Efésios 3 – A Revelação do Mistério de Deus
A. O mistério de Deus e o papel do homem nele, revelado.
1. (1-5) Prefácio à revelação do mistério.
Por essa razão, eu, Paulo, sou prisioneiro de Cristo Jesus por amor de vocês, gentios — Certamente vocês ouviram falar da responsabilidade imposta a mim em favor de vocês pela graça de Deus, isto é, o mistério que me foi dado a conhecer por revelação, como já lhes escrevi em poucas palavras. Ao lerem isso vocês poderão entender a minha compreensão do mistério de Cristo. Esse mistério não foi dado a conhecer aos homens doutras gerações, mas agora foi revelado pelo Espírito aos santos apóstolos e profetas de Deus.
a. Eu, Paulo, sou prisioneiro de Cristo Jesus por amor de vocês, gentios: Durante seu aprisionamento romano, Paulo estava sob prisão domiciliar. De dia ele estava livre para andar pela casa com a supervisão de soldados, mas toda noite ele era acorrentado a um soldado para ter certeza de que ele não ia escapar antes de seu julgamento perante César. Mesmo assim, ele se via como prisioneiro de Cristo Jesus. Ele sabia que Jesus era o Senhor de sua vida, não o governo romano, então se ele era um prisioneiro, era um prisioneiro de Jesus.
b. Por amor de vocês, gentios: A razão toda por ele estar preso e aguardando julgamento era por seus esforços missionários em nome dos gentios.
i. Paulo sofria pela mesma verdade que ele explicaria aos Efésios, e isto não o fez recuar nem um pouco.
ii. A última coisa que Paulo queria era que as pessoas sentissem pena dele porque estava preso. Ele queria que seus leitores percebessem que era um benefício para eles o fato de ele ser um prisioneiro.
c. Certamente vocês ouviram falar: Isto sugere que Paulo sabia que sua vocação particular ao mundo gentio era bem conhecida entre os cristãos gentios.
d. Vocês ouviram falar da responsabilidade imposta a mim em favor de vocês pela graça de Deus: A palavra responsabilidade fala da “estratégia implementada” do plano de Deus na igreja. “Aqui como em Efésios 1:10, no entanto, é para ser interpretada de preferência como a implementação de uma estratégia”. (Wood)
i. “Pela responsabilidade…pela graça de Deus podemos entender, ou o cargo apostólico e talentos concedidos a São Paulo, para o propósito da pregação do Evangelho entre os gentios…ou o conhecimento que Deus deu a ele daquele plano gracioso e Divino que formulou para a conversão dos gentios”. (Clarke)
e. Por revelação: Paulo queria que soubessem que “eu não estou inventando isso. Isto não é minha invenção. Deus me deu a revelação e eu sou apenas Seu mensageiro desta verdade”. Custou muito a Paulo se segurar a este mistério, então ele provavelmente não o teria inventado por conta própria.
i. É de fato incrível que Deus tiraria um hebreu dos Hebreus, um fariseu e um perseguidor da igreja para ser o ministro principal do mistério, o mistério da obra do evangelho de juntar judeu e gentio em um novo corpo.
f. O mistério que me foi dado a conhecer: O princípio que Paulo descreverá é um mistério, mesmo assim, é conhecido. Porém, ele nunca seria conhecido se Deus não o tornasse conhecido.
i. “Em português ‘um mistério’ é algo sombrio, obscuro, secreto, intrigante. O que é ‘misterioso’ é inexplicável, até mesmo incompreensível. A palavra grega mysterion é diferente, no entanto. Embora ainda seja um ‘segredo’, não é mais guardado de perto, mas aberto…De maneira mais simples, mysterion é uma verdade até então escondida do conhecimento ou entendimento humano, porém agora descoberta pela revelação de Deus”. (Stott)
g. O mistério que me foi dado a conhecer: Paulo não hesitou a afirmar que o mistério que ele revelará foi dado a ele por revelação. Porém, não foi dado somente a ele por revelação. Também foi dado especificamente a Pedro por revelação (Atos 11:1-18), e é consistente com a profecia no Antigo Testamento (como em Isaías 49:6) e as palavras específicas de Jesus (Atos 1:8).
i. No entanto, parece que Deus usou Paulo para declarar especificamente como os judeus e gentios seriam unidos em um corpo de Cristo. Isto foi algo dado sugerido por outros, mas somente especificamente detalhado através da revelação de Paulo. Paulo confiou que seus leitores entenderiam o que Deus revelou a ele.
h. Não foi dado a conhecer aos homens doutras gerações, mas agora foi revelado: A natureza da união de judeus e gentios neste novo corpo é o aspecto que não foi dado a conhecer. No Antigo Testamento, a salvação dos gentios no Messias é profetizada, a união de judeu e gentio na Igreja nunca é mencionada.
2. (6-7) O mistério descrito.
Significando que, mediante o evangelho, os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus. Deste evangelho me tornei ministro pelo dom da graça de Deus, a mim concedida pela operação de seu poder.
a. Os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo: Isto descreve o próprio mistério – que judeus crentes e gentios crentes estão unidos em um corpo de Cristo, em uma Igreja, e não mais separados diante de Deus como tais.
b. Co-participantes da promessa em Cristo: A verdade desse mistério significa que gentios são agora totalmente co-participantes da promessa em Cristo. Isto não era mais um privilégio reservado somente para o judeu crente.
c. Mediante o evangelho: Isto só podia acontecer mediante o evangelho, onde todos os homens possuem o mesmo valor em Jesus. Este é o mesmo evangelho do qual Paulo é um servo, por causa do dom da graça…concedida a ele pela obra do poder de Deus.
i. Paulo diz que ele é um ministro, mas que é um título de serviço, não de exaltação. Na literatura clássica da Grécia antiga, o ministro (diakonos) “é um garçom de mesa que está sempre ao serviço de seus fregueses”. (Wood)
3. (8-9) A apresentação de Paulo do mistério.
Embora eu seja o menor dos menores de todos os santos, foi-me concedida esta graça de anunciar aos gentios as insondáveis riquezas de Cristo e esclarecer a todos a administração deste mistério que, durante as épocas passadas, foi mantido oculto em Deus, que criou todas as coisas.
a. Embora eu seja o menor dos menores de todos os santos, foi-me concedida: Paulo se maravilhou com a graça concedida a ele, pela qual ele foi chamado a pregar o evangelho que transforma o mistério em realidade. Quando consideramos a história pessoal de Paulo, vemos que seu chamado foi realmente todo de graça.
i. “Mas enquanto Paulo estava assim agradecido por seu cargo, seu sucesso nele o fez grandiosamente humilde. Quanto mais cheio o receptáculo se torna, mais fundo ele afunda na água. A plenitude da graça é uma cura para o orgulho”. (Spurgeon)
ii. “Pregadores devem crescer na graça, pois seu próprio chamado os coloca em uma grande vantagem, já que eles são obrigados a pesquisar as Escrituras, e estar muito tempo em oração. Eu queria que alguns de vocês fossem ambiciosos por isso, pois pregadores honestos são necessários”. (Spurgeon)
b. De anunciar: A palavra grega traduzida “anunciar” literalmente significa “anunciar boas novas”. A pregação de Paulo foi simplesmente o anúncio da boa nova sobre o que Deus fez em Jesus.
c. As insondáveis riquezas de Cristo: Este mistério é como grandes riquezas para os gentios. Eles agora podem vir diante de Deus em uma posição com a qual só podiam sonhar antes.
i. Paulo tentou descobrir a grandeza da graça de Deus, e começou a rastreá-la como alguém rastreia a margem de um lago. Ele logo descobriu que não se tratava de um lago, mas um oceano, um mar imensurável. As riquezas de Deus são insondáveis; nós nunca as conheceremos completamente.
ii. “Eu estou sendo ousado ao contar a vocês que as riquezas da graça de meu Mestre são tão insondáveis, que ele se deleita ao perdoar e esquecer pecados enormes; quanto maior o pecado maior a glória de sua graça. Se você está endividado da cabeça aos pés, ele é rico o bastante para sanar suas dívidas. Se você estiver no próprio portão do inferno, ele é capaz de te arrancar das garras da destruição”. (Spurgeon)
d. Esclarecer a todos a administração deste mistério: Tendo sido confiado com tamanhas riquezas, a paixão de Paulo era fazer este evangelho conhecido por todos os povos. Ele quer que todos vejam e compartilhem da comunhão desse mistério – que é um mistério precisamente porque ele era desconhecido e inacessível até que Deus o revelou.
e. Administração deste mistério: Deveríamos considerar cuidadosamente o que esta frase significa. Ela demonstra que estes não são somente fatos a se conhecer, mas também uma vida a se viver, unida em Jesus com outros crentes, sem nenhuma separação como a que existia entre judeus e gentios.
f. Que, durante as épocas passadas, foi mantido oculto em Deus: Esta grande verdade – a administração deste mistério – estava oculta antes de ser revelada depois do término da obra de Jesus na cruz. Isto reforça a ideia de que há algo genuinamente novo na Nova Aliança, e que é errado considerar Israel simplesmente A Igreja do Antigo Testamento e a Igreja, a Israel do Novo Testamento.
i. “Esta declaração resolve a questão de uma vez por todas a respeito da existência da igreja, o corpo de Cristo, durante e nas dispensações do Antigo Testamento. No entanto, é uma das perspectivas mais difundidas que a igreja existia desde o começo da criação e as palavras de promessa contidas na Palavra profética do Antigo Testamento, são as promessas da igreja, e seu glorioso futuro na terra, reinando sobre todas as nações”. (Gaebelein)
4. (10-12) O propósito do mistério.
A intenção dessa graça era que agora, mediante a igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas regiões celestiais, de acordo com o seu eterno plano que ele realizou em Cristo Jesus, nosso Senhor, por intermédio de quem temos livre acesso a Deus em confiança, pela fé nele.
a. Que agora, mediante a igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tornasse conhecida: Deus é um ser de infinita sabedoria e glória, e Ele quer que Suas criaturas conheçam Sua grande e multiforme sabedoria. Um propósito em Seu grande plano de todos os tempos é revelar esta sabedoria.
i. Entendendo o caráter de Deus, podemos dizer que isso não é por uma razão egoísta ou de alto-glorificação, da maneira que pensamos sobre um homem orgulhoso mostrando seu cérebro e conquistas a todos. Deus faz isto para a glória de Suas criaturas, pois a glória da criatura está diretamente conectada a glória do Criador.
ii. Esta sabedoria é multiforme. A palavra grega antiga polupoikilos possui ideias de algo intricado, complexo e de grande beleza. “Aquilo que tem abundância de variedade curiosa em si, como é vista nas melhores fotos ou texturas”. (Trapp)
iii. Ela também deve se tornar conhecida. Dean Alford observa que as palavras se tornasse conhecida são empáticas, contrastando fortemente a ideia de oculto em Efésios 3:9.
b. Mediante a igreja…se tornasse conhecida dos poderes e autoridades: Isso explica como Deus revelará Sua sabedoria e para quem Ele a revelará. Ele a revelará através da Sua obra na igreja e Ele a revelará para seres angelicais (poderes e autoridades).
i. É claro que Deus também quer revelar esta sabedoria à igreja. No entanto, no plano geral, Deus não usa anjos para revelar Sua sabedoria aos santos, mas Ele sim usa os santos para revelar Sua sabedoria aos seres angelicais, tanto anjos fiéis quanto caídos. Isso nos lembra de que nós somos chamados para algo muito maior do que nossa própria salvação e santificação individual. Somos chamados para sermos os meios pelos quais Deus ensina o universo uma lição, e uma lição linda.
ii. Estamos cercados por seres espirituais invisíveis, e eles cuidam de nós intencionalmente. Aqui, Paulo remove a cortina invisível que esconde estes seres assim como Eliseu orou em Dotã: Senhor, abre os olhos dele para que veja (2 Reis 6:17). Estes seres angelicais nos veem perfeitamente e nos conhecem bem melhor do que nós os conhecemos.
iii. “O que então eles têm para aprender conosco? Ah, eles têm que aprender algo que os faça nos observar maravilhados e com admiração. Eles de fato veem em nós todas as nossas fraquezas, e todo nosso pecado. Mas eles veem uma natureza que, destruída por si mesma, ainda sim, foi feita na imagem do seu Deus e nosso. E eles veem este Deus trabalhar em cima dessa destruição para produzir resultados não só maravilhosos em si, mas duplamente maravilhoso por causa das condições”. (Moule)
iv. “Em sua imortalidade, nunca tocada por uma gota de nosso rio frio, é instrutivo para ele além de toda nossa imaginação ver seu Deus triunfando sobre a dor e a morte em algum sofredor no fogo do martírio, ou na tortura do câncer, ou no naufrágio, ou apenas na admiração silenciosa de qualquer forma de nossa partida do corpo…Eles veem estes seres caídos e mortais, esta Comunidade de perdidos e salvos, não só suportando e fazendo por Deus aqui na terra, mas presente espiritualmente com Ele no Santo dos Santos acima”. (Moule)
v. Às vezes cristãos ficam loucos com a ideia de que Deus os salvou e trabalha em sua vida porque são de alguma maneira pessoas tão boas. Os anjos entendem isso muito bem. Poderíamos acreditar que é por nossa causa; os anjos são melhores. Podemos pensar que nossas vidas são pequenas e insignificantes; os anjos são melhores. Podemos duvidar de nossa alta posição, sentados em lugares celestiais; os anjos veem esta realidade espiritual de olhos bem abertos.
vi. “É como se um grande drama estivesse sendo encenado. A História é o teatro, o mundo é o palco, e os membros da igreja em toda a terra são os atores. O próprio Deus escreveu a peça, e ele a dirige e produz. Ato por ato, cena por cena, a história continua a se desenrolar. Mas quem é a audiência? Elas são as inteligências cósmicas, poderes e autoridades nas regiões celestiais”. (Stott)
vii. “Os anjos são instruídos na sabedoria de Deus… pelo fato do grande corpo espiritual, constituído em Cristo, o qual contemplam, e que é para eles o teatro da glória de Deus”. (Alford) “A história da igreja cristã se torna uma escola de graduação para anjos”. (Stott, citando Mackay)
c. Dos poderes e autoridades nas regiões celestiais: Isto significa que seres angelicais estão interessados e são instruídos pelas vidas dos cristãos. É por isto que a conduta da igreja é tão importante: porque seres angelicais e demoníacos estão observando, e a intenção de Deus é lhes ensinar através de nós. Várias passagens se referem a isto:
·Por essa razão e por causa dos anjos, a mulher deve ter sobre a cabeça um sinal de autoridade (1 Coríntios 11:10).
·A eles foi revelado que estavam ministrando, não para si próprios, mas para vocês, quando falaram das coisas que agora lhes foram anunciadas por meio daqueles que lhes pregaram o evangelho pelo Espírito Santo enviado dos céus; coisas que até os anjos anseiam observar (1 Pedro 1:12).
·Eu o exorto solenemente, diante de Deus, de Cristo Jesus e dos anjos eleitos, a que procure observar essas instruções sem parcialidade; e não faça nada por favoritismo (1 Timóteo 5:21).
i. Devemos levar esta responsabilidade a sério, pois aos anjos é dada a responsabilidade de carregar nossas almas ao paraíso na morte (Lucas 16:22) e são os encarregados da última colheita (Mateus 13:39-43).
ii. “E, por último, o que alguns de vocês pensam que os anjos falariam de sua caminhada e conversa? Bem, eu imagino que você não se importa muito com elas, contudo, você deveria. Pois quem, a não ser os anjos, serão os encarregados no último, e quem, senão eles, serão o comboio para nossos espíritos através do último riacho sombrio? Quem senão eles carregarão nossos espíritos como o de Lázaro ao seio do Pai? Certamente nós não deveríamos os desprezar”. (Spurgeon)
iii. “Oh, convertidos, não sejam ignorantes à palavra de Deus; não se esqueçam das operações de Deus em nossas almas! Os anjos desejam examinar estas coisas. Você as examina?” (Spurgeon)
iv. Uma interpretação popular hoje vê os poderes e autoridades como estados políticos modernos e estruturas econômicas. A ideia é de que a igreja primeiramente é uma testemunha deles, e deveria redimir governos e estruturas sociais através de seu testemunho. Porém Paulo escreve especificamente que estes poderes e autoridades estão em regiões celestiais, não em regiões terrenas.
d. De acordo com o seu eterno plano que ele realizou: O mistério revela e promove o eterno plano de Deus em Jesus, descrito anteriormente em Efésios 1:10 – que no fim dos tempos, Deus reunirá (essencialmente, para resumir ou resolver) todas as coisas em Jesus.
i. O mistério do corpo unificado de Cristo está de acordo com este plano. É uma prévia do que Jesus fará por último no cumprimento do resumo de todas as coisas Nele mesmo.
ii. “A igreja portanto parece ser o esquema piloto de Deus para o universo reconciliado do futuro, o mistério da vontade de Deus a ser administrado na plenitude dos tempos quando as coisas no céu e as coisas na terra forem reunidas juntamente em Cristo”. (Bruce)
e. Que ele realizou: Há um sentido em que Paulo pode dizer que este eterno plano já está realizado. Sua plenitude é uma certeza (como mostrada pela obra inicial de reunir judeus e gentios em Jesus), então ele pode falar dela como já finalizada.
f. Pela fé nele: O fato desta união é mostrado pela verdade que nós (judeus e gentios coletivamente) temos livre acesso e confiança idênticos diante de Deus – porque não tem nada a ver com identidade nacional ou étnica, apenas com a fé nele. (Jesus).
i. A palavra livre carrega a ideia de “liberdade de expressão”. Nós temos a liberdade de nos expressarmos diante de Deus, sem medo ou vergonha. “A palavra grega ‘parresia’ traduzida para ‘livre’ significa na verdade ‘discurso livre’ – o que significa a fala de tudo. É a bênção privilegiada da oração”. (Gaebelein)
ii. As divisões na igreja não têm sido sempre entre judeus e gentios. Os Reformistas foram contra a divisão entre “clero” e “leigo” e o ensinamento do sacerdócio de todos os crentes insistia que todos têm o mesmo acesso a Deus.
5. (13) A participação pessoal atual de Paulo no mistério.
Portanto, peço-lhes que não desanimem por causa das minhas tribulações em seu favor, pois elas são uma glória para vocês.
a. Portanto, peço-lhes que não desanimem: Apesar de estar preso por causa do evangelho, Paulo pediu aos seus leitores para que não desanimem. Paulo não queria que eles ficassem desencorajados por sua causa, porque Paulo ainda estava sendo usado no serviço do eterno plano de Deus.
b. Minhas tribulações em seu favor: Paulo escreveu a Carta aos Efésios da prisão, e é útil lembrar o porquê Paulo estava na prisão. Ele viveu sua vida toda com a paixão de levar a salvação para seu próprio povo, os judeus (Romanos 9:1-3). Em uma visita estratégica a Jerusalém ele teve a oportunidade de pregar para uma vasta multidão no monte do templo ou perto dele (Atos 21:39-22:22), porém a oportunidade acabou em desastre porque a multidão judaica não conseguia suportar a ideia da boa nova do Messias sendo estendida aos gentios (Atos 22:21-22). O motim que se seguiu colocou Paulo em um dilema jurídico, do qual ele usou seu direito como um cidadão romano e apelou a César. Agora Paulo estava aprisionado em Roma, esperando por seu julgamento diante de César – e lá porque ele sabia que Deus queria que os gentios compartilhassem da boa nova do Messias, e ele não estava com medo de pregar esta verdade.
c. Pois elas são uma glória para vocês: Paulo estava sendo usado, e provavelmente de uma forma maior do que ele sequer imaginava. Este aprisionamento romano produziu as cartas aos Efésios, Colossenses, Filipenses e Filemon. Eles todos certamente têm um lugar no eterno plano de Deus.
i. Da mesma maneira, cada um de nós tem um lugar a serviço do eterno plano de Deus. Saber disso e trabalhar em prol disso é uma grande defesa contra o desanimo no meio das tribulações.
B. Paulo ora na luz do mistério.
1. (14-15) Introdução à oração.
Por essa razão, ajoelho-me diante do Pai, do qual recebe o nome toda a família nos céus e na terra.
a. Por esta razão: A base da oração de Paulo estava em seu conhecimento do plano de Deus. Isto significa que ele orou confiantemente de acordo com a vontade de Deus. Não podemos orar efetivamente se não temos em vista o plano e vontade de Deus.
b. Ajoelho-me: Paulo orou na postura ajoelhada. Esta posição de completa humildade ia de contraste com a postura mais normal de oração daquela cultura – orar de pé com as mãos levantadas.
i. A humildade veio quando ele considerou o grande eterno plano de Deus, seu lugar naquele plano, e como o trabalho de Deus é impossível de ser parado até mesmo quando Paulo estava aprisionado.
ii. Salomão orou ajoelhado (1 Reis 8:54). Esdras orou ajoelhado (Esdras 9:5). O Salmista nos chama a ajoelhar (Salmo 95:6). Daniel orou ajoelhado (Daniel 6:10). As pessoas vieram até Jesus de joelhos (Mateus 17:14, Mateus 20:20 e Marcos 1:40). Estevão orou ajoelhado (Atos 7:60). Pedro orou ajoelhado (Atos 9:40). Paulo orou ajoelhado (Atos 20:36), e outros dos primeiros cristãos oraram ajoelhados (Atos 21:5). Mais importante ainda, Jesus orou ajoelhado (Lucas 22:41). A Bíblia tem oração suficiente sem ser de joelhos para nos mostrar que não é necessário, mas também há orações suficientes de joelhos para nos mostrar que é bom.
iii. Adam Clarke viu uma conexão entre a oração ajoelhada de Salomão na dedicação do templo e a oração ajoelhada de Paulo aqui. “Muitas partes desta oração contém uma semelhança estrita com a oferecida por Salomão quando estava dedicando o templo…O apóstolo estava agora dedicando a Igreja Cristã”.
c. Diante do Pai: Paulo direcionou sua oração ao Pai, que está presente como o “planejador” entre os membros da Trindade. Na Bíblia a oração é geralmente direcionada ao Pai, através do Filho, pelo poder e direção do Espírito Santo.
d. Do qual recebe o nome toda a família nos céus e na terra: Ao lembrar que toda a família de Deus é chamada pelo Seu nome, Paulo mostrou que sua mente estava tomada por esta ideia da união essencial do Corpo de Cristo. Deus é Pai de ambos, judeus e gentios.
i. Charles Spurgeon pregou um sermão comovente sobre este versículo intitulado: Santos no Céu e na Terra, Uma Família. Nele ele desenvolveu a ideia de que nós somos um com nossos irmãos e irmãs no céu, e como isto enriquece nossa esperança do paraíso.
ii. Alguns comentadores pensam que Paulo se refere às famílias celestiais no sentido de famílias de anjos. “Os anjos não estão presos em famílias espirituais, apesar de não se casarem ou não serem dados em casamento?” (Alford)
2. (16-19) Paulo ora novamente pelos Efésios.
Oro para que, com as suas gloriosas riquezas, ele os fortaleça no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito, para que Cristo habite no coração de vocês mediante a fé; e oro para que, estando arraigados e alicerçados em amor, vocês possam, juntamente com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento, para que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus.
a. Os fortaleça no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito: Paulo pediu para que eles fossem fortalecidos…com poder, e que a força seja de acordo com as suas gloriosas riquezas (a mesura mais generosa). Ele também orou para que a força viesse por meio do seu Espírito e que fosse colocada dentro do seu íntimo.
i. Em todo ser humano há um íntimo tão real quanto nosso corpo físico. Todos nós entendemos a importância da força de nossos corpos físicos, porém muitos são extremamente fracos no íntimo.
ii. Com as suas gloriosas riquezas: “Seria uma desgraça para um rei ou um nobre não doar mais do que um comerciante ou um plebeu. Deus age de acordo com a dignidade de suas perfeições infinitas; ele dá de acordo com as suas gloriosas riquezas”. (Clarke)
b. Para que Cristo habite no coração de vocês mediante a fé: Paulo pediu para que Jesus vivesse nesses crentes, assim como Jesus prometeu em João 14:23: Se alguém me ama, obedecerá à minha palavra. Meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos morada nele.
i. Duas palavras gregas antigas transmitem a ideia de “viver em”. Uma tem a ideia de morar em um lugar como um estranho, e a outra tem a ideia de habitar em um lugar para fazer dele sua morada permanente. Habite usa a palavra grega antiga para uma morada permanente. Jesus quer habitar em nosso coração, não apenas visitar como um estranho.
ii. A glória do Jesus que habita em nós é algo que devemos conhecer, e conhecer pela fé. Ela está lá para nós, mas deve ser conquistada mediante a fé. “Você tem sua Bíblia e você tem seus joelhos; use-os”. (Carr John Glynn, padrinho de H.C.G. Moule)
iii. Precisamos de força espiritual para deixar Cristo habitar dentro de nós porque há algo em nós que resiste a influência do Jesus que habita em nós. Que algo pode ser conquistado como o Espírito de Deus nos dá a vitória da fé.
c. Estando arraigados e alicerçados em amor: Paulo pediu para que tudo isso acontecesse enquanto estavam arraigados e alicerçados em amor. O significado parece ser que eles deveriam estar arraigados e alicerçados em seu amor um pelo outro, mais do que estando arraigados e alicerçados em seu amor por Deus e o conhecimento daquele amor.
i. “Duas expressões são usadas: ‘arraigados’, como uma árvore viva que se agarra ao solo, se retorce em volta das pedras, e não pode ser levantada; ‘alicerçados’, como um prédio que foi construído como um todo, e nunca demonstrará nenhuma rachadura ou falhas no futuro por causa de falhas na fundação”. (Spurgeon)
d. Possam, juntamente com todos os santos, compreender: Paulo pediu para que eles pudessem ser capazes de entender juntos em comunhão toda dimensão do amor de Jesus. Paulo queria que eles conhecessem isso por experiência e não apenas em palavras.
i. “Que vocês e eu possamos ser habilidosos nesta medida. Se não soubermos nada de matemática, que possamos ser estudiosos bem treinados nesta geometria espiritual, e capazes de compreender as larguras e comprimentos do amor precioso de Jesus”. (Spurgeon)
e. A largura, o comprimento, a altura e a profundidade: Isto significa que o amor de Jesus tem dimensões e que pode ser medido.
i. “Infelizmente, para muitas pessoas religiosas, o amor de Jesus não é em nada uma coisa sólida e substancial – é uma bela ficção, uma crença sentimental, uma teoria formal. Mas para Paulo era um fato real, substancial e mensurável; ele o tinha considerado desta forma, daquela forma, e da outra forma, e era evidentemente real para ele, o que quer que ele possa ser para os outros”. (Spurgeon)
ii. O amor de Jesus tem largura. Você pode ver o quão largo um rio é ao notar o quanto ele cobre. O rio do amor de Deus é tão largo que ele cobre os meus pecados e cobre todas as circunstâncias da minha vida, de modo que todas as coisas cooperam para o bem. Quando eu duvido de Seu perdão ou providência, eu estreito o poderoso rio do amor de Deus. Seu amor é tão amplo quanto o mundo: Porque Deus amou tanto o mundo (John 3:16).
iii. “Alguns deles parecem estar tão ocupados com a altura e o comprimento que negam a amplitude, e você pensaria ao ouvi-los pregar que Cristo veio ao mundo para salvar meia dúzia, e que eles eram cinco deles… Fora de sua estreiteza! Haverá muito mais salvos no céu do que esperamos ver; e haverá alguns com quem tivemos muito pouca comunhão confortável na Terra que tiveram comunhão com Cristo, e que por isso serão levados para habitar com Ele para sempre.” (Spurgeon)
iv. O amor de Jesus tem comprimento. Ao considerar o comprimento do amor de Deus, pergunte-se: “Quando o amor de Deus começou para comigo? Por quanto tempo ele continuará?” Estas verdades medem o comprimento do amor de Deus. Eu a amei com amor eterno (Jeremias 31:3).
v. O amor de Jesus tem profundidade. Filipenses 2:7-8 nos diz quão profundo é o amor de Jesus: mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Não é possível ir mais baixo que a morte de cruz, e isso é o quanto o amor de Jesus é profundo para nós.
vi. O amor de Jesus tem altura. Para ver a altura do amor de Deus, pergunte-se: “Quão alto ele me eleva?” Ela me eleva aos lugares celestiais onde estou sentado com Cristo. Ele nos ressuscitou com Cristo e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Efésios 2:6).
vii. Podemos realmente compreendera largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Deus? Para chegarmos a qualquer compreensão das dimensões do amor de Deus, devemos chegar até a cruz. A cruz apontava para quatro direções, essencialmente em todas as direções, porque…
·O amor de Deus é largo o suficiente para incluir todas as pessoas.
·O amor de Deus é longo o suficiente para durar por toda a eternidade.
·O amor de Deus é profundo o suficiente para alcançar o pior pecador.
·O amor de Deus é alto o suficiente para nos levar ao céu.
f. Conhecer o amor de Cristo: Paulo escreveu sobre algo que podemos conhecer. Isto não é uma especulação, adivinhação, emoções ou sentimentos. É algo que se pode conhecer.
i. “Um destes filósofos diz gentilmente que religião é uma questão de crença; não de conhecimento. Isto está claramente em oposição a todo o ensino da Escritura”. (Spurgeon)
g. Para que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus: Paulo pediu a Deus para preencher estes Cristãos até toda a plenitude de Deus. Paulo queria que os Cristãos experimentassem a vida em Jesus Cristo, a plenitude de Deus (Colossenses 2:9), e fossem cheios ao máximo com Jesus, assim como Deus é cheio ao máximo com o Seu próprio caráter e atributos.
i. “Entre todos os grandes ditos desta oração, este é o maior. Ser CHEIO com Deus é uma grande coisa; ser cheio com a PLENITUDE de Deus é ainda maior; mas ser cheio com TODA a plenitude de Deus desnorteia totalmente o sentido e confunde a compreensão.” (Clarke)
3. (20-21) A gloriosa doxologia.
Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós, a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre! Amém!
a. Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos: Como Paulo chega a esta grande altura (o que pode ser maior que a plenitude de Deus?), é lógico se perguntar como isto pode ocorrer. Como é possível que algo tão acima de nós pode se tornar realidade? Isso só pode acontecer porque Deus é capaz de fazer muito além daquilo que pedimos ou pensamos.
i. Esta doxologia não só pertence à oração que a precede, mas também a todo privilégio glorioso e bênção de que se fala nos três primeiros capítulos. Quem é capaz de fazer acontecer tais coisas? Somente Deus pode fazer isso porque Ele pode fazer muito além de nossa capacidade de pensar ou pedir.
ii. Paulo diz que Deus é capaz de fazer acima de tudo o que nós pedimos ou pensamos. O nós incluiu Paulo e os outros apóstolos e eles certamente sabiam que Jesus poderia fazer grandes coisas.
·Você pode pedir por cada coisa boa que você já experimentou – Deus pode fazer mais que isso.
·Você pode pensar ou imaginar coisas além de sua experiência – Deus pode fazer mais que isso.
·Você pode imaginar coisas boas que estão além de sua capacidade de nomear – Deus pode fazer mais que isso.
iii. Spurgeon sobre a frase infinitamente mais: “Ele construiu aqui no grego uma expressão que é totalmente própria dele. Nenhuma língua era suficientemente poderosa para o apóstolo, quero dizer, para o Espírito Santo falando através do apóstolo, pois muitas vezes Paulo tem que cunhar palavras e frases para sombrear seu significado, e aqui está uma: ‘Ele é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo,’ tão abundantemente que excede medida e descrição.” (Spurgeon)
iv. “Portanto, ele é capaz de fazer todas as coisas, e capaz de fazer infinitamente muito mais do que a maior abundância.” (Clarke)
b. De acordo com o seu poder que atua em nós: Deus é capaz de fazer isso em nossa vida agora, não começando pelo céu. Este poder…atua em nós agora.
i. As coisas pelas quais Paulo orou nos versículos anteriores (força espiritual, o Jesus que habita em nós, o conhecimento experiencial do amor de Deus e a plenitude de Deus) pertencem a nós como filhos de Deus. No entanto, elas devem ser recebidas pela oração crente e podem ser promovidas na vida dos outros através de nossas orações por elas.
c. A ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus: A única resposta adequada a este grande Deus é dar-Lhe glória – especialmente na igreja, a companhia de Seus remidos, e que Ele receba essa glória para todo o sempre!Amém!
i. Quando a igreja entender e caminhar no propósito eterno de Deus, Deus será glorificado e a igreja cumprirá seu importante dever de simplesmente glorificar a Deus.
ii. “Mas o apóstolo sentiu que não devia dizer: ‘A Ele seja a glória na minha alma.’ Ele desejava isso, mas sua única alma deu muito pouco espaço, e então ele clamou ‘a ele, seja a glória na igreja.’ Ele invoca todo o povo de Deus para louvar o nome divino.” (Spurgeon)
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