Mateus 4 – A tentação de Jesus e Seu Primeiro Ministério na Galileia
A. Jesus é tentado no deserto.
1. (1-2) Jesus é levado ao lugar da tentação.
Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome.
a. Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado: Depois de se identificar com os pecadores em Seu batismo, Jesus se identificou com eles novamente em severa tentação. Esta era uma parte necessária do Seu ministério, por isso Ele foi verdadeiramente levado pelo Espírito ao deserto.
i. Foi um contraste notável entre a glória que se seguiu ao batismo de Jesus e o desafio de ser tentado pelo diabo.
·Primeiro as águas frescas do Jordão; agora o deserto árido.
·Primeiro as grandes multidões; agora solidão e silêncio.
·Primeiro o Espírito repousa como uma pomba; agora o Espírito o leva ao deserto.
·Primeiro a voz do Pai chamando-o de “Filho Amado”; agora o silvo de Satanás, o tentador.
·Primeiro ungido; agora atacado.
·Primeiro a água do batismo; agora o fogo da tentação.
·Primeiro os céus se abriram; agora inferno.
ii. Jesus não precisou ser tentado para ajudá-lo a crescer. Em vez disso, Ele suportou a tentação tanto para que pudesse se identificar conosco (Hebreus 2:18 e 4:15), quanto para demonstrar Seu próprio caráter santo e sem pecado.
iii. O Espírito Santo não pode nos tentar (Tiago 1:13), mas o Espírito Santo pode nos levar a um lugar onde seremos tentados. Isto não é para provar algo a Deus (que sabe todas as coisas), mas para provar algo para nós e para os seres espirituais que nos observam.
b. Tentado pelo diabo: A tentação é uma certeza para todos. No entanto, a tentação de Jesus foi mais severa. Foi mais severa porque Ele foi tentado diretamente pelo próprio diabo, enquanto nós lutamos principalmente com demônios menores. Também foi mais severa porque há um sentido em que a tentação é “aliviada” ao ceder, e Jesus nunca cedeu. Portanto, Ele suportou níveis de tentação que nunca conheceremos por experiência.
i. Muitos comentaristas acreditam que é impróprio referir-se a esta seção como a tentação de Jesus, porque a palavra peirazo é traduzida com mais frequência e precisão como teste em vez de tentação. “Peirazein tem um elemento bastante diferente no seu significado. Significa testar muito mais do que tentar no nosso sentido da palavra.” (Barclay)
ii. “A observação de Lutero é verdadeira, de que a oração, a meditação e a tentação são os três melhores instrutores do ministro do evangelho.” (Spurgeon)
c. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome: Mateus aponta tanto o deserto árido (o deserto da Judéia era e é exatamente isso), quanto a severa condição física de Jesus após um jejum tão longo. Diz-se que quando as dores da fome retornam após tal jejum (teve fome), isso indica que o sujeito está começando a morrer de fome.
i. “Aqui foi visto milagrosamente o poder Divino, ao defender a natureza humana de Cristo sem nada para comer: isso foi um milagre.” (Poole) No entanto, foi um milagre também evidente nas vidas de Moisés (Êxodo 34:28) e Elias (1 Reis 19:8). Foi sobrenatural, mas não além da capacidade humana quando habilitado pelo Espírito de Deus.
d. Quarenta dias e quarenta noites: Este é um período de provação familiar na Bíblia, tanto nos dias de Noé como para Israel no deserto. Jesus terá sucesso onde Israel como nação falhou.
i. “Nosso Salvador foi tentado durante todo aquele espaço de quarenta dias, diz Lucas; mas esses três piores ataques foram reservados para o fim.” (João Trapp)
ii. Isso não foi abnegação apenas por abnegação, ou pior ainda, por uma questão de construir orgulho espiritual. Este foi um período de dependência forçada de Deus Pai. Lembramos: “Ele aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu” (Hebreus 5:8).
2. (3-4) A primeira tentação: um apelo à concupiscência da carne.
O tentador aproximou-se dele e disse: “Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães”. Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.’”
a. O tentador aproximou-se dele: Observe que Mateus escreve quando o tentador aproximou-se dele. Em nossas vidas, não é uma questão de se o tentador virá, mas de quando ele virá. Enfrentaremos a tentação até chegarmos à glória.
i. “Mas façamos o que quisermos, seremos tentados. Deus teve um Filho sem pecado, mas ele nunca teve um filho sem tentação.” (Spurgeon)
ii. Devemos considerar as circunstâncias que precederam a tentação de Jesus:
·Ele estava num estado de espírito especialmente devoto antes da tentação.
·Ele estava envolvido num ato de obediência pública à vontade de Seu Pai antes de Sua tentação.
·Ele estava num estado de espírito extremamente humilde antes da tentação.
·Ele foi abençoado pela certeza celestial de Sua filiação antes de Sua tentação.
·Ele foi cheio do Espírito Santo antes da tentação.
·Ele estava completamente separado do mundo antes da Sua tentação.
b. Se você é o Filho de Deus: A pergunta feita por Satanás é mais literalmente “visto que você é o Filho de Deus”, em vez de “se você é o Filho de Deus”. Satanás não questionou a divindade de Jesus; ele o desafiou a prová-lo ou demonstrá-lo através de obras milagrosas.
c. Mande que estas pedras se transformem em pães: Esta foi uma tentação de usar os dons de Deus para propósitos egoístas. Satanás sugeriu que Jesus usasse Seus poderes milagrosos para fornecer comida para Si mesmo.
i. “A filiação do Deus vivo, sugeriu ele, certamente significa que Jesus tem o poder e o direito de satisfazer as suas próprias necessidades.” (Carson)
ii. Esta não foi uma tentação de criar milagrosamente grandes riquezas ou luxos, apenas pão. A Bíblia tem muitos relatos de provisões milagrosas, algumas das mãos de Jesus. No entanto, Jesus não mandou que estas pedras se transformem em pães, especialmente por instigação de Satanás.
iii. Poderíamos dizer que Jesus estava sendo testado através de Suas forças, através de Seus dons. Ele permitiria que Suas forças se tornassem armadilhas? “Ele pede ao Senhor que prove sua filiação cuidando de si mesmo; e ainda assim essa teria sido a maneira mais segura de provar que ele não era o Filho de Deus”. (Spurgeon) Poderíamos dizer que a mesma tentação veio a Jesus na cruz (Mateus 27:40).
d. Jesus respondeu: Jesus não discordou silenciosamente de Satanás, Jesus respondeu– e respondeu-lhe com base na Palavra de Deus. Quando Jesus citou Deuteronômio 8:3, Jesus mostra que toda palavra que procede da boca de Deus deveria ser mais preciosa para nós do que o próprio alimento.
i. O que Satanás sugeriu fazia sentido – “Por que morrer de fome?” Mas o que está escrito faz ainda mais sentido.
ii. “A fome representa os desejos humanos, e a questão era: se a filiação deveria significar isenção destes, ou aceitação leal deles como parte da experiência do Messias.” (Bruce)
iii. Não é que Jesus recusou ajuda sobrenatural para alimentar-se; Ele ficou mais do que feliz em comer o que os anjos lhe trouxeram quando o tempo de provação terminou (Mateus 4:11). Não se tratava de recusar ajuda sobrenatural; era uma questão de submeter-se ao tempo e à vontade de Seu Pai em todas as coisas.
e. Está escrito: Ao confiar no poder e na verdade da Palavra de Deus, Jesus estava disposto a travar esta batalha como homem; Ele poderia facilmente ter repreendido Satanás e mandado para outra galáxia, mas resistiu a ele de uma forma que podemos imitar e com a qual nos identificamos.
i. Jesus usou as Escrituras para combater a tentação de Satanás, e não algum elaborado poder espiritual inacessível para nós. Jesus travou esta batalha como plenamente homem e não recorreu a nenhum “recurso especial” que não estivesse disponível para nós. “Reluziu a espada do Espírito: nosso Senhor lutará sem outra arma. Ele poderia ter falado novas revelações, mas escolheu dizer: ‘Está escrito.’” (Spurgeon)
ii. Ele poderia ter resistido a Satanás com uma exibição de Sua própria glória; Ele poderia ter enfrentado Satanás com lógica e razão. Em vez disso, Jesus usou a palavra de Deus como arma contra Satanás e a tentação.
·Ele usou uma arma que pode ser usada quando se está sozinho.
·Ele usou uma arma para defender Sua Filiação.
·Ele usou uma arma para derrotar a tentação.
·Ele usou uma arma que foi eficaz porque Ele a entendeu.
iii. Resistimos eficazmente à tentação da mesma forma que Jesus fez: contrariando as mentiras sedutoras de Satanás, brilhando sobre eles a luz da verdade de Deus. Se ignorarmos a verdade de Deus, estaremos mal armados na luta contra a tentação.
3. (5-7) A segunda tentação: um apelo ao orgulho da vida.
Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse: “Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo. Pois está escrito:
‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito,
e
Com as mãos eles o segurarão,
Para que você não tropece em alguma pedra.’”
Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus.’”
a. Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo: Satanás tentou Jesus a “forçar” o Pai a um evento sobrenatural. Satanás apelou para o desejo que todo homem tem de sentir a aprovação de Deus e de ter essa aprovação demonstrada publicamente.
i. Colocou-o na parte mais alta do templo: O pináculo do templo erguia-se a cerca de 60 metros do fundo do Vale do Cedron. Um salto a partir daí e o aparecimento da prometida proteção angélica seriam um espetáculo notável.
ii. “As sugestões do diabo foram de uma crise criada artificialmente, e não de confiar em Deus nas situações que resultam do serviço obediente.” (France)
iii. “Este foi exatamente o método que os falsos Messias que surgiam continuamente prometiam…Esses pretendentes ofereceram sensações que não podiam realizar. Jesus poderia realizar qualquer coisa que prometesse. Por que ele não deveria fazer isso? (Barclay)
iv. Jesus acabou de ter esse tipo de demonstração espetacular em Seu batismo (Mateus 3:17), mas isso deve ter parecido distante depois de quarenta dias e noites de jejum no deserto.
b. Também está escrito: O diabo também pode usar esta frase. Podemos confiar que o próprio diabo memorizou a Bíblia e é especialista em citá-la fora do seu contexto para confundir e derrotar aqueles que ele tenta. Aqui o diabo citou o Salmo 91:11-12, e tirou-o do seu contexto para dizer: “Vá em frente, Jesus; se você fizer isso, a Bíblia promete que os anjos irão resgatá-lo, e isso será uma autopromoção espetacular.”
i. “Satanás pegou emprestada a arma de nosso Senhor e disse: “Está escrito”; mas ele não usou a espada legalmente. Não era da natureza do falso demônio citar corretamente. Ele deixou de fora as palavras necessárias, ‘em todos os teus caminhos’: assim ele fez a promessa dizer o que na verdade ela nunca sugeriu.” (Spurgeon)
·Este texto é citado falsamente, porque o diabo omitiu as palavras: “para que o protejam em todos os seus caminhos”. Testar Deus desta forma não era o estilo de Jesus; não era do jeito do Salvador ou do Messias. “Deus nunca prometeu, nem jamais deu, qualquer proteção aos anjos de maneiras pecaminosas e proibidas.” (Poole)
·Este texto é aplicado erradamente, porque não foi usado para ensinar ou encorajar, mas sim para enganar. “Fazer desta palavra uma promessa a ser cumprida mediante a negligência de Cristo em seu dever; estendendo a promessa de providência especial quanto aos perigos em que os homens se lançam voluntariamente”. (Poole)
ii. Jesus entendeu pelo Seu conhecimento de “toda a vontade de Deus.” (Atos 20:27) que Satanás estava distorcendo esta passagem do Salmo 91. Jesus sabia como manejar corretamente a palavra da verdade (2 Timóteo 2:15). Infelizmente, muitos estão dispostos a acreditar em qualquer pessoa que cite a Bíblia hoje. Um pregador pode dizer o que quiser se citar alguns textos de prova, e as pessoas presumirão que ele realmente fala com base na Bíblia. É importante que cada cristão conheça a Bíblia por si mesmo, e não seja enganado por alguém que cita a Bíblia, mas não com precisão ou aplicação correta.
c. Também está escrito: Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus: Jesus respondeu com as Escrituras, mas aplicou corretamente. Ele sabia que tentar forçar ou manipular Deus, o Pai, a tal demonstração seria uma prova a Deus, o que as Escrituras proíbem estritamente.
i. Isto nos alerta contra exigir algo espetacular de Deus para provar Seu amor ou preocupação por nós. Ele já deu a demonstração definitiva de Seu amor por nós na cruz (Romanos 5:8), e não pode fazer nada mais “espetacular” do que isso.
ii. “O foco está novamente em seu relacionamento com Deus. Como Filho de Deus, ele poderia certamente reivindicar com absoluta confiança a proteção física que Deus promete no Salmo 91:11-12… O Filho de Deus só pode viver num relacionamento de confiança que não precisa de teste.” (France)
4. (8-10) A terceira tentação: um apelo à concupiscência dos olhos.
Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória. E lhe disse: “Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar”. Jesus lhe disse: “Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’”.
a. Tudo isto lhe darei: Essencialmente, esta visão convidou Jesus a tomar um atalho ao redor da cruz. Jesus veio para reconquistar todos os reinos do mundo e sua glória do domínio de Satanás, e Satanás os oferece a Jesus, se Ele apenas prostrar e me adorar.
i. Novamente, pode parecer uma coisa pequena; Jesus poderia reivindicar todos os reinos do mundo e sua glória, e fazê-lo sem suportar a cruz. “O perigo é maior quando o fim é bom.” (Bruce)
ii. Tudo o que Ele teria que fazer é dar a Satanás o que ele tem desejado desde que passou da glória para a profana: adoração e reconhecimento do próprio Deus. Esta é uma visão reveladora do coração de Satanás; a adoração e o reconhecimento são muito mais preciosos para ele do que a posse dos reinos do mundo e sua glória. Ele ainda é quem disse: “Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembleia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo”. (Isaías 14:13-14)
iii. “Se as palavras todos os reinos do mundo forem tomadas no sentido literal, então esta deve ter sido uma representação visionária, já que a montanha mais alta da face do globo não seria suficiente para tornar evidente nem mesmo um hemisfério da terra, e o outro deve necessariamente estar na escuridão.” (Clarke)
iv. Se não podemos dizer exatamente como Satanás mostrou isso a Jesus, podemos dizer com alguma certeza o que Satanás não mostrou a Jesus: “Satanás oferece os reinos do mundo e sua ‘glória’ sem mostrar seu pecado.” (Carson)
b. Tudo isto lhe darei: Evidentemente, Satanás tem autoridade sobre este mundo e seus governos. A tentação não poderia ter sido real a menos que houvesse alguma sensação real de que Satanás “possui” todos os reinos do mundo e sua glória.
i. Adão e seus descendentes deram ao diabo esta autoridade. Deus deu a Adão a terra como mordomia (Gênesis 1:28-30), e Adão voluntariamente a entregou a Satanás. Depois disso, todos os descendentes de Adão deram o seu voto de aprovação pelo seu pecado pessoal.
ii. É claro que, em última análise, todas as coisas pertencem a Deus; mas Deus permite que Satanás funcione como o deus desta era (2 Coríntios 4:4) com um propósito. É por isso que o mundo caído está na bagunça que está.
iii. “O tentador não ousa mencionar a filiação neste caso; pois isso teria desnudado demais a sugestão blasfema. Nenhum filho de Deus pode adorar o diabo.” (Spurgeon)
c. Retire-se, Satanás! Pois está escrito: Jesus respondeu novamente com as Escrituras e ordenou ao diabo que se retirasse. Da mesma forma: “Resistam ao diabo, e ele fugirá de vocês” (Tiago 4:7). Funcionou para Jesus (então o diabo o deixou) e funcionará para nós.
i. “A palavra de Deus tem poder para intimidar e reprimir as tentações de Satanás, muito melhor do que aquela adaga de madeira, aquela espada de chumbo dos papistas, sua água benta, cruzes, grãos, relíquias sujas… Não é o sinal da cruz, mas a palavra da cruz, que derruba Satanás”. (Trap)
ii. As tentações de Jesus também nos lembram que não é pecado ser tentado, enquanto a tentação for resistida. Mesmo tentações horríveis – Jesus foi tentado a adorar Satanás – não são em si pecado se forem resistidas.
5. (11) O diabo vai embora e os anjos vão até Jesus.
Então o diabo o deixou, e anjos vieram e o serviram.
a. Então o diabo o deixou: Isto significa que Jesus venceu. Ele venceu porque reconheceu o modo de ataque de Satanás: mentiras e engano. Primeiramente, Satanás é um enganador, e para aqueles que vivem à luz da cruz, o engano é a sua única ferramenta, porque os poderes demoníacos foram desarmados na cruz das suas armas e poder “reais” (Colossenses 2:15). Mas o engano é extremamente eficaz para nos levar ao pecado e para nos levar a viver uma vida de medo e incredulidade.
i. Jesus mostrou o único contra-ataque eficaz ao engano: a verdade de Deus, não a sabedoria do homem. Primeiro, devemos ver a tentação como ela é: uma mentira. Então, devemos combater a tentação com a Palavra de Deus. Então, devemos sempre nos edificar na verdade e tê-la em nosso coração.
ii. Cada passagem que Jesus citou a Satanás nesta seção vem dos capítulos 6 e 8 de Deuteronômio. Não é irracional supor que Jesus estava meditando nessas mesmas passagens e que Ele lutou contra Satanás com o pão fresco de que se alimentava. Devemos ter certeza de que sempre teremos pão fresco para responder a Satanás.
iii. “É digno de nota que todas as passagens citadas por nosso Senhor são do Livro de Deuteronômio, livro esse que foi tão gravemente atacado pelos críticos destrutivos. Assim, nosso Senhor honrou especialmente aquela parte do Antigo Testamento que ele previu que seria mais atacada. Os últimos anos provaram que o diabo não gosta de Deuteronômio: ele desejaria vingar-se das feridas que lhe causou nesta ocasião tão memorável”. (Spurgeon)
iv. Jesus achou que isso era importante para nós sabermos; somente Ele poderia ter contado aos escritores dos Evangelhos o que aconteceu quando Ele foi tentado no deserto da Judéia. Precisamos aprender com isso; para aprender como nóspodemos vencer a tentação, mas ainda mais importante, como Jesusvenceu a tentação em nosso favor e teve sucesso como o Filho de Deus sem pecado onde Adão, Moisés e todos os outros falharam.
b. E anjos vieram e o serviram: Deus nunca abandona aqueles que suportam a tentação. Assim como os anjos vieram e o serviram a Jesus, Deus encontrará uma maneira de ministrar a nós e atender às nossas necessidades enquanto suportamos a tentação.
i. “A ajuda angélica do Salmo 91:11, que Jesus se recusou a pedir ilegitimamente, é agora dada de forma apropriada. Ministrado implica particularmente o fornecimento de alimentos, e novamente a experiência de Elias parece ser lembrada (1 Reis 19:5-8).” (France)
ii. “Esses seres santos não poderiam entrar em cena enquanto a batalha estivesse sendo travada, para que não parecessem dividir as honras do dia; mas quando o duelo terminou, eles se apressaram em trazer comida para o corpo e conforto para a mente do Rei campeão.” (Spurgeon)
B. O primeiro ministério galileu de Jesus.
1. (12-16) Cumprindo a profecia, Jesus traz luz à região da Galileia.
Quando Jesus ouviu que João tinha sido preso, voltou para a Galileia. Saindo de Nazaré, foi viver em Cafarnaum, que ficava junto ao mar, na região de Zebulom e Naftali, para cumprir o que fora dito pelo profeta Isaías:
“Terra de Zebulom e terra de Naftali,
Caminho do mar, além do Jordão,
Galiléia dos gentios;
O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz;
Sobre os que viviam na terra da sombra da morte
Raiou uma luz”.
a. Quando Jesus ouviu que João tinha sido preso, voltou para a Galileia: João 3:22 e 4:1-2 indicam que o primeiro ministério que Jesus fez com Seus discípulos foi um ministério de batismo no Jordão. Algum tempo depois disso e após a prisão de João Batista, Jesus foi para a Galiléia para iniciar Seu ministério itinerante naquela região.
i. O Evangelho de João (João 1:19-2:12) registra um ministério inicial na Galiléia e na Judéia antes de Jesus ir para a Galiléia, como mencionado aqui. Este ministério inicial na Judéia incluiu o primeiro chamado dos discípulos e o casamento em Caná (na Galiléia), e a primeira purificação do templo seguida por Sua entrevista com Nicodemos (na Judéia). Então João nos conta o que aconteceu quando Jesus viajou para o norte, para a Galiléia, passando por Samaria, e encontrou uma mulher samaritana num poço.
ii. Foi a prisão de João que motivou isso. “A Galiléia era a tetrarquia de Herodes, que havia aprisionado João. Naquela região, nosso Senhor foi continuar o ministério do homem assim silenciado… Assim sempre foi e ainda é. O mal pode silenciar uma voz, mas não pode impedir a proclamação da Palavra. Se João estiver preso, então Jesus retoma a mensagem”. (Morgan)
b. Voltou para a Galileia: A região da Galiléia era uma região fértil, progressista e altamente povoada. Segundo dados do historiador judeu Josefo, havia cerca de 3 milhões de pessoas povoando a Galiléia, uma área menor que o estado de Sergipe.
i. Numa área de cerca de 95 por 50 quilômetros, Josefo diz que havia cerca de 204 aldeias e nenhuma tinha menos de 15.000 pessoas. Isso dá uma população de mais de 3 milhões para a região.
ii. A Galiléia era predominantemente gentia em sua população, mas com muitos cidades e cidadãos judeus. Além disso, a Galiléia era conhecida como uma região incrivelmente fértil. Muitas fazendas bem-sucedidas aproveitaram o bom solo.
c. Saindo de Nazaré, foi viver em Cafarnaum: Isso aconteceu porque o povo rejeitou Jesus em Sua própria cidade natal (Lucas 4:16-30). Foi significativo que Jesus tenha morado em Cafarnaum e não em Nazaré.
i. Mateus pode ter estado particularmente interessado em Cafarnaum porque era onde ele morava (Mateus 9:1-9). Pedro também tinha uma casa em Cafarnaum (Mateus 8:14, Marcos 1:29 e 2:1).
ii. No entanto, saindo de Nazaré, Jesus não foi morar e fazer sua casa em Jerusalém ou na Judéia. Ir para Jerusalém pareceria ser um planejamento de carreira mais inteligente para o Messias, mas Jesus foi viverem Cafarnaum. “Esta migração para Cafarnaum não é formalmente notada nos outros Evangelhos, mas Cafarnaum aparece em todos os sinópticos como o principal centro do ministério galileu de Cristo.” (Bruce)
iii. “Aqui ele morava em uma casa, alugada ou emprestada; pois por conta própria ele não tinha onde descansar a cabeça, Mateus 8:20. Aqui ele prestou homenagem como habitante; e aqui ele recorreu e se retirou, quando estava cansado. (Trap)
d. Para cumprir o que fora dito pelo profeta Isaías: Como é seu costume, Mateus vê o ministério de Jesus na Galiléia como o cumprimento de uma profecia. A luz chegou a esta região, em grande parte povoada por gentios, e Isaías 9:1-2 previu isso sobre o ministério do Messias.
i. “Na desprezada Galiléia, o lugar onde as pessoas vivem nas trevas (isto é, sem as vantagens religiosas e cultuais de Jerusalém e da Judeia) … aqui a luz raiou.” (Carson)
ii. “A Galiléia dos gentios era agora uma descrição ainda mais apropriada do que nos dias de Isaías, pois sucessivos movimentos populacionais deram-lhe uma população predominantemente gentia até que uma política judaizante deliberada foi adotada pelos governantes hasmoneus, resultando numa população completamente misturada.” (France)
2. (17) Uma descrição geral da mensagem de Jesus.
Daí em diante Jesus começou a pregar: “Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo.”
a. Daí em diante Jesus começou a pregar: Pode-se dizer que esta foi a principal ocupação de Jesus. Ele curou e ministrou milagrosamente a muitos; mas, no geral, parece justo dizer que Jesus foi um pregador e mestre que curou, mais do que um curador que também pregou e ensinou. Esta é a prioridade do ministério de Jesus, conforme declarado em Mateus 4:23.
i. Pregar: “A palavra em grego é kerussein, que é a palavra para a proclamação de um arauto de um rei. Keruxé a palavra grega para arauto, e o arauto era o homem que trazia uma mensagem diretamente do rei.” (Barclay)
b. Arrependam-se: O evangelho que Jesus pregou começou no mesmo lugar que o evangelho que João pregou, começou – com um chamado ao arrependimento(Mateus 3:2). Na verdade, como Jesus esperou até que João fosse colocado na prisão (Mateus 4:12), ele provavelmente se viu continuando de onde João parou. Mas Jesus iria mais longe do que João jamais foi, porque João anunciou a vinda do Messias, e Jesus é o Messias.
c. Pois o Reino dos céus está próximo: Algumas pessoas fazem distinções elaboradas entre o Reino dos céus e o Reino de Deus. Na verdade, parece não haver diferença alguma, especialmente à luz do costume judaico de muitas vezes nem mesmo nomear Deus diretamente, mas referir-se a Ele pelo lugar onde Ele mora no céu– um costume que Mateus, um judeu que escreve aos judeus, frequentemente emprega.
3. (18-22) Quatro homens são chamados como discípulos.
Andando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Eles estavam lançando redes ao mar, pois eram pescadores. E disse Jesus: “Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens”. No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram. Indo adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Eles estavam num barco com seu pai, Zebedeu, remendando as suas redes. Jesus os chamou, e eles, deixando imediatamente o barco e seu pai, o seguiram.
a. Vi dois irmãos… lançando redes ao mar: Esta não foi a primeira vez que Jesus encontrou estes homens, e outros evangelhos descrevem encontros anteriores (João 1:35-42 e Lucas 5:3), mas foi quando Jesus os chamou para deixar suas profissões e segui-lo com compromisso de tempo integral.
i. “Sua indústria pesqueira era próspera e seus pescadores não necessariamente pobres (a família de Zebedeu empregava trabalhadores, Marcos 1:20).” (France)
ii. Deus geralmente chama as pessoas quando elas estão ocupadas fazendo alguma coisa. Jesus chamou os apóstolos enquanto estavam lançando redes ao mar ou remendavam as suas redes. “Eles estavam ocupados em uma ocupação legal quando ele os chamou para serem ministros: nosso Senhor não chama preguiçosos, mas pescadores.” (Spurgeon)
·Saul estava procurando os jumentos de seu pai.
·Davi cuidava das ovelhas de seu pai.
·Os pastores guardavam os seus rebanhos.
·Amós estava cultivando em Tekoa.
·Mateus estava trabalhando na mesa do cobrador de impostos.
·Moisés estava cuidando do rebanho de seu sogro.
·Gideão estava malhando trigo.
b. Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens: Naqueles dias, era costume que um rabino tivesse discípulos; não havia nada de culto em Jesus pedir a esses homens que estivessem constantemente com Ele e aprendessem com Ele. Em alguns aspectos, Jesus ofereceu-lhes uma educação tradicional aos pés de um rabino; em outros aspectos, isso era muito diferente de uma educação rabínica normal.
i. Sigam-me “sugeriria imediatamente os discípulos de um rabino… que literalmente o seguiram para absorver seus ensinamentos, embora isso tenha sido por escolha própria, não por sua convocação”. (France)
ii. “Ele, porém, foi além de João, que só pôde anunciar e apontar outro. Jesus imediatamente seguiu o anúncio com a palavra falada aos indivíduos: ‘Seguem-me’, reivindicando assim a posição de Rei.” (Morgan)
c. No mesmo instante eles deixaram as suas redes…deixando imediatamente o barco e seu pai, o seguiram: A resposta imediata destes discípulos é um grande exemplo para nós. Então os primeiros discípulos fizeram o que todos os discípulos de Jesus deveriam fazer: o seguiram.
i. Seguir Jesus significa abandonar algumas coisas. A mulher samaritana deixou o seu cântaro, Mateus deixou a sua mesa de impostos e o cego Bartimeu deixou o seu manto para seguir Jesus.
4. (23-25) Uma descrição do ministério de Jesus na Galiléia.
Jesus foi por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas deles, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças entre o povo. Notícias sobre ele se espalharam por toda a Síria, e o povo lhe trouxe todos os que estavam padecendo vários males e tormentos: endemoninhados, epiléticos e paralíticos; e ele os curou. Grandes multidões o seguiam, vindas da Galiléia, Decápolis, Jerusalém, Judéia e da região do outro lado do Jordão.
a. Ensinando nas sinagogas deles: Os costumes da sinagoga naqueles dias deram a Jesus muitas oportunidades de ensinar, porque muitas vezes davam a um visitante – especialmente a um ilustre – a oportunidade de falar.
i. “Depois do discurso, houve um momento para conversa, perguntas e discussão. A sinagoga era o lugar ideal para transmitir um novo ensinamento ao povo.” (Barclay)
b. Ensinando…pregando as boas novas do Reino: A diferença entre ensinando e pregando é uma questão de ênfase e maneira, não de conteúdo.
i. “A pregação é a proclamação intransigente de certezas; ensinar é a explicação do significado e significado deles”. (Barclay)
c. Curando todas as enfermidades e doenças entre o povo: A capacidade de Jesus de curar pessoas com todos os tipos de doenças demonstra que Ele tem poder autêntico sobre os danos causados pela queda do homem. Sua autoridade sobre os demônios (endemoninhados) mostra que Ele tem poder autêntico sobre toda a criação.
i. Esta é a primeira menção dos endemoninhados no Novo Testamento, e o conceito raramente é registrado no Antigo Testamento (Saul foi um exemplo, que foi perturbado por um espírito, como em 1 Samuel 18:10, 19:9). Obviamente há muito mais registros de possessão demoníaca nas páginas do Novo Testamento do que no Antigo Testamento ou no mundo ocidental contemporâneo. Muitas sugestões foram oferecidas para esse fato.
·Alguns acreditam que Deus deu ao diabo maior permissão para afligir o homem desta forma, para dar maior evidência das credenciais de Jesus como Messias.
·Alguns acreditam que Deus permitiu ao diabo uma permissão maior para afligir o homem, desta forma para repreender os saduceus, que não acreditavam em seres sobrenaturais, como anjos e demônios.
·Alguns acreditam que não havia maior subsídio naqueles dias, e que existe a mesma quantidade de possessão demoníaca hoje, embora não seja reconhecida como tal.
·Alguns acreditam que há simplesmente muito menos possessão demoníaca em culturas que estiveram sob a influência do evangelho durante centenas de anos, e muito mais em culturas pagãs e/ou animistas.
·Alguns acreditam que o próprio Satanás não está interessado numa estratégia de possessão demoníaca generalizada de humanos no mundo ocidental contemporâneo, porque ele considera o anonimato e o cepticismo espirituais ferramentas mais eficazes.
d. Grandes multidões o seguiam: Jesus tinha um propósito ao permitir que tais milagres dramáticos atraíssem grandes multidões. Ele queria ensinar as multidões e não simplesmente impressioná-las com milagres.
i. “Com toda a tolerância para o exagero de um relato popular, isso causa uma impressão extraordinária.” (Bruce)
ii. “A fama de Cristo espalhou-se muito longe, sem dúvida, por causa do bem que ele fez e dos milagres que realizou…Todas aqui novamente não podem significar mais do que muitos que estavam indispostos e mal afetados quanto à sua saúde corporal.” (Clarke)
iii. “Pessoas de todas essas áreas ‘seguiram’ Jesus. Apesar dos argumentos contrários, ‘seguir’ não indica necessariamente um discipulado sólido. Pode, como aqui, referir-se àqueles que em algum momento específico seguiram Jesus em seu ministério itinerante e, portanto, foram vagamente considerados discípulos.” (Carson)
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