reino em um poder maior; e a segunda, a parábola do fermento, sua corrupção”. (Morgan)

D. O primeiro e o último.

1. (22-24a) Jesus responde a uma pergunta sobre salvação.

Depois Jesus foi pelas cidades e povoados e ensinava, prosseguindo em direção a Jerusalém. Alguém lhe perguntou: “Senhor, serão poucos os salvos?” Ele lhes disse: “Esforcem-se para entrar pela porta estreita…

a. Depois Jesus foi pelas cidades e povoados e ensinava, prosseguindo em direção a Jerusalém: Como Lucas descreve, Jesus se aproximou cada vez mais de Seu trabalho designado em Jerusalém. Na descrição de Lucas, Jesus não chega à Jerusalém até o capítulo 19, mas Ele continua no caminho.

b. Senhor, serão poucos os salvos? Como estes que perguntaram a Jesus, muitas pessoas ponderam sobre a salvação dos outros. Mas em Sua resposta (Esforcem-se para entrar pela porta estreita), Jesus apontou novamente para a salvação da única pessoa que nós realmente sabemos, perguntando “Você está salvo?”.

i. “A pergunta parece refletir um debate que existiu entre judeus no tempo de Cristo”. (Pate) Pate então cita dois rabinos: um que disse que todos os judeus seriam salvos, e outro que disse que somente alguns seriam. Contudo, Jesus não seria atraído a esse debate. Sua única pergunta era, “Você está salvo?”.

ii. “Uma questão de impertinência ou de curiosidade; uma resposta para que não há valor nenhum para o homem. A grande pergunta é: “Eu posso ser salvo?” (Clarke)

c. Esforcem-se para entrar pela porta estreita: Porque a passagem é estreita, é preciso esforço e propósito para entrar nela. Uma porta estreita também implica que nós não podemos trazer conosco coisas desnecessárias. Portanto, nós devemos nos esforçar (a palavra é literalmente “agonizar”) para deixar estas coisas de lado e entrar. A palavra grega para esforçar-se tem “a ideia de uma batalha ou luta com prêmio”. (Bruce)

i. Muitos vêm à porta, e depois decidem que não gostam dela por alguma razão. É larga demais, é estreita demais, é chique demais, é simples demais. Você pode criticar a porta como quiser, mas é algo terrível recusar-se a entrar nela.

ii. “Esforce-se até mesmo a uma agonia; ou como fizeram para a grinalda dos jogos Olímpicos, para qual a palavra agonizomai, aqui usada, parece aludir”. (Trapp)

iii. Esforcem-se para entrar pela porta estreita não é um chamado para salvar a si mesmo através de boas obras. As boas obras não são a porta certa. Você pode esforçar-se para entrar a vida toda, mas se não for para a porta certa, não faz diferença. O próprio Jesus é a porta; Ele é a entrada.

iv. É necessário que esforcem-se para entrar porque há muitos obstáculos no caminho. O mundo é um obstáculo. O diabo é um obstáculo. Provavelmente nosso pior obstáculo é nossa própria carne.

2. (24b-27) A razão pela qual é importante esforçar-se ao entrar.

…porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: ‘Senhor, abre-nos a porta’. “Ele, porém, responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês’. “Então vocês dirão: ‘Comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas’. “Mas ele responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês, que praticam o mal!’

a. Tentarão entrar e não conseguirão. Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta: A pontuação sugerida pelos tradutores em Lucas 13:24-25 é pobre. Seria mais bem lido: não seria capaz depois que o Mestre da casa levantar e fechar a porta. O ponto é que virá uma hora em que será tarde demais para entrar; é por isso que você deve ter uma urgência para entrar agora.

i. “Você verá uma diferença considerável entre tentar e se esforçar. Você não é meramente aconselhado a tentar; você é urgentemente ordenado a esforçar-se”. (Spurgeon)

ii. Jesus anteriormente falou da porta estreita; aqui Ele alerta sobre a portafechar. “Nosso Senhor nos mostrou que há limites na misericórdia divina, que haverá aqueles que não serão capazes de entrar”. (Morgan)

b. Vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: ‘Senhor, abre-nos a porta’: Muitos tentarão entrar (no sentido de desejar entrar), mas não serão capazes. Quando a porta está aberta, está aberta; quando está fechada, está fechada.

i. Há uma grande diferença entre um mero tentar e um se esforçar para entrar. Um desejo casual de ser salvo não é suficiente porque há muitos obstáculos no caminho.

c. Então vocês dirão: ‘Comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas’: Ao falar daqueles que serão excluídos da presença de Deus, Jesus disse que eles protestariam que eles sabiam algo de Jesus e ouviram algo de Seu ensinamento.

d. Mas ele responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês, que praticam o mal!’: Jesus alertou que não era suficiente conhecer algo de Jesus e ter alguma associação com Ele; Ele tinha que conhecer e reconhecer a eles.

i. Claro que Jesus os conhecia de alguma forma; Ele sabia quem eles eram e sabia de suas vidas. Contudo, Ele não os conhecia no sentido de ter um relacionamento, da conexão vital através da fé. Suas palavras enfatizam a importância do relacionamento (Não os conheço) que afeta a maneira de viver (que praticam o mal).

3. (28-30) O destino daqueles que não se esforçam para entrar.

“Ali haverá choro e ranger de dentes, quando vocês virem Abraão, Isaque e Jacó, e todos os profetas no Reino de Deus, mas vocês excluídos. Pessoas virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e ocuparão os seus lugares à mesa no Reino de Deus. De fato, há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”.

a. Ali haverá choro e ranger de dentes: Ao falar daqueles excluídos do Reino de Deus, Jesus disse que eles ficariam no inferno (o lugar onde haverá choro e ranger de dentes) e que veriam os outros entrando ao invés deles.

i. Uma mulher protestou a um evangelista que choro e ranger de dentes não poderia se aplicar àqueles que perderam seus dentes. O pastor solenemente replicou: “Dentes serão providos!”.

ii. Mais seriamente, “Os verbos ‘chorar’ e ‘ranger’ (cf. grego) enfatizam o terror da cena: o chorar e o ranger…Chorar sugere sofrimento e ranger de dentes desespero”. (Carson)

iii. Nós vemos que Jesus não tem medo de falar do inferno e, inclusive, o faz mais do que qualquer outro na Bíblia. “Há alguns ministros que nunca mencionam nada sobre o inferno. Eu ouvi falar de um ministro que uma vez disse à sua congregação: ‘Se você não ama o Senhor Jesus Cristo você será mandado àquele lugar do qual não é educado mencionar’. Ele não deveria ser permitido pregar novamente, eu tenho certeza, se ele não pudesse usar palavras simples”. (Spurgeon)

b. Pessoas virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e ocuparão os seus lugares à mesa no Reino de Deus: Jesus contou a sua plateia abismada que haveriam muitos de todo o mundo – de muitas nações – juntos com Deus em Seu Reino. Isto foi um choque para muitas pessoas judias de Seus dias que haviam sido ensinadas que a salvação era somente para os judeus e não para os gentios.

i. Isto era uma ideia radical para muitos do povo judeu nos dias de jesus; eles presumiam que este grande Banquete Messiânico não teria gentios e que todos os judeus estariam lá. Jesus corrigiu ambas as ideias incorretas.

ii. Estas poucas palavras de Jesus nos contam um pouco sobre como o céu é.

·É um lugar de descanso; nós ocupamos lugares à mesa no céu.

·É um lugar de boa companhia para sentar-se junto; nós desfrutamos da amizade de Abraão, Isaque e Jacó e todos os profetas no céu.

·É um lugar com pessoas de toda a terra; do oriente e do ocidente, do norte e do sul, eles virão ao céu.

·É um lugar certo; Jesus disse que pessoas virão, e quando Jesus diz que irá acontecer, vai acontecer.

iii. “Mas vocês irão escutar aquelas vozes amáveis novamente; vocês irão escutar aquelas doces vozes uma vez mais, vocês irão saber que aqueles a quem amavam, foram amados por Deus. Não seria este um céu triste para nós habitarmos, onde fossemos igualmente sem conhecimento e desconhecidos? Eu não gostaria de ir para um céu assim. Eu acredito que o céu é uma irmandade de santos e que nós conheceremos uns aos outros lá”. (Spurgeon)

c. Mas vocês excluídos: Jesus lembrou aos seus ouvintes judeus que assim como a identidade racial gentia não era uma barreira automática ao reino, também a identidade racial deles não era garantia do reino.

i. “Dificilmente poderia haver uma declaração mais radical de mudança no plano de salvação de Deus inaugurado pela missão de Jesus”. (France)

d. De fato, há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos: Jesus os lembrou que aqueles que estão no reino ou fora do reino, podem ser diferentes do que eles ou outros esperavam. Isto não foi intencionado como uma lei universal; Jesus não disse: “Todos os que são últimos, serão primeiros” ou “Todos os que são primeiros, serão últimos”. Contudo, alguns serão, e isso surpreenderá a muitos.

i. “Haverá surpresas no reino de Deus. Aqueles que são muito proeminentes neste mundo talvez tenham que ser muito humildes no próximo; aqueles a quem ninguém nota aqui talvez sejam os príncipes do mundo a vir”. (Barclay)

ii. Spurgeon disse que há últimos que serão primeiros foi uma maravilha [milagre] da graça e que os primeiros que serão últimos foi uma maravilha do pecado.

4. (31-33) Jesus continua Sua obra mesmo sob a ameaça de Herodes.

Naquela mesma hora alguns fariseus aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: “Saia e vá embora daqui, pois Herodes quer matá-lo”.

Ele respondeu: “Vão dizer àquela raposa: Expulsarei demônios e curarei o povo hoje e amanhã, e no terceiro dia estarei pronto. Mas, preciso prosseguir hoje, amanhã e depois de amanhã, pois certamente nenhum profeta deve morrer fora de Jerusalém!

a. Alguns fariseus aproximaram-se… “Saia e vá embora daqui, pois Herodes quer matá-lo”: Isto mostra que nem todos os fariseus se opunham a Jesus. Estes queriam protegê-Lo da conspiração de Herodes.

i. De acordo com William Barclay, o Talmude descrevia sete tipos diferentes de fariseus:

·O Fariseu de Ombro, que vestia todas as suas boas ações e justiça nos seus ombros para todos verem.

·O Fariseu Espera-Um-Pouco, que sempre pretendia fazer boas ações, mas sempre conseguia encontrar razões para as fazer mais tarde e não agora.

·O Fariseu Machucado ou Sangrando, que era tão santo que virava sua cabeça da direção de qualquer mulher vista em público – e ficava, portanto, constantemente trombando em coisas e tropeçando, assim, machucando a si mesmo.

·O Fariseu Corcunda, que era tão humilde que andava curvado e mal levantava seus pés – então todos podiam ver o quão humilde ele era.

·O Fariseu Sempre-Contando, que estava sempre contando suas boas ações e acreditava que ele colocava Deus em débito com ele por todo o bem que ele tinha feito.

·O Fariseu Medroso, que fazia o bem porque ele tinha pavor de que Deus o arrebataria com julgamento se ele não o fizesse.

·O Fariseu Temente-a-Deus, que realmente amava Deus e fazia boas ações para agradar ao Deus que ele amava.

ii. “Mas Jesus, na verdade, deixaria a Galiléia, não porque Ele estava com medo de Herodes, mas porque Ele estava se movendo de acordo com uma programação divina”. (Pate)

b. Vão dizer àquela raposa: De acordo com alguns (como Geldenhuys) a ideia por trás de chamar alguém de raposa era para descrevê-las como um “governante astuto, mas fraco”. Era usado para contrastar com um animal majestoso como um leão.

i. “Para os judeus a raposa era o símbolo de três coisas. Primeiro, ela era considerada como o animal mais astuto. Segundo ela era considerada o animal mais destrutivo. Terceiro, ela era o símbolo de um homem sem valor e insignificante”. (Barclay)

ii. Herodes também era um exemplo daqueles primeiros que seriam os últimos, mencionados em Lucas 13:30. Naquele momento ele tinha uma posição de poder e autoridade, mas ela não duraria muito tempo.

c. Expulsarei demônios e curarei o povo hoje e amanhã, e no terceiro dia estarei pronto: Jesus queria que Herodes soubesse que Ele continuaria com Sua obra, até sua conclusão. Jesus não estava com medo de Herodes e Ele queria que Herodes soubesse.

i. Estarei prontona verdade expressa a ideia de “alcançar o objetivo”. Jesus sabia que depois de muito tempo, Ele alcançaria o objetivo no terceiro dia – a ressurreição seria Dele.

ii. “Eu irei então, ter completado o proposito para o qual Eu vim a este mundo, não deixando nada incompleto do qual o conselho de Deus me criou para completar”. (Clarke)

iii. “Olhando para o passado, como podemos, sabemos que o “terceiro dia” foi o caminho da Cruz e tudo o que veio dele”. (Morgan)

d. Certamente nenhum profeta deve morrer fora de Jerusalém: Jesus provavelmente falou com um toque de ironia. Claro que houve tempos em que um profeta morreu fora de Jerusalém, mas havia uma ironia especial no fato de que o Messias de Israel seria rejeitado e executado em Jerusalém.

i. “Provavelmente, este era um provérbio entre os judeus que nosso Salvador usou e adotou. Por muitos anos Jerusalém foi manchada com o sangue de profetas”. (Spurgeon)

ii. Morgan disse isto destas palavras: “Elas revelam Sua própria visão imperturbável de Sua obra, e a intrepidez silenciosa de Sua devoção”.

5. (34-35) Jesus lamenta sobre a cidade que O rejeitará.

“Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! Eis que a casa de vocês ficará deserta. Eu lhes digo que vocês não me verão mais até que digam: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor’”.

a. Jerusalém, Jerusalém: Jesus falou com sentimento especial, repetindo o nome para dar ênfase e profundidade. Quando Deus repete um nome duas vezes, é para mostrar uma emoção profunda, mas não necessariamente ira (como no Marta, Marta de Lucas 10:41 e no Saulo, Saulo de Atos 9:4).

i. Este amor profundo que Jesus tinha por Jerusalém era com todo o conhecimento dos pecados da cidade: você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados. Apesar disso, Ele ainda implorou à cidade que se desviasse da destruição que viria sobre ela.

b. Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas: Jesus queria proteger, nutrir e estimar Seu povo, os judeus, assim como uma mamãe pássaro protege seus pintinhos.

i. “A imagem de uma galinha (no grego é simplesmente “pássaro”) protegendo seus pintinhos é usada no Antigo Testamento para a proteção de Deus sobre seu povo (Salmo 17:8; 91:4, Isaías 31:5; etc.)”. (France)

ii. “Quando a galinha vê um animal predador vindo, ela faz um barulho para juntar seus pintinhos, para que ela possa cobri-los com suas asas do perigo. A águia romana está para atacar o estado judeu – nada pode prevenir isto, exceto sua conversão a Deus através de Cristo – Jesus chora por todo o território, pregando o evangelho de reconciliação; eles não se juntaram e a águia romana veio e os destruiu”. (Clarke)

iii. Esta imagem de uma galinha e seus pintinhos nos conta algo sobre o que Jesus queria fazer por aqueles que O rejeitaram.

·Ele queria mantê-los seguros.

·Ele queria fazê-los feliz.

·Ele queria fazê-los parte de uma comunidade abençoada.

·Ele queria promover seu crescimento.

·Ele queria que soubessem de Seu amor.

·Isto somente poderia acontecer se eles viessem a Ele quando Ele chamasse.

iv. G. Campbell Morgan chamou isso de uma demonstração do “Coração Materno de Deus”.

v. As palavras quantas vezes eu quis são uma indicação sutil de que Lucas sabia que Jesus havia visitado Jerusalém muitas vezes antes (como claramente recontado no Evangelho de João), embora ele apenas mencione esta última visita.

c. Mas vocês não quiseram! O problema não foi a predisposição de Jesus para resgatá-los e protegê-los; o problema foi que eles não quiseram. Portanto, a destruição prevista viria sobre eles.

i. Eis que a casa de vocês ficará deserta: Estas palavras “parecem prever a destruição de Jerusalém vinda pelo exército romano em a.C. 70”. (Pate)

d. Eu lhes digo que vocês não me verão mais até que digam: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor’: Jesus aqui revelou algo sobre as condições acerca de Sua Segunda Vinda. Quando Jesus vier de novo, o povo judeu O dará boas-vindas como o Messias dizendo: “Bendito o que vem em nome do Senhor”.

i. “Até depois da plenitude dos gentios ser trazida, quando a palavra da vida for novamente enviada a vocês, aí então vocês regozijarão e abençoarão e louvarão aquele que vem em nome do Senhor, com total e completa salvação para as ovelhas perdidas da casa de Israel”. (Clarke)

ii. Será necessário um grande esforço para trazer Israel àquele ponto, mas Deus o fará. Está prometido que Israel dará boas-vindas de volta a Jesus até mesmo como o Apóstolo Paulo disse em Romanos 11:26: E assim todo o Israel será salvo.

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