Efésios 6 – Vivendo na Luz e Combatendo a Escuridão
A. A vida cheia de Espírito e duas outras áreas especiais de submissão.
1. (1-3) A vida cheia de Espírito e o relacionamento entre pais e filhos.
Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo. “Honra teu pai e tua mãe” – este é o primeiro mandamento com promessa – “para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra”.
a. Filhos, obedeçam a seus pais: O comando é simples. As crianças devem obedecer aos seus pais. Isto não significa somente que as crianças têm a responsabilidade de obedecer, mas os pais têm a responsabilidade de ensinar obediência aos seus filhos – um dos trabalhos mais importantes para um pai ou uma mãe.
i. Não precisamos ensinar aos nossos filhos como desobedecer porque cada um deles herdou uma inclinação ao pecado vinda de Adão – porém a obediência deve ser ensinada.
ii. É essencial para pais ensinarem obediência à criança, para que então a criança cresça sabendo como obedecer a Deus mesmo quando ela não entende tudo ou quando não quer.
iii. É para esse propósito que toda a disciplina dos pais para uma criança vai. Desobediência deve ser punida, para que então a obediência possa ser aprendida.
b. No Senhor, pois isso é justo: O apóstolo nos dá duas razões para a criança obedecer a seus pais. A primeira é: eles devem obedecer no Senhor. Isto significa que a obediência delas é parte de sua obediência cristã, similar à maneira como a obediência da esposa a se submeter ao seu marido como ao Senhor (Efésios 5:22). A segunda razão é porque é simplesmente justo para uma criança obedecer aos seus pais.
i. O que significa “honra teu pai e tua mãe” talvez mude à medida que envelhecemos para a vida adulta, mas o princípio sempre perdura. A criança adulta não deve aos pais obediência, porém eles devem honra aos pais.
ii. “Quando os laços da vida familiar se quebram, quando o respeito pelos pais falha, a comunidade se torna decadente e não viverá muito”. (Foulkes)
c. O primeiro mandamento com promessa: Paulo reforçou esta ideia com a referência ao Deuteronômio 5:16, onde Deus prometeu abençoar a criança obediente.
i. Cristãos normalmente têm dividido os Dez Mandamentos entre os primeiros quatro (dirigidos a Deus) e os últimos seis (dirigidos aos seus semelhantes). No entanto, os judeus dividiram os mandamentos em duas partes de cinco, vendo a lei honra teu pai e tua mãe mais como um dever para com Deus do que um dever para com o homem.
2. (4) Como os pais vivem na luz: não irritando seus filhos.
Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor.
a. Não irritem seus filhos: Pais certamente tem uma oportunidade de irritar seus filhos através de uma atitude rude e excessivamente crítica que atormenta a criança ao invés de treiná-la. Porém, pais cristãos nunca devem ser assim.
i. “O evangelho introduziu um elemento novo à responsabilidade paternal insistindo que os sentimentos de uma criança devem ser levados em consideração. Em uma sociedade onde a autoridade do pai (patria postestas) era absoluta, isto representou um conceito revolucionário”. (Wood)
b. Irritem seus filhos: Este tipo severo de paternidade do qual Paulo fala contra dá uma justificativa desnecessária para uma rebelião natural da criança.
i. “Quando você está disciplinando uma criança você deveria ter primeiro controlado a si mesmo…Que direito você tem de dizer para seu filho que ele precisa de disciplina quando você mesmo obviamente precisa dela?” (Lloyd-Jones)
c. Criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor: Isto não significa meramente dar uma bronca em seu filho no sentido de conselho (advertência). Significa instruir e aconselhar. Incentivo e repreensão devem estar combinados com treinamento e ensinamento.
i. Esta é uma responsabilidade para os pais. Eles não devem negligenciar a responsabilidade deles de ensinar e serem um exemplo espiritual para seus filhos. Não é uma responsabilidade que deveria ser deixada para a mãe ou a Catequese.
ii. Instrução é a mesma palavra traduzida de castigo em Hebreus 12:5-11. Ela leva a ideia de treinar através da disciplina corretiva. Conselho tem mais a ideia de ensinar – ambos são necessários, apesar de que pode ser importante que a instrução venha primeiro.
iii. Significantemente, ambos: a instrução e o conselho são usados para descrever o propósito das Escrituras (2 Timóteo 3:16 e 1 Coríntios 10:11). Os pais devem criar seus filhos de acordo com a Palavra de Deus.
d. Criem-nos: Esta antiga palavra grega foi originalmente usada da nutrição para o corpo como em Efésios 5:29. Porém a palavra veio a ser usada para a nutrição do corpo, da mente e da alma. A forma aqui sugere “desenvolvimento pelo cuidado e dores” ou como Calvin traduziu: “Que eles sejam estimados com ternura”.
3. (5-8) Como empregados vivem na luz: trabalhando como servos de Jesus.
Escravos, obedeçam a seus senhores terrenos com respeito e temor, com sinceridade de coração, como a Cristo. Obedeçam-lhes, não apenas para agradá-los quando eles os observam, mas como escravos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus. Sirvam aos seus senhores de boa vontade, como servindo ao Senhor, e não aos homens, porque vocês sabem que o Senhor recompensará cada um pelo bem que praticar, seja escravo, seja livre.
a. Escravos, obedeçam…como a Cristo: As palavras “como a Cristo” mudam completamente nossa perspectiva como trabalhadores. Ela nos lembra de que nosso trabalho pode e deveria ser feito como se estivéssemos trabalhando para Jesus – porque nós estamos!
i. “O Evangelho encontrou escravidão no mundo; e em muitas regiões, particularmente na romana e na grega, era uma forma muito ruim de escravidão. O Evangelho começou imediatamente a miná-la com seus poderosos princípios de igualdade e todas as almas no mistério e na dignidade da humanidade, e do trabalho igual do amor redentor criado para todas as almas pelo Mestre supremo. Mas seu plano era – não golpear, mas minar…Então enquanto o Evangelho por um lado deixava quieta a escravidão, a condenava por outro”. (Moule)
b. Não apenas… quando eles os observam: Não é para nós trabalharmos apenas quando observam (trabalhar apenas quando o chefe está olhando) ou para agradá-los (aqueles que somente se importam em agradar aos homens), mas sim de boa vontade (uma boa atitude, sem reclamar) como servindo ao Senhor, e não aos homens.
i. Como…ao Senhor significa que todo nosso trabalho é realmente feito para o Senhor, não para o homem. “A graça nos faz servos de Deus enquanto nós ainda somos os servos dos homens: ela nos possibilita fazer os negócios do céu enquanto estamos cuidando dos negócios da terra: ela santifica os deveres comuns da vida nos mostrando como os fazer na luz do céu”. (Spurgeon)
c. Fazendo de coração a vontade de Deus: Na cultura grega o trabalho manual era desprezado e o objetivo de ser bem-sucedido era de chegar ao ponto em que você nunca tivesse que fazer nenhum trabalho. No reino de Deus não é assim, onde o trabalho duro e o trabalho manual são honráveis.
i. Deveria ser dito de cada cristão que ele é um trabalhador esforçado e dá ao seu empregador um dia inteiro de trabalho pelo seu pagamento; fazer qualquer coisa a menos é roubar de seu empregador.
d. O Senhor recompensará cada um pelo bem que praticar, seja escravo, seja livre: Paulo relaciona uma razão final para trabalhar duro para o Senhor. Deus nos recompensará na mesma medida que nós trabalhamos duro pelos outros; Ele não permitirá que nosso trabalho esforçado fique sem recompensa.
i. Isto se conecta com um princípio interessante. Quando as pessoas renascem, sua vida muda e elas se tornam trabalhadoras esforçadas e menos desperdiçadoras, e por isso então, elas são abençoadas e se tornam prósperas. Mas depois de nos tornarmos prósperos nós geralmente permitimos que nossos corações se afastem de Deus, então Deus nos disciplina com tempos difíceis, e então nos arrependemos – e então o ciclo começa de novo. Este ciclo não é necessário, mas é comum.
4. (9) Como empregadores vivem na luz: tratando bem seus trabalhadores.
Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, uma vez que vocês sabem que o Senhor deles e de vocês está nos céus, e ele não faz diferença entre as pessoas.
a. Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma: Mestres são comandados a tratar seus escravos da mesma forma. Da mesma forma que os servos devem trabalhar duro para seus mestres, os mestres também devem fazer o mesmo por aqueles que trabalham para eles.
i. “O Evangelho então deixa sua mensagem de obrigação igual absoluta em Jesus Cristo, sobre o escravo e sobre o dono do escravo. O princípio fará seu trabalho. Não há palavra de Revolução”. (Moule)
b. Não os ameacem: Empregadores devem também desistir de ameaças e outras formas de tratamento severo. Eles fazem isso sabendo que são empregados de seu Mestre no céu e Ele julga sem levar em consideração riqueza ou status.
B. Combatendo a Escuridão.
1. (10) O chamado para combater o diabo.
Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder.
a. Finalmente: Isto vem no final da carta – uma carta na qual Paulo cuidadosamente estabeleceu nosso lugar em Jesus, e então o básico da vida cristã. Esta é a última sessão lidando com essa vida. Para Paulo escrever finalmente aqui significa que ele fala à luz de tudo que ele disse anteriormente.
·À luz de tudo que Deus fez por você.
·À luz da posição que você tem como um filho de Deus.
·À luz de Seu grande plano de todos os tempos que Deus fez de você parte dele.
·À luz do plano para a maturidade e crescimento cristão que Ele lhe dá.
·À luz da conduta que Deus chama todo crente a viver.
·À luz do enchimento do Espírito e nossa vida no Espírito.
·À luz de tudo isso, há uma batalha a se combater na vida cristã.
b. Fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder: Literalmente, Paulo escreveu fortaleçam-se no Senhor. Ele provavelmente pegou a ideia de 1Samuel 30:6, onde é dito que Davi fortaleceu-se no Senhor, o seu Deus.
i. O ensinamento detalhado da batalha espiritual nesta passagem apresenta dois componentes essenciais. Primeiro, fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder. E então, vistam toda a armadura de Deus. Os dois são essenciais e muito do ensinamento sobre o combate cristão negligencia o primeiro. Se você pegar um homem fraco que mal consegue ficar de pé e coloca a melhor armadura nele, ele ainda vai ser um soldado ineficaz. Ele será facilmente abatido. Então, equipar-se para o combate cristão deve começar com o princípio: fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder.
ii. Antes de ser dada a um soldado uma arma ou demonstrado como atirar um míssil, ele passa por um treinamento básico. Um grande propósito para o treinamento básico é construir a força física do recruta. É como se o exército dissesse – “soldado, nós vamos te dar as melhores armas e armaduras possíveis. Mas primeiro nós temos que ter certeza que você é forte e que você consegue usar o que lhe daremos”.
c. E no seu forte poder: Isto mostra como adquirir essa força. Isto não acontece apenas ao dizer as palavras. Não é um encantamento ou um feitiço. Você não pode simplesmente sair andando por aí dizendo: “fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder” de novo e de novo e a coisa acontece. Estes tipos de jogos mentais podem alcançar algo, mas certamente não foi o que Paulo quis dizer aqui.
i. Forte quer dizer poder ou força inerente. Os grandes músculos de um homem musculoso demonstram sua força, até mesmo se ele não os usar. É a reserva da força.
ii. Poder é o exercício da força. Quando o homem musculoso usa sua força para entortar uma barra de ferro, ele usa seu poder. Isso significa que a reserva de força está operando de verdade.
iii. Deus tem um vasto reservatório de força que pode ser realizado como poder em nossa vida cristã. Mas Seu poder não funciona em mim enquanto eu fico sentado passivamente. Seu poder trabalha em mim quando eu confio nele, e saio fazer o trabalho. Eu posso confiar nele e não fazer nenhum trabalho. Eu posso fazer o trabalho sem confiar nele. Mas ambas as situações são insuficientes. Eu devo confiar em Seu poder e então fazer o trabalho.
iv. Não é “eu faço tudo e Deus não faz nada”. Não é “eu não faço nada e Deus faz tudo”. Não é “eu faço tudo o que posso e Deus ajuda com o que não posso”. Cada uma dessas abordagens é insuficiente. A chave para mim é através da fé confiar em Sua força– e confiar nela mais e mais – e então fazer o trabalho.
v. Em sua grande série de sermões neste texto, D. Martyn Lloyd-Jones listou muitas maneiras nas quais ele acredita que cristãos desperdiçaram sua força. Foi como se eles tivessem recebido um pouco da força disponível de Deus, mas ela simplesmente vazou como água em um balde cheio de furos. Estas são algumas das coisas que Lloyd-Jones achou que minaram a força do cristão:
·Comprometer-se com muitas coisas ou trabalhos espirituais.
·Conversa demais.
·Argumentos, debates, disputas.
·Preguiça.
·Tempo demais na companhia errada.
·Conversas tolas e piadas demais.
·Amor pelo dinheiro e carreira.
·Um desejo por respeito e imagem.
·Um jugo desigual com um incrédulo.
·Uma atitude errada direcionada a Palavra de Deus ou duvidar dela.
vi. “Nós temos que caminhar no fio da navalha nessas questões; você não deve se tornar extremo em um lado ou no outro. Mas você tem que ser vigilante. E é claro, você sempre consegue saber ao examinar a si mesmo se sua força está aumentando ou declinando”. (Lloyd-Jones)
2. (11) O comando para toda a armadura de Deus.
Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo.
a. Vistam toda a armadura de Deus: A armadura de Deus será explicada de maneira mais completa na próxima passagem; mas aqui a ênfase está em toda a armadura de Deus. Deus dá ao crente um conjunto completo de equipamento e Ele nos manda para a batalha com tudo que precisamos a nossa disposição.
i. Esta antiga palavra grega para armadura é usada em apenas outro lugar no Novo Testamento. Em Lucas 11:21-22, Jesus fala de um homem forte que está bem armado, mas é despido de toda a sua armadura quando alguém mais forte chega e o derrota. Sabemos que Jesus desarmou todos os poderes e autoridades (Colossenses 2:15).
ii. Esta armadura é de Deus tanto no sentido de que ela vem Dele quanto no sentido de que ela é de fato Sua armadura. No Antigo Testamento é o Senhor que veste a armadura (Isaías 59:17). Ele agora compartilha aquela armadura conosco. Equipados com a armadura de Deus, não é de se admirar que sejamos mais que vencedores (Romanos 8:37).
b. Para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo: Expressamos a força que temos em Deus ao nos colocarmos contra as ciladas do Diabo. Os esquemas de Satanás contra nós se tornam um nada quando nós nos colocamos contra elas sob o poder de Deus.
i. Stott citando Simpson: “As táticas de intimidação e insinuação se alternam no plano de campanha de Satanás. Ele faz o papel tanto do valentão quanto do enganador. Força e fraude vindas de sua principal ofensa contra o acampamento dos santos”.
3. (12) O fato da guerra espiritual.
Pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais.
a. Pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades: Paulo não chamou o crente para entrarem guerra espiritual. Ele simplesmente a anunciou como um fato: nossa luta não é contra seres humanos, mas (nós lutamos) contra…autoridades e assim por diante. Você está em uma batalha espiritual. Se você está ignorante ou ignorar o fato, você provavelmente não está ganhando a batalha.
b. Pois a nossa luta não é contra seres humanos: O fato de nossa verdadeira batalha não ser contra seres humanos é esquecida por muitos cristãos que colocam seus esforços nessa direção. A ideia de Paulo aqui é muito a mesma que em 2 Coríntios 10:3-4: Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; ao contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas.
i. Foulkes diz que uma tradução mais literal é: Não é para nós a luta contra seres humanos.
c. Mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais: Paulo usou uma variedade de termos para se referir aos nossos inimigos espirituais. Deveríamos considera-los como estando em muitos níveis diferentes e sendo de muitas hierarquias diferentes, contudo, eles todos possuem um objetivo: derrubar o cristão do lugar de sua posição.
i. Efésios 6:11 nos diz que toda nossa guerra é combater as ciladas do Diabo. No fim do dia isso é completamente irrelevante se o oponente em particular que nós enfrentamos é uma autoridade, uma força ou um governante da escuridão dessa era. Coletivamente, eles todos são membros das forças espirituais do mal nas regiões celestiais. Eles todos são parte de um exército espiritual que é organizado e estabelecido por hierarquias e está sob a liderança de Satanás que vem contra nós.
ii. Aprendemos mais sobre estes poderes e autoridades de outras passagens no Novo Testamento.
·Romanos 8:38 nos diz que os poderes não podem nos manter longe do amor de Deus. Portanto, há um limite em seu poder.
·Efésios 1:20-21 nos diz que Jesus está em Seu trono nos céus, muito acima de todos os poderes e autoridades. Colossenses 1:16 nos diz que Jesus criou os poderes e autoridades. Colossenses 2:10 nos diz que Jesus é o líder de todos os poderes e autoridades. Portanto, Jesus não é o oposto de Satanás ou das autoridades.
·Efésios 3:10-11 nos diz que a igreja torna conhecida a sabedoria de Deus aos poderes e autoridades. 1 Coríntios 15:24 nos diz que os poderes e autoridades têm um fim; um dia seu propósito será cumprido e Deus não os deixará mais trabalhar. Portanto, Deus tem um plano ao permitir seu trabalho.
·Colossenses 2:15 nos diz que Jesus desarmou os poderes e autoridades na cruz. Portanto, nossa vitória está enraizada no que Jesus fez, não no que nós fazemos. Não que nós não temos que fazer nada – mas o que fazemos é a apropriação e aplicação do que Jesus fez.
iii. Alguns interpretam a natureza dos poderes e autoridades em termos puramente naturalistas. Markus Barth escreveu: “concluímos que por poderes e autoridades Paulo quer dizer o mundo de axiomas e princípios da política e religião, de economia e sociedade, de morais e biologia, de história e cultura”. Ainda sim, isso contradiz o que Paulo diz sobe nossa batalha não sendo contra seres humanos.
4. (13) A resposta adequada ao fato da guerra espiritual.
Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo.
a. Por isso, vistam toda a armadura de Deus: Paulo introduziu a ideia de toda a armadura de Deus antes em Efésios 6:11. Na passagem a seguir ele detalha os itens específicos relacionados à armadura de Deus. Neste versículo ele simplesmente afirma qual é o propósito da guerra espiritual e da armadura de Deus.
b. Para que possam: Sem a força de Deus e a proteção da armadura espiritual, é impossível resistir aos ataques de inimigos espirituais.
c. Para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo: Isso descreve o propósito para a força de Deus e para a armadura de Deus; para o que devemos usá-la.
i. Deus deu ao Seu povo um chamado, uma missão, um curso a cumprir. Satanás fará o seu melhor para pará-lo. Quando ele ataca e intimida nós devemos resistir. É claro que é isso que Paulo enfatiza em Efésios 6:11 e 6:13. Fazemos a obra do Senhor e resistimos cada indício de oposição espiritual.
ii. Deus dá ao cristão uma posição gloriosa para manter através da fé e da guerra espiritual:
·Resistimos na graça (Romanos 5:2).
·Resistimos no evangelho (1 Coríntios 15:1).
·Resistimos na coragem e força (1 Coríntios 16:13).
·Resistimos na fé (2 Coríntios 1:24).
·Resistimos na liberdade cristã (Gálatas 5:1).
·Resistimos na união (Filipenses 1:27).
·Resistimos no Senhor (Filipenses 4:1).
·Deveríamos resistir maduros e plenamente convictos na vontade de Deus (Colossenses 4:12).
iii. Contudo, há muito indicado por aquela única palavra: resistir.
·Significa que nós seremos atacados.
·Significa não devemos ter medo.
·Significa não devemos cair ou desleixar; ou ficar incertos ou hesitantes na luta (nenhuma autopiedade é permitida).
·Significa que estamos em nossa posição e alertas.
·Significa nem sequer pensamos em recuar.
5. (14-15) A armadura espiritual para ter.
Assim, mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça e tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz.
a. Assim, mantenham-se firmes: Nós podemos resistir apenas quando estamos equipados com a armadura que Deus nos deu em Jesus Cristo. Cada aspecto dessa armadura simbólica responde a uma dinâmica específica dentro da vida cristã que nos permite resistir contra o ataque espiritual.
i. Paulo escreveu isto enquanto estava sob a custódia de soldados romanos. Foi fácil para ele olhar para o equipamento de seus guardas e ver como Deus equipou o crente.
ii. A ordem na qual as partes da armadura são descritas é a ordem na qual o soldado normalmente as colocaria.
b. Cingindo-se com o cinto da verdade: A verdade é simbolicamente representada como um cinto que tanto protege nosso abdômen quanto junta nossas vestimentas para que possamos lutar efetivamente.
i. Estritamente, o cinto não é parte da armadura, mas antes que a armadura possa ser colocada, as vestimentas abaixo devem ser juntadas.
ii. “O soldado poderia estar adornado com cada outra parte de seu equipamento, e ainda sim, sem o cinto, não estaria completamente acobertado nem seguramente armado. Seu cinto…não era meramente um adorno do soldado, mas uma parte essencial de seu equipamento…era para um uso especial de manter outras partes no lugar, e assegurar a atitude militar adequada e liberdade de movimento”. (Salmond)
iii. Quando um homem se sentava e estava relaxado, ele tirava seu cinto. Colocar o cinto preparava para ação, libertava alguém para o movimento, e colocava um soldado em um estado mental de batalha. A mesma ideia foi comunicada por Jesus em Lucas 12:35-36.
iv. O cinto da verdade veste as crenças Bíblicas dos cristãos como um todo, o que outras passagens chamam de fé. Muitas pessoas acreditam que a igreja nunca irá para frente até que tire seu cinto da verdade, mas isto está completamente errado. Ele é parte da armadura a se ter, que é uma fundação para viver a todo o tempo, nosso entendimento e confiança nas doutrinas básicas da fé.
c. Vestindo a couraça da justiça: Justiça é representada como uma couraça que providencia uma proteção essencial para os órgãos mais vitais. Logo, não podemos batalhar contra inimigos espirituais em nossa própria justiça tanto quanto um soldado não pode lutar efetivamente sem sua couraça.
i. Esta não é nossa justiça ganha, não é um sentimento de justiça, mas uma justiça recebida através da fé em Jesus. Ela nos dá uma sensação geral de confiança, uma consciência de nosso lugar e posição.
ii. “Agradeça a Deus pelas experiências, porém não confie nelas. Você não veste a ‘couraça de experiências’, você veste a couraça da ‘justiça’”. (Lloyd-Jones)
iii. Às vezes nós somos tentados a dizer ao diabo: “Olhe para tudo que eu fiz pelo Senhor”. Porém, isso é um terreno instável, apesar de que às vezes nos faz sentir bem. É instável, pois sentimentos e experiências mudam rapidamente. A justiça de Deus não. A couraça da justiça é sua melhor defesa contra o sentimento de depressão espiritual e melancolia que vem contra nós.
d. Tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz: A prontidão do evangelho está representada como os sapatos protetores (ou sandálias) vestidas pelos soldados romanos. Ninguém consegue lutar ou fazer suas coisas efetivamente sem este equipamento.
i. Prontidão é uma palavra que significa “uma fundação preparada”. O evangelho providencia a base para tudo que fazemos. Não importa o quão poderoso o resto do seu corpo é, se você estiver ferido em seus pés você é uma presa fácil para o inimigo.
ii. Sobre os sapatos: “Josefo os descreveu como ‘sapatos fortemente cravejados com unhas afiadas’…para então garantir uma boa viagem. Ambos os sucessos militares de Alexandre o Grande e Júlio César em grande parte, foi devido aos seus exércitos estarem bem calçados e assim sendo, capazes de realizar longas marchas a uma velocidade incrível em terreno acidentado”. (Wood)
iii. Paulo tinha Isaías 52:7 em mente quando ele fez referencia a tendo os pés calçados: Como são belos nos montes os pés daqueles que anunciam boas novas, que proclamam a paz, que trazem boas notícias, que proclamam salvação, que dizem a Sião: “O seu Deus reina!”.
iv. A ideia de prontidão é estar realmente preparado. Devemos estar móveis, flexíveis e prontos com a verdade. Este é um lugar para ter na vida cristã, viver em prontidão e flexibilidade constante.
6. (16-18) A armadura espiritual para pegar.
Além disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno. Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus. Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos.
a. Além disso: Isto realmente tem a ideia de “em adição as anteriores”, e se aplica a cada uma das três partes da armadura que vem a seguir. Não é a ideia de que estas partes da armadura são mais importantes do que as outras.
b. Usem o escudo da fé: Efésios 6:13-14 nos fala da armadura para ter. Uma parte da armadura nós devemos vestir o tempo todo e ter como uma base permanente. Portanto, ter vem primeiro. Devemos estar enraizados no cinto da verdade, na couraça da justiça e nas “botas de combate” do evangelho. Ainda sim Paulo agora lida com aspectos da armadura que nós devemos pegar nos momentos necessários de guerra espiritual e oportunidade.
c. Usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno: A fé é representada como um escudo, nos protegendo das setas inflamadas do Maligno, aqueles esforços persistentes de inimigos demoníacos para nos enfraquecer através de medo e incredulidade.
i. O escudo que Paulo descreve não é aquele pequeno arredondado, mas sim o escudo grande, oblongo que conseguiria proteger o corpo inteiro. Na guerra antiga estas setas inflamadas seriam lançadas em grandes números no começo de um ataque. A ideia não era somente ferir o inimigo, mas sim atirar nele de todos os lados com um número massivo de flechas e assim confundir e apavorar o inimigo.
ii. “Mesmo quando tal míssil era pego pelo escudo e não penetrava no corpo, diz Livy, causava pânico, pois era atirado bem alto e seu movimento pelo ar o fazia arder mais ferozmente, para que então o soldado fosse tentado a se livrar de seu escudo em chamas e se expor aos golpes de lança do inimigo. Porém o escudo da fé não apenas pega as flechas incendiárias, mas também as extingue”. (Bruce)
iii. Pensamentos, sentimentos, imaginações, medos e mentiras – tudo isso pode ser arremessado contra nós por Satanás como setas inflamadas. A fé as faz recuar.
d. Usem o capacete da salvação: No mundo antigo isso geralmente seria um chapéu de couro cravejado com metal para maior resistência. Frequentemente algum tipo de pluma ou decoração era adicionada talvez para identificar o soldado para seu regimento. A salvação é ilustrada como este tipo de capacete protegendo uma parte essencial do corpo. Um soldado seria tolo de ir para a batalha sem seu capacete.
i. 1 Tessalonicenses 5:8, fala do capacete da salvação em conexão com a esperança de salvação. O capacete da salvação nos protege contra o desânimo, contra o desejo de desistir, dando-nos esperança não apenas em saber que nós estamos salvos, mas que nós seremos salvos. É a garantia que Deus triunfará.
ii. Uma das armas mais eficazes de Satanás contra nós é o desânimo. Quando estamos equipados adequadamente com o capacete da salvação, é difícil ficar desanimado.
e. A espada do Espírito, que é a palavra de Deus: A ideia é que o Espírito providencia a espada para você e esta espada é a palavra de Deus. Para usar efetivamente a espada do Espírito, não podemos considerar a Bíblia como um livro de encantamentos ou amarrar uma em volta do nosso pescoço do mesmo jeito que alho é dito espantar vampiros.
i. Para usar efetivamente a espada devemos considerá-la como a palavra de Deus. Se não formos confiantes na inspiração da Escritura, de que a espada realmente veio do Espírito, então não iremos usá-la efetivamente de maneira alguma.
ii. Mas nós devemos também pegar a espada do Espírito no sentido de depender que Ele nos ajude a usá-la. O Espírito não apenas nos deu as Escrituras, mas também faz delas vivas para nós (ou nós vivos para elas), e Ele nos equipa com o golpe certo da espada no momento certo.
iii. Pese em um soldado ou gladiador em treinamento, praticando golpes de espada e movimentos e posições. Agora, ele deve praticá-los a frente do tempo e se ele é um lutador superior e tem um grande instinto de luta, na hora da batalha ele irá instintivamente lembrar qual golpe e que posição melhor se encaixa no momento preciso. Ele nunca será capaz de usar o golpe na luta se ele não o praticou primeiro; porém ele ainda precisa fazer o movimento no momento.
iv. Portanto, usar a espada efetivamente requer prática. O grande exemplo disso foi Jesus combatendo a tentação de Satanás no deserto.
7. (18-20) Como usar a força espiritual e a armadura de Deus.
Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos. Orem também por mim, para que, quando eu falar, seja-me dada a mensagem a fim de que, destemidamente, torne conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador preso em correntes. Orem para que, permanecendo nele, eu fale com coragem, como me cumpre fazer.
a. Orem no Espírito em todas as ocasiões: A ideia é todos os tipos de oração ou oração após oração. Deveríamos usar cada tipo de oração que podemos pensar. Oração em grupo, oração individual, oração silenciosa, oração gritada, oração andada, oração de joelhos, oração eloquente, oração gemida, oração constante, oração fervorosa – apenas ore.
i. Podemos dizer que é através da oração que a força espiritual e a armadura de Deus vão ao trabalho. Em teoria, o cristão que não ora pode estar forte e usando toda a armadura; porém nunca alcança nada porque ele falha em ir para a batalha através da oração.
ii. Geralmente não oramos apenas porque simplesmente temos excesso de confiança em nossas próprias habilidades. Winston Churchill disse aos britânicos nos primeiros dias da Segunda Guerra Mundial: “Devo deixar uma palavra de cautela, pois ao lado da covardia e traição, excesso de confiança que leva a negligência e preguiça, é o pior dos crimes de guerra”.
b. Por todos os santos: Podemos lutar espiritualmente não apenas por nós mesmos, mas também pelos outros. O soldado não está apenas preocupado com a própria segurança dele(a). Ele(a) sente um instinto de proteger e de batalhar em nome de outros.
c. Orem também por mim, para que, quando eu falar, seja-me dada a mensagem: Depois de trazer à tona a ideia de que a guerra espiritual pode ser travada em nome de outros, Paulo pede aos seus leitores que orem por ele.
d. Destemidamente, torne conhecido o mistério do evangelho: Paulo poderia ter pedido por muitas coisas, mas ele queria que seus leitores orassem por isso. Ele provavelmente tinha em mente sua próxima defesa diante de César.
i. Nós poderíamos imaginar Paulo pedindo por muitas coisas, como alívio de sua prisão ou por outros confortos. Mas seu coração e sua mente estavam fixos em sua responsabilidade como um embaixador do evangelho.
e. Seja-me dada a mensagem: A ideia por trás de mensagem é falar claramente. Adicionada a destemidamente, Paulo pediu por oração para que ele pudesse proclamar o evangelho tanto claramente quanto com um poder destemido. É fácil negligenciar um ou o outro.
f. Sou embaixador preso em correntes: É claro que a antiga palavra grega para correntes quis dizer algemas de um prisioneiro. Mas ela também pode ser usada para o adorno de ouro vestido em volta do pescoço e pulsos dos ricos e poderosos. Em ocasiões especiais, embaixadores vestiam tais correntes para mostrar as riquezas, poder e dignidade do governo que eles representavam. Paulo considera suas correntes de prisioneiro como na verdade o adorno glorioso de um embaixador de Jesus Cristo.
C. A conclusão da carta.
1. (21-22) O envio de Tíquico.
Tíquico, o irmão amado e fiel servo do Senhor, lhes informará tudo, para que vocês também saibam qual é a minha situação e o que estou fazendo. Enviei-o a vocês por essa mesma razão, para que saibam como estamos e para que ele os encoraje.
a. Tíquico, o irmão amado e fiel servo do Senhor: Tíquico era um associado de Paulo mencionado em outras cartas (Atos 20:4, Colossenses 4:7, 2 Timóteo 4:12, Tito 3:12). Tíquico parece ter sido frequentemente usado por Paulo como um mensageiro (para que saibam como estamos).
b. Que ele os encoraje: Paulo queria que Tíquico confortasse os Efésios (e todos os outros que lessem a carta) sobre a condição de Paulo durante seu aprisionamento em Roma.
2. (23-24) Palavras finais.
Paz seja com os irmãos, e amor com fé da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo com amor incorruptível.
a. Paz seja com os irmãos… A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus: Paulo concluiu a carta como ele a começou, fazendo referência à graça e a paz, estas duas pedras angulares essenciais da vida cristã.
b. Todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo com amor incorruptível: Com amor incorruptível é literalmente “sem corrupção”. A ideia pode muito bem ser com um amor eterno. Nosso amor pelo Senhor deveria ser eterno.
c. A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo com amor incorruptível: Paulo finalizou pronunciando uma bênção que foi sua maneira de ajudar os Efésios a viver em toda bênção espiritual nos lugares celestiais em Cristo. (Efésios 1:3)
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